[Grécia] A esquerda que carrega o Estado dentro dela

O assalto maoista aos anarquistas atenienses expuseram a cultura política hierárquica moldada por hábitos patriarcais.

Blade Runner ~

Milhares tomaram as ruas por toda a Grécia em 17 de novembro, em memória dos mortos durante a revolta do Politécnico de 1973, quando estudantes foram assassinados a tiros ao se revoltarem contra a ditadura colonial. Em Atenas, mais de 6.000 policiais de choque foram destacados para a manifestação e comício em frente à Embaixada dos EUA, com veículos blindados isolando o trajeto da marcha numa tentativa de desencorajar a participação em massa. 43 pessoas foram presas em operações policiais antes da manifestação.

Mais cedo, na manhã de 15 de novembro, cerca de 150 membros do grupo maoísta ARAS desceram ao campus do Politécnico em Exarchia durante os preparativos para as comemorações anuais da revolta de 1973. Eles cercaram um pequeno grupo de estudantes anarquistas e antiautoritários, lançaram um ataque coordenado e sustentado, e deixaram mais de uma dúzia hospitalizados com concussões, ossos quebrados e graves ferimentos na cabeça, incluindo pessoas espancadas enquanto inconscientes. Os atacantes atuavam atrás de um cordão apertado, os portões do campus estavam trancados e centenas de outras organizações de esquerda presentes não puderam intervir. O evento foi publicamente condenado pela maioria das organizações de esquerda e anarquistas na Grécia.

Longe de ser apenas mais um confronto intraesquerda, o ataque foi uma tentativa estratégica de demarcar território. Quem detém o espaço físico do Politécnico não gerencia somente um campus; reivindicam o significado de sua história e, com ela, o horizonte futuro da luta social. A ARAS passou anos impondo a sua dominância dentro de setores do movimento estudantil universitário, reproduzindo uma postura autoritária análoga à postura hegemônica do Partido Comunista Grego (KKE) no campo sociopolítico mais amplo: a insistência no controle organizacional, a fiscalização da dissidência e a fala de décadas, adotada tanto pelo KKE quanto pelos liberais, de que os manifestantes são ‘destruidores de unidade’ ou agentes policiais disfarçados.

O ataque pertence a um ciclo mais longo de desilusão, repressão e decadência política. Uma geração amadureceu após a revolta juvenil de 2008, momento que aterrorizou a classe política, apenas para assistir à longa desilusão dos anos do SYRIZA se desenrolar: esperança evaporando, energia do movimento traída e o ‘governo de esquerda’ encolhendo para uma gestão tecnocrática. O que se seguiu foi o retorno triunfante da direita, armada com uma TINA (‘não há alternativa’) e uma postura de contrainsurgente direcionada diretamente aos movimentos que abalaram o país, em 2008, e durante os anos do memorando. Nos últimos anos, as autoridades policiais têm atacado cada vez mais as ocupações políticas, inclusive dentro de campi universitários com a cooperação das administrações acadêmicas.

Nesse clima, padrões autoritários e patriarcais se reafirmaram não apenas de cima, mas também dentro do campo político, com remanescentes da esquerda atuando como amortecedores e contrainsurgência interna, absorvendo a raiva e bloqueando o surgimento de alternativas sociais genuinamente autônomas. O ataque da ARAS foi uma reencenação dessa tendência mais ampla: a internalização da lógica estatal por uma formação de esquerda desesperada por reconhecimento e poder. A tentativa de garantir relevância e sobrevivência organizacional em um cenário remodelado pela lenta asfixia dos movimentos culminou em uma ruptura grotesca com o espírito do Politécnico, um espetáculo autoritário que imitava as próprias forças que o aniversário deveria desafiar. Os movimentos têm muito a temer quando os atores legitimam essas formações em nome da ‘unidade’ e, assim, os ajudam a garantir cobertura moral.

Além disso, a brutalidade do ataque revelou mais do que uma emboscada sectária e autoritária; expôs uma cultura política hierárquica moldada por hábitos patriarcais de comando, que se espalhava por partes da esquerda grega (e pelo espectro político de modo mais amplo), e agora encorajada sob um governo que fetichiza disciplina, punição e obediência.

Por décadas, o Politécnico foi mantido aberto por aqueles que rejeitam essas narrativas de ordem e inevitabilidade. Pouquíssimas das correntes políticas presentes foram ‘não violentas’ no sentido moralista promovido por governos e liberais. Eles defenderam ocupações, confrontaram a polícia, bloquearam minas e construíram infraestruturas de cuidados sob fogo. A militância deles é coletiva e baseada na proteção mútua. A violência da ARAS era o oposto: dominação autoritária disfarçada de disciplina, um teatro de controle com influência patriarcal que se disfarçava de luta social.

Essa distinção é essencial. Formações políticas que reproduzem estruturas de comando hierárquicas e patriarcais não apenas ecoam a violência do Estado, elas a legitimam. Quando uma seita liderada por homens invade o Politécnico como um esquadrão de choque privado, isso funciona como uma extensão não oficial da repressão que o governo vem escalando há anos, sufocando os espaços de movimento e expandindo os poderes policiais sob a bandeira da inevitabilidade. Nesse contexto, o ataque da ARAS parece menos loucura sectária e mais uma versão amadora grotesca da própria narrativa do Estado: ‘a ordem deve ser restaurada; As alternativas precisam ser esmagadas.’ Um eco violento da TINA que eles afirmam se opor.

Se os movimentos quiserem sobreviver a essa fase autoritária, a criminalização da dissidência, o teatro do ‘bom manifestante ou mau manifestante’, a fiscalização da política juvenil, precisam enfrentar o que possibilitou esse ataque. Não por vingança ou purgas, que apenas reciclam o mesmo circuito autoritário, mas recusando-nos a tolerar dentro de nossos próprios espaços as hierarquias, masculinidades e hábitos de comando que tornam tal violência possível. A justiça transformadora não é uma alternativa suave à militância; É a única forma de a militância permanecer enraizada na libertação, em vez de deslizar para a lógica da dominação.

A revolta do Politécnico permanece poderoso porque rejeitou a hierarquia, o comando patriarcal e a lógica da inevitabilidade. Era bagunçada, plural e contraditória e, portanto, genuinamente insurgente. O que aconteceu este ano foi uma profanação dessa memória por pessoas que reproduzem fielmente a lógica do Estado mais do que a sua polícia. Nossa tarefa agora não é só defender nossos espaços da repressão externa, mas também defender nossas culturas políticas da podridão interna. Nenhum movimento que não consiga erradicar o autoritarismo, seja pelo Estado ou por seus imitadores, pode construir o mundo pelo qual diz lutar.

Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/11/18/a-left-that-carries-the-state-inside-it/

Tradução > CF Puig

Conteúdo relacionado:

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Gatinha meiga
ao passar da mão
seu corpo se ajeita

Eugénia Tabosa

[França] Lançamento: “Maldita seja a guerra” de Pierre Douillard-Lefèvre

O “rearmamento” está em todos os discursos, a economia de guerra é imposta com austeridade, os impérios estão se militarizando, a França é o segundo maior traficante de armas do planeta, a aniquilação de Gaza continua, o ar é cáqui e os acentos marciais contaminam o espaço da mídia. No passado, as lutas sociais se levantaram contra o nacionalismo conquistador e a guerra, contra os uniformes e a obediência aos líderes, contra a união sagrada e a militarização do trabalho. “Guerra aos palácios, paz às cabanas de palha!”: façamos nossa esta palavra de ordem revolucionária. Este manual antimilitarista baseia-se na experiência daqueles que resistem às guerras de ontem e de hoje, para rearmar a resistência.

O autor

Mutilado pela polícia em 2007, quando era estudante do ensino médio, Pierre Douillard-Lefèvre realiza pesquisas sobre a militarização da aplicação da lei, a ascensão do autoritarismo e está envolvido em movimentos de pessoas feridas pela polícia ou contra a indústria de armas. Autor dos livros L’arme à l’oeil (Grevis, 2016) e Nous sommes en guerre (Grevis, 2021) sobre repressão, depois Dissoudre (Grevis, 2024) sobre processos liberticidas, é também pesquisador em ciências sociais, autor de obras sobre sociologia urbana, cartunista e jornalista em mídia independente e associativa.

Maldita seja a guerra de Pierre Douillard-Lefèvre

Paru le 171025

160 páginas

ISBN:

9791097088941

16 Euros

editionsdivergences.com

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No dedão vermelho
Lateja meu coração —
Ferrão de abelha

Neiva Pavesi

Do cativeiro à liberdade

Entrevista com o militante anarquista bielorrusso, Mikola Dziadok. Entrevistadores: Claudia Bettiol e Francesco Brusa.

Mikola Dziadok (1988) é bielorrusso, escritor, ativista, anarquista e ex-preso político cujo nome se tornou sinônimo de resiliência e do alto custo da oposição na Bielorrússia atual. Além de ser um sobrevivente, ele também é uma testemunha-chave do funcionamento interno do poder autoritário bielorrusso. Sua história, duplamente como prisioneiro, já foi escrita atrás das grades, documentando a brutal realidade do sistema penal bielorrusso. O seu livro de memórias, The Colours of the Parallel World (publicado após o primeiro período de detenção), baseado em anotações secretas na prisão, oferece um relato cru e sem precedentes do tormento psicológico e físico projetado para quebrar o espírito humano.

Após ser preso, há 5 anos, foi libertado em 11 de setembro, com mais 51 prisioneiros (a maioria presos políticos e alguns cidadãos estrangeiros) como parte de um “acordo” mais amplo entre a Bielorrússia e os Estados Unidos, com Washington suspendendo algumas sanções contra o Estado governado por Lukashenko [atual presidente da Bielorrússia]. Todas as pessoas foram “deportadas” para a embaixada americana em Vilnius, Lituânia, exceto o líder de uma das forças políticas de oposição, Mikola Statkevich, que parou na fronteira e voltou para a Bielorrússia, em uma decisão arriscada (e nenhuma notícia dele foi ouvida desde então).

