Justiça climática REAL é… ACABAR com todos os exércitos e a indústria bélica!!!

|| O setor militar é um dos maiores consumidores de energia, cujas emissões de gases com efeito de estufa contribuem significativamente para a crise climática. ||

Não é de se estranhar que ninguém levante a questão das emissões produzidas pelos exércitos, atividades militares e equipamentos bélicos nas COP´s. Na COP30, em mais uma rodada de negociações internacionais sobre mudanças climáticas, o tema sequer foi abordado no “documento final”. Os exércitos estão isentos dos protocolos e tratados internacionais, inclusive de informar sobre suas emissões. Estima-se que, se fossem um país, seriam o quarto maior emissor, atrás dos Estados Unidos, China e Índia, e à frente da Rússia.

• Atualmente, os exércitos respondem por 5,5% de todas as emissões globais, de acordo com um estudo realizado em parceria pela Scientists for Global Responsibility (SGR) e a Conflict and Environment Observatory (CEOBS).

• O setor não está vinculado a nenhum acordo climático internacional: as atividades militares foram deixadas de fora do Protocolo de Kyoto de 1997 e do Acordo de Paris sobre o Clima de 2015. O argumento usado é o de que dados sobre o uso de energia pelos exércitos poderiam minar a segurança nacional.

• Nos raros casos em que há divulgação, as informações não são confiáveis ou, na melhor das hipóteses, estão incompletas, segundo cientistas, acadêmicos e ativistas.

• A guerra, os conflitos armados no mundo, não só tem um impacto devastador nos meios de subsistência das pessoas em zonas de conflito, como também causa estragos no meio ambiente, na natureza.

• De acordo com o livro “A Guerra Contra o Clima”, a guerra entre Israel e Gaza produziu o equivalente a 32,2 milhões de toneladas de CO₂ em apenas 15 meses.

• Em três anos, a invasão da Ucrânia pela Rússia também produziu o impressionante equivalente a 230 milhões de CO₂.

• As forças armadas, exercícios militares entre diferentes forças (Exército, Marinha e Aeronáutica), produzem emissões massivas de gases de efeito estufa, especialmente em aeronaves, tanques e navios, devastam ecossistemas e deixam para trás resíduos tóxicos que envenenam comunidades por gerações.

• As forças armadas dos EUA são os maiores consumidores de petróleo do mundo e, consequentemente, um dos maiores emissores de gases de efeito estufa. As emissões de gases de efeito estufa do Pentágono equivalem a mais de 59 milhões de toneladas métricas de dióxido de carbono por ano. Se fosse um Estado-nação, as forças armadas dos EUA seriam o 47º maior emissor do mundo, com emissões superiores às de Portugal, Suécia ou Dinamarca.

Portanto, combater as mudanças climáticas é, entre outras ações reais urgentes, DESMILITARIZARACABAR com todos os exércitos e a indústria bélica!!!

agência de notícias anarquistas-ana

Boêmio da noite
no portão enferrujado.
Morcego dormindo.

Fanny Dupré

[Alemanha] “Prefiro morrer como uma leoa do que viver como um cachorro.” Sobre a repressão contra a 2ª Reunião Internacional em Hamburgo, contra o serviço militar e pela rejeição de todas as formas de militarismo

Prefiro morrer como uma leoa…” Com essas palavras, em 1917, Emma Goldman se opôs ao militarismo que se espalhava pelo mundo e se manifestou contra o serviço militar obrigatório. Mais de um século depois, estamos enfrentando outro período de militarização massiva, caracterizado por novas e contínuas guerras e genocídios. No último fim de semana, de 14 a 16 de novembro de 2025, anarquistas de diferentes países se reuniram pela segunda vez por ocasião de um intercâmbio internacional para analisar, discutir e aprofundar ainda mais as lutas antimilitaristas. Contribuições de camaradas da Grã-Bretanha, Grécia, Israel, Palestina, Itália, França, Finlândia e Alemanha foram apresentadas, propostas no local, por vídeo ou por escrito. Como você pode facilmente imaginar, os inimigos da liberdade e seus seguidores certamente não estão entusiasmados com um momento internacional como esse. Além da vigilância em torno da nossa reunião, gostaríamos de divulgar um episódio:

Na noite de sexta-feira, um grupo de cinco companheiros anarquistas de Milão foi parado pela Polícia Federal Alemã no aeroporto de Hamburgo, imediatamente após descerem do avião. Eles foram submetidos ao controle e, então, policiais fardados tentaram interrogá-los, fazendo perguntas sobre a reunião e, de modo geral, sobre as atividades anarquistas. Depois de nos resignarmos à não cooperação dos nossos companheiros e após algumas horas, ficou claro que eles seriam negados no país sob o Artigo 6.

Após passar a noite numa cela da delegacia, a polícia federal procedeu a alterar a reserva do voo, os colocando em um voo que partiria na manhã seguinte. Os documentos foram entregues ao piloto e eles foram enviados de volta à Itália, onde foram recebidos pela polícia italiana e posteriormente libertados. Nos documentos entregues aos nossos camaradas, a reunião do ano passado contra o serviço militar e a rejeição de todas as formas de militarismo foi indicada como a razão dessa ação repressiva. Segundo relatos, durante os dias do ano passado houve uma manifestação violenta, durante a qual uma faixa com as palavras “Contra o militarismo, não à Bundeswehr” foi exibida, um escritório do SPD foi destruído, estradas bloqueadas, slogans foram escritos nas paredes e policiais que chegaram ao local foram atacados.

Consideramos essa repressão como uma mensagem dirigida à nossa iniciativa internacional antimilitarista e enviamos a nossa solidariedade aos camaradas presos e impedidos de participar da reunião. Nossas lutas não pararão diante das suas leis ou fronteiras, nem daqueles que, fardados ou não, defendam um sistema que lucra com guerras e genocídios por todo o mundo. Com as próximas lutas contra a militarização e a reintrodução do serviço militar obrigatório, haverá mais intervenções repressoras. Já ouvimos falar de estudantes perseguidos nas escolas por se oporem à propaganda do exército alemão.

Com essas palavras, também queremos expressar nossa solidariedade com o camarada anarquista Stecco na Itália, que se juntou à greve de fome da iniciativa “Prisioneiros pela Palestina”.

Liberdade para todos os prisioneiros! Contra todas as formas de militarismo!

Hamburgo, novembro de 2025

Fonte: https://lanemesi.noblogs.org/post/2025/11/21/preferisco-morire-da-leonessa-piuttosto-che-vivere-come-un-cane-sulla-repressione-contro-il-2-incontro-internazionale-di-amburgo-contro-il-servizio-militare-e-per-il-rifiuto-di-ogni-forma-d/

Tradução > CF Puig

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agência de notícias anarquistas-ana

Sobre a folha seca
as formigas atravessam
uma poça d’água

Eunice Arruda

[Itália] Turim. Ataque à ENI. A paz deles é a nossa morte.

ENI colonialista, ENI genocida.

A Eni, gigante energética sob controle do Ministério da Economia italiano, realiza saques coloniais pelo mundo afora. A Entidade Nacional de Hidrocarbonetos, que treina contingentes da Carabinieri [polícia] para fins de espionagem, dita a política externa do Estado italiano, que defende os empreendimentos da Eni com missões militares, chamadas de paz.

Em 29 de outubro de 2023, três semanas após o início do primeiro genocídio transmitido ao vivo, em Gaza, o Ministério de Energia do Estado de Israel concedeu à Eni uma licença para saquear os depósitos de gás natural ao largo da Faixa.

Enquanto os drones massacram a população prisioneira, um pouco mais adiante as perfuradoras escavam, protegidas pelo exército, para roubar o novo ouro.

