CHAMADO COMUM DO MOVIMENTO ANTI-AEROPORTO
[Em Notre-Dame-des-Landes, a Oeste da França], o Estado e as pessoas a favor do aeroporto ameaçam de novo com a imposição do projeto pela força. Pretendem iniciar, nos próximos meses, a destruição das espécies protegidas e a construção do aeroporto. Uma nova onda de desalojos poderá chegar. Não os deixaremos agir! Na zona de Notre-Dame-des-Landes, o movimento está ainda mais vivo que no outono de 2012 [quando atacaram para tentar desalojar todos os espaços ocupados], os laços são mais densos, os campos mais cultivados e as cabanas mais numerosas… Mas, além disso, há mais de 200 comitês locais (externos a zona) que foram criados em solidariedade com a luta e com a finalidade de propagá-la em seu próprio entorno. Chamamos a todas as forças anti-aeroporto a unir-se a manifestação de 22 de fevereiro em Nantes, para mostrar-lhes que de nenhum modo podem pôr a mão ao “bocage” [um ecossistema em estrutura de campo fechado].
Chamado feito por ocupas da ZAD [Zona A Defender]. A derrota da operação policial “Cesar”!
Fazem algumas décadas, um projeto grotesco de aeroporto ameaça o “bocage” de Notre-Dame-de-Landes, próximo da cidade de Nantes (Oeste da França). Deixado de lado por causa da crise do petróleo nos anos setenta, os dirigentes locais, o Partido Socialista, o UMP [partido de direita] e os empresários, todos reunidos, o trouxeram de novo a luz faz alguns anos, agora rotulado de “ecológico”! Fazem décadas, a população local se opõe à destruição de suas casas e de sua agricultura, respaldando-se sobre suas tradições de luta camponesa e antinuclear. A partir do final dos anos 2000, pessoas de toda a Europa chegaram para apoiá-la. Vieram instalar-se na Zona A Defender [ZAD], respondendo a um chamado de uns vizinhos que haviam decidido resistir, e ocupando desde então as terras e as casas que se abandonaram – fazem alguns anos – para deixar o espaço ao futuro aeroporto.
Em 16 de outubro de 2012, quando mais de mil gendarmes [polícia antes visada às zonas rurais, que depende do exército] chegaram para desalojar aos ocupas da ZAD, o vigor da resistência e a onda de solidariedade que essa operação engendrou, surpreendeu a todo mundo e sobretudo aos dirigentes, que já haviam duvidado que se podia responder assim à violência de suas escavadoras. Depois de dois meses de subir nas árvores [para impedir que fossem tombadas], de recursos jurídicos, de barricadas, de cantos e de projetos no “bocage”, de manifestações e de ações apontando a obras e a sedes políticas em outras partes da França, a “operação César” afundou definitivamente.
A ZAD em movimento.
A oposição aos desalojos difundiu a convicção, verdadeiro pesadelo para os planejadores do território, que é possível colocar-se no meio de seu caminho. Sim, nos falta enterrar definitivamente o projeto do aeroporto, a brecha aberta aqui tem deixado lugar a um terreno de experimentações sociais e agrícolas, efervescentes e guiadas pela solidariedade e a vontade de mudar. Na ZAD se está elaborando um movimento consolidado pelos encontros entre vizinhos antigos e recém-chegados, entre camponeses que lutam e coletivos que tratam de viver, semear e criar, rechaçando os circuitos mercantis e as normas.
A operação César teve como efeito a geração durante todo o ano passado de um grande impulso de reocupação e de reconstrução. Há hoje em dia uns sessenta lugares habitados, granjas, casas, cabanas e aldeias divididas na zona, assim que uma vintena de projetos de produção agrícola e de hortaliças. Também existem espaços coletivos para fazer rádio, música, comedores e festas, fazer pão e transformar alimentos, ler e jogar, fazer costura ou fabricar artesanalmente um moinho de vento, consertar bicicletas ou curar-se…
O retorno de César?
Estes últimos meses a maioria das tentativas feitas por VINCI, a empresa encarregada do projeto, e pela Prefeitura [autoridade estatal regional] para levar a cabo as obras preparatórias na ZAD, têm sido impedidas ou sabotadas. Apesar de tudo, fazem umas semanas os pró-aeroporto não param de anunciar nos meios de comunicação o reinício próximo das obras, e a necessidade de voltar a desalojar-nos.