Dziadok é uma fonte primária com testemunhos em primeira mão sobre o uso sistemático da tortura e da repressão política na Bielorrússia. Aqui, as suas perspectivas críticas sobre a maquinaria de um regime que se tornou um aliado-chave da guerra da Rússia na Ucrânia e um desafio persistente à segurança europeia.

CLAUDIA BETTIOL E FRANCESCO BRUSA: Algumas semanas atrás, na primeira coletiva de imprensa em Vilnius, logo após a sua libertação, você falou sobre as condições das prisões na Bielorrússia. Disse que ficou chocado com a escala da repressão tanto nas prisões quanto em toda a Bielorrússia. Pode nos contar mais um pouco sobre a sua experiência pessoal?

MIKOLA DZIADOK: Vamos começar do início. Fui preso em 11 de novembro de 2020, depois de ficar foragido por 5 meses. Fui revistado pelo GUBOPiK, o departamento da polícia bielorrussa que lida com os chamados “extremistas” e, durante a prisão e várias horas depois, fui intensamente torturado.

No começo, a situação foi bem intensa, com espancamentos prolongados, spray de pimenta, ameaças de estupro, algemamento e sufocamento. Passei por 6 horas porque eles queriam que eu desse as senhas das minhas contas e dispositivos, e que fizesse uma confissão em câmera.

Enquanto eu aguentei, eu me abstive disso, mas depois me rendi e disse o que eles queriam. Depois, fui transferido, amarrado e meio coberto, mas o centro de detenção inicialmente não me aceitou e fui levado de volta ao lugar onde tudo começou. Fiquei lá mais 6 dias para que as evidências de espancamentos ficassem menos visíveis, e minhas condições melhoraram um pouco.

Nos 5 anos de detenção, as condições variaram, de extremamente ruins a mais ou menos normais. Em geral, desde o início, a administração prisional empregou várias estratégias, incluindo a exploração de outros detentos e subculturas informais prisionais para oprimir não só a mim, mas a todos os presos políticos. Colocaram líderes criminosos e detentos comuns contra nós, nos submetendo a uma série de táticas, incluindo tortura moral, agressão física e intimidação.

Além disso, usavam esse mecanismo chamado “baixo status social”, que é uma característica específica dos gulags e prisões pós-gulag em sistemas penitenciários pós-soviéticos. Basicamente, dentro desse sistema, os detentos são divididos em várias castas, que não permitem qualquer melhoria de status. Nesse sistema, você só pode descer, não subir na hierarquia. O status mais baixo, ou a casta mais baixa, geralmente associada a pessoas homossexuais, é periodicamente assediada moral e fisicamente e tratada como excluída. Não podem se sentar à mesa com outros detentos e são sistematicamente abusados, assediados e maltratados tanto por outros detentos quanto pela administração prisional. Dei uma descrição detalhada do fenômeno social da “casta mais baixa” nas prisões pós-soviéticas.

Estar nessa casta é um desafio difícil e muitas pessoas cometem suicídio. A administração prisional é instruída por autoridades superiores como a KGB e a GUBOPiK, que estavam se esforçando para atribuir esse status de casta inferior aos presos políticos, incluindo eu.

Outra experiência comum são as células de isolamento, onde você dorme em uma mesa que se encolhe da parede em determinados horários, de modo que durante o dia você não consegue dormir. Mas à noite também é difícil dormir porque está muito frio. Você precisa acordar três ou quatro vezes à noite para fazer agachamentos ou flexões para aquecer.

De acordo com a lei, você não pode ficar nessa cela por mais de 15 dias, mas na verdade acontece que eles fazem você ficar por meses, e presos políticos são sistematicamente colocados lá por períodos muito longos. O período mais longo que fiquei foi de 4 meses, mas somando, no total, passei um ano inteiro em uma dessas celas.

Claro, também existem outras formas de pressão que exercem sobre você, por exemplo, no nível legal: impedem que mantenha contato com parentes, muitas vezes privam do direito de enviar cartas para a família ou qualquer outra pessoa.

Podemos dizer legitimamente que, nas prisões bielorrussas, os presos políticos representam uma categoria especial, chegam até a ser rotulados com placas amarelas nos casacos e são sistematicamente assediados e maltratados.

Você descreveu o sistema prisional bielorrusso no seu livro, The Colours of the Parallel World, escrito entre 2010 e 2015, na primeira prisão, e publicado em 2016. Você diria que piorou em relação àquele período, e que os protestos de 2020 forçaram Lukashenko e o sistema de poder a tornarem as coisas ainda mais duras?

Com certeza, as condições ficaram muito mais duras do que descrevi no meu livro. Quando eu escrevia, a maioria de nós, presos políticos, éramos apenas dissidentes e ativistas locais, e não representávamos uma ameaça imediata e mortal ao regime. Em 2020, houve uma situação revolucionária absolutamente evidente que levou o Estado a impor medidas muito duras aos prisioneiros, presos políticos, para intimidá-los o máximo possível. Hoje sabemos os números: pelo menos 8 presos políticos morreram desde 2020.

Devo dizer que provavelmente só a minoria morreu por violência direta. A maioria por não ter recebido ajuda médica a tempo. Morreram de doenças curáveis.

Este ano marcou o 5º aniversário desde os protestos de 2020 contra o regime de Lukashenko e, obviamente, algo mudou desde então. Após a sua libertação, como a sua percepção sobre a luta política mudou? Como vê a situação dos presos políticos hoje?

Preciso dizer que a minha percepção da luta política não mudou muita coisa. Quer dizer, continuo anarquista. Continuo acreditando numa sociedade sem exploração, sem violência, uma sociedade sem autoridade de seres humanos sobre seres humanos. Ao mesmo tempo, vejo as condições reais. Vejo que todos nós somos imigrantes agora. Não podemos influenciar diretamente tanto quanto queremos a situação política na Bielorrússia. Somos mesmo muito dependentes dos nossos aliados ocidentais dos países que nos aceitaram.

Nessas condições, acho que devemos fazer tudo o que pudermos, antes de tudo, para manter a unidade, tentar pressionar com questões bielorrussas, na comunidade internacional, em organizações internacionais, no ambiente diplomático, entre os ministérios de relações exteriores, e tentar levantar questões bielorrussas, questões de direitos humanos e da nossa luta.

Talvez, em comparação com minhas visões políticas anteriores, eu não acredite tanto na revolução ou na luta violenta como na principal forma de mudar a sociedade. Não acredito tanto em mudar instituições políticas, mas, sim, em mudar a mentalidade das pessoas. Em termos filosóficos, finalmente cheguei à posição de idealista, sabe, nessa eterna discussão entre idealistas e materialistas. Sou completamente idealista agora porque acredito que toda mudança política, as mudanças nas instituições políticas, nascem primeiro no coração e na mente das pessoas, e a luta de cada pessoa para se melhorar não é menos importante do que a luta por mudar as instituições políticas.

Quero me concentrar em fazer trabalho cultural, em manter e desenvolver valores morais progressistas, valores humanistas, valores do mundo livre em contradição aos valores bárbaros, autoritários e fascistas que nos são continuamente impostos do Oriente.

Com o conflito em andamento entre Rússia e Ucrânia, e a Bielorrússia servindo como base para operações russas, como você abordaria a busca por uma “revolução cultural” nesse contexto? Como percebe as condições difíceis para uma luta pela liberdade no contexto em que a Bielorrússia está ainda mais ligada e subjugada pelo Kremlin?

Todas as guerras hoje são guerras híbridas, muito antes da invasão russa na Ucrânia começar. Foi uma invasão cultural de longa duração, uma invasão colonial, a lavagem cerebral das forças imperialistas russas, dos canais de TV russos e dos chamados proxies do mundo russo através dos canais de informação, sabe? É isso que vemos agora na Bielorrússia. O povo bielorrusso é submetido a uma campanha contínua de doutrinação que combina elementos da propaganda mundial russa com um estilo distinto bielorrusso. Essa campanha é caracterizada por uma mistura de retórica imperialista russa e uma abordagem localizada.

Mesmo em tempos de guerra, a disseminação de informações continua crucial, assim como o apoio de indivíduos que defendem valores adequados. Essa importância é amplificada em tempos de conflito.

Hoje, vemos que o regime de Lukashenko investiu muito em propaganda após 2020. Naquele ano, conquistamos completamente o campo da informação deles, ele levou um mês para alcançar uma vitória parcial no campo da informação, e nesse mês, prendeu jornalistas, destruiu infraestrutura e recorreu à tortura e espancamentos.

A minha missão é continuar a falar a verdade, investir em valores humanistas e produzir análises políticas que promovam visões adequadas sobre questões geopolíticas e locais, bem como a descolonização. Estou comprometido com a descolonização do campo da informação bielorrussa e com a mentalidade dos bielorrussos.

Sabemos que o regime está mirando em presos políticos, especialmente jornalistas, blogueiros e defensores dos direitos humanos, fabricando casos criminais sem fundamento, especialmente após a invasão da Ucrânia. Quais violações de direitos humanos você considera mais graves e sistemáticas no sistema bielorrusso?

Na minha opinião, as violações de direitos humanos mais graves e importantes na Bielorrússia são a tortura e o isolamento.

Desde 2020, nas prisões bielorrussas, as agressões tornaram-se uma espécie de procedimento obrigatório para certa categoria de detentos. Segundo as minhas observações, se você é anarquista, torcedor de futebol, alguém de alguma forma associada à Ucrânia, de direita ou neonazista, ou alguém associado a protestos violentos, certamente será espancado e forçado a confessar tudo e fazer pedidos de desculpas diante das câmeras.