Em outubro de 2024, a Eni assina um acordo com a britânica Ithaca Energy, cuja acionista majoritária é a israelense Delek, gigante da energia sionista. A Delek apoia ativamente a colonização e o saque da Cisjordânia e fornece gasolina e diesel ao exército israelense.

Hoje a Eni se prepara para repartir bilhões com a reconstrução dos escombros de Gaza. A Itália está pronta para fazer sua parte, diz o governo, que junto com a Eni também enviará a Carabinieri para construir a paz eterna. É um réquiem que estão compondo.

Esta noite em Turim, protegidos dos olhares indiscretos das câmeras, atingimos alguns carros Fiat 500 da Enjoy, o serviço de car sharing da Eni.

A paz deles é a nossa morte.
Mas ainda estamos vivos e, se não há túneis, encontramos os cantos escuros.

21 de novembro de 2025

Fonte: https://lanemesi.noblogs.org/post/2025/11/24/attacco-a-eni-la-loro-pace-e-la-nostra-morte-torino-21-novembre-2025/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

lavrando o campo
a nuvem imóvel
se foi

Buson

[Alemanha] Leipzig: Um carro da Vonovia pichado, com vidros quebrados e pneus furados!

Neste fim de semana, danificamos um carro do grupo imobiliário Vonovia, no bairro de Connewitz, em Leipzig, e o tornamos inutilizável. O carro foi pichado por fora e por dentro, seus vidros foram quebrados e os quatro pneus foram furados. Por quê? Porque somos da opinião que os atores da gentrificação, dos despejos por causa de renovações e da explosão dos aluguéis são um alvo legítimo para a resistência e que também devem ser designados como tal.

Você pode ler nesta brochura uma explicação detalhada dos motivos pelos quais é legítimo atacar a Vonovia: https://de.indymedia.org/sites/default/files/2022/01/VONOVIA-Broschuere-WebLQ.pdf. Concordamos com esses argumentos.

Solidarizamo-nos com as casas despejadas durante as Jornadas de Ocupação Autônoma (AbeTa).

Foda-se a Vonovia e todos os outros oportunistas da explosão dos aluguéis!

Fonte: https://de.indymedia.org/node/553177

agência de notícias anarquistas-ana

chuva de primavera
até borboletas
viram pétalas

Maria Nardi

[Espanha] Lançamento: “Vivir la fuerza. Simone Weil y la Columna Durruti”, de Xavier Artigas

Este livro aborda a figura da filósofa francesa Simone Weil em sua dimensão política, desmantelando o mito que dominou a projeção de seu pensamento durante décadas, e que descreve Weil como uma pensadora transcendente e apolítica. Uma rigorosa investigação histórica reconstrói a breve, mas intensa participação de Weil na Guerra Civil espanhola e oferece uma nova perspectiva que reivindica o compromisso revolucionário da filósofa.

“Vivir la fuerza” reconstrói com precisão a evolução política de Weil e documenta seu percurso desde o sindicalismo revolucionário francês até posições libertárias, o que permite explicar de maneira coerente sua participação na Guerra Civil. Esta experiência foi decisiva para o desenvolvimento de seu conceito de “a força”, que articularia posteriormente em um dos textos mais importantes de sua trajetória filosófica: “La Ilíada o el poema de la fuerza”. A Ilíada ou o poema da força.

“Vivir la fuerza” não só recupera a figura de Weil como pensadora política comprometida, mas também aporta um olhar novo sobre um momento histórico chave e contribui para reimaginar as possibilidades de emancipação social.

Xavier Artigas

Vivir la fuerza

Simone Weil y la Columna Durruti

Prólogo de Myrtille Gonzalbo

Epílogo de Amador Fernández-Savater

352 págs. |  21 x 14,5 cms.

978-84-10476-32-5

PVP: 23,90€ | Preço web: 22,70€

pepitas.net

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Ao redor do fogo
conversa fiada
tecendo o tempo!

Tânia Diniz

[Argentina] Promessa e abraços do inimigo

Nós trabalhadores, nestes últimos anos temos tido cada vez mais, as piores condições laborais e também longos períodos de desemprego ou excesso de trabalho, sendo estes uns dos maiores problemas em todo o território. Neste período em que nosso salário se pulveriza cada vez mais e as necessidades básicas da vida como moradia, alimentos e roupa são inacessíveis para qualquer família trabalhadora, temos várias gerações que para chegar ao fim do mês têm que trabalhar em excesso.

Em diferentes estatísticas e estudos sobre emprego e desemprego no último semestre, são apresentados números que ninguém acredita ou, pelo menos, que não correspondem à realidade dos que andam pelas ruas. Dizem que CABA [Buenos Aires] é o menos afetado em desemprego ou perda de postos de trabalho, e que os setores mais prejudicados são os empregados dos setores públicos, obras públicas, comércios e alguns setores de transporte.

Hoje as ruas da Cidade de Buenos Aires estão repletas de famílias vivendo na rua, onde sofrem os desalojos e a mão dura de um governo que quer “limpar as ruas” com campanhas nefastas do “antes e depois” festejando o fato de tirarem os colchões e as poucas coisas que estas pessoas têm. Vemos negócios desfeitos ou seus espaços para alugar por causa do baixo consumo, o transporte já é um luxo, pelo que não se pode evitar de pular catracas e o aumento do uso de bicicletas. O acesso ao aluguel é quase impossível pelo negócio imobiliário e assim podemos continuar com uma lista enorme de ajustes.

Nos últimos meses, o epicentro da Argentina está marcado por repressão e hostilidade para com os trabalhadores. Ninguém pode negar o que vivemos dia a dia, tendo maior carga laboral para chegar à primeira quinzena do mês. Com sorte!

Com o abraço do inimigo Ianque e a dívida que se incrementa às custas do nosso trabalho os meios de desinformação nos enredam em diferentes armadilhas, uma delas as reformas, laboral, previdenciária e tributária que surgem para o nosso povo. Hoje não se teme a reforma laboral já que somos um país que desde os anos 90 trabalhamos mais de 10h por dia, com horários rotativos, salários abaixo dos estipulados em acordos, contratos falsos (não registrados, monotributo, fora dos acordos, etc.) HOJE A REFORMA LABORAL NÃO ASSUSTA O TRABALHADOR! Já está naturalizada em nosso povo pelos anos de precarização nos quais vivemos e pela cumplicidade da cúpula sindical.

Muitas mais linhas poderiam seguir nesta nota, mas nosso desafio será voltar às bases, discutir com cada um de nossos compas que a realidade na qual estamos vivendo não pode seguir legitimada. Que a ingerência dos Ianques ou de qualquer governo com seus planos econômicos não é garantia de oportunidade, mas de maiores penúrias e fome para nós. E para quem hoje não tem a oportunidade de falar em seu local de trabalho, busquemos uma forma, nos organizando e atuando dentro das Sociedades de Resistência. Estas ferramentas, embora não sejam novas em termos históricos, sim, são novas para um movimento obreiro que neste século se cansou de ver um modelo sindical autoritário, corrupto e ineficiente.

O imperialismo, em qualquer de suas versões (Ianque, Criolo, etc.) não faz mais que perpetuar sistemas sociais com desigualdade. Nos negamos a colaborar com esta mentira. Seguimos crendo na solidariedade de classe e no porvir de um mundo sem oprimidos nem opressores. Certamente este discurso parece utópico, mas para nós, utópico é crer que este sistema perverso funcione de maneira justa.

Fonte: https://organizacion-obrera.fora.com.ar/2025/11/13/promesa-y-abrazo-del-enemigo/  

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Manhã já vai alta —
Os beija-flores em bando
revoam no jardim…

Guin Ga Eden

[Grécia] Reflexões sobre o grupo maoísta que feriu gravemente anarquistas na Politécnica de Atenas

O que segue não é jornalismo, mas sim a opinião de um anarquista em Atenas, Grécia. Provavelmente haja erros, já que, embora eu me baseie em informações confiáveis, sou bastante ignorante e preguiçoso em geral, então certamente cometi erros. Ainda assim, estou chocado e queria informar meus camaradas fora da Grécia sobre o que aconteceu.

