Flecheira Libertária 783 | “Democrata também vive de retórica…”

antivoto

Desde o século XIX, anarquistas como Pierre-Joseph Proudhon combatiam a política e os processos eleitorais, a partir de suas próprias experiências. Proudhon, eleito em 1848, rapidamente percebeu o distanciamento entre os eleitos e a realidade social, expondo o isolamento e a ignorância da Assembleia Nacional. Essa recusa à representação influenciou outros libertários, como Piotr Kropotkin, Emma Goldman, Élisée Reclus, José Oiticica etc., que defendiam a ação direta e rejeitavam o voto como meio de transformação social. Como bem frisou Emma Goldman: “se votar fizesse alguma diferença, fariam-no ilegal.”

números, obrigatoriedades e democracia…

Como diz a canção: “são tantas coisinhas miúdas…”. Entre os votos nulos, a imprensa destaca aqueles por erros de digitação nas periferias de São Paulo. Muitos? O suficiente para dar a liderança, no primeiro turno, a quem ficou em segundo lugar. Miúdo: botaram 13 para prefeito quando o candidato apoiado por esse partido tinha outro número, obviamente por ser de outro partido. Para os simplórios tanto faz, são todos da mesma caçarola. Acostumados a grudar no presidente, obrigados a votar e mandados por alguns, eles e elas erram desejando acertar. Conduta típica de assujeitados(as)(es). Seus olhos cobiçam algum benefício imediato ou bem de consumo. Entre os(as)(es) que votam, cada vez menos importa o partido, mas o chefe. Idem para o legislativo: votam em sua minoria ou contra direitos de minorias: representação polarizada e contínua entre pobres e religiosos. O fim da polarização é assunto de elite, não é para assujeitados(as)(es), devoto(a)(e) religioso e crente em fantasias futuras paradisíacas sobre a melhoria da sua condição de bosta. Aprendem que o paraíso terreno é este lodo em que vivem. Aprenderam, há muito tempo, que os partidos lutam por controle de empregos.

abstenções

Em São Paulo e muito no Brasil, mesmo com toda a fantasia universitária, da imprensa e de redes sociais, há quase 30% que não comparecem para votar. É uma constante, com ou sem pandemia. Um dia dirão basta a esse delírio chamado democracia, representação, votos e seus penduricalhos opacos!

os que vivem de retórica

Não é de hoje que muitos politólogos e politiqueiros defendem, com unhas e dentes, o voto obrigatório no Brasil, para homens e mulheres maiores de 21 anos que foi instituído pelo Código Eleitoral de 1932, com idade reduzida para 18 anos, em 1934 e mantido após 1988. Argumentam que, caso não fosse assim, os governos, à esquerda, à direita ou ao centro, careceriam de “legitimidade”, uma vez que as abstenções são uma constante. Tratando-se de entusiastas da democracia, poderiam, no mínimo, ser questionados a respeito disso. Afinal, já que a palavra “direito” está presente em cada uma das frases pronunciadas por muitos especialistas das humanidades, por que não preservar a vontade dos que não estão interessados em eleger quaisquer chefes ou indicados dos chefes? Democrata também vive de retórica…

os gestores

Retórica que se apresenta como “radical”, eleições, acomodação em cargos e empregos e, claro, moderação. Esse é o itinerário comum aos sociais-democratas na Europa e, não menosprezando as diferenças históricas e locais, o é também da esquerda do continente americano que, outrora, aderiu às premissas revolucionárias do socialismo autoritário. No Uruguai, concebido por muitos como um dos grandes exemplos de “maturidade” e estabilidade democrática na região, o candidato da esquerda local apresenta como trunfo um economista vinculado ao setor corporativo. Essa é a composição apoiada pela agremiação constituída por antigos guerrilheiros tupamaros, considerados, atualmente, as vozes moderadas, negociadoras e com disposição de diálogo na política nacional uruguaia. Em muitos casos, os antigos guerrilheiros se tornaram os gestores que a ordem tanto necessita.

gestores e caricatos

No Brasil não é diferente, só mais caricato. Não à toa, há quem apresente a trajetória do candidato de esquerda em São Paulo como atualização dos caminhos de Cristo, agora ao lado dos que não têm moradia. Em nome da tolerância e do pluralismo democrático, há quem não hesite em reiterar que aproveitará propostas do coach de ultradireita para derrotar o candidato apoiado pelo homem que sentava anteriormente no trono do palácio. Tudo para conseguir votos populares em zonas nas quais os assujeitados, hoje em dia, estão mais alinhados com a direita. Tudo em busca de cargos, controle de empregos e reforço da moral. Isso é a política, seja de esquerda, de direita ou de sempre. Pouco importa.

Fonte: https://www.nu-sol.org/wp-content/uploads/2024/10/flecheira783.pdf

agência de notícias anarquistas-ana

Flor do cerrado —
Na primavera seca
Só o ipê floresce

Eduardo Balduino

[Austrália] Libertem o companheiro William Sadiq, já!

O veterano anarquista e membro da Workers Solidarity Federation, afiliada da IWA no Paquistão, foi preso e detido pela polícia de Karachi em uma manifestação de protesto contra extremistas religiosos que mataram um médico em Karachi acusado de blasfêmia.

Também foram presos os companheiros da WSF Sindhu, Zahra, Nasir, Jami e sua filha, juntamente com cerca de 600 ativistas, apesar de ser um protesto legal.

A WSF Karachi atraiu a ira dos “islamistas zumbis” por seus protestos contra o assassinato de Mahsa Amini pela polícia religiosa do Irã em 2022 e pelas manifestações públicas em Karachi em apoio aos direitos dos transgêneros no ano passado.

Agora, o governo do Partido Popular da província de Sindh ordenou que a polícia de Karachi reprimisse os protestos contra os extremistas religiosos assassinos.

A ASF-IWA se solidariza com nossos companheiros no Paquistão. Onde e quando quer que aconteça no mundo, um ataque a um filiado da IWA é um ataque a todos.

Fonte: https://asf-iwa.org.au/release-comrade-william-sadiq-now/

agência de notícias anarquistas-ana

um raio de sol
transluz — balança a cortina…
borboleta amarela!

Douglas Eden Brotto

[Espanha] Vídeo: Ação direta em Sevilha: 1 ano de genocídio, em solidariedade ao povo palestino

Ação direta realizada nas primeiras horas do dia 8 de outubro na cidade de Sevilha. Contra o genocídio. Fogo a Israel e a todos os Estados!

O SOM DA PÓLVORA O INCOMODA?