No momento, há cerca de 1300 presos políticos na Bielorrússia, o que já é um grande número para um país de nove milhões de pessoas, mas precisamos lembrar que o número certamente é maior e há muitas pessoas na prisão que têm medo de se identificarem como militantes políticos porque a KGB e a GUBOPiK (esta é nova) deixaram claro que, se você passar certas informações para seus parentes e depois seus parentes entram em contato com alguma associação de direitos humanos, aí eles vão prender os seus parentes. Isso é algo que eles realmente fazem.

É por isso que ainda não sabemos o número exato de presos políticos. Além disso, alguns presos políticos podem não ter parentes ou seus parentes não terem coragem de sustentá-los.

O que a comunidade internacional pode fazer a respeito?

A comunidade internacional deve se esforçar para fazer tudo ao seu alcance, mas não tenho certeza se existe algo viável na situação em questão. É evidente que o escopo é limitado. No entanto, ainda há algumas possibilidades: primeiro, falar sobre o tema e levantá-lo em negociações diplomáticas; em segundo lugar, que os jornalistas levantem a questão sempre que possível, e não somente quando os presos políticos forem libertados, caso contrário, eles serão esquecidos muito em breve.

Voltando à sua libertação. Na sua opinião, por que Lukashenko concordou em libertar 52 presos políticos, qual é sua interpretação dessa medida e houve consenso geral entre as pessoas que foram libertadas?

Pelos mesmos motivos que se aplicavam a situações anteriores. O mecanismo com presos políticos é um padrão recorrente na Bielorrússia: a cada 5 anos há relatos de repressão durante as eleições presidenciais, o Ocidente impõe sanções e o governo mantém prisioneiros como moeda de troca por um período. No entanto, há uma necessidade constante por parte das esferas diplomática, econômica e política de suspender as sanções. Em algum momento, Lukashenko será obrigado a recorrer aos países europeus e negociar.

Isso já aconteceu na história moderna bielorrussa em três ou quatro ocasiões, e é evidente que isso se deve às sanções. Lukashenko quer impulsionar o crescimento econômico, talvez também ser um pouco mais independente de Putin. O presidente Trump talvez tenha sido o primeiro a querer esse acordo e ele teve os seus ganhos com a troca, queria mudar as relações americano-bielorrussas e assim o esquema usual funcionou novamente.

A última pergunta é sobre anarquismo. Você acha que ainda há espaço para o anarquismo, e talvez outros movimentos alternativos, como força política na Bielorrússia e na Europa Oriental? Acha que o movimento anarquista tem um papel específico que o distingue de outras forças de oposição? Quais lições outros movimentos políticos podem aprender com a experiência bielorrussa?

Do meu ponto de vista, a situação do anarquismo na Bielorrússia é bastante específica porque não tínhamos uma tradição anarquista como em outros países europeus. De fato, o movimento anarquista foi destruído nos tempos totalitários soviéticos e, assim, o anarquismo na Bielorrússia iniciou o seu renascimento nos anos 1990. Hoje, faz 35 anos, podemos dizer.

Quase não tivemos nenhum extra-parlamentar nesses 35 anos, foi uma só ditadura. O movimento anarquista começou a ganhar força entre 2008 e 2010, separou-se das suas características subculturais e tornou-se mais sociopolítico do que subcultural. Naquele momento, todas as ações revolucionárias que tentamos, a repressão subsequente que enfrentamos e os esforços para estabelecer a nossa própria plataforma de mídia, seguidos do engajamento com outras forças políticas democráticas bielorrussas, serviram para estabelecer nossa participação legítima na resistência civil e no movimento democrático.

Nesse caso, a situação é bem única. Não existe outro país na Europa, e talvez no mundo, onde o movimento anarquista seja tão legitimado pela sociedade civil e onde o rótulo anarquista não traga consigo uma conotação tão negativa quanto na Bielorrússia. Anarquistas estão integrados às estruturas da sociedade civil, atuam como defensores dos direitos humanos, jornalistas, ativistas, voluntários, administradores sem esconder os seus valores políticos e falando alto sobre as suas afiliações ideológicas.

Claro, o tipo de anarquismo do início do século XX, que tinha raízes em levantes operários, tomada do poder em 3 dias e desmantelamento do Estado para fundar uma comuna, não é mais sensato, não é algo que tentamos alcançar, mas ainda preservamos nossos valores, que são valores de não exploração, comunicação não violenta, solidariedade e ajuda-mútua, e respeito e inclusão mútuas. Eu diria que esses valores se espalharam amplamente entre a sociedade civil bielorrussa e entre a parte mais progressista dos bielorrussos.

Isso é principalmente uma conquista nossa. O movimento anarquista na Bielorrússia nunca foi massivo, sempre foram várias dezenas de ativistas que estavam apenas se saindo bem por serem extremamente ativos. Se você pesquisar em bielorrusso ou russo “anarquistas na Bielorrússia”, verá que 80% das notícias são sobre anarquistas sendo espancados, presos, torturados e assim por diante. Graças a isso, ganhamos uma reputação bastante boa entre a sociedade civil e os bielorrussos de orientação democrática.

Por causa disso, eu diria que nós, os anarquistas, teremos um futuro brilhante na Bielorrússia e poderemos continuar a espalhar os nossos valores, a trabalhar diretamente com as pessoas por meio de instituições sociais ou talvez de instituições políticas. Continuaremos a espalhar a nossa agenda e a falar por meio da mídia sobre nossos valores e nossa visão para uma sociedade melhor.

Acho que o caso bielorrusso pode ensinar uma lição aos países democráticos sobre a importância de evitar qualquer tipo de populismo, populismo de direita ou de esquerda. Lukashenko é um típico populista de esquerda, mas, na Europa, os populismos de direita provavelmente são mais conhecidos porque representam o caminho mais curto para a ditadura.

Quando o Estado ou qualquer estrutura começa a privar o povo de qualquer liberdade, isso precisa soar familiar e você precisa agir o mais rápido possível.

É importante não ser cego: na Bielorrússia, por muito tempo, tivemos um amplo cerco de pessoas, a classe média urbana, que tinha boa renda, viajava pela Europa e vivia seu privilégio como pequenos burgueses, principalmente trabalhando como especialistas em TI ou pequenos empresários, que só fechavam os olhos quando Lukashenko reprimia anarquistas, defensores dos direitos humanos ou alguns ativistas “marginais” da oposição. Em 2020, abriram os olhos e protestaram. Só que foi um pouco tarde demais. Por isso, é importante estar atento e vigiar.

Além disso, é extremamente importante apoiar os presos políticos, mesmo com gestos simples como escrever cartas para eles. Enquanto estava preso, não esperava ser libertado tão cedo, e realmente achava que podia passar metade da minha vida lá… É muito fácil perder a esperança. Agora, saber que lá fora tem alguém que pensa em você e luta por justiça, incluindo justiça para o seu caso, foi fundamental para sobreviver e passar por tudo isso.

Este artigo foi originalmente publicado em italiano no site Meridiano 13 e nos canais de mídia social.

Mikola Dziadok é bielorrusso, jornalista, militante, anarquista, blogueiro e ex-preso político. Ele foi libertado em 2015 e se envolveu nos protestos bielorrussos de 2020. Foi preso novamente pelas autoridades e condenado a 5 anos em uma colônia penal de segurança geral em 10 de novembro de 2021. Dziadok foi libertado da prisão e deportado de vez para a Lituânia em setembro de 2025.

Claudia Bettiol é tradutora e jornalista italiana. Mora na Ucrânia desde 2017 e é correspondente em Kiev do Osservatorio Balcani e Caucaso desde 2019.

Ela também é cofundadora do projeto de mídia Meridiano 13 e colabora com outros veículos italianos. Em 2022, traduziu do ucraniano para o italiano a reportagem “Nossos outros” de Olesja Jaremčuk, publicada pela Bottega Errante.

Francesco Brusa é jornalista freelancer e crítico de teatro. Colabora com várias revistas e diversos sites online, principalmente tratando de desenvolvimentos políticos e sociais na região do Leste Europeu e da Anatólia.

Fonte: https://neweasterneurope.eu/2025/10/21/from-captivity-to-freedom/

Tradução > CF Puig

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quarto escuro
silhuetas se amam
pecado puro

Carlos Seabra

[Reino Unido] Carta ao movimento climático

Na última década, tanto na Europa quanto no exterior, uma nova geração de ativistas colocou o movimento climático na linha de frente. Grupos como Extinction Rebellion, Fridays for Future e Ende Gelände conseguiram emergir da marginalidade, convencendo milhões de pessoas a se comprometerem com a defesa do planeta. Não faz muito tempo, poucos estavam cientes da possibilidade de uma catástrofe climática; hoje, ocorre o oposto.

Não pretendo minimizar essas conquistas. No entanto, gostaria de destacar que o ativismo climático contribuiu pouco ou nada para algo muito importante, a única coisa que realmente importa: reduzir a quantidade de carbono emitida pelos humanos em todo o planeta. Tais emissões continuam aumentando a cada ano, assim como as temperaturas médias globais, os desastres climáticos e a taxa de extinção de espécies. Obter reconhecimento social não foi suficiente. Em todos os seus principais objetivos, o movimento climático continua sofrendo uma derrota contundente.

Tenho uma ideia do porquê disso. Porque o movimento climático se manteve ancorado na premissa de que é preciso convencer aqueles que detêm o poder a fazer as mudanças necessárias por nós. Apesar de recorrer a uma estética de ação direta, a maior parte do ativismo climático tem se concentrado em captar a atenção da mídia (incluindo as redes sociais tradicionais, que são uma extensão do poder capitalista tanto quanto a televisão ou os jornais) para obter reconhecimento social e, em última análise, pressionar os políticos. No entanto, a elite política nunca poderá resolver esta crise, porque o sistema que lhes concede poder é também o sistema que, literalmente, prospera devastando o planeta. O que chamamos de “a economia” é uma megamáquina descontrolada que considera qualquer coisa que não seja uma expansão ilimitada (um processo que implica devastação ecológica) um desastre.