Na manhã de hoje (15/11) ocorreu um fato extraordinário e horrível. Um grupo de 150 maoístas, chamado ARAS, reuniu-se vindo de toda a Grécia para emboscar e espancar brutalmente entre 20 e 30 jovens anarquistas na Universidade Politécnica de Atenas, no 52º aniversário da revolta politécnica contra a ditadura militar.

Isso não foi a violência política “normal” entre facções… essa violência foi tão extrema que, sem exageros ou histeria, pode ser descrita como homicida. Jovens foram perseguidos dentro de edifícios, trancados em salas e ali espancados sem misericórdia até ficarem atordoados. Dezesseis foram hospitalizados; um garoto precisou de mais de trinta pontos na cabeça. Uma jovem foi nocauteada e continuaram a espancá-la enquanto estava inconsciente. Pessoas tentavam escapar pelas janelas, mas membros da ARAS as esperavam do lado de fora. Os membros da ARAS formaram um cordão de segurança em torno da área para impedir que alguém fugisse ou que pessoas de fora interferissem.

O que segue é um contexto para compreender melhor esse incidente chocante e repugnante de extremo “canibalismo social”, cujas repercussões apenas começam a se manifestar enquanto escrevo estas linhas.

A REVOLTA

Breve história. Em 1973, ocorreu uma revolta popular contra a ditadura militar grega — a junta militar — na Universidade Politécnica de Atenas, no bairro de Exarchia. Essa revolta, que envolveu uma mistura de anarquistas, comunistas e vários estudantes e trabalhadores cansados de viver sob a brutal ditadura apoiada pela CIA, foi esmagada quando o exército grego arrebentou os portões da universidade com um tanque e abriu fogo contra os que estavam dentro.

A junta militar manteve-se no poder até 1974, mas, para a opinião pública, essa revolta e o massacre com que foi reprimida marcaram o começo do fim da junta. Todo ano, em 17 de novembro, aniversário do massacre, ele é comemorado em toda a Grécia, com especial ênfase no campus da Universidade Politécnica de Exarchia. Até mesmo os políticos mais tradicionais sabem que devem, ao menos verbalmente, homenagear o aniversário.

Além disso, nos dias que antecedem essa data, a Politécnica recebe diversos eventos, painéis, debates, reuniões etc. No próprio dia 17, são realizadas marchas, e em Atenas uma marcha multitudinária segue até a embaixada dos Estados Unidos.

Por causa do trauma coletivo da repressão estatal à revolta, após a queda da junta militar a polícia grega teve sua entrada proibida nos campi universitários. Isso permaneceu até 2019, quando o recém-eleito governo de direita da “Nova Democracia” revogou o asilo universitário. Muito poderia ser escrito sobre a gravidade dessa mudança para o movimento anarquista grego, e não é exagero afirmar que ela transformou o panorama político — não apenas em Exarchia, onde por décadas existiram centros anarquistas ocupados (com oficinas, cozinhas coletivas, recursos para refugiados, rádios piratas etc.) dentro da Politécnica.

Nos últimos anos, a repressão nos campi gregos se intensificou, piorando progressivamente desde seu início. O atual grupo acadêmico-administrativo de direita chegou ao extremo de trancar portões, instalar guaritas com seguranças, refletores, câmeras etc. Em toda a Grécia, a maioria das ocupações universitárias foi despejada. No entanto, perto do aniversário da revolta, todo novembro, os anarquistas conseguem acessar o campus da Politécnica de Exarchia e ocupam temporariamente um ou dois prédios, onde realizam oficinas, apresentações, palestras, reuniões e homenagens aos mortos.

O ANIVERSÁRIO

Esse aniversário costuma ser marcado por tensões. Em 1985, por exemplo, a polícia matou a tiros o anarquista Michalis Kaltezas em frente à Politécnica de Kiev. 1995 e 2006 também foram anos memoráveis por confrontos de grande escala entre anarquistas e a polícia, com feridos. E, claro, em períodos de intensa atividade política, as comemorações do aniversário também se intensificam.

Durante a própria revolta, os stalinistas recorreram a manobras sujas para desestabilizá-la e “capturá-la”, algo que pode ser parcialmente lido aqui: https://medium.com/@mot1613/two-perspectives-on-the-polytechnic-uprising-of-1973-e9aedacd3e92.

Em menor grau, persiste nos últimos anos uma tensão sobre a quem “pertence” o aniversário de 17 de novembro. Há duas posições. De um lado, estão aqueles que se mantêm fiéis ao registro histórico, que descreve a revolta, como qualquer levante geral, como uma mistura de pessoas — algumas mais politizadas, outras menos… alguns estudantes, alguns sindicalistas, alguns trabalhadores, alguns comunistas revolucionários, alguns anarquistas. De outro lado, está a revisão histórica do comunismo de Estado, que o apresenta como um empreendimento puramente comunista. Essa tensão se manifesta de várias maneiras, geralmente tão pequenas quanto o uso de alto-falantes comunistas para abafar atividades anarquistas.

Nos anais da tensão “comunistas vs. anarquistas” na Grécia, a Politécnica não tem sido um ponto central, em parte porque há um respeito geral pelo próprio aniversário por todos os lados.

Desde que o Estado intensificou a repressão contra a atividade política nos campi, os comunistas (que, vale notar, acreditam na validade e necessidade do Estado) mantiveram-se discretamente afastados… Nos últimos anos, sua presença na Politécnica era praticamente nula em comparação com o passado. Este ano, no entanto, eles apareceram em grande número.

O ATAQUE

Na manhã de hoje, dia 15, um grupo de 30 jovens anarquistas e antiautoritários, muitos deles do clube anarquista da universidade, estava preparando suas mesas e materiais para os três dias de atividades planejadas na Politécnica. Por algum motivo, a porta próxima ao prédio Gini, que os anarquistas costumam ocupar, estava trancada. As únicas portas abertas estavam do outro lado do campus, onde cerca de mil jovens comunistas já estavam reunidos. Ainda assim, duas portas abertas pareciam melhores que nenhuma.

Um grupo de aproximadamente 150 membros da ARAS, vindos de toda a Grécia para esse propósito, chegou cedo ao campus sob comando de seu líder — muito mais velho do que eles. Estavam bem organizados, com proteção sob jaquetas combinando, capacetes e cassetetes. Quando um deles começou a filmar, a ARAS formou um cordão fechado, braços entrelaçados, ao redor dos cerca de 30 anarquistas, encurralando-os, e começaram a acusá-los (falsamente) aos gritos de carregar facas, coquetéis molotov etc., para garantir que outros esquerdistas no campus ouvissem, gritando: “Não se abaixem!”.

Isso já era um comportamento estranho, atípico e, no mínimo, inapropriado. Então, o líder da ARAS gritou “Capacetes!”, e as tropas da ARAS colocaram seus capacetes de proteção e lançaram seu ataque contra os estudantes anarquistas desprevenidos e desarmados.

Ao longo dos anos, anarquistas e comunistas ocasionalmente entraram em confronto em ruas ou festas. Sou anarquista, mas não gosto da mentalidade de “torcida organizada” que alguns têm sobre isso. É uma vergonha que isso aconteça, mas mesmo segundo quem testemunhou alguns dos piores confrontos, nunca tinha sido tão violento, unilateral e prolongado quanto hoje de manhã.