A próximo etapa em seu calendário seria vir a “deslocar” algumas espécies de animais raras do “bocage”, e levar a cabo a criação de lagos e sebes nos arredores, segundo quotas de “compensação” fixadas a partir da quantificação em seus termos dos “bens e serviços ao eco sistema” do “capital natural”. Mas além do aeroporto de Notre-Dame-des-Landes, trata-se aqui de pôr em funcionamento, técnicas de engenharia ecológica ainda experimentais e emblemáticas da “maquiagem verde” moderna, que poderia servir no futuro de modelo e de legitimação para a viabilidade de outros projetos deste tipo. Para empresas como VINCE, trata-se de fato de comprar direitos de contaminação e de destruição, agora com a legitimação de “naturalistas” mercenários como a empresa Biotope. A compensação encarna uma lógica gestora que pretende encaixar em parâmetros e contabilizar a vida.
Nós mantemos uma relação totalmente diferente com os bosques, “bocages” e caminhos, com as histórias que os atravessa, e os seres vivos que fazem parte de nossa vida diária. Esses vínculos sensíveis, esses saberes práticos, ferramentas, armas e cúmplices, recursos ou referências não se deixarão nivelar. Nos negamos categoricamente a que nossas vidas sejam encaixadas e fracionadas ao infinito em suas equações acadêmicas, calculadas segundo os princípios econômicos da moda.
A resistência é contagiosa.
Hoje em dia, Notre-Dame-des-Landes se tornou um símbolo das lutas contra a ordenação territorial capitalista, que acredita que pode dispor segundo seus desejos dos espaços considerados como “não produtivos”, para implementar ali suas centrais elétricas, seus centros comerciais, suas linhas de alta tensão ou seus mega meios de circulação para humanos e produtos. Um símbolo e um grito de guerra, como puderam ser em sua época, Plogoff [luta vitoriosa contra a construção de uma central nuclear na Bretanha no final dos anos setenta], ou Larzac [luta camponesa vitoriosa contra a construção de um gigantesco campo militar no centro da França em 1973]. Um símbolo, porque em todos os lados opera essa lógica do maldito dinheiro, da velocidade, da destruição de territórios e do controle – o que eles chamam o “desenvolvimento”. De Notre-Dame-des-Landes a linha de alta velocidade entre Lyon e Torino, passando pela lixeira de rejeitos nucleares em Bure, os poderes públicos tentam impô-lo a base de pseudo-consultas e marketing “verde”. Muitas vezes se saem bem, e logram fazer-nos crer que não há alternativas. Às vezes, a reação dos vizinhos os colocam em xeque.
No próximo 22 de fevereiro em Nantes, é uma virada decisiva que está em jogo: A metrópole de Nantes tenta de novo a anexação de Notre-Dame-des-Landes? Então serão todas as oposições a este projeto e a todos os projetos do mesmo alcance que diremos à metrópole que não os queremos! Manifestaremos com alegria e determinação por lograr o abandono do projeto e para o porvir, todavia por construir, sem planificadores territoriais, tanto na ZAD como em outras partes.
Já que pretendem “compensar” o “bocage”, levaremos fragmentos dele a Nantes, e faremos ressoar o chamado para impedir concretamente o início das obras, que seja a destruição das espécies locais ou as outras obras conexas ao projeto de aeroporto: a estrada, a extensão das estradas e a modificação das redes de abastecimento de água, de eletricidade, etc…
Aproveitaremos para afirmar que se vem para desalojar-nos de novo, vamos resistir, reocupar e reconstruir, com as dezenas de milhares de pessoas que já se têm aliado aos vizinhos e camponeses da ZAD.
Lançamos a partir de hoje mesmo, um convite a organizar-se para bloquear a região e ocupar centros de poder por toda França e as representações diplomáticas, ou o que seja, no resto do mundo, em caso de uma nova grande operação policial. A VINCI, Auxiette, Ayrault e demais dirigentes: fora! Vivam as ZAD!
Ocupas da ZAD, grupos e pessoas em luta contra o aeroporto e seu mundo. Notre-Dame-des-Landes
http://22fevrier2014.blogspot.fr/
Tradução > Sol de Abril
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