Esse som, juntamente com seus efeitos mortais, é o que o povo da Palestina vem experimentando há um ano. Israel e seus apoiadores estão apenas lucrando com o genocídio. A vida dessas pessoas se tornou uma moeda de troca para a crise do capital que, mais cedo ou mais tarde, acabará com o Ocidente e, portanto, com você também. Não consideremos o genocídio/etnocídio palestino como um evento geograficamente isolado.

Há aqueles que ainda não querem ver a conexão entre o Estado espanhol e o genocídio na Palestina: o Estado espanhol, como outros Estados que se dizem democratas, bem como muitas empresas privadas que tentam branquear sua imagem, estão fabricando e vendendo armas, apoiando-os economicamente, mentindo e justificando o genocídio, desumanizando o povo palestino, estão sendo cúmplices diretos desse genocídio em nome de todo o Estado, em nome de todo o povo.

Hoje, a simulação de um bombardeio chegou à cidade de Sevilha, a fim de aproximar essa realidade dos bairros, porque não, não é algo estranho. Se a Palestina está sendo executada, assumamos que estamos em guerra e paremos de pensar que se trata de um evento exclusivo entre Israel e Palestina, porque nesse espetáculo de guerra há muitas mãos manchadas de sangue também em nosso território.

A diferença entre ouvir a pólvora e fazer com que ela atravesse seu corpo está, no momento, relacionada ao local onde você está, e como não estamos sendo massacrados aqui e temos um cérebro vivo para pensar e refletir, de que adianta viver no escuro? Nesses ataques de Israel, eles estão matando todos os tipos de seres vivos, desde principalmente mulheres e crianças até animais, porque o objetivo é a destruição total do território com todo o seu conteúdo. Por isso, durante essa ação, assumimos a contradição sobre os efeitos da simulação de um bombardeio na cidade de Sevilha: pessoas para as quais os sons estridentes são uma situação extrema, pássaros, animais que nos acompanham em casa? Lamentamos o que isso possa ter causado e os convidamos a refletir sobre o que está acontecendo na Palestina. Será que já não é suficiente? Enquanto a população permanecer dormindo, achamos que não é suficiente e que simular um bombardeio tem essas consequências, com o privilégio de que, depois da pólvora, não há morte.

FOGO EM ISRAEL E EM TODOS OS SEUS CÚMPLICES!

>> Veja o vídeo aqui:

https://vimeo.com/1017521947?share=copy

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Quase desperdício.
Moscas sobre caquis podres
Só o sapo come.

Anibal Beça

Lançamento: v e r v e 46 | Revista do NU-SOL — Núcleo de Sociabilidade Libertária

sumário

só os vestígios fazem sonhar: uma aproximação e as várias diferenças entre os anarquismos e o surrealismo

Gustavo Simões

em tempos de eleições

Martins Garcia

depois das eleições

Incógnito

64: 60 anos depois e depois do depois

Edson Passetti

eu o vi morrer

Robert Arlt

técnica

Christian Ferrer

eu também sou um niilista

Renzo Novatore

lia junqueira: uma obá entre os mortais

Márcia Cristina Lazzari

claire auzias: potência da anarquia e da vida

José Maria Carvalho Ferreira

dossiê heliana conde

Nu-Sol, Rosimeri de Oliveira Dias, Katia Aguiar, Alessandro Francisco e Jonas Waks

dossiê dodi (dorothea voegeli passetti)

Nu-Sol, Beatriz Scigliano Carneiro, João da Mata, Nilson Oliveira, José Maria Carvalho Ferreira & Dorothea Voegeli Passetti

resenhas

saberes e práticas dos trabalhadores (1906-1935)

Diego Lucato

o menino que foi menina: um romance libertariamente possível

Flávia Lucchesi

>> Clique aqui – Versão completa em pdf:

https://www.nu-sol.org/wp-content/uploads/2024/10/VERVE-46_2024.pdf

agência de notícias anarquistas-ana

As nuvens do céu –
o céu do infinito
eu de nenhum lugar

Stefan Theodoru

Queimadas como estratégia do agronegócio para a expansão territorial: Uma análise anarquista

As queimadas são uma estratégia de expansão territorial do agronegócio às custas da saúde pública e do equilíbrio ecológico dos biomas. Elas fazem parte do projeto da fração agrária da burguesia interna para a ampliação de áreas de cultivo e pastagem. A maior parte das queimadas resulta do desmatamento ilegal, motivado pela expansão acelerada do agronegócio, e é de conhecimento e cumplicidade das autoridades. O legado socioambiental desse projeto expansionista de lucro privado é a degradação ambiental, o roubo de terras, a morte de animais selvagens e a precarização da saúde da classe trabalhadora, particularmente dos setores mais vulneráveis, como crianças, idosos e pessoas com problemas respiratórios.

Em 2024, incêndios queimaram a Amazônia, o Cerrado e o Pantanal, atingindo diversas regiões do Brasil, inclusive metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro. De acordo com dados do Programa Queimadas do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), houve um crescimento das queimadas em todas as regiões do país em comparação a 2023. O desmatamento no Cerrado, desde janeiro de 2023, resultou na emissão de mais de 135 milhões de toneladas de CO2, o que equivale a cerca de 1,5 vezes as emissões anuais do setor industrial brasileiro. Em 2024, o Cerrado registrou, até setembro, o maior número de queimadas desde 2012, afetando aproximadamente 11 milhões de hectares, conforme dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. As emissões associadas ao desmatamento estão principalmente concentradas na região do MATOPIBA, entre janeiro e julho de 2023, segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia.

No Centro-Oeste, o Mato Grosso do Sul apresentou um aumento de 601%, com 11.990 focos em 2024; o Distrito Federal registrou um crescimento de 269%, totalizando 318 focos; e em Mato Grosso, o aumento foi de 217%, chegando a 45 mil focos. No Norte, o Pará também teve uma elevação, contabilizando 17.297 focos, o que representa um crescimento de 21,2%. No Sudeste, destacam-se os aumentos em São Paulo e no Rio de Janeiro. Em São Paulo, o crescimento foi de 428% em setembro, com 7.855 focos registrados. No Rio de Janeiro, o aumento foi de 184%, totalizando 1.074 focos.