Independentemente de sua afiliação ou das promessas que façam, todos os políticos e corporações juram lealdade à logística por trás desse monstro devorador do mundo. Alguns argumentariam que alguns elementos do movimento climático são imunes a esse mal-estar. Diferente do Extinction Rebellion ou do Fridays for Future, grupos anticapitalistas como o Ende Gelände não apresentam demandas explícitas aos políticos, mas se concentram na interrupção direta de infraestruturas críticas. No entanto, não se pode assumir que ocupar pacificamente uma mina de carvão (ou suas artérias) por algumas horas seja uma forma realista de fechá-la definitivamente; é simplesmente outra forma de atrair a atenção da mídia. Tais ações carecem de sentido, a menos que se espere, consciente ou inconscientemente, que possam ser usadas para convencer os políticos a intervir e reformar a economia por nós. Outras organizações de massa (por exemplo, Soulevements de la Terre) podem parecer um avanço, dado que promovem a sabotagem de infraestruturas ecocidas e, nesse sentido, fomentam algo parecido com a ação direta (embora liderada por uma vanguarda secreta). No entanto, mais uma vez, isso só seria uma forma mais sedutora de atrair a atenção da mídia, já que tais ataques seriam muito mais eficazes se fossem realizados por grupos pequenos e autônomos que atacassem na escuridão, especialmente onde as autoridades menos os esperam.

Em resumo, a maior parte do ativismo climático se concentra em pedir ajuda a um sistema inerentemente incapaz de responder. Desse modo, propaga uma imagem de desempoderamento e infantilização, insinuando que as pessoas comuns são incapazes de abordar a crise climática sozinhas. Mas, na realidade, é exatamente o oposto. Todos seremos reduzidos a cinzas antes que os governos façam o necessário. Cabe a rebeldes dedicados e não especializados começar a resolver a crise diretamente. Como seria isso? A adoção imediata de mudanças necessárias que aqueles que detêm o poder nunca considerarão seriamente. Com isso, me refiro ao fechamento de usinas elétricas, aeroportos, estradas e fábricas, enquanto se organizam meios de subsistência descentralizados (e, portanto, respeitosos com o meio ambiente) sem eles. Esta proposta, sem dúvida, implica uma escalada massiva da estratégia. No entanto, dada a gravidade da situação, somada ao fato de que os métodos atuais se mostraram inadequados, creio que é hora de considerar uma revisão radical de nossa abordagem.

A inspiração já está aí. Por exemplo, a campanha “Switch off!” (iniciada na Alemanha em 2023 e que se espalhou para além da Europa desde então) abandonou a reforma do capitalismo, focando-se em paralisar diretamente a infraestrutura responsável pela devastação do planeta. Esses exemplos de sabotagem estão se espalhando, estejam ou não associados a esse rótulo, a outro ou nem mesmo sejam reivindicados. Para mencionar apenas algumas ações relevantes: em setembro de 2023, a rede ferroviária nos arredores de Hamburgo foi sabotada em vários pontos, causando grandes interrupções em um dos maiores portos da Europa; em março de 2024, um incêndio criminoso na rede elétrica perto de Berlim paralisou a gigantesca gigafábrica da Tesla por vários dias; em maio de 2025, um duplo ataque a uma usina elétrica e a uma torre de alta tensão causou um apagão em grande parte da França, deixando sem energia um aeroporto, várias fábricas e o Festival de Cinema de Cannes. Vale lembrar também que o aeroporto de Londres-Gatwick ficou fechado por vários dias em 2018, supostamente (e por razões desconhecidas) porque um drone portátil sobrevoou as pistas. Apesar dos enormes esforços policiais, aqueles que realizaram esta ação facilmente replicável nunca foram encontrados; as demais ações mencionadas aqui também não levaram a prisões. Em contraste, as táticas convencionais do ativismo climático (por exemplo, o uso de bloqueios como encadeamentos, tripés, supercola) dão como certa a prisão, sacrificando assim nossos camaradas aos tribunais, à prisão e à vigilância constante. Este é um preço alto a pagar por ações que, além de fomentar uma atitude servil em relação às autoridades, têm pouco ou nenhum impacto no funcionamento das indústrias destruidoras do clima.

No entanto, para começar a abordar o problema na escala da mudança climática, os ataques à infraestrutura ecocida devem ser ainda mais ambiciosos. Isso pode ser enquadrado em termos de ir além de focar em indústrias específicas e mirar a civilização industrial como um todo. Devem ser atacados os centros relevantes de produção, extração e pesquisa, assim como a rede elétrica que os une, ou seja, a mesma rede que alimenta (em ambos os sentidos da palavra) o sistema de destruição. Uma visão tão ousada parece fora de lugar para muitos. Mas com demasiada frequência esquece-se que a mudança climática e a civilização industrial são, de fato, o mesmo problema. A degradação humana do clima não é algo antigo; é tão antiga quanto a própria industrialização. Nos últimos 150 anos, aproximadamente, a vida humana tem se centrado cada vez mais no uso de máquinas que convertem combustíveis fósseis em energia, emitindo dióxido de carbono no processo. Em outras palavras, a cultura humana foi forçada a uma relação de dependência de uma infraestrutura em constante expansão que não pode funcionar sem poluir o clima. A Revolução Industrial começou há apenas algumas gerações, e suas consequências já levaram muitos a questionar a viabilidade da própria vida além deste século. Não poderia haver uma crítica mais contundente a essa mudança tecnológica relativamente recente.

Alguns, é claro, responderão que a civilização industrial não é intrinsecamente devastadora para a Terra e que já está em processo de reforma. Trata-se da chamada “Transição Verde”, anunciada em todo o espectro político como a solução para a crise climática. No entanto, é um erro comum acreditar que a energia eólica, solar ou hidrelétrica representam alternativas genuínas aos métodos convencionais; na realidade, elas dependem de combustíveis fósseis, que são queimados em quantidades nunca antes vistas. Pensar que a economia capitalista algum dia consentiria em deixar reservas inexploradas de carvão, gás ou petróleo no subsolo é desconhecer a lógica fundamental de um sistema baseado no crescimento ilimitado. Portanto, a consequência do investimento recorde em tecnologia verde apenas catapultou o consumo energético mundial a níveis sem precedentes.

Além disso, além de não ter iniciado uma transição, a reestruturação econômica atual está longe de ser ecológica. Em primeiro lugar, os combustíveis fósseis são fontes de energia de alta densidade, que nem a energia solar, eólica nem hidrelétrica podem igualar. Disso se conclui que as energias renováveis, por mais que se espere que mantenham os níveis atuais de absorção, devem consumir extensões de terra muito maiores do que as já dedicadas à produção energética. Em segundo lugar, as tecnologias-chave para tal reestruturação dependem fortemente da extração de minerais, particularmente por meio da mineração. Por exemplo, o níquel e os minerais de terras raras são necessários para construir painéis solares e turbinas eólicas; o lítio e o cobalto são componentes-chave de suas baterias, assim como as de carros elétricos, bicicletas elétricas e smartphones. Por isso, e em nome da “ecologia verde”, a economia capitalista está saqueando cada canto do planeta em busca de recursos lucrativos, provocando devastação ecológica, trabalho forçado e conflitos geopolíticos. Até as profundezas inexploradas dos oceanos estão prestes a ser saqueadas; depois, serão os asteroides e outros planetas. Em resumo, o que foi promovido como a solução tecnológica para a catástrofe climática não passa de uma grande mentira que camufla a contínua expansão da megamáquina.

No discurso de quase todos que conhecemos hoje está omnipresente a compreensão de que os humanos estão devastando a biosfera e, ao mesmo tempo, cometendo suicídio. No entanto, muitos menos estão dispostos a considerar a crise pelo que ela realmente é: o resultado de uma precipitada corrida pelo desenvolvimento tecnológico. Este não é um problema que possa ser abordado votando, fazendo petições, protestando, boicotando ou investindo. A única resposta realista à crise climática é um ataque à civilização industrial. Não espero que esta proposta ganhe popularidade generalizada; afinal, ela garante a desestabilização do único mundo que quase todos nós conhecemos. No entanto, talvez devêssemos considerar que muitos, ou a maioria dos humanos, sempre insistirão em manter seus carros, geladeiras e smartphones funcionando, mesmo ao custo de abrir mão do ar que respiramos. Portanto, cabe àqueles que têm outras prioridades tomar medidas corajosas e inflexíveis.

Fonte: https://actforfree.noblogs.org/2025/08/15/message-to-the-climate-movemen/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Rosto no vidro
uma criança eterna
olha o vazio

Alphonse Piché

[Reino Unido] Antifascistas humilham os “Patriotas de Bristol”

O policiamento foi fortemente político, voltado quase totalmente para conter a oposição à extrema-direita

Scott Harris ~

No sábado dia 15 de novembro de 2025, o grupo de extrema-direita “Patriotas de Bristol” foi humilhado mais uma vez, diante de uma esmagadora oposição antifascista.

A manifestação do grupo aconteceria no hotel Mercure na região de Redcliffe, que abriga solicitantes de asilo e foi alvo de tentativas de ataque durante os protestos anti-imigração de agosto de 2024. Apesar de terem convidado vários outros grupos, apostando que conseguiriam aumentar os seus números, incluindo o Nick Tenconi do partido UKIP, os Patriotas de Bristol conseguiram apenas entre 40 e 75 apoiadores, e foram confrontados por aproximadamente 400 antifascistas cheios de energia.