Às vezes, o “confronto” se resume a empurrões: durante uma manifestação que vira tumulto, alguns anarquistas fugindo de uma linha policial que os encurrala podem encontrar comunistas de braços dados bloqueando sua passagem. Então os comunistas se afastam e deixam a polícia bater nos anarquistas. Isso não ocorre recentemente, mas já foi comum.

Houveram confrontos mais graves, com hematomas e golpes na cabeça. Nesses casos, ambos os lados chegam sabendo o que os espera. Por exemplo, durante uma insurreição em grande escala, os anarquistas queriam tomar o parlamento e os comunistas queriam impedir; isso levou a uma grande briga nos arredores do parlamento. Não minimizo esses episódios vergonhosos (e sabemos de quem é a vergonha), mas quero contextualizar a violência desta manhã: não foi uma briga entre oponentes, mas um ataque unilateral de intensidade, gravidade e duração sem precedentes, que incluiu vários episódios de golpes contra pessoas já inconscientes. Foi um frenesi de violência que realmente poderia ter matado alguém.

Os centenas de esquerdistas presentes nada fizeram. Pessoalmente, não os julgo muito, pois provavelmente a maioria não fazia ideia do que estava acontecendo, já que era algo insano. Para piorar, por razões que só podemos imaginar, os membros da ARAS usavam patches idênticos em capacetes e jaquetas dizendo “ASSOCIAÇÃO DE ESTUDANTES”. A maioria dos grupos de esquerda provavelmente tem medo da ARAS; além disso, havia um cordão de segurança da própria ARAS impedindo que qualquer pessoa chegasse perto da área do campus onde tudo ocorria.

O ataque durou muito tempo. No final, quando a ARAS se cansou de bater nos corpos dos estudantes anarquistas, nenhuma ambulância conseguiu chegar ao local… porque, lembremos, o reitor da universidade havia trancado a porta da “zona anarquista” do campus. Assim, os anarquistas, feridos e ensanguentados, tiveram de ser carregados por longas distâncias, através de todo o campus, um por um, em uma espécie de desfile repugnante, sob o olhar atônito dos esquerdistas e das fileiras de ARAS que gritavam e riam. Houve dedos e membros quebrados, concussões, um rapaz perdeu a memória de curto prazo… Foi, como já disse muitas vezes, uma violência infernal.

ARAS

A ARAS é um caso interessante. É uma pequena parte do vertiginoso e complexo ecossistema da esquerda grega, sem destaque por ideologia específica — são maoístas genéricos —, mas conhecidos por sua facilidade em recorrer à violência. Ao longo de sua existência, ficaram conhecidos principalmente por brigar com outros grupos comunistas, inclusive com aqueles com quem supostamente eram aliados. Talvez vocês tenham visto vídeos curiosos de multidões com capacetes de moto batendo umas nas outras com cabos de machado com bandeiras vermelhas durante protestos.

Se comunistas me pedissem minha opinião, eu diria que prefiro que lutem contra patrões, capitalistas ou polícia, e não entre si — mas, no fim, se querem brigar entre eles, é problema deles.

Até mesmo nas reuniões da ARAS, eles brigam para resolver disputas, o que chega a ser cômico. Quando eu era um delinquente apolítico, saía com meus amigos nos fins de semana procurando briga, e quando não encontrávamos, brigávamos entre nós. Então, repito, sua suposta brutalidade não me incomoda tanto. Mas há uma grande diferença entre uma briga de punhos e o que aconteceu esta manhã.

A ARAS é, tematicamente, um pequeno “clube da luta”, quase uma seita, comandada por uma figura paternalista, e usam violência para competir por sua aprovação. Isso é saudável? Não. Mas não julgo o estilo de vida dos outros. Sempre considerei a ARAS um exemplo da forma política “gangue de rua”, à qual — seja comunista ou anarquista — não me oponho por princípio. É uma forma imperfeita, claro, mas vivemos num mundo imperfeito. Meu problema com eles não é sua forma organizativa.

Ironia das ironias, a ARAS faz parte do partido político MeRA25, uma agrupação esquerdista tediosa que recebe uma fração minúscula dos votos gregos — uma agrupação ligada à mão refinada, culta e educada do ex-ministro das Finanças Yanis Varoufakis. Não gosto de Varoufakis, mas ele é inteligente e diz coisas sensatas sobre a Palestina, por exemplo. Ele rapidamente emitiu uma declaração repudiando a violência na Politécnica — outra resposta inteligente. Será essa a única resposta do MeRA25? O partido está confortável assumindo responsabilidade pelas ações dos seus membros? Resta ver como outros grupos de esquerda reagirão.

Há tantas perguntas. A ARAS reaparecerá na Politécnica? Tentarão participar da marcha do dia 17? Muitos anarquistas clamam por vingança. Já que estou escrevendo e posso dar minha opinião, digo que uma vingança sectária contra outro grupo anticapitalista não me entusiasma. Se eu visse o líder, teria algo a dizer a ele, mas sua gangue de jovens desorientados me inspira mais pena e desprezo. Mas, ao sustentar essa opinião moderada, acho que estou claramente em minoria entre meus camaradas. Há uma enorme raiva, totalmente justificada.

POR QUE DIABOS ELES FARIAM ISSO?

Deixando de lado os aspectos éticos, políticos e humanos da brutal violência desta manhã, parece muito imprudente atacar membros de um movimento muito maior que, em grande medida, está livre da doença do pacifismo. Sabemos quem são todos esses caras, individualmente. E simplesmente não são tantos! Todo o grupo ARAS, em nível nacional, tem apenas algumas centenas de membros, enquanto há dezenas de milhares de anarquistas.

Por que a ARAS faria isso? Agora entramos no terreno da especulação. A ARAS vem há anos se enfrentando com anarquistas, principalmente nas universidades. Alguém generoso poderia ver isso como brigas territoriais por recursos limitados. Às vezes, anarquistas também brigam entre si por casas ocupadas — algo que também considero lamentável. Mas, principalmente, a ARAS vem se enfrentando com a KNE, o poderoso braço juvenil do KKE, o relativamente forte partido comunista grego. O KKE é o venerável dinossauro stalinista do século XX, ainda dominante no comunismo grego, e diferentemente de outros grupos comunistas, tem assentos no parlamento.

Pessoas mais brilhantes que eu sugeriram que essa violência extraordinária foi uma espécie de tentativa de golpe interno. Certamente foi premeditada: praticamente todos os seus membros se reuniram antes do amanhecer, vindos de toda a Grécia, e o ataque foi planejado e coordenado com precisão. Mas, considerando aspectos como a recusa da ARAS a um pedido anterior de ajuda para desativar câmeras do campus, as portas seletivamente trancadas e a estranha ausência de intervenção estatal, pode-se perguntar se esse ato atroz foi encenado para demonstrar aos administradores da universidade que, ao contrário da KNE, a ARAS tem o que é necessário para expulsar os anarquistas do campus — e se o objetivo desse ataque desprezível era ganhar o favor das autoridades universitárias.

Não posso nem começar a explicar a mentalidade de quem leva eleições universitárias tão a sério — para mim isso é totalmente alienígena —, mas muitos, à esquerda e à direita, levam-nas muito a sério. Agora, levariam TÃO a sério a ponto de infligir um grau inaudito de “grave dano físico”, sem provocação alguma, numa proporção de 5 contra 1? Com outras pessoas, eu zombaria dessa ideia, mas com a ARAS… infelizmente, é plausível. Dado que a violência é sua arma preferida e que não possuem número ou apoio popular, essa obscena “demonstração” poderia ter sido projetada para elevá-los acima de seus competidores de esquerda aos olhos dos poderosos.

Então… quem sabia disso de antemão? Seria fascinante saber. Enfim, quem sabe mais do que eu certamente terá muito mais a dizer em breve. E logo haverá repercussões que não posso prever. E agora talvez você também saiba algo.