Luciana Gatti, coordenadora do Laboratório de Gases de Efeito Estufa do INPE, responsabilizou o agronegócio por essa situação e recebeu hostilidade do setor. Nem mesmo o aparelho repressor do Estado conseguiu omitir que as queimadas foram planejadas. Embora oculte a origem de classe dessas ações, o delegado Humberto Freire de Barros, diretor de Amazônia e Meio Ambiente da Polícia Federal, afirmou em entrevista à Globo News que investigações preliminares indicam que vários incêndios começaram quase simultaneamente, sugerindo a possibilidade de uma coordenação. Ao mesmo tempo, a fração jurídica do Estado tem tentado ocultar os responsáveis já identificados, como ficou explícito na decisão judicial que determinou que o nome de um indivíduo envolvido no desmatamento e em incêndios no Pantanal, na região de Corumbá (MS), permanecesse sob sigilo.

O governo Lula-Alckmin (PT-PSB) anunciou recentemente a reativação de iniciativas de combate ao desmatamento, incluindo o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia (PPCDAm). Contudo, o governo liberou para o combate aos incêndios cerca de 0,1% do que foi destinado aos latifundiários do agronegócio através do Plano Safra, que destinou R$ 400 bilhões à agricultura empresarial, um aumento de 10% em relação à safra anterior. Além disso, R$ 108 bilhões em títulos de dívida emitidos por bancos elevaram o total disponível para o agronegócio nacional para R$ 508 bilhões.

Demonstrando o compromisso do atual governo com a continuidade de um modelo agrário-exportador para o Brasil — e destacando que a prática de “passar a boiada” não é exclusiva do governo Bolsonaro —, em setembro, os ministros das Relações Exteriores e da Agricultura, Mauro Vieira e Carlos Fávaro, enviaram uma carta à liderança da União Europeia (UE) expressando preocupação com a nova legislação aprovada pelo bloco. Essa lei, conhecida como EUDR, proíbe a importação de produtos provenientes de áreas desmatadas, independentemente da legalidade, a partir de 2020. A medida, que entrará em vigor no final deste ano, terá um impacto significativo nas exportações para a região. Em um país que é o segundo maior em assassinatos de ambientalistas, as respostas governamentais têm se concentrado em esforços limitados de combate às queimadas e em ameaças tímidas de punição aos responsáveis, sem abordar a base do poder dos latifundiários: a posse da terra.

Questão ambiental como questão social: a necessidade de uma revolução integral

Do ponto de vista anarquista, em uma sociedade de classes, a questão ambiental é uma questão social. Ou seja, em sociedades nas quais a apropriação da terra e da natureza é mediada pela propriedade privada dos meios de produção e regulada por uma autoridade estatal que legitima e viabiliza essa apropriação, os usos dos biomas não ocorrem nas mesmas condições para as diferentes classes sociais.

As próprias classes construíram relações diferenciadas com os biomas ao longo do tempo no Brasil. O campesinato, os povos indígenas e as comunidades tradicionais se relacionaram com a Amazônia, Caatinga, Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica e Pampa visando à sua reprodução social, construindo culturas e formas de organização social que conservam esses biomas porque deles dependem para sua sobrevivência. Já a burguesia tem transformado a biodiversidade dos biomas para servir às suas monoculturas, pastos e minas, visando à acumulação de capital por meio da exportação de commodities.

O Estado não apenas protegeu, por meio de legislação e forças policiais e militares, as transformações ecológicas necessárias para a expansão da economia capitalista, mas também tornou possível a apropriação burguesa dos biomas, através de uma burocracia técnico-científica que mapeou fronteiras agrícolas, minerais e energéticas para a instalação de frentes de expansão em territórios tradicionalmente habitados por uma diversidade de povos. A expansão do capitalismo e do estatismo está dialeticamente vinculada. A expansão do Estado-nação implicou tanto uma integração subordinada dos povos ao sistema de governo quanto uma degradação ecológica dos biomas para a instalação de infraestruturas (fazendas, barragens, rodovias, linhões de energia, usinas eólicas, solares, nucleares), resultando, assim, em um processo de dominação socioecológica de povos e biomas.

As lógicas do estatismo e do capitalismo são expansionistas. O Estado visa aumentar seu domínio subordinando e integrando povos e territórios. O capitalismo está assentado na busca infinita por crescimento e lucro por meio da exploração da força coletiva de trabalho e da apropriação privada da natureza. Ambas as estruturas de dominação são incompatíveis com a preservação da diversidade de povos e biomas do Brasil e da América Latina, o que implica que o equilíbrio ecológico necessário à reprodução da vida e à salvaguarda dos povos depende de um combate à degradada ordem socioecológica produzida pelo Estado e pelo capital.

O Estado e o capital devem ser encarados não apenas como instituições sociopolíticas e econômicas das classes dominantes assentadas na exploração e dominação da força coletiva do proletariado internacional, mas também como agentes capazes de alterar o equilíbrio ecológico de solos, aquíferos e da atmosfera, milenarmente alcançados pela natureza, para atender às suas lógicas expansionistas de centralização de poder e concentração de capital. nesse sentido, o Estado e o capital são capazes de produzir um ordenamento socioecológico pelo qual o poder e a riqueza da classe dominante são garantidos e reproduzidos às custas das condições socioecológicas de vida dos povos e da natureza.

Frente a uma crise integral, que é econômica, política, social e ambiental, necessitamos de uma revolução social também integral. O futuro do equilíbrio ecológico do planeta, da liberdade e do bem-estar dos povos depende dessa revolução integral e internacionalista, capaz de socializar os monopólios de riqueza e poder e reordenar profundamente as atuais relações socioecológicas.

uniaoanarquista.wordpress.com

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agência de notícias anarquistas-ana

Seus cachos de seda
são borboletas douradas
brincando na brisa.

Humberto del Maestro

[Espanha] CNT com o povo palestino e contra o genocídio

A partir da CNT, queremos denunciar publicamente a escalada militar e a barbárie capitalista no Oriente Médio.

A recente invasão do território libanês pelas forças armadas do Estado de Israel, com a cumplicidade e o silêncio de seus Estados aliados, é mais uma consequência da política militar liderada pelo governo sionista de Netanyahu, cujo epicentro é o genocídio em Gaza.

Com base em nossos princípios internacionalistas e libertários, estamos ao lado das pessoas que são vítimas das consequências dessas operações militares, que causam sofrimento, morte e o deslocamento de milhares de pessoas. Mas também, a partir desses mesmos princípios, condenamos todos os Estados e outras entidades não estatais que, ao mesmo tempo em que oprimem todos os povos da região, instrumentalizam as vidas humanas das classes despossuídas para manter suas guerras, mantendo intactos os privilégios das classes dominantes que as lideram.