A polícia se esforçou para conter grupos de antifascistas que circulavam buscando debater francamente com os variados fascistas, conspiracionistas, e “cidadãos preocupados” alegadamente apolíticos, enquanto outros permaneciam de pé, cantando e tocando música nas portas do hotel, em solidariedade às pessoas que moravam nele. Em um momento muito emocionante, uma das pessoas mais novas que moravam lá segurou um cartaz de sua janela, que dizia: “Obrigado por nos proteger, nós amamos vocês”.

A polícia reportou que um policial foi ao hospital por ferimentos leves por conta de um tumulto, mas não mencionou várias lesões significativas – incluindo lesões na cabeça – contra antifascistas, pelos golpes de bastão dados pelos policiais. Inevitavelmente, o policiamento foi fortemente político, voltado quase totalmente para conter a oposição à extrema-direita, e acabou prendendo várias pessoas. Enquanto isso, os Patriotas de Bristol disparavam sinalizadores, e vários influenciadores de extrema-direita puderam corajosamente gritar xingamentos contra os antifas, detrás da proteção das linhas de polícia.

Bristol se tornou recentemente um alvo para atividade política da extrema-direita, com repetidos esforços de avançar sobre o “território inimigo”. Isso tem sido agravado por um caso recente em que vários homens de origem sul-asiática em Bristol foram presos sob acusações de exploração sexual infantil. Muitas bandeiras do Reino Unido e da Cruz de São Jorge foram colocadas em postes de iluminação em bairros de classe trabalhadora, de maioria branca, como Withywood, Hartcliffe e Lawrence Weston. Essas áreas estão sendo feitas de alvo após décadas de negligência do poder público e estigmatização terem deixado os moradores revoltados, com razão, por um status quo que só trabalha para os ricos e poderosos.

De acordo com os participantes, os antifascistas podem ter vencido a batalha em Redcliffe e, até então, em todas as manifestações recentes, mas uma guerra muito maior deve ser travada pelos corações e mentes pela cidade, para garantir que a extrema-direita não se torne, na prática, a voz anti-establishment em alguns bairros.


Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/11/17/antifascists-humiliate-bristol-patriots/

Tradução > Caio Forne

agência de notícias anarquistas-ana

Com jeito voyeur
da soleira da janela
um pombo me espia.

Anibal Beça

[Espanha] Comedor Popular Vegano em Apoio ao Refúgio de Tea

Domingo, 23 de novembro · 14h

Ateneu Libertário Lucía Sánchez Saornil · La Cabrera (Madri)

O Ateneu Libertário Lucía Sánchez Saornil organiza um comedor popular 100% vegano com um objetivo muito especial: arrecadar fundos para o Refúgio de Tea, um projeto localizado em El Berrueco que dedica todos os seus esforços ao resgate, cuidado e proteção de animais que sofreram abandono, maus-tratos ou situações de risco. Seu trabalho diário é um exemplo de compromisso, sensibilidade e defesa da vida, e queremos contribuir para que possam continuar seguindo em frente.

Este encontro solidário também é uma oportunidade para desfrutar de uma refeição feita com consciência, em um espaço onde o apoio mútuo e a autogestão fazem parte da vida cotidiana. O comedor popular é, além disso, uma forma de nos encontrarmos, compartilhar tempo e fortalecer os laços comunitários que sustentam nossos projetos.

O que você encontrará?

• Um menu totalmente vegano, caseiro e acessível.

• Um ambiente acolhedor e aberto a todas as pessoas.

• Informações sobre o trabalho do Refúgio de Tea e como continuar apoiando.

• Um espaço para conversar, aprender e participar das iniciativas do Ateneu.

Detalhes do evento

• Contribuição solidária: 10 €

• Data e hora: Domingo, 23 de novembro, às 14h.

• Local: Ateneu Libertário Lucía Sánchez Saornil. Rua Luis Fernández Urosa, 7 – La Cabrera (Madri)

• Mais informações sobre o refúgio: elrefugiodetea.org

sierranorte.cnt.es

agência de notícias anarquistas-ana

Pássaro migrante –
seu passaporte é o canto,
sua fronteira, o vento.

Liberto Herrera

[Grécia] Anarquistas condenados pela primeira vez por protesto no Túmulo do Soldado Desconhecido

Um tribunal grego condenou 23 membros do grupo anarquista Rouvikonas por serem os primeiros a infringir uma nova lei que proíbe protestos no local do Túmulo do Soldado Desconhecido, em frente à sede do Parlamento, na Praça Sintagma, em Atenas.

O grupo é conhecido por suas ações diretas ousadas e perseguir símbolos da autoridade. Neste caso, os membros foram considerados culpados de infringir a lei contra atos não autorizados e protestos no monumento nacional. Não foram divulgados nomes.

Eles foram presos por contravenção após uma breve ação de protesto no monumento na sexta-feira (14/11) e receberam penas de nove meses de prisão suspensa, mas foram absolvidos das acusações de violência contra funcionários públicos e recusa em fornecer impressões digitais.

Os juízes também reconheceram circunstâncias atenuantes. Os réus argumentaram que sua ação foi um protesto breve e simbólico, sem intenção de causar danos, mas o tribunal declarou o contrário.

agência de notícias anarquistas-ana

De que vinhas
vinham aquelas engarrafadas
paixões que me aniquilam?

Rogério Viana

A Contra-COP Anárquica em Belém (PA)

Por Radio Onda Rossa (Itália) | 20/11/2025

O movimento anarquista da Amazônia organizou uma Contra-COP autônoma e sem figura institucional, a diferença para a Cúpula dos Povos, que terminou domingo, bem próxima ao governo Lula.

Entrevistamos dois camaradas do CCLA (Centro de Cultura Libertária da Amazônia) para quem a COP30 está configurada como um grande palco para o Estado burguês e as multinacionais, marcada pela forte presença de lobistas dos setores de petróleo e mineração. Reflete uma disputa interna dentro da burguesia global: por um lado, quem quer manter a economia dos combustíveis fósseis, por outro, quem promove a transição energética baseada na extração de terras raras e na financeirização da natureza, como o mercado de carbono. Ambas as frentes visam transformar a Amazônia em um laboratório de capitalismo verde. Além disso, a presença de ministros como Marina Silva (Ministra do Meio Ambiente) e Sônia Guajajara (Ministra dos Povos Indígenas), Guilherme Boulos (Ministro da Secretaria Geral) e André Corrêa do Lago (Presidente da COP30) durante a Cúpula dos Povos teria neutralizado os impulsos mais radicais.

A Contra-COP anarquista propôs debates, assembleias e iniciativas internacionalistas inspiradas na ecologia social de Murray Bookchin, argumentando que não há sustentabilidade sem romper com o capitalismo, o patriarcado e o racismo estrutural. 

Ao mesmo tempo, outras lutas territoriais são destacadas, como a Marcha da Periferia, que denuncia o genocídio do povo preto, o avanço das milícias fascistas e a gentrificação acelerada pelo trabalho para a COP. Na região do Baixo Tapajós, também colaboram nos processos de autodemarcação das terras indígenas, consideradas ferramentas essenciais para a autodefesa comunitária.

Para os militantes, o anarquismo permanece uma tradição viva na luta social contemporânea e representa uma proposta concreta para um futuro baseado em autonomia, mutualismo e vida com qualidade.

Para mais informaçõeshttps://cclamazonia.noblogs.org/

Para ouvir (36:24s) a entrevista em italiano-portuguêshttps://www.ondarossa.info/newsredazione/2025/11/contro-cop-anarchica-belem 

agência de notícias anarquistas-ana

saúda o dia
no horizonte a chuva
bons ventos em flor

Rita Schultz

[Espanha] 20N: Manifesto MEMÓRIA LIBERTÁRIA CGT

Consciência de classe, consciência antifascista: A chama Libertária em luta permanente para extirpar o franquismo.

Companheiras, companheiros, novembro de 2025, chega o 20N e com ele, as recordações do passado, umas tristes e agridoces, mas de respeito e amor fraterno. Outras de raiva e de dor contra quem tanto mal fez, o maldito genocida ditador. Recordações, memória e esperança.

Era 20 de novembro de 1936, e na frente de Madrid, caía Buenaventura. A frente da coluna com seu nome. Durruti nos deixava. Passaram 89 anos, sua recordação e a de milhares de pessoas que lutaram por nossas Liberdades, sobrevive: segue viva em nós. Atualizamos para nossos dias, seus projetos, ideias e ações, adaptando-os a este tempo novo, tecnológico e individualista. Muitos seguem vigentes e ainda não resolvidas como a luta pela Igualdade real, as lutas para erradicar as injustiças e as pobrezas neste mundo ou a Paz Mundial… Por tudo isto, neste 20N, honramos e nos sentimos orgulhosos deste legado Libertário. Nos sentimos vivos.

Também há um 20N da ignomínia, da dor coletiva e da raiva, o de 20 de novembro de 1975, em que o genocida ditador morreu, matando e fuzilando até os últimos dias, com os cárceres cheios e um exílio permanente que vinha desde 1936. Chorávamos de alegria por sua morte e se abria um período de esperança com sua desejada morte, mas as avós, as mães as esposas e filhas da repressão franquista ou as irmãs seguiam com medo e silêncio: o Holocausto espanhol havia durado muitos anos.

Haviam caído nas ruas e montes tantos e tantas lutadoras anti-franquistas que tinham nos roubado também a recordação dessa luta. Havia que reconstruir tudo, começar do zero e os reacionários do Regime queriam aquilo do “amarrado e bem amarrado” e se mantiveram em todos os espaços de poder público, privado e social, até mesmo hoje:  temos que nos libertar daquele maldito legado, é necessário para construir e transformar.