Essa ação seria vergonhosa em qualquer momento e lugar. Mas, neste momento e lugar em particular, foi também um insulto imperdoável à memória dos valentes lutadores da Politécnica de Atenas.

Fonte: https://www.anarchistnews.org/content/thoughts-maoist-group-seriously-injuring-anarchists-athens-polytechnic?sfnsn=mo  

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

a cigarra anuncia
o incêndio de uma rosa
vermelhíssima

Dalton Trevisan

[Grécia] Declaração de responsabilidade pelos ataques incendiários em memória do anarquista Kyriakos Xymitiris

Se eu não queimar,

se você não queimar,

se nós não queimarmos,

como a escuridão se tornará luz?

Nazim Hikmet

Há 365 dias, nosso companheiro Kyriakos Xymitiris iluminou a escuridão, mesmo que tenha sido com a luz de sua explosão final, no fim de um caminho em chamas.

Kyriakos era um militante anarquista engenhoso e ativo que participava em todo o espectro da luta. Desde marchas, intervenções, manifestações com microfones até confrontos com as forças de repressão. Ele estava presente em todas as frentes e áreas da luta. Ele participou de assembleias de solidariedade a ativistas presos, de coordenações antifascistas, de ações em favor de ocupações, em solidariedade aos imigrantes, contra a guerra e o imperialismo, em solidariedade às lutas dos palestinos, nas lutas contra a gentrificação e o patriarcado. E, claro, em ações revolucionárias diretas e na escolha armada.

Um combatente multifacetado que fez uso de todos os recursos com imaginação, onde as condições correspondiam a cada ação. Com humildade, paciência e um sorriso, Kyriakos estava presente para apoiar qualquer causa que escolhesse com os meios adequados. Até seu último e orgulhoso ataque ao céu.

A ação direta é o meio de manter viva e acesa a memória revolucionária. A cultura e a tradição insurgentes não são apenas um slogan, nem a solução para todos os problemas da luta. Mas é a faísca que traz para o aqui e agora a chama e o bastão daqueles que caíram no campo de batalha. É a maneira de honrar, lembrar e continuar o trabalho daqueles que deram suas vidas pela perspectiva revolucionária. Dessa forma, há uma continuação da tradição, destruímos o medo, tomamos a iniciativa dos movimentos e destacamos que nenhum inimigo é invulnerável, nenhum objetivo é inacessível.

Em uma era de discursos, Kyriakos Xymitiris escolheu agir.

Em uma época de inércia, Kyriakos escolheu dar um passo à frente.

Numa era de “deixa para amanhã”, Kyriakos optou por aproveitar o Agora.

Em homenagem ao nosso camarada, honrando sua memória e suas escolhas, decidimos atacar com fogo os seguintes alvos nos últimos dias:

• o escritório político do vice-ministro das Relações Exteriores e deputado da Nova Democracia, Ch. Theocharis, em Agios Dimitrios.

• o escritório de representação da montadora americana Ford na área de Polygono.

Solidariedade com todos os camaradas processados pelo caso Ampelokipi.

Fonte: https://athens.indymedia.org/post/1638253/  

Tradução: transanark / acervo trans-anarquista

agência de notícias anarquistas-ana

Escola sem muros:
o saber é rio que flui
para todo berço.

Liberto Herrera

[Alemanha] Ação Direta: Contra a Conferência de Guerra em Berlim

Na noite de 17 de novembro de 2025, ativistas antimilitaristas visitaram o hotel Vienna House Andel, em Berlim, na estação de trem Landsberger Allee, e protestaram contra a chamada “Conferência de Segurança de Berlim” que ocorreu nesse hotel nos dias 18 e 19 de novembro. Com tinta vermelha sangue na entrada, foi mostrado que a conferência é responsável por guerra, morte e destruição.

Empresas de armamento como Diehl Defence, Elbit Systems e Lockheed Martin estão entre os patrocinadores. Representantes da Bundeswehr e de outros países da OTAN, além de políticos como o ministro da Defesa alemão, Pistorius, usam a conferência para avançar com a militarização. Querem ainda mais rearmamento e alimentam guerras globais.

Com um jornal-mural colocado ao redor do hotel, os ativistas forneceram informações sobre o contexto da conferência, as causas das guerras e perspectivas para um mundo pacífico e solidário. Além disso, centenas de pequenos panfletos foram espalhados com slogans como “Dinheiro para o bairro, em vez de armas para a guerra”, “Sem conferência de guerra na nossa cidade” e “Contra a guerra dos ricos!”.

>> Texto do jornal-mural:

Guerra contra a guerra!

Nos dias 18 e 19 de novembro de 2025, uma das maiores conferências de guerra da Europa acontecerá no hotel Vienna House Andel’s, na estação Landsberger Allee. Champanhe e caviar reúnem todos aqueles que ganham muito dinheiro com eles: oficiais militares de alta patente, companhias de armas e representantes do governo.

A guerra é fomentada na conferência. Há uma conversa flagrante sobre os interesses econômicos no Indo-Pacífico, que precisam ser aplicados militarmente. Com relação à guerra na Ucrânia, a questão é quando será o momento do Artigo 5 do tratado da OTAN, ou seja, quando a guerra será oficialmente iniciada.

Ao contrário do nome, a chamada “Conferência de Segurança de Berlim” não é sobre nossa segurança, mas sobre a apropriação de matérias-primas e o acesso a rotas e mercados comerciais, para o lucro privado dos capitalistas. A competição entre eles está se intensificando, e precisamos nos destacar por eles!

Os ricos querem guerra. Os jovens têm um futuro!

Além de empresas de armamentos como Hensoldt, Airbus, Diehl e Lockheed Martin, a Elbit Systems também é uma das patrocinadoras. Grandes quantidades do equipamento de guerra produzido pela Elbit são usadas na guerra contra a Palestina. A empresa lucra com o genocídio em Gaza. A Elbit também trabalha com a Rheinmetall. A Rheinmetall é a maior empresa alemã de armamentos, que já obteve enormes lucros durante a Segunda Guerra Mundial. A partir do verão de 2026, a Rheinmetall planeja produzir munição em Humboldthain, em Wedding. Esta será a primeira fábrica de armas em Berlim desde 1945.

Então, precisamos trabalhar novamente em prol de tristeza e destruição, até que, depois de um tempo, as bombas voem sobre as nossas próprias cabeças. O que precisamos, em vez disso, é uma conversão da produção para as nossas necessidades. O que queremos é uma sociedade baseada na solidariedade!

O principal inimigo está no próprio país!

Enquanto bilhões ilimitados estão sendo disponibilizados para militarização e rearmamento, nós precisamos apertar o cinto. Um grande número de projetos sociais em Berlim teve que ser fechado, outros estão capengas porque só metade desses funcionários são remunerados. Três bilhões já foram cortados. Como se isso não bastasse, cortes massivos adicionais estão sendo feitos no orçamento que está por vir.

Para fazer isso acontecer, estamos sendo incitados uns contra os outros de forma racista e classista. Não somos culpados pelas crises capitalistas. Pelo contrário, elas são carregadas nas nossas costas.

Em vez de expandir a saúde para todos, os hospitais estão sendo convertidos para a guerra. O projeto para criar moradias nos terrenos do aeroporto em Tegel está sendo abandonado, para que a Bundeswehr possa praticar combates casa a casa. Como não havia pessoas suficientes para participar, os jovens logo foram obrigados a cumprir o serviço militar.

Temos muito mais em comum com as pessoas em quem devemos atirar do que com aquelas que nos mandam para as trincheiras!

Vamos nos unir contra a luta de classes vinda do céu! Vamos organizar greves nas escolas, nos portos ou nas fábricas. A nossa perspectiva é a solidariedade internacional. Juntos, podemos criar um futuro que valha a pena ser vivido para todos!