Apelamos para as classes populares, para o povo trabalhador, para o proletariado; a única classe sem interesses partidários em todas essas lutas ou interesses de privilégio, governo ou classe. Apelamos para as classes trabalhadoras do mundo, pois elas são as únicas que têm a capacidade real de acabar com a guerra. Esperamos que experiências como a da Frente Unida dos Trabalhadores para a Defesa do Povo Palestino, que uniu organizações de trabalhadores e sindicatos do mundo árabe, do Magrebe, do Irã, do Curdistão e da Palestina, sirvam para desenvolver o espírito internacionalista proletário.

Também apelamos para a parte da classe trabalhadora em Israel que, mesmo hoje, por mais que seja uma minoria, se opõe ativamente à guerra. Apesar da militarização de qualquer sociedade em tempos de guerra, sempre haverá aqueles que se recusam a obedecer e lutam pela liberdade. Apelamos para a classe trabalhadora aqui também, à distância de estarmos situados no sul de uma Europa cúmplice do Estado de Israel, para que se organize como uma classe.

A escalada da guerra no Oriente Médio também está afetando nossas sociedades, tornando nossas economias mais precárias em benefício do esforço de guerra e militarizando a vida pública por meio da normalização da barbárie. A única alternativa à guerra e à barbárie capitalista é a revolução social, mas primeiro precisamos nos organizar para sermos uma força capaz de realizar esse trabalho.

Proletários do mundo, unamo-nos! Pela paz no Oriente Médio, não à guerra! Pela revolução social!

cnt.es

Tradução > Liberto

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agência de notícias anarquistas-ana

À luz da manhã
cigarras cantam uníssonas:
homenagem ao sol.

Ronaldo Bomfim

[EUA] PM Press reedita dois livros de Ken Knabb

Caros amigos e contatos,

A PM Press acaba de republicar dois de meus livros:

Situationist International Anthology: Edição revisada e ampliada

Editado e traduzido por Ken Knabb

Esta é a coleção mais abrangente de textos em inglês do notório grupo que ajudou a inspirar a revolta de maio de 1968 na França e o movimento internacional Occupy de 2011. Para esta nova edição, aperfeiçoei todas as traduções e atualizei a bibliografia para incluir comentários sobre dezenas de livros mais recentes de e sobre os situacionistas.

Guy Debord: The Society of the Spectacle

Traduzido e anotado por Ken Knabb

Essa análise concisa da estrutura fundamental de nossa sociedade é, sem dúvida, o livro radical mais importante dos últimos cem anos, mas também é muito desafiador. Esta é a primeira edição em inglês que inclui anotações extensas, tornando-a muito mais acessível.

A PM Press agora também distribui meu outro livro:

Public Secrets: Collected Skirmishes of Ken Knabb

Juntamente com uma variedade de artigos e folhetos mais curtos, esse livro inclui “The Joy of Revolution”, no qual examino os prós e os contras de uma ampla gama de táticas radicais e, em seguida, ofereço algumas especulações sobre como seria a vida após uma revolução do tipo situacionista.

A PM Press publicou muitos outros livros de interesse relacionado. Recomendo especialmente The Revolution of Everyday Life, de Raoul Vaneigem, e Guy Debord, de Anselm Jappe, ambos traduzidos por meu amigo Donald Nicholson-Smith.

Esses cinco livros trazem à tona nossas opções reais, ajudando-nos a entender melhor e a minar o sistema social absurdo em que nos encontramos. Se você ainda não os conhece, recomendo que dê uma olhada neles!

P.S. Durante o mês de outubro, você pode encomendar qualquer um desses livros da PM Press (pmpress.org) com 20% de desconto (código do cupom: OCTOBER).

agência de notícias anarquistas-ana

Sente-se, por favor
no banquinho do jardim,
Primavera-San…

Teruo Hamada

[México] Segunda chamada: Encontro Global pelo Clima e pela Vida, Oax, MX, novembro de 2024

Segunda convocação: Onde e com quem navegamos?

Para o Exército Zapatista de Libertação Nacional

Ao Congresso Nacional Indígena – Conselho Indígena de Governo

Aos povos, tribos, nações, comunidades, bairros, organizações, coletivos e ativistas que lutam para defender a Mãe Terra, resistindo e construindo autonomia em todos os cantos do Sul Global (Oaxaca, México e o mundo).

Aos meios de comunicação livres, comunitários, alternativos, independentes e autônomos ou como quer que se chamem.

Àqueles que defendem a vida com suas próprias vidas.

Estamos a menos de dois meses do Encontro Global pelo Clima e pela Vida – ANTICOP 2024, um momento crucial que nos convoca a unir nossas forças e corações em torno de uma causa comum: a defesa da Mãe Terra. Em nossa jornada rumo a novembro, já iniciamos o diálogo em nossos fóruns virtuais (https://mirrorssouthglobal.org).

Esses intercâmbios servem como um preâmbulo para o trabalho que nos espera e nos ajudam a refinar nossas propostas e estratégias. Nesta segunda convocação, gostaríamos de nomear nossas irmãs do EZLN e do CNI-CIG, porque seu exemplo e seus passos nos ensinaram a abraçar fortemente a luta contra o capitalismo, o patriarcado e o colonialismo, a trabalhar todos os dias por esse mundo onde cabem muitos mundos. Sua coragem e perseverança nos inspiram a seguir em frente, mesmo quando os desafios parecem esmagadores. Reiteramos nosso convite, seria uma honra para nós contar com sua presença.

Sua palavra, exemplo e orientação são cruciais para construir um futuro em que a justiça e a equidade prevaleçam. Essa iniciativa nasceu de uma profunda reflexão sobre as tempestades que enfrentamos e sentimos em nossa realidade diária. Depois de analisar a Sexta Declaração da Selva Lacandona e a Declaração pela Vida, decidimos unir forças para unir nossas lutas entre Povos, Tribos, Nações, Comunidades, Bairros, Organizações, Coletivos e ativistas de diferentes cantos do planeta que também estão comprometidos com a defesa da Mãe Terra e da Vida. Desde o início, aqueles de nós que tomaram a iniciativa sabiam que enfrentariam aqueles que acreditam ter todas as respostas e só ouvem o doce som de sua própria voz. Enfrentamos uma ampla gama de atores, desde os que estão no poder até aqueles que o criticam, mas abusam dele em espaços comuns. Fiquem tranquilos, vanguardas, pois não estamos procurando suas bases, nem convocando seus públicos cativos. Rumores, mentiras e silêncios cúmplices são ouvidos. Parece que é mais fácil destruir do que construir, julgar do que entender.