Para as pessoas do Movimento Libertário e da CGT, “a militância e ação Antifascista e Antifranquista, NÃO é uma opção, é uma obrigação.”, mais ainda nos tempos atuais, em que crescem e se expandem as mensagens racistas, homofóbicas e fascistas de formações herdeiras do regime ditatorial e autoritário que estão chegando a nossa juventude, que em alguns casos os acolhe como necessários para salvar a essa Pátria, a essa sociedade que querem criar com aquele ideário de discriminação, exclusão e repressão ao diferente. Querem chegar à pluralidade social e ao proletariado de baixo para fomentar mais ainda a miséria, a pobreza e a desigualdade social.

Nossa inação, nosso silêncio, nos faz cúmplices do crescimento fascista.

Nem um passo atrás companheiras!!!

Fonte: https://memorialibertaria.org/20nmanifiesto-memoria-libertaria-cgt/ 

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Frases compostas
no sol que passeia
sob minha caneta.

Jocelyne Villeneuve

[Suíça] Por 1000 razões – ANTIFA EM TODA PARTE

Na noite de 2 de novembro de 2025, mais uma vez nos unimos em raiva e resistência e embelezamos a fachada da Tesla em Zurique. Com este ataque simbólico, enviamos um sinal de resistência antifascista contra um sistema baseado na opressão e exploração do ser humano e da natureza. A Tesla é um exemplo particularmente repugnante desse sistema.

Na semana passada, várias ações foram realizadas no âmbito da semana de ação antifascista “Por 1000 razões – ANTIFA EM TODA PARTE”. Com nossa ação, nos unimos à campanha e afirmamos: a autodefesa antifascista é mais necessária do que nunca nos tempos atuais. Vamos nos unir e lutar juntos contra a propaganda da extrema direita, contra a violência contra pessoas queer, contra a exploração dos seres humanos e da natureza. A Tesla também precisa sentir aqui em Zurique que lutamos contra seus negócios, contra suas guerras e contra sua ganância.

Os governos e atores imperialistas, e com eles a Tesla, não se interessam pela finitude dos recursos planetários nem pelas questões ecológicas urgentes do nosso tempo. Tudo o resto é subordinado ao crescimento e à multiplicação do capital por meio da apropriação e da expropriação. Muito já foi escrito sobre os abismos dessa empresa específica, por exemplo, no comunicado do Grupo Vulkan, que paralisou a Tesla em Steinfurt, na Alemanha.

O movimento Tesla Takedown também se pronunciou repetidamente sobre as violações dos direitos humanos e a destruição ambiental causadas pela Tesla.

Resistência queerfeminista

Elon Musk não atua apenas como empresário que explora sem pudor e sem moral o ser humano e a natureza. Como ator político, ele contribui significativamente para um clima de incitação ao ódio com suas posições abertamente racistas, sexistas e transfóbicas, o que alimenta a violência contra grupos precários e marginalizados. Desde que Musk fez a saudação nazista diante das câmeras do mundo este ano, todos deveriam conhecer sua verdadeira face. Mas ele não está sozinho nisso. Como podemos ver em outra declaração sobre um ataque à Tesla, “modos de vida fascistas, patriarcais e imperialistas voltaram a ser socialmente aceitáveis. Isso não se manifesta apenas na Tesla e em empresas semelhantes, mas se estende a todas as esferas de nossa vida. Os oprimidos deste mundo já sentem essa violência diariamente há muito tempo. E não é por acaso que o movimento feminista se espalhou como fogo pelo mundo. Para as mulheres e pessoas de gênero queer, o antifascismo não é uma escolha nem um jogo. Trata-se nada menos do que defender a própria vida, a própria existência e a própria cultura. Como mulheres e pessoas queer, não temos nada a perder neste mundo além de nossas correntes.” Por isso, nos unimos ao slogan: Jin Jîyan Azadî! Ombro a ombro contra o fascismo.

Quando a raiva se transforma em resistência

Quando a direita na Europa agora segue a tendência americana anti-antifa e, da Holanda à Hungria, passando pela Alemanha e agora também pela Suíça, quer criminalizar e até proibir o movimento antifascista, nos perguntamos:

O que é um pouco de tinta, uma janela quebrada contra suas guerras, genocídios, destruição ambiental, contra seu capitalismo predatório e implacável? Eles falam da nossa violência, mas este sistema baseia-se na violência diária, que não se manifesta na forma de fachadas embelezadas, mas sim na forma de milhares de mortos no Mediterrâneo, centenas de prisioneiros nas cadeias, nas fronteiras da Europa e inúmeras crianças que morrem em minas para baterias de carros elétricos supostamente ecológicos.

Os governantes tomam o que não lhes pertence: se o céu pertence a alguém, certamente não é a um bilionário fascista megalomaníaco. Mas somos nós que devemos ser considerados criminosos?

Com nossa militância, nossos ataques simbólicos, marcamos nossa irreconciliabilidade com tal sistema e com os Estados-nação que o sustentam.

Juntos contra o fascismo

Vivemos em regiões do mundo cuja riqueza se baseia significativamente na exploração do Sul Global e onde empresas como a Tesla podem operar sem perturbações, destruindo cada vez mais este planeta. Consideramos nossa responsabilidade não ficar calados aqui, no centro da besta.

Vamos opor nossa prática revolucionária e antifascista a um mundo de lógica capitalista de exploração e guerra e, com ações diretas, mostrar que é possível haver um contrapoder. Vamos construir uma autodefesa revolucionária e antifascista nas metrópoles capitalistas e apoiar as lutas que acontecem aqui, assim como as do Sul Global.

A Suíça está repleta de grandes corporações que precisam perceber que não podem conduzir seus negócios sangrentos sem serem notados. Nesse sentido, a afirmação de Karl Liebknecht continua atual: o principal inimigo está em nosso próprio país.

Portanto: unam-se, peguem caneta e papel, cola e pincel ou tinta e garrafas!

Com punhos cerrados e cabeça erguida, lembramos – não apenas – em 20 de novembro, o Dia da Memória Trans, nossos irmãos e irmãs trans assassinados, e participamos do dia 25 de novembro, o Dia contra a Violência contra as Mulheres. No espírito de nossos companheiros e companheiras mortos em todo o mundo, continuamos a luta – por uma perspectiva anticapitalista comum e contra a exploração e a violência diárias.

Também saudamos os antifascistas na clandestinidade e enviamos nossos cumprimentos solidários à nossa camarada Maja, presa na Hungria. Além disso, enviamos nossa solidariedade decidida aos latinos nos EUA que lutam contra os sequestros pela ICE, liderados por um presidente fascista.

FLINTAS, UNAM-SE!

A luta pela libertação é internacional!

Fonte: https://barrikade.info/article/7216

agência de notícias anarquistas-ana

Noite no jasmineiro.
Sobre o muro,
estrelas perfumadas.

Yeda Prates Bernis

Contaminação da população e do território no Pará pela Norsk Hydro (caso Barcarena/Alunorte)

Com base em relatórios, investigações e documentos técnicos publicados em diversas fontes, apresento a seguir uma denúncia consolidando fatos sobre os impactos ambientais e sociais causados pela Norsk Hydro (controladora da Alunorte) em Barcarena e região no estado do Pará.

Por Contraciv | 19/11/2025

Desde pelo menos os anos 2000, o polo industrial de Barcarena sofreu dezenas de acidentes ambientais, incluindo rompimentos de dutos, vazamentos de lama vermelha (rejeitos de bauxita/caulim), despejos de efluentes com soda cáustica e outras substâncias tóxicas, formação de nuvens de fuligem e contaminação de igarapés e trechos do Rio Pará. Uma boa parte desses acidentes estão vinculados direta ou indiretamente às operações da Hydro/Alunorte. Os vazamentos repetidos alteraram solo, água e ar, e geraram impactos sobre pesca, agricultura de subsistência e saúde da população ribeirinha.

A Hydro admitiu a existência de tubulação clandestina que desviava efluentes, instaladas fora de controles formais, o que caracteriza conduta de ocultação e operação fora de padrões ambientais e legais. Há documentação e relatos que apontam para falhas sistemáticas de manutenção, armazenamento inadequado de rejeitos e canais de escoamento que ligavam unidades industriais diretamente a corpos d’água.

Os rejeitos efluentes contendo óxidos de metais, resíduos de bauxita/caulim e substâncias alcalinas (soda cáustica) deixaram lama vermelha em praias e igarapés, provocaram mortandade de peixes e tornaram áreas impróprias para consumo humano e lazer. Testes realizados em parte da população e em ambientes apontaram níveis anômalos de metais pesados e outras contaminações ambientais. Mesmo sem estudos epidemiológicos definitivos para estabelecer causalidade direta, temos indicativos nítidos de exposição persistente e riscos claros à saúde pública.

A ocorrência repetida de acidentes, com múltiplos registros oficiais, autos de infração e inquéritos, revela um padrão de risco associado à atividade de beneficiamento de alumina no complexo de Alunorte/Albrás, administrado por empresas ligadas à Hydro. Também estão documentados os esforços da companhia para deslocar litígios e evitar a responsabilização financeira e técnica pelas medidas de reparação. Isso desmonta a narrativa liberal sobre a riqueza dos países nórdicos, como a Noruega, pois escancara a participação de empresas desses países em desastres ambientais em países como o Brasil.

Isso motivou ações civis coletivas e procedimentos extrajudiciais, inclusive encaminhamentos à Justiça estrangeira e investigações por órgãos do Ministério Público, buscando responsabilização por danos ambientais, medidas de reparação, indenizações e adoção de políticas públicas de saúde e mitigação. É evidente a insuficiência das respostas locais e a gravidade das demandas das comunidades afetadas, o que significa que precisamos de ações mais drásticas.