Fonte: https://de.indymedia.org/node/553238

Tradução > CF Puig

agência de notícias anarquistas-ana

nadam no vento
como carpas douradas
folhas de bambu

Akatonbo

[Espanha] Ameaças de morte e acusações: o professor que é alvo da extrema direita dos EUA

Mark Bray se tornou uma das pessoas mais em destaque que foi acusada nos esforços de Donald Trump de fazer a Antifa um alvo.

Por Ashifa Kassam | 18/11/2025

Com bagagem despachada e cartões de embarque em mãos, Mark Bray e família passaram pela segurança do aeroporto de Newark no início de outubro. O voo à Espanha transportaria a família de quatro pessoas a um lugar seguro após dias de ameaças crescentes; Em vez disso, enquanto esperavam no portão para embarcar, foram informados de que alguém havia cancelado a reserva.

“Parecia que eu estava sendo observado e ridicularizado”, disse Bray, professor da Universidade Rutgers que ministra um curso sobre a história do antifascismo e que, em 2017, escreveu um livro sobre Antifa. “Eu sabia que era algo motivado politicamente de um jeito ou de outro.”

O incidente catapultou Bray para as manchetes como uma das pessoas de maior destaque envolvidas nos esforços de Donald Trump de atacar a Antifa.

Por anos, Trump mirou a Antifa, buscando transformá-la em inimigo formal, apesar do fato de que o movimento descentralizado; que se opõe à extrema-direita, a fascistas e a racistas, não tem estrutura, hierarquia e nem líder.

A sua cruzada ganhou nova vida após o assassinato do ativista de extrema-direita Charlie Kirk. Dias após o assassinato, sem nenhuma evidência que comprovasse ligação entre o suspeito de assassino e a Antifa, o presidente assinou uma ordem executiva designando o movimento como “organização terrorista doméstica”.

Nos últimos dias, a administração foi além, acusando quatro entidades europeias de serem “grupos violentos Antifa” e anunciando planos para designá-las como organizações terroristas estrangeiras.

Os esforços para estabelecer uma ligação entre a morte de Kirk e Antifa, por mais frágeis que fossem, abalaram a vida de Bray. Desde a publicação do seu livro, em 2017, Antifa: The Anti-Fascist Handbook, o professor tem sido amplamente considerado como um especialista no movimento.

A distinção sempre foi clara. “Sou antifascista na medida em que não gosto do fascismo e gostaria muito que nos organizássemos contra o fascismo”, disse ele. “Mas é só isso. Nunca fiz parte de nenhum grupo.”

No final de setembro, enquanto as tensões continuavam a aumentar em torno do assassinato de Kirk, influenciadores de extrema-direita e a mídia de direita intensificaram esforços para borrar essa distinção. Um proeminente influenciador de direita o descreveu como “professor de terrorismo doméstico”, acusação rapidamente adotada por outros, enquanto um grupo estudantil afiliado à organização fundada por Kirk o acusou de ser “líder proeminente do movimento Antifa no campus” e pediu a sua demissão.

Logo se seguiram algumas ameaças de morte. Quando o livro sobre Antifa foi publicado, em 2017, Bray ignorou as ameaças que chegaram. Porém, agora, pai de dois filhos pequenos, era difícil ignorar o email ameaçando matá-lo na frente dos alunos ou o fato de alguém ter postado o seu endereço residencial nas redes sociais.

“Eu ficava lutando contra a ideia de que você está jogando nas mãos deles ao ficar com medo disso”, disse ele. “Mas a diferença entre essa e a anterior, entre outras coisas, era ter filhos pequenos e, se havia tipo 0,001% de chance de alguém passar pela nossa casa e pulverizar uma arma automática naquela casa, eu não posso correr esse risco.”

Com o apoio de Rutgers, ele e a esposa, que também é professora, decidiram se mudar para a Espanha, pelo menos até o final do ano letivo, e lecionar remotamente, na esperança de que a situação eventualmente se acalmasse. Com as ameaças pairando sobre eles, arrumaram o que precisavam em dias, deixando as cortinas fechadas e os filhos sem saber sobre o motivo da mudança repentina.

Quando a primeira tentativa de embarque falhou, ficou claro como o contexto havia mudado. Anos antes, quando Bray ficou conhecido por suas pesquisas sobre Antifa, sentiu como se a raiva contra ele tivesse surgido de algumas pessoas ressentidas que então buscavam mobilizar outros para atacá-lo.

“Desta vez, porém, não foi uma bolha. Era de cima para baixo”, disse ele. “Do jeito que vejo, a Casa Branca decidiu que a Antifa está na mira.”

Horas antes do voo de Bray ser cancelado, Trump e seus principais funcionários realizaram uma reunião na Casa Branca, prometendo usar toda a força do governo para esmagar a Antifa, que eles comparavam a algumas das gangues e cartéis de drogas mais violentos do mundo.

“No dia em que eu estava saindo do país, os influenciadores de extrema-direita que me miraram estavam na reunião da Casa Branca com Trump sobre a Antifa e em contato direto com ele”, disse Bray.

No dia seguinte, enquanto a mídia, advogados e um senador democrata acompanhavam o progresso da família, eles conseguiram embarcar no voo para a Espanha. Antes do embarque, porém, foram retidos por cerca de uma hora por agentes da alfândega e da patrulha de fronteira, que bombardearam Bray e a esposa com perguntas, pediram para ver o celular e espiaram na bagagem de mão da família.

As perguntas deles para Bray logo se tornaram mais incisivas, sugerindo que Bray havia doado metade dos lucros do livro de 2017 para o Fundo Internacional de Defesa Antifascista, que apoia os custos legais e médicos de pessoas ao redor do mundo acusadas de crimes relacionados a ações antifascistas. “Não é um grupo Antifa”, disse Bray, observando que os agentes recuaram quando ele disse que precisaria do advogado presente para responder a essas perguntas.

Algumas semanas depois, tomando café em uma rede espanhola conhecida, Bray conversou com o Guardian. Do ponto de vista de mais de 5600 quilômetros de distância, descreveu o sofrimento da família como parte de uma estratégia mais ampla da administração Trump para usar a Antifa, movimento ainda pouco compreendido por muitos, para promover os seus próprios objetivos.

“O manual fascista autoritário é bem documentado e prospera com crises e emergências”, disse ele. “Está bem documentado que figuras como essa querem sufocar a resistência da oposição e geralmente tentam criar uma categoria de bicho-papão genérico para isso.”

A Antifa estava sendo usado dessa forma, apesar da falta de estrutura a tornar mais parecida com o socialismo do que com qualquer organização formal. “Eu realmente acho que Maga é um movimento fascista, acredito que a intenção da administração é destruir a oposição e os protestos e criar um sistema autoritário”, disse ele.

À medida que o governo Trump iniciava esse processo, a vida que ele e sua esposa construíram nos EUA, ao menos temporariamente, tornou-se um dano colateral. “Não era realmente sobre mim, propriamente dito, mas sim sobre usar um bicho-papão para tentar atacar qualquer um que a administração não goste. É assim que vejo”, disse, apontando para o ecossistema midiático de extrema-direita que amplificou essas alegações, deixando-o repelindo ameaças de morte. “Foi irritante que alguém pudesse simplesmente mandar um email e mudar a minha vida.”

Fonte: https://www.theguardian.com/us-news/2025/nov/18/death-threats-and-accusations-the-professor-targeted-by-the-us-far-right

Tradução > CF Puig

agência de notícias anarquistas-ana

para medir o calor
do dia, olhe o comprimento
do gato que dorme

James W. Hackett

[EUA] Podcast: Aumenta o volume Nova Iorque!