No entanto, estamos firmemente comprometidos com o diálogo sobre as diferenças, estabelecendo pontos em comum diante das adversidades, com base na honestidade e na profundidade da palavra companheira. Nos dedicamos à construção constante e coletiva porque sonhamos o impossível e acreditamos em um futuro melhor.

O momento de nos reunirmos é agora. Esta convocação é dirigida a todas as pessoas que se sentem invisíveis, presas ao desespero e às dívidas, muitas vezes abandonadas e sozinhas, àqueles de nós que sentem a necessidade de enfrentar juntos e organizados as tempestades que estão por vir. Temos testemunhado em várias geografias do planeta o crescimento de uma “esquerda borrada” que, pouco a pouco, revelou sua verdadeira pele, mostrando seu caráter neoliberal e profundamente fascista em suas ações. Essa suposta alternativa progressista não protesta contra a militarização nem questiona os planos imperialistas.

Com uma mão, ela oferece programas sociais e, com a outra, entrega territórios ao capital transnacional. No México, essa esquerda neoliberal pode abraçar Evo Morales, mas também fecha suas fronteiras para os povos da América Central e mostra seu desprezo por aqueles que defendem a terra e o território, reafirmando o programa de desapropriação, a exacerbação do extrativismo e a abertura para o colonialismo verde. Estamos vendo a continuidade dos megaprojetos do capital transnacional que continuam se impondo em nossos territórios com desprezo pelos povos, não só destruindo a posse da terra, mas também mutilando a identidade, a cultura, a língua e a espiritualidade dos povos. Ao mesmo tempo, denunciamos as imposições e cumplicidades entre o governo, as corporações e as estruturas criminosas para colocar o território mexicano em jogo em uma transição energética que se opõe aos interesses dos povos e de seus territórios. Nós, que convocamos o Encontro Global pelo Clima e pela Vida, buscamos construir a partir de baixo, com uma organização sólida que recupere as inúmeras lutas em defesa da vida e do território de nossos povos. Queremos evitar a imposição de agendas para ouvirmos uns aos outros, sempre tendo a luta pela vida como nosso horizonte comum.

Em nosso encontro, queremos nos permitir sonhar com um diálogo enriquecedor entre movimentos, povos, organizações, coletivos e ativistas. Queremos repensar nossas estratégias e ir além da denúncia, em direção a ações concretas e transformadoras.

Que caminho tomaremos após do Encontro Global? Tomaremos essa decisão juntos, juntas, juntes. Ouvimos uns aos outros em Oaxaca, prontos para escrever o próximo capítulo de nossa história compartilhada.

OBSERVAÇÃO: O programa geral ainda está em construção e será publicado em meados de outubro.

OBS 2: Ainda estamos respondendo a e-mails e mensagens. Caso não tenha recebido uma resposta, insista enviando a frase “a ver a ver a qué horas”.

Obrigado.

Fonte: https://radiozapatista.org/?p=48955

Tradução > Liberto

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agência de notícias anarquistas-ana

Libélula voando
pára um instante e lança
sua sombra no chão

Masuda Goga

[Espanha] XV Aniversário da Biblioteca Anarquista La Maldita

A Biblioteca Anarquista La Maldita completa 15 anos de caminhada. Três lustros desde o início desse projeto de disseminação do pensamento crítico e libertário baseado no bairro de Gamonal, que continua avançando contra ventos e marés.

Para comemorar esse 15º aniversário, La Maldita organizou uma série de eventos que ocorrerão durante grande parte do mês de outubro, com um programa repleto de iniciativas. Para obter mais detalhes sobre o conteúdo das atividades programadas pela biblioteca anarquista, consulte os pôsteres do evento em destaque.

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agência de notícias anarquistas-ana

Hermética música
há no silêncio da lágrima
que salga o mar.

Fred Matos

[Londrina-PR] Agro é morte! Terra para o povo!

por Alternativa Popular-Paraná

No dia 22 de Setembro de 2024, a Alternativa Popular/FOB Paraná esteve presente nas ruas de Londrina, denunciando as ações terroristas do agronegócio e convocando a classe trabalhadora para lutar pela terra pela via da ação direta.

Também denunciamos a relação de conluio do governo Lula com o latifúndio e a farsa da conciliação de classes.

É necessário avançar com reivindicações classistas como corte no Plano Safra, aceleração da reforma agrária e cassação dos parlamentares ligados aos crimes do Agro.

Saudamos geral que esteve presente e construiu a manifestação, especialmente nossas organizações de base.

Conquistar terra para o povo, acabar com a concentração de terra na mão dos ricos!

lutafob.org

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agência de notícias anarquistas-ana

Boneca se aquece
com o meu chapéu de lã.
Eu visto saudades.

Teruko Oda

Você sabia…

A Ilusão da Divisão: Esquerda e Direita no Capitalismo Brasileiro

A dicotomia esquerda versus direita, tão presente no debate político burguês brasileiro, frequentemente mascara uma realidade mais complexa e interligada. A afirmação de que no atual sistema capitalista “democrático” brasileiro, ambos os espectros ideológicos acabam no fim por convergir, especialmente na hora de apoiar determinados candidatos, encontra respaldo em diversos fatores. Vejamos alguns:

Nas eleições ocorridas neste ano de 2024, dos 85 candidatos no país que tinham no seu palanque tanto o PT (Partido dos Trabalhadores), do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quanto o PL (Partido Liberal), do ex-presidente Jair Bolsonaro, 58 conseguiram se eleger prefeitos, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Somente este fato aponta que as supostas divergências entre ambos os espectros políticos não são tão grandes assim quando o tema é a disputa pelo poder do Estado. Apesar de PARECEREM inimigos, Lula e Bolsonaro formam alianças sem qualquer pudor para alcançar dividendos políticos mútuos.

Registre-se que o sistema político brasileiro, marcado por uma forte personalização da política e por um sistema partidário fragmentado, favorece a formação de alianças pragmáticas, nas quais as ideologias de fundo sempre são secundárias em relação aos interesses imediatos. Essa dinâmica permite que tanto partidos de “esquerda” quanto de direita se unam em torno de candidaturas que prometam benefícios concretos a seus partidos, independentemente da orientação ideológica declarada.

Ademais, a própria dinâmica do capitalismo, com sua busca incessante por acumulação de capital e sua tendência a concentrar riqueza, exerce pressão sobre os partidos políticos, independentemente de sua posição no espectro ideológico. A necessidade de atrair investimentos e garantir a estabilidade econômica muitas vezes leva tanto a “esquerda” quanto a direita a adotarem políticas econômicas convergentes, com ênfase na redução de gastos públicos e na flexibilização das leis trabalhistas. Assim, no contexto brasileiro, onde o oportunismo político é regra suprema, as fronteiras entre esses espectros ideológicos se tornam ainda mais fluidas, permitindo que partidos e candidatos se apropriem de discursos e propostas que transcendem as divisões tradicionais entre esquerda e direita.