Relatos de moradores apontam aumento de queixas respiratórias, dermatológicas, gastrointestinais, além de relatos de piora no desenvolvimento infantil e preocupações sobre a incidência de câncer e doenças neurológicas em áreas mais expostas. A ausência de políticas de saúde pública direcionadas às populações afetadas e a falta de estudos sobre os efeitos da contaminação agravam a situação. A população está exposta e sem acompanhamento médico-epidemiológico adequado, sem garantias de remediação ambiental e com economia local fortemente comprometida. Isso é inaceitável.

Com base nesses fatos e nas evidências públicas reunidas, várias medidas legais já foram requeridas: Instauração de investigação criminal e ambiental sobre a existência e uso de tubulações clandestinas, descarte irregular de efluentes e possíveis omissões de segurança operacional. Realização de estudos epidemiológicos e acompanhamento clínico das populações expostas. Interdição de fontes ativas de descarga, contenção de rejeitos, remoção e disposição segura de materiais contaminantes, tratamento da água e recuperação de áreas degradadas sob supervisão estatal e de peritos independentes. Indenizações, políticas de saúde e programas de requalificação econômica para comunidades ribeirinhas afetadas, garantia de transparência nos acordos e participação comunitária nas decisões. Responsabilização civil e criminal dos agentes, inclusive dos controladores e gestores que toleraram ou ocultaram infrações, e revisão de licenças ambientais concedidas, com adoção de padrões internacionais de prevenção de danos.

Todas essas medidas de reparação e mitigação do dano são importantes, mas sabemos que nada disso é suficiente. Chamamos a população para atacar a Hydro onde realmente dói: com ações diretas de auto-defesa em resposta a essa violência e à incapacidade da empresa por se responsabilizar pelos seus crimes ambientais. Precisamos de mobilização local e global contra a Hydro.

O conjunto de evidências públicas reunidas nas fontes consultadas demonstra que o caso ultrapassa incidentes isolados: trata-se de um padrão industrial de riscos e externalidades negativas. É preciso reparação às vítimas e medidas de prevenção para que a região não continue a pagar, em saúde e território, o custo da produção global de alumínio. A ausência de resposta tanto do estado quanto da empresa nos força a agir por conta própria. Solicitar que esta denúncia seja recebida pelos órgãos competentes (Ministério Público Federal, Ministério Público do Estado do Pará, órgãos ambientais estaduais e federais, e instâncias judiciais internacionais) não é suficiente. Mesmo que ocorra apuração integral dos fatos e adoção das medidas de proteção, reparação e responsabilização exigidas pelo interesse público, sabemos que essas coisas continuarão a acontecer enquanto essas empresas permanecerem atuando no nosso país. É a própria atuação delas aqui que é insustentável.

Precisamos nos juntar às populações e organizações locais que estão resistindo a essa violência e nos dispor a ajudar como necessário. Essa denúncia é um sinal de compromisso com essas pessoas. Ela visa não apenas chegar às instâncias jurídicas ou à empresa, mas à população afetada e grupos já ativos nessa luta, para ampliar redes de cooperação e ação de defesa da população contra a violência continuada desta empresa e da indústria de mineração como um todo.

Fontes:

https://www.mpf.mp.br/pa/sala-de-imprensa/paginas-especiais/paginas-caso-hydro/historico

https://insustentaveis.sumauma.com/mineradoras-noruega-franca-responsaveis-metade-desastres-ambientais-barcarena/

https://brasil.mongabay.com/2018/04/a-norsk-hydro-acusada-de-vazamento-toxico-no-rio-amazonas-admite-possuir-tubulacao-clandestina/

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-40423002

https://amazoniareal.com.br/hydro-e-processada-na-europa/

https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2021/02/09/acao-coletiva-leva-caso-hydro-no-para-a-justica-holandesa.ghtml

https://conflitosambientaismg.lcc.ufmg.br/wp-content/uploads/2021/03/Dossie-desastes-da-minerac%CC%A7a%CC%83o.pdf

agência de notícias anarquistas-ana

quantos pirilampos
posso contar esta noite?
caminho enluarado

José Marins

República Democrática do Congo: 32 mineiros morrem após desabamento em mina de cobalto

19 de novembro de 2025 | África, capitalismo

Na República Democrática do Congo, uma tragédia sucede a outra. Neste país da África Central, devastado por uma brutal guerra civil há mais de 30 anos, uma tragédia atingiu uma mina de cobalto no sul do país. Um desabamento matou 32 pessoas que ali trabalhavam.

O impacto devastador dessa catástrofe não é um acidente. É o resultado de um sistema de pilhagem orquestrado por corporações multinacionais que dependem de minerais para fabricar as baterias de nossos smartphones e carros elétricos. A situação na República Democrática do Congo simboliza o desastre causado pelo choque de impérios no continente. Um choque de imperialismos: o ocidental de um lado e o chinês do outro. Cada lado precisa satisfazer seu mercado e seus inúmeros consumidores.

É importante saber que a República Democrática do Congo (RDC) possui um subsolo rico em recursos naturais, o que tem alimentado um conflito armado desde 1994. De fato, a RDC detém quase 70% das reservas mundiais de coltan, um elemento essencial na fabricação de dispositivos eletrônicos, e de cobalto, do qual responde por quase 75% da produção global, utilizado em baterias e nas chamadas tecnologias verdes. As principais potências estrangeiras buscam obter o controle desses preciosos recursos. Para tanto, travam uma guerra geoestratégica, armando diversas facções armadas no Congo.

Entre eles, o M23 (Movimento 23 de Março), apoiado por Ruanda, tenta controlar os recursos naturais do país. A guerra travada por esses grupos paramilitares levou a uma grave e sem precedentes crise humanitária: entre 6 e 7 milhões de pessoas morreram em consequência dos combates e massacres, bem como da falta de acesso a cuidados de saúde e alimentos. Dentro das fronteiras, quase 7 milhões de pessoas foram deslocadas à força. Crianças e mulheres enfrentam abusos e violência diários: recrutamento forçado de crianças-soldado, violência sexual, tortura, mineração ilegal, prisão e destruição de infraestruturas essenciais.

É nesse contexto deplorável que mais de 200 mil trabalhadores indocumentados são explorados nas minas de cobalto e cobre do país para alimentar os instintos primitivos das empresas capitalistas de tecnologia e telecomunicações. A extração nessas minas é ilegal e acarreta sérios problemas ambientais. Abandonados à própria sorte, respirando poeira tóxica, sem qualquer proteção ou direitos, eles são forçados a cavar túneis instáveis ​​manualmente em busca de minerais. O UNICEF relata que 35 mil deles são crianças.

Para acessar a mina de Kalando e extrair cobalto, os mineiros utilizam passarelas precárias para chegar aos túneis. O desabamento de uma dessas pontes improvisadas causou o desastre, que matou 32 pessoas no sábado, 15 de novembro de 2025.

Segundo o jornal belga Le Soir, “um relatório do Serviço de Assistência e Apoio à Mineração Artesanal e de Pequena Escala (Saemape) – um órgão governamental responsável por fornecer assistência técnica e financeira às cooperativas de mineração, consultado pela AFP no domingo” menciona um pânico causado por soldados presentes no local.

A Agência France-Presse explica que “o local de Kalando é, há vários meses, objeto de um litígio entre os garimpeiros artesanais e uma cooperativa mineira que deveria supervisioná-los, bem como os exploradores do local, apresentados como ‘parceiros chineses'”.

Enquanto as grandes corporações colhem os maiores lucros dessas explorações miseráveis, são as populações locais que pagam o preço mais alto. O neocolonialismo mata.

Fonte: https://contre-attaque.net/2025/11/19/republique-democratique-du-congo-32-mineurs-meurent-apres-un-effondrement-dans-une-mine-de-cobalt/

agência de notícias anarquistas-ana

Quanta solidão
nos olhos do velho
no choro do cão

Regina Ragazzi

[Itália] Contra a farsa da COP30. Defender os territórios, globalizar a luta

Em Belém, no coração da Amazônia, está acontecendo a COP30: mais uma conferência mundial sobre o clima que promete “salvar o planeta”, sem jamais questionar aqueles que o devastam. Por 30 anos a cena foi a mesma: declarações solenes, planos de compensação, fotos em grupo e um equilíbrio cada vez mais dramático. As emissões globais aumentam, a concentração de capital e poder cresce, e os territórios continuam sendo saqueados em nome da “transição verde”.

Nos bastidores da COP, governos e multinacionais competem pela gestão do desastre produzido por eles mesmos. Hoje, o capitalismo se apresenta com uma face ecológica: fala de “neutralidade climática”, “mercados de carbono”, “tecnologias limpas”, mas, na realidade, prepara uma nova fase de acumulação baseada no controle dos recursos naturais e na expulsão das populações dos territórios. O “pacto verde” é apenas a versão atualizada do antigo colonialismo: extrair lítio em vez de petróleo, privatizar a biodiversidade em vez de florestas, lucrar, até com catástrofes. Enquanto os poderosos tratam os limites do planeta como itens do orçamento, milhares de movimentos camponeses, indígenas, feministas e populares constroem uma alternativa. Da Vía Campesina ao Movimento dos Sem Terra, das comunidades amazônicas às redes agroecológicas do Sahel, uma voz comum se ergue: soberania alimentar, justiça climática, controle popular dos territórios. O manifesto divulgado antes da COP30 é claro: “Não há soluções climáticas sem uma transformação sistêmica que desmonte o poder capitalista e patriarcal”. É a linguagem da resistência que vem de baixo, e não de ministérios ou de conferências.

Porém, mesmo nesse campo de luta, surgem questões difíceis. O “Sul Global” não é mais só uma vítima: novas potências, com a China à frente, replicam modelos extrativos e industriais que devastam ecossistemas e comunidades. O desafio é construir uma solidariedade entre os povos que não seja cega a essas contradições, e que se concentre na autonomia dos territórios contra todas as formas de dominação, tanto ocidental quanto “emergente”. Para aqueles que lutam de baixo, a questão não é como tornar o capitalismo sustentável, mas como sair dele. Acordos, mercados e compensações não são suficientes. Precisamos de redes de apoio mútuo, autogestão dos bens comuns, comunidades capazes de decidir coletivamente como produzir e o que consumir. Não é uma questão técnica, é política: quem controla a terra, a água e a energia, controla a vida.