A crítica anarquista à eleição de Zohran Mamdani na corrida para a prefeitura de Nova Iorque nos lembra que “rostinhos socialistas” em altos cargos não trazem mudanças fundamentais, e Gotham já viu prefeitos eleitos com programas populistas que acabaram cedendo a um governo dominado pelo setor imobiliário assim que assumiram o cargo.

No entanto, a reação negativa do movimento MAGA à ascensão de Mamdani pode ajudá-lo a manter-se fiel ao seu programa populista, pois serão os trabalhadores de Nova Iorque que o apoiarão quando Trump fizer sua retaliação contra a cidade e não os barões do setor imobiliário.

Esta crise pode fomentar o ímpeto para a ruptura necessária entre localidades administradas por progressistas e um aparato federal controlado pelo regime ilegítimo de Trump, justificando as teorias de Murray Bookchin sobre municipalismo radical.

No episódio 302 do podcast CounterVortex, Bill Weinberg explica tudo em detalhes.

Produção de Chris Rywalt.

Pedimos aos ouvintes que se tornem nossos apoiadores através do Patreon: Torne-se um Apoiador Básico por apenas 1 dólar semanal (5 dólares por mês), ou um Apoiador Especial por 2 dólares semanais (10 dólares por mês), ou um Grande Apoiador por 5 dólares semanais (25 dólares por mês). No momento temos 62 apoiadores e se você aprecia o nosso trabalho, torne-se o número 63!

>> Ouça o programa aquihttps://soundcloud.com/user-752167240/nyc-turns-up-the-volume

Tradução > Orlando/Acervo Trans-Anarquista

Conteúdo relacionado:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/11/10/eua-sem-deuses-sem-prefeitos/

agência de notícias anarquistas-ana

manhã
me ilumino
de imensidão

Giuseppe Ungaretti

[Espanha] Crônica: Animalia Libertaria III: Um viveiro de esperança animalista

O crescimento do movimento animalista em Madrid tem encontros que já são tradição. Neste domingo, a terceira edição de Animalia Libertaria confirmou sua consolidação como um desses encontros imprescindíveis onde a comunidade antiespecista não só arrecada fundos, mas fortalece seus laços. Com dez associações beneficiárias, a feira demonstrou como a solidariedade se traduz em ação concreta.

A manhã começou com a agitação característica dos voluntários montando postos, mas com uma novidade significativa: a maior diversidade de associações participantes. Protetoras de cães, santuários de animais de granja e coletivos de colônias felinas compartilhavam espaço, criando um ecossistema completo de cuidado animal. No posto de “Sou Positivo“, dedicado a gatos leucêmicos e imunes resgatados, uma voluntária explicava: “Cada euro significa uma ajuda para comprar ração a cada mês”.

Um dos momentos mais impactantes chegou com a performance de Madrid Animal Save. Puseram suas telas com um vídeo de dois minutos dos animais sacrificados no matadouro, e se o assistisse, te recompensavam com um bônus de 2 € de desconto na comida ou bebida do evento. A ação, breve, mas intensa, conseguiu captar a atenção inclusive dos que já estamos a tempos difundindo o antiespecismo.

A zona de comida vegana se converteu em um ponto de encontro movimentado e festivo. A oferta gastronômica evoluiu notavelmente desde as primeiras edições, com diferentes opções caseiras de 7 associações diferentes junto a bebidas de provedores ecológicos e veganos. É um prazer ver as pessoas desfrutarem sem que nenhum animal pague com sua vida.

O mais valioso desta edição foi talvez sua capacidade para mostrar as diferentes facetas do movimento. Não só se falava de adoção, mas também de justiça climática, consumo responsável e políticas municipais. Havia fanzines de diversos temas com os quais aprofundar em diversas temáticas interseccionais que nos afetam em nosso dia a dia.

Ao finalizar a jornada, com as caixas cheias de doações e os telefones com novos contatos, os organizadores viam satisfeitos o resultado. Mais que uma feira, Animalia Libertaria se converteu nesse espaço onde os que lutam pelos animais carregam suas energias, encontram cumplicidade e recordam que não estão sós nesta batalha. A quarta edição já se torna necessária.

Fonte: https://madrid.cntait.org/cronica-animalia-libertaria-iii-un-semillero-de-esperanza-animalista/  

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Sente-se, por favor
no banquinho do jardim,
Primavera-San…

Teruo Hamada

[EUA] Convergência Anarquista Sonorense

De Saguaros & Sabotage – Contra-informação para o Vale do Sol

Quando/Onde: Das 13h às 18h, sábado, 29 de novembro. Wasted Ink Zine Distro, na McDowell com a 5ª Avenida, em Phoenix.

O Sudoeste permanece tanto um caldeirão quanto uma vítima do império, uma fronteira incendiada onde colonialismo de povoamento, extração capitalista e “progresso” tecnológico convergem em uma violência ritual contra a terra e contra a vida. De data centers “ecológicos” a minas de urânio e cobre que contaminam terras indígenas, a região reflete a violência contínua da qual o império depende para sobreviver.

Este encontro é uma invocação. Um espaço para traçar as linhas de poder e extração e imaginar ecologias insurgentes para além da maquinaria da civilização.

Este encontro é uma oportunidade para aprender uns com os outros através de fronteiras estatais e de linhas de frente, compartilhar histórias de resistências passadas e presentes, construir conexões entre nossos diversos movimentos e explorar maneiras de defender a terra, a água e a comunidade contra as forças que buscam nos dividir e explorar.

Junte-se a nós em 29 de novembro, na Wasted Ink Zine Distro, das 13h às 18h.

Envie propostas de oficinas ou perguntas para SonoranAnarCon@proton.me

Tradução > Contrafatual

agência de notícias anarquistas-ana

Vendinha de bairro.
Ressona feliz gatinho
no saco de estopa.

Fanny Dupré

Extrativismo: repensar o capitalismo de exploração de recursos naturais

Hoje temos a alegria de propor a vocês uma leitura fundamental para entender as relações que unem o capitalismo mais moderno com as atividades mais sujas e destruidoras dos ambientes e das comunidades da América Latina e outros lugares do mundo.

O livro Extrativismo, traduzido por compas do CCLA apresenta um leque de informações, situações e dados que lembram a que ponto as nossas lutas são interligadas e que as nossas resistências devem também diversificar-se ao mesmo que se unem para rejeitar as promessas de um “desenvolvimento” que sempre nos deixa migalhas em troca de sacrifícios ambientais e culturais.

Portanto, é com prazer que apresentamos essa obra fundamental, em chave de formação ao pensamento libertário e que vai permitir compreender o posicionamento anarquista em relação a essa temática.

Vocês podem baixar o livro na Biblioteca digital do CCLA, aqui: https://cclamazonia.noblogs.org/files/2025/11/EXTRATIVISMO-DEF.pdf

agência de notícias anarquistas-ana

no despenhadeiro
a sombra da pedra
cai primeiro

Carlos Seabra

[Grécia] A esquerda que carrega o Estado dentro dela

O assalto maoista aos anarquistas atenienses expuseram a cultura política hierárquica moldada por hábitos patriarcais.

Blade Runner ~

Milhares tomaram as ruas por toda a Grécia em 17 de novembro, em memória dos mortos durante a revolta do Politécnico de 1973, quando estudantes foram assassinados a tiros ao se revoltarem contra a ditadura colonial. Em Atenas, mais de 6.000 policiais de choque foram destacados para a manifestação e comício em frente à Embaixada dos EUA, com veículos blindados isolando o trajeto da marcha numa tentativa de desencorajar a participação em massa. 43 pessoas foram presas em operações policiais antes da manifestação.