Os fatos acima citados deixam claro para nós, explorados e oprimidos, que o caminho para a liberdade e justiça não passa pela disputa do poder do Estado, braço simbiótico do Capital.  Ao contrário, entender que todos os partidos políticos, no discurso e/ou na prática cotidiana, são defensores do Estado e do Capitalismo e que, portanto, devem ser enfrentados, combatidos e repelidos do tecido social é um grande passo na longa jornada da emancipação humana.

Liberto Herrera

agência de notícias anarquistas-ana

Mamonas estalam.
Os cachos da acácia
Parecem imóveis.

Paulo Franchetti

[Uruguai] José Mujica e a atração irresistível dos “bons” presidentes (mesmo para alguns anarquistas)

Por Raúl Sardo

“Os acontecimentos posteriores mostraram, a cada nova prova, quão desastrosa foi a ilusão da confiança sincera nos bons tiranos, mas quantas vezes essa ilusão se renovou em outras formas, com a monarquia parlamentar, depois com a burguesia republicana e, finalmente, com os socialistas de Estado, que se comprometeram, sucessivamente impulsionados pela excitação popular, a realizar o ideal de liberdade e igualdade dos cidadãos. Esses tesouros serão conquistados, ou nunca serão dados. – (Eliseo Reclus: Man and the Earth-1909)

“Pegue o revolucionário mais radical, coloque-o no trono da Rússia e conceda-lhe poder ditatorial – a ilusão de nossos revolucionários novatos – e dentro de um ano ele será pior do que o próprio imperador.” – Mikhail Bakunin

Tenho visto e ouvido inúmeros artigos de camaradas libertários entusiasmados com José Mujica, ex-presidente do meu país, o Uruguai.

E isso tem me preocupado, porque acho que, embora o anarquismo abranja várias formas de pensar, eu pensava que um dos limites era o Estado e seus administradores.

Mas não, Mujica deslumbrou por ser o “presidente mais pobre do mundo”, apesar de sua última declaração juramentada (2015) (1) declarar uma riqueza de U$S 300.000, sem contar os bens de sua esposa Lucía Topolansky… como disse um camarada: “vale a pena ser pobre!

Como contou um jornalista de esquerda em um programa de rádio há 6 anos (2), Mujica criou um personagem, e a maior parte do mundo – inclusive os companheiros e companheiras – acreditou nele.

Um personagem que parte de fatos reais, pois ele era um guerrilheiro tupamaro e um dos famosos “reféns” da ditadura, todos eles em condições subumanas – não eram os únicos, a maioria era assim, há vários livros e até filmes que ilustram o calvário que viveram.

Mas, de personagem secundário no MLN (Movimiento de Liberación Nacional-Tupamaros), e após a morte de Raúl Sendic pai, o iniciador do Movimento, ele se posicionou como o principal ponto de referência – juntamente com E Fernández Huidobro, que desempenhou um triste papel como Ministro da Defesa – da esquerda “radical” dentro da Frente Ampla, a coalizão de esquerda nascida em 1971.

Alguns dos ex-tupamaros deixaram a FA – como Jorge Zabalza e María Topolansky (3), gêmea de Lucía – permanecendo e militando no exterior com fortes críticas aos governos da coalizão de esquerda.

Sua carreira política meteórica se desenvolveu a partir de pequenos grupos radicais que gradualmente se adaptaram à ideologia centrista da FA, deixando os mais radicais para trás.

Uma vez no cargo, ele desenvolveu toda uma política econômica que deu continuidade à de Tabaré Vázquez – presidente anterior da FA – baseada na entrega dos recursos do país, como a maior propriedade estrangeira de terras da história (4), uma política de “transbordamento” e crédito barato para o consumo, baseada no fato de os ricos darem trabalho aos pobres, mesmo ignorando os direitos ambientais (5) e às custas da contaminação da água e da terra com plantações de soja (6) e a instalação de fábricas de papel, com enormes investimentos do Estado para sua logística, em contratos secretos (7).

Em outras áreas, insatisfeito com alguns sindicatos que não se calaram – especialmente o sindicato dos professores – ele não se acanhou em declarar: “Temos que nos unir e esmagar esses sindicatos, não há outra maneira. Tomara que consigamos tirá-los do caminho” (8), e sobre a questão dos direitos humanos, por um lado, ordenou que um militante, membro de sua organização política, não comparecesse ao Parlamento (2011) quando seu voto era necessário para a anulação da Lei de Caducidade (anistia para os militares da ditadura), embora esse membro, Víctor Semproni, sempre tenha declarado que se tratava de uma decisão pessoal… (9).

Anteriormente, no segundo plebiscito para a anulação dessa lei (2009), houve setores (inclusive o de Mujica) que não apoiaram o SIM, o que levou a uma votação insuficiente de 48% a favor.

Ele recebeu cinco prisioneiros de Guantánamo como contribuição humanitária (10), mas, ao mesmo tempo, declarou: “Para vender alguns quilos de laranjas aos Estados Unidos, tive de pagar por cinco loucos presos de Guantánamo” (11).

Enfim, eu poderia continuar com uma infinidade de exemplos de algo que acredito estar claro para nós, anarquistas, só de conhecer uma pessoa que é política, e mais ainda quando se torna presidente… que percorreu inúmeros caminhos de acomodação, corrupção, etc., para chegar lá.

Mujica – assim como Tabaré Vázquez – deu continuidade a uma linha política inaugurada por Liber Seregni em 1984 – no final da ditadura – quando fez um pacto com os militares para uma saída “ordeira” e impunidade para eles; assim como uma dependência dos movimentos sociais aos ditames da Frente Ampla.

Uma FA capitalista, que não busca mudanças estruturais, funcional – e Mujica um defensor (12) – do sistema.

Desde então, nosso país tem sido um país sem indústria, um país de serviços – turismo, TI – e de exportação de commodities – soja, carne e celulose de eucalipto para as fábricas de papel finlandesas -, com a destruição da educação e da seguridade social, outrora um exemplo mundial, e a pauperização gradual da população invadida pelo narcotráfico – as pessoas que trabalham nele são contadas como “empregadas” (13) – e como centro de lavagem de ativos da América do Sul (14).