A COP30 será, como as anteriores, um grande teatro de poder. Fora dos palácios, contudo, cresce outra rede, composta por lutas camponesas, assembleias populares, cooperativas autoadministradas, ocupações e movimentos para a defesa dos territórios. É aí que se constrói a verdadeira transição, aquela que não se mede em toneladas de CO₂, mas, sim, em liberdade, dignidade e solidariedade. Contra a farsa da COP30, vamos globalizar a luta, globalizar a esperança.

Totò Caggese

Fonte: https://umanitanova.org/contro-la-farsa-della-cop30-difendere-i-territori-globalizzare-le-lotte/

Tradução > CF Puig

agência de notícias anarquistas-ana

Blusinhas de alça
pelas ruas da cidade —
Primavera quente.

Clara Sznifer

Para Além do Estado e do Capital: A Urgência dos Sonhos por Inteiro!

Camaradas, nós, anarquistas, erguemos nossa voz contra a tirania de todos os senhores e contra a mediocridade de todas as revoluções parciais. Rejeitamos com todo o nosso ímpeto a vã promessa dos marxistas, leninistas, estatistas, capitalistas, etc, que nos oferecem meras migalhas de emancipação em troca de nossa submissão a um novo mestre: o Estado. Seja na versão burocrática da “ditadura do proletariado”, seja na falácia reformista do capitalismo regulado, todos eles pregam a mesma heresia: a de que a liberdade pode ser administrada, parcelada e distribuída por um poder central. Nós rasgamos esse contrato de escravidão! Não queremos os sonhos parcelados desses traficantes de ilusões. QUEREMOS SONHOS POR INTEIRO!

Esses “sonhos parcelados” são uma armadilha perversa. Os marxistas-leninistas prometem um futuro comunista, mas seu método é a conquista do aparelho estatal, a criação de uma nova classe de burocratas e a perpetuação da lógica do poder. Eles trocam o patrão privado pelo patrão estatal, a exploração capitalista pela exploração estatal. O seu sonho é um pesadelo autoritário, onde a liberdade individual é esmagada em nome de um coletivo forjado pela coerção. O Estado, em qualquer forma que se apresente, é inimigo da autogestão e da livre associação. É a negação da revolução social, pois substitui a iniciativa direta do povo pelo decreto de uma minoria que se julga iluminada.

Da mesma forma, o capitalismo, em sua fase mais selvagem ou em sua máscara social-democrata, só nos oferece o sonho parcelado do consumidor. Ele nos vende a ilusão de liberdade através da posse de mercadorias, enquanto nos rouba a autonomia real sobre nossas vidas e nosso trabalho. O seu “sonho” é um pesadelo de alienação, onde nos tornamos apêndices da máquina de produção e consumidores de nossa própria miséria. O capital e o Estado são as duas faces da mesma moeda opressora; um não pode existir sem o outro. O Estado garante a propriedade privada dos meios de produção e a hierarquia social, enquanto o capital sustenta o poder econômico que alimenta o aparato estatal.

Portanto, nossa luta não é por um Estado “melhor” ou por um capitalismo “mais justo”. Nossa luta é pela abolição pura e simples de ambos! QUEREMOS SONHOS POR INTEIRO: sonhos de uma sociedade onde a autogestão seja o princípio organizador de baixo para cima; onde as comunidades livres federem-se voluntariamente; onde o trabalho seja uma atividade criativa e não uma condenação; e onde a solidariedade substitua a competição. Queremos a materialização de um mundo novo, onde cada indivíduo seja senhor de seu próprio destino, cooperando livremente com seus iguais, sem a sombra opressora de governos, polícia, exércitos ou patrões.

O caminho para este mundo não passa pelas urnas do Estado ou pela tomada de seu palácio. Passa pela ação direta, pela organização horizontal, pelo apoio mútuo e pela construção aqui e agora, nas entranhas da velha sociedade, dos embriões do mundo novo. É na greve selvagem, na comuna autônoma, no coletivo de produção, na ocupação e em toda forma de resistência que negamos o poder e afirmamos a vida. Não pedimos permissão para ser livres. Tomamos nossa liberdade com nossas próprias mãos. A nós, anarquistas, cabe a tarefa gloriosa de sonhar o impossível para conquistar o real: um mundo sem Estado e sem capital. À ação, pois! Pela revolução social e pela liberdade total

Liberto Herrera.

fedca@riseup.net

federacaocapixaba.noblogs.org

agência de notícias anarquistas-ana

Bolha de sabão.
Uma explosão colorida
sem nenhum estrondo.

Maria Reginato Labruciano

[Espanha] O movimento ocupa da “Kasa Negra” de Ourense espera seu desalojo depois de 14 anos

O movimento ocupa da “Kasa Negra”, em A Rabaza, na cidade de Ourense, espera uma ordem de desalojo para abandonar o edifício no qual habitam faz 14 anos. A ocupação nasceu do coletivo anarquista Trapo Negro para fazer atividades culturais no que foi antigamente o Recauchutados Herco. Agora vivem quatro ou cinco pessoas, com menores, e algumas mais que passam temporadas. Em 21 de outubro iniciaram-se nos lotes adjacentes trabalhos de demolição e limpeza das árvores [cortes]. Esta licença inclui jogar abaixo o imóvel.

Os ocupas denunciaram que estes trabalhos já afetam a sua moradia, já que estragou o telhado de um quarto pela queda de pedras e ramos. “Não nos metemos no que se vai fazer aqui, mas o mínimo que queremos é que nos tratem como pessoas e nos dê uma ordem de desalojo com prazos para buscar uma alternativa, não que nos joguem”, argumentam, acrescentando que há pessoa registrada no imóvel. A empresa encarregada da demolição explicou que enquanto não tenham a autorização de desalojo não vão agir no edifício nem afetar os que vivem ali, por isso só estão trabalhando na zona periférica. Também, acrescentam que há eucaliptos demasiado grandes que representam risco de incêndios. No momento que tenha ordem será quando derrube, o que pode tardar uns meses, mas esperarão. No momento não há licença para uma obra posterior, mas se prevê que se edifique.

Fonte: https://www.lavozdegalicia.es/noticia/ourense/ourense/2025/11/05/movimiento-okupa-kasa/00031762363167410972989.htm

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

A serra silencia
só se ouve agora
o grito do pardal

Rosalva

Anarquista italiano se junta à greve de fome da prisão do Reino Unido

A ação de solidariedade liga Sanremo aos detentos no RU, em prisão preventiva em casos de Ação Palestina

Blade Runner ~

O prisioneiro anarquista italiano Luca Dolce se juntou, na sua cela em Sanremo, à greve de fome coordenada que começou nas prisões britânicas em 2 de novembro, aniversário da Declaração Balfour, a promessa colonial britânica que colocou em movimento a máquina de desapropriação e genocídio. Os grevistas de fome britânicos, mantidos em prisão preventiva por supostos crimes ligados à Ação Palestina, e todos sem condenação, dizem que recusarão alimentos até que a Elbit Systems feche as sedes no Reino Unido. Elbit, há muito alvo das ocupações de fábricas da Ação Palestina, continua sendo o maior fabricante de armas de Israel.

Paralelamente à greve, os prisioneiros lançaram o Prisoners for Palestine, iniciativa para coletivizar detentos acusados por ações em solidariedade à libertação palestina. Pelo menos seis presos em Bronzefield, New Hall, Pentonville e Peterborough estão atualmente recusando comida como parte de uma ação contínua envolvendo dezenas de pessoas que se comprometeram a participar.

Desde a proibição da Ação Palestina no início deste ano, o Estado britânico tem usado a prisão preventiva como forma de contrainsurgência interna. Uma das seis grevistas passou setembro em greve de fome depois que as autoridades retiveram a sua correspondência e a removeram do cargo na biblioteca da prisão. Hoje, os grevistas relatam censura a cartas, ligações telefônicas e livros, e dizem que o tratamento piorou desde a proibição, resultado previsível quando um movimento político é reclassificado como “terrorismo” e entregue ao aparato extremista do Estado.

Da Itália, Luca Dolce fez uma declaração que corta a linha dominante de que greves de fome são simplesmente protestos sobre as condições da prisão: “A luta contra a prisão e o sistema tecnoindustrial militar é essencial para uma luta de escopo mais amplo, de resistência revolucionária e internacionalista. (…) Estou junto com eles com serenidade e determinação.” Dolce também saúda o prisioneiro palestino Anan Yaeesh, na prisão de Melfi, sul da Itália, outro alvo de isolamento e táticas de transferência destinadas a apagar presos políticos. Segundo Dolce, não está claro se Yaeesh continua em greve.

O Estado britânico insiste que esses prisioneiros são apenas réus aguardando julgamento. Contudo, o cativeiro funciona perfeitamente para suprimir um movimento que repetidamente expôs e interrompeu o gasoduto de armas do Reino Unido para Israel. A greve de fome torna visível o que o processo legal tenta obscurecer: isso é prisão política a serviço de uma economia de guerra.

Os grevistas não estão apelando por reforma prisional. Eles se recusam a cooperar com a máquina criada para colocar militantes fora de ação. O fato de que há presos no exterior se juntando a eles só reforça a afirmação que fazem fazendo desde as suas celas: a máquina da morte é internacional, a resistência também precisa ser.

Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/11/17/italian-anarchist-joins-uk-prison-hunger-strike/

Tradução > CF Puig

agência de notícias anarquistas-ana

sob a folhagem amarela
o mundo repousa enterrado…
exceto o Fuji

Buson