Mais cedo, na manhã de 15 de novembro, cerca de 150 membros do grupo maoísta ARAS desceram ao campus do Politécnico em Exarchia durante os preparativos para as comemorações anuais da revolta de 1973. Eles cercaram um pequeno grupo de estudantes anarquistas e antiautoritários, lançaram um ataque coordenado e sustentado, e deixaram mais de uma dúzia hospitalizados com concussões, ossos quebrados e graves ferimentos na cabeça, incluindo pessoas espancadas enquanto inconscientes. Os atacantes atuavam atrás de um cordão apertado, os portões do campus estavam trancados e centenas de outras organizações de esquerda presentes não puderam intervir. O evento foi publicamente condenado pela maioria das organizações de esquerda e anarquistas na Grécia.

Longe de ser apenas mais um confronto intraesquerda, o ataque foi uma tentativa estratégica de demarcar território. Quem detém o espaço físico do Politécnico não gerencia somente um campus; reivindicam o significado de sua história e, com ela, o horizonte futuro da luta social. A ARAS passou anos impondo a sua dominância dentro de setores do movimento estudantil universitário, reproduzindo uma postura autoritária análoga à postura hegemônica do Partido Comunista Grego (KKE) no campo sociopolítico mais amplo: a insistência no controle organizacional, a fiscalização da dissidência e a fala de décadas, adotada tanto pelo KKE quanto pelos liberais, de que os manifestantes são ‘destruidores de unidade’ ou agentes policiais disfarçados.

O ataque pertence a um ciclo mais longo de desilusão, repressão e decadência política. Uma geração amadureceu após a revolta juvenil de 2008, momento que aterrorizou a classe política, apenas para assistir à longa desilusão dos anos do SYRIZA se desenrolar: esperança evaporando, energia do movimento traída e o ‘governo de esquerda’ encolhendo para uma gestão tecnocrática. O que se seguiu foi o retorno triunfante da direita, armada com uma TINA (‘não há alternativa’) e uma postura de contrainsurgente direcionada diretamente aos movimentos que abalaram o país, em 2008, e durante os anos do memorando. Nos últimos anos, as autoridades policiais têm atacado cada vez mais as ocupações políticas, inclusive dentro de campi universitários com a cooperação das administrações acadêmicas.

Nesse clima, padrões autoritários e patriarcais se reafirmaram não apenas de cima, mas também dentro do campo político, com remanescentes da esquerda atuando como amortecedores e contrainsurgência interna, absorvendo a raiva e bloqueando o surgimento de alternativas sociais genuinamente autônomas. O ataque da ARAS foi uma reencenação dessa tendência mais ampla: a internalização da lógica estatal por uma formação de esquerda desesperada por reconhecimento e poder. A tentativa de garantir relevância e sobrevivência organizacional em um cenário remodelado pela lenta asfixia dos movimentos culminou em uma ruptura grotesca com o espírito do Politécnico, um espetáculo autoritário que imitava as próprias forças que o aniversário deveria desafiar. Os movimentos têm muito a temer quando os atores legitimam essas formações em nome da ‘unidade’ e, assim, os ajudam a garantir cobertura moral.

Além disso, a brutalidade do ataque revelou mais do que uma emboscada sectária e autoritária; expôs uma cultura política hierárquica moldada por hábitos patriarcais de comando, que se espalhava por partes da esquerda grega (e pelo espectro político de modo mais amplo), e agora encorajada sob um governo que fetichiza disciplina, punição e obediência.

Por décadas, o Politécnico foi mantido aberto por aqueles que rejeitam essas narrativas de ordem e inevitabilidade. Pouquíssimas das correntes políticas presentes foram ‘não violentas’ no sentido moralista promovido por governos e liberais. Eles defenderam ocupações, confrontaram a polícia, bloquearam minas e construíram infraestruturas de cuidados sob fogo. A militância deles é coletiva e baseada na proteção mútua. A violência da ARAS era o oposto: dominação autoritária disfarçada de disciplina, um teatro de controle com influência patriarcal que se disfarçava de luta social.

Essa distinção é essencial. Formações políticas que reproduzem estruturas de comando hierárquicas e patriarcais não apenas ecoam a violência do Estado, elas a legitimam. Quando uma seita liderada por homens invade o Politécnico como um esquadrão de choque privado, isso funciona como uma extensão não oficial da repressão que o governo vem escalando há anos, sufocando os espaços de movimento e expandindo os poderes policiais sob a bandeira da inevitabilidade. Nesse contexto, o ataque da ARAS parece menos loucura sectária e mais uma versão amadora grotesca da própria narrativa do Estado: ‘a ordem deve ser restaurada; As alternativas precisam ser esmagadas.’ Um eco violento da TINA que eles afirmam se opor.

Se os movimentos quiserem sobreviver a essa fase autoritária, a criminalização da dissidência, o teatro do ‘bom manifestante ou mau manifestante’, a fiscalização da política juvenil, precisam enfrentar o que possibilitou esse ataque. Não por vingança ou purgas, que apenas reciclam o mesmo circuito autoritário, mas recusando-nos a tolerar dentro de nossos próprios espaços as hierarquias, masculinidades e hábitos de comando que tornam tal violência possível. A justiça transformadora não é uma alternativa suave à militância; É a única forma de a militância permanecer enraizada na libertação, em vez de deslizar para a lógica da dominação.

A revolta do Politécnico permanece poderoso porque rejeitou a hierarquia, o comando patriarcal e a lógica da inevitabilidade. Era bagunçada, plural e contraditória e, portanto, genuinamente insurgente. O que aconteceu este ano foi uma profanação dessa memória por pessoas que reproduzem fielmente a lógica do Estado mais do que a sua polícia. Nossa tarefa agora não é só defender nossos espaços da repressão externa, mas também defender nossas culturas políticas da podridão interna. Nenhum movimento que não consiga erradicar o autoritarismo, seja pelo Estado ou por seus imitadores, pode construir o mundo pelo qual diz lutar.

Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/11/18/a-left-that-carries-the-state-inside-it/

Tradução > CF Puig

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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/11/17/grecia-sobre-o-ataque-paramilitar-assassino-da-aras-nas-instalacoes-da-universidade-politecnica/

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Gatinha meiga
ao passar da mão
seu corpo se ajeita

Eugénia Tabosa

[França] Lançamento: “Maldita seja a guerra” de Pierre Douillard-Lefèvre

O “rearmamento” está em todos os discursos, a economia de guerra é imposta com austeridade, os impérios estão se militarizando, a França é o segundo maior traficante de armas do planeta, a aniquilação de Gaza continua, o ar é cáqui e os acentos marciais contaminam o espaço da mídia. No passado, as lutas sociais se levantaram contra o nacionalismo conquistador e a guerra, contra os uniformes e a obediência aos líderes, contra a união sagrada e a militarização do trabalho. “Guerra aos palácios, paz às cabanas de palha!”: façamos nossa esta palavra de ordem revolucionária. Este manual antimilitarista baseia-se na experiência daqueles que resistem às guerras de ontem e de hoje, para rearmar a resistência.

O autor

Mutilado pela polícia em 2007, quando era estudante do ensino médio, Pierre Douillard-Lefèvre realiza pesquisas sobre a militarização da aplicação da lei, a ascensão do autoritarismo e está envolvido em movimentos de pessoas feridas pela polícia ou contra a indústria de armas. Autor dos livros L’arme à l’oeil (Grevis, 2016) e Nous sommes en guerre (Grevis, 2021) sobre repressão, depois Dissoudre (Grevis, 2024) sobre processos liberticidas, é também pesquisador em ciências sociais, autor de obras sobre sociologia urbana, cartunista e jornalista em mídia independente e associativa.

Maldita seja a guerra de Pierre Douillard-Lefèvre

Paru le 171025

160 páginas

ISBN:

9791097088941

16 Euros

editionsdivergences.com

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No dedão vermelho
Lateja meu coração —
Ferrão de abelha

Neiva Pavesi