Em suma, o progressismo, e principalmente a figura de Mujica, tem desempenhado um papel importante no apaziguamento e na manipulação dos mais fracos, com seu estilo “popular” e “realista”… na minha opinião, mais perigoso do que a direita.

Nada de novo no mundo, e me desculpe, não existem presidentes “bons”…

  1. https://www.infobae.com/2015/04/23/1724323-mujica-declaro-un-patrimonio-us300-mil-dejar-la-presidencia/ ↩︎
  2. https://www.youtube.com/watch?v=s-GDJDX2Bq8&t=1s ↩︎
  3. https://www.subrayado.com.uy/maria-topolansky-critico-su-hermana-y-mujica-ellos-no-fueron-el-hueso-n946907 ↩︎
  4. https://www.sudestada.com.uy/articleId__8de24215-7365-44b7-8cdc-130bcbf17e8c/10893/Detalle-de-Noticia ↩︎
  5. https://www.youtube.com/watch?v=ip0KdvEvwTY&t=53s ↩︎
  6. https://infloridauy.wordpress.com/2013/03/30/uruguay-esta-sufriendo-una-epidemia-de-cancer/ ↩︎
  7. https://movusuruguay.blogspot.com/2024/04/llevara-900-anos-recuperar-lo-gastado.html ↩︎
  8. https://www.busqueda.com.uy/Secciones/Vazquez-declaro-esencial-la-educacion-apoyado-por-los-lideres-del-Frente-Amplio-y-colmado-por-el-accionar-de-los-sindicatos-uc22776 ↩︎
  9. https://laprensa.com.uy/informaci%25C3%25B3n/politica/23647-el-mandato-del-fa-no-me-puede-imponer-a-mi-hacer-algo-para-lo-que-no-tengo-facultades- ↩︎
  10. https://www.gub.uy/presidencia/comunicacion/noticias/mujica-dijo-ayudara-desmantelar-verguenza-humana-sin-afectar-seguridad-pais ↩︎
  11. https://www.subrayado.com.uy/mujica-para-vender-naranjas-eeuu-tuve-que-bancar-5-locos-guantanamo-n55845 ↩︎
  12. https://www.facebook.com/watch/?v=1160072041131236 ↩︎
  13. https://www.lr21.com.uy/politica/437653-malestar-de-ong-por-afirmaciones-de-canepa ↩︎
  14. https://www.sudestada.com.uy/articleId__a7ad3d09-1717-4aab-ab40-9cc8f265fadc/10981/Detalle-de-Investigacion ↩︎

Fonte: https://redeslibertarias.com/2024/09/16/jose-mujica-y-la-irresistible-atraccion-de-los-presidentes-buenos-incluso-para-algunos-anarquistas/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

de momento em momento
tudo que eu digo
se choca com o vento

Camila Jabur

[Espanha] Resistência Ancestral ante o Genocídio Colonial. Descolonizemo-nos: 12 de outubro nada que celebrar

Artigo publicado em Rojo y Negro nº 393, outubro 2024

Pelo décimo segundo ano consecutivo, coletivos e movimentos sociais convocam uma manifestação para erradicar o 12 de outubro como Festa Nacional e reivindicar a descolonização como processo de reparação sob o lema: Resistência Ancestral ante o Genocídio Colonial.

Desde o começo de setembro mais de 20 coletivos, majoritariamente migrantes e antirracistas voltamos a nos encontrar na Assembleia Descolonizemo-nos: 12 de outubro Nada que Celebrar para nos organizarmos de maneira autogestionada e apartidária em Resistência ao relato hegemônico deste país que anseia a #HispaniNada e mantêm uma memória e ação coletiva colonial, ainda que nos setores e movimentos sociais que se consideram mais alternativos e inclusive começam a impulsionar iniciativas que se propõem abordar a descolonização, como as de alguns museus.

Faz 12 anos começamos a nos mobilizar para recordar que o Genocídio não se celebra, que a invasão não se honra e que a “irmandade” entre herdeiros do império colonial e os povos colonizados não é possível sem o reconhecimento honesto da história e o presente, a responsabilização e a reparação correspondente. E isto inclui claro, renunciar a manter a Festa Nacional do Reino de Espanha na mesma data do início da colonização. Até hoje, o sistema colonial tornou possível a ideia de modernidade, o devir material, epistêmico e de poder da Europa, à custa dos corpos das pessoas racializadas, dos povos originários e da Mãe Terra. Neste sistema está a base e manutenção do racismo estrutural que opera a nível global, também em nossos territórios de origem. No próprio Plano Antirracista 2020-2025 da UE se destaca a importância de reconhecer as raízes históricas do racismo estrutural, reconhecendo entre elas, o colonialismo e o comércio transatlântico de pessoas escravizadas.

Por sua parte, a mestiçagem foi principalmente resultado das violações às mulheres indígenas e africanas por parte dos colonos brancos e da institucionalização de uma ideologia e prática para a eliminação dos povos originários e suas culturas. O chamado Descolonizemo-nos, que nos convoca a cada ano desde 2012, nos convida a olhar-nos e atuar coletivamente frente a este legado colonial.

Por isso, o 12 de outubro voltamos a convocar a manifestação-passeata em Madrid, este ano sob o lema: “Resistência Ancestral ante o Genocídio colonial” com a intenção de recordar que somos herdeiras e recriamos a Resistência a esta ordem colonial. Essa Resistência ante as políticas de extermínio que hoje vemos encarnadas no Genocídio na Palestina, que resiste apesar dos 75 anos de ocupação; na criminalização dos povos originários e das comunidades negras e afrodescendentes que defendem seus territórios, como o Povo Mapuche (por mais de 130 anos) e o povo Garífuna; no massacre de povos inteiros com o fim de controlar o território para a extração de minerais que tornam possível a vida “civilizada”, como acontece na República Democrática do Congo; no Pacto Europeu de Migração e Asilo que é a expressão mais avançada da legalização e institucionalização das políticas que seguem fazendo do Mediterrâneo a maior fossa comum do mundo; inclusive na “transição ecológica” capitalista e extrativista.

A Resistência ancestral hoje está nos povos originários de Abya Yala e nas comunidades afro e camponesas que conseguiram manter sua cosmovisão, seu idioma, sua cultura, sua espiritualidade unida à Mãe Terra. E também está em nós, que seguimos tecendo redes de apoio mútuo de criatividade, autodefesa, proposta e ação ante as violências cotidianas que vivemos ao migrar, em casas, centros de estudo, trabalhos, na rua, meios de comunicação e nos espaços sociais e políticos, inclusive aqueles nos quais pretendem nos assimilar ou “ajudar” desde um paternalismo que nega nossa atitude e nos invalida como sujeito político.

Resistimos desmontando o ser colonial que nos habita, que se reproduz nas relações cotidianas tantas vezes de maneira invisível. Resistimos rebolando, abraçando nossas corporalidades, sexualidades, formas de organização e espiritualidade. Resistimos denunciando a colonialidade e o racismo nas políticas públicas, e propondo novos imaginários e propostas culturais e políticas. Também resistimos identificando, assinalando e desmontando coletivamente as lógicas coloniais que seguem se repetindo nas organizações e claro nas políticas públicas no Reino da Espanha e em nossos próprios territórios de origem, que acompanhamos à distância.

Além da manifestação-passeata convocada para o mesmo 12 de outubro, como há 5 anos, o dia anterior, 11 de outubro, estaremos nos Jardins do Genocídio de Colón (Plaza Colón) em um ato de memória pelas vítimas da colonização histórica e atual. Iniciando com um ritual segundo a cosmovisão de povos originários para depois fazer uma intervenção teatral, com dança, poesia e música de diferentes culturas. Este ano se fará um paralelismo entre o 12 de outubro de 1492 e o 7 de outubro de 2023 pela colonização e Genocídio do Povo Palestino, reivindicando a luta dos povos e sua defesa do território e pela Mãe Terra.

Em 12 de outubro ocuparemos uma vez mais as ruas de Madrid em uma manifestação-passeata prevista para sair às 5 da tarde da Plaza Tirso de Molina, que baixará pela Rua Atocha, e terminará na Plaza Juan de Goytisolo (Museu Reina Sofía). Na mesma praça, às 7 da noite, acontecerá o ArtEvento, que começará com a leitura do manifesto “Descolonizemo-nos, 12 de outubro Nada que Celebrar” e contará com apresentações musicais da Resistência, como Kamanchaca Kuntur, Los Pleneros del Exilio, roda de tambores e Sikuris. Também se somam atividades de nossos coletivos e de coletivos irmãos que podes conhecer através de nossas redes sociais (no Instagram @descolonicemonos12octubre e no X @Descolonicemon1).

Resistência Ancestral ante o Genocídio Colonial!

Assembleia Descolonizemo-nos

#12deOutubroNadaQueCelebrar

Fonte: Rojo y Negro

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

na folha orvalhada,
gota engole gota,
engorda, desliza e cai

Alaor Chaves

[Espanha] La Rosa Negra reedita “Los emisarios de la nada. Una historia del nihilismo ruso”

A editora anarquista La Rosa Negra publicou em setembro a segunda edição de “Los emisarios de la nada. Una historia del nihilismo ruso”, um texto para iniciar-se nas ideias niilistas e conhecer a história de um movimento que tratou de mudar o mundo. Descrição:

“Los emisarios de la nada” foi editado pela primeira vez em novembro de 2007. Nesse momento, era necessário jogar luz sobre o niilismo. Falava-se de niilismo de forma pejorativa, sem compreender sua realidade política. A repercussão que tinha era bastante marginal. Salvo algumas exceções em forma de revistas ou artigos, ninguém havia tentado abordar tão interessante tema nas terras ibéricas. O autor de “Los emisarios de la nada” pôs mãos à obra inspirado por um livreto grego publicado em 2004 e dedicado à figura de Necháyev. Queria introduzir o tema; abrir um espaço para que depois outros se aprofundassem.

Desde então choveu muito sobre o assunto. Graças aos esforços de algumas pessoas, hoje existe dentro do anarquismo uma corrente que reivindica o niilismo. Esta corrente assume uma série de postulados e práticas herdeiras dos niilistas russos do século XIX. Do niilismo, pois, hoje se fala mais.

La Rosa Negra Ediciones considera que “Los emisarios de la nada” resgatou do esquecimento as ideias e a tradição niilistas; por isso, anos depois procedemos a sua reedição.

É um texto que precede a publicações de outras editoras. Após “Los emisarios de la nada” surgiram as obras “Sin fósforo no hay pensamento” de Alain S. H. (El Grillo Libertario, 2014); “Rusia en las tinieblas” de Vera Figner (Antipersona, 2016); e “El sabor de la sangre en la boca: revolucionarios, anarquistas, rebeldes y nihilistas en la Rusia del siglo XIX” de autor anônimo (Descontrol, 2017). Como precursora de outras publicações, “Los emisarios de la nada”, também de caráter anônimo, merece ser reeditada. Transcorreram muitos anos desde sua primeira edição. Nosso objetivo é que não se perca no esquecimento e que esteja presente na série de obras que seguiram.

La Rosa Negra Ediciones / Colección Afinidades Subversivas / 1.ª edición, febrero 2018 / 2.ª edición, septiembre 2024 / 131 págs. / 11,7×17,5 cm / Rústica con solapas / ISBN 978-84-946886-5-2

La Rosa Negra Ediciones

>> O livro pode ser adquirido aqui:

https://larosanegraediciones.es/producto/los-emisarios-de-la-nada/

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

O vaso da varanda
exala um doce perfume —
Uma flor-de-cera…

Tania Alves

[Espanha] 12 de outubro. Vamos nos descolonizar. Discussão com companheiras do Curdistão, Palestina e Chiapas.

Dentro do marco do Outono Antirracista e Anticolonial, estamos organizando este encontro no sábado, 12 de outubro, para visibilizar e colocar em diálogo as lutas, as resistências internacionais que defendem a vida, a terra, o autogoverno e a solidariedade internacional. Um diálogo entre referências de movimentos que precisamos ouvir e ver para entender e lembrar por que uma posição antirracista e decolonial é necessária em nossas vidas diárias. Em nossa prática cultural e transformadora como sindicato.

Teremos a companhia de vozes do Curdistão, da Palestina e de Chiapas. Abertos a outras vozes para enriquecer o diálogo sobre o estado do internacionalismo e a coordenação entre territórios e corpos que defendem a vida e a liberdade, apesar de sofrerem a mais terrível violência dos Estados e do Capital.

  • Às 11h30 Conversa com compi curdo, compi palestino e compi zapatista.
  • Às 14h Almoço popular
  • Às 16h, iremos para a manifestação “Nada a comemorar”.

A jornada será realizada nas dependências do sindicato. Paseo Alberto Palacios, 2, Villaverde Alto, Madri.

cnt.es

agência de notícias anarquistas-ana

Clareira na mata —
Velho jacarandá caído
Carregado de flores.

João Toloi