Há pessoas cujas vidas carecem de aspectos superficialmente esplêndidos ou aventuras emocionantes, mas que nos comovem por sua integridade, por sua capacidade de manter a dignidade mesmo nas piores circunstâncias. Tal é a vida de Francesco Ghezzi, um operário anarquista milanês que morreu no gulag de Stalin em 1942. Esta é sua história, contada por um jovem anarquista russo.
Uma das últimas descrições de Francesco Ghezzi encontra-se nas Memórias de um revolucionário de Victor Serge. Ao falar de sua partida da União Soviética em 1936, após uma campanha internacional por sua liberação, Serge escreve: «Magro e altivo, Francesco Ghezzi, operário de uma fábrica de Moscou e o único “sindicalista” que ainda se encontrava em liberdade na Rússia, nos recebeu no trem». «Magro e altivo», aparece em uma fotografia policial de 1937, anexada ao processo que lhe foi aberto pela GPU, a polícia política de Stalin. Um perfil orgulhoso e digno, o olhar intenso de um homem indomável apesar de suas repetidas prisões, inclusive na URSS. Na atmosfera marcada pelo terror stalinista, tanto dentro quanto fora da prisão, ele conseguiu manter uma liberdade interior surpreendente dadas as circunstâncias e a opinião pública vigente. Essa liberdade se expressou em ações simples, mas honestas e coerentes, como poucos se atreviam a fazer naquela época. Simplesmente, ele se recusou a se submeter às normas do regime.
Ghezzi foi um membro ativo do movimento anarquista internacional entre 1910 e 1930. Durante seu encarceramento, foram lançadas duas campanhas internacionais por sua libertação, primeiro na Alemanha e depois na URSS. No entanto, os detalhes de seus últimos anos só se tornaram públicos recentemente, após a publicação de documentos relacionados ao seu julgamento entre 1937 e 1939. Os últimos biógrafos desse anarquista foram investigadores stalinistas.
Os documentos dos julgamentos políticos na Rússia soviética não constituem uma fonte biográfica confiável. As confissões eram obtidas mediante tortura, e os detidos confessavam os crimes mais atrozes contra o regime. Além disso, aqueles que caíam nas mãos da polícia política frequentemente eram submetidos a condições desumanas. Portanto, a honestidade de Ghezzi e sua fidelidade a seus princípios são admiráveis.
Anarquista desde 1909
Ghezzi nasceu em Milão em 4 de outubro de 1893, no seio de uma família operária. Começou a trabalhar com apenas sete anos. Aos quinze, uniu-se ao movimento revolucionário e aos dezesseis tornou-se anarquista. Em 1939, respondendo à pergunta de um investigador sobre suas opiniões políticas, declarou considerar-se «um anarquista convicto com ideias plenamente formadas desde 1909»; de fato, no questionário oficial marcou como «não membro do partido».
O investigador relata com certo detalhe a história da participação de Ghezzi no movimento anarquista: «Organizamos greves operárias em Milão com reivindicações econômicas. Mas quando a polícia começou a atirar contra os manifestantes, as reivindicações econômicas se transformaram em reivindicações políticas. As greves que organizamos nem sempre tiveram sucesso; cada derrota era seguida de prisões em massa. Para escapar da repressão, em 1914 emigrei para Paris, França, e em 1915 voltei a Milão, quando ocorreu um retorno massivo de refugiados políticos à Itália. A organização anarquista de Milão naquele momento havia adotado uma plataforma antimilitarista, e junto com outros anarquistas milaneses, lutei por uma mobilização massiva contra a guerra imperialista. Em 1916, para escapar da perseguição policial, emigrei novamente, desta vez para a Suíça, onde participei da preparação de uma insurreição em Zurique. Em 1918 fui preso pela polícia suíça; durante oito meses fui investigado e finalmente acusado de participar da preparação da insurreição, junto com a facção comunista do Partido Social-Democrata. Após a campanha, fui solto, mas no dia seguinte me prenderam de novo e me expulsaram da Suíça por me opor a uma manifestação patriótica. Em 1919 deixei a Suíça e fui para Paris, e em 1920, após uma anistia geral, voltei a Milão».
Em 1920, em Milão, os anarcossindicalistas da USI, junto com a facção maximalista do Partido Socialista Italiano, organizaram uma greve geral. Os grevistas pretendiam impedir a entrada de fura-greves nas fábricas. Para isso, organizaram uma milícia operária que, simultaneamente, realizou sabotagens nas ferrovias e dentro das fábricas. Ghezzi foi um dos organizadores.
Em 23 de março de 1921, o ataque ao Teatro Diana de Milão, perpetrado por anarquistas, causou numerosas vítimas. Como era de se esperar, todos os anarquistas foram alvo de intensa repressão. Acusado de participar do ataque, Ghezzi foi forçado a passar à clandestinidade e não pôde permanecer em Milão. Assim, em junho de 1921, a USI o enviou a Moscou como delegado ao Congresso dos Sindicatos Vermelhos (Profintern), criado por iniciativa de Lenin para angariar o apoio de militantes revolucionários de diversos países, inclusive os anarcossindicalistas.
Primeira visita a Moscou
No congresso da Profintern, Ghezzi fez parte da ala anarcossindicalista. Esta ala apresentou diversas reivindicações, como a preservação da autonomia dos sindicatos operários frente aos partidos políticos e a ideia de uma federação operária livre como alternativa ao conceito de «ditadura do proletariado». Também exigiu a libertação dos anarquistas presos na Rússia e seu livre acesso à ação.
A tentativa de manter a autonomia sindical frente aos partidos políticos não contou com o apoio do congresso. De fato, a Profintern foi criada pelo Kremlin precisamente com o propósito de dominar o movimento operário internacional. No entanto, entre 1921 e 1922, muitos sindicalistas revolucionários se deixaram seduzir pela «vitoriosa Revolução Russa» e se uniram ao Partido Bolchevique. Grande parte da esquerda ficou fascinada pelo bolchevismo e se recusou a admitir, ou a denunciar publicamente (como Victor Serge), os erros e crimes do regime soviético: a repressão da dissidência operária e camponesa, a proibição de toda atividade legal para anarquistas e socialistas, a repressão e a censura.
O dramático protesto de Emma Goldman e Alexander Berkman no congresso da Profintern, que se acorrentaram na sala de reuniões, junto com a pressão exercida sobre a direção bolchevique pelos sindicalistas revolucionários, contribuiu para a libertação de vários anarquistas e anarcossindicalistas russos presos (que haviam realizado uma greve de fome durante sua prisão). A alguns deles foi permitido sair do país.
Neste ponto, sindicalistas não bolcheviques se reuniram em Berlim em dezembro de 1922, dando origem à Associação Internacional dos Trabalhadores, a Internacional Anarcossindicalista.
Após passar aproximadamente três meses em Moscou, Ghezzi viajou para o congresso de Berlim, onde falou em nome da União Sindical Italiana (USI). Entrou ilegalmente na Alemanha e foi preso pela polícia alemã pouco depois do congresso. As autoridades alemãs pretendiam entregá-lo ao Estado italiano para que fosse julgado por sua participação nas milícias operárias. Como testemunhou posteriormente Olga Gaake, sua segunda esposa, ele já havia sido julgado à revelia na Itália e condenado à morte pelo governo fascista. Enquanto esteve detido na Alemanha, a imprensa de esquerda iniciou uma campanha por sua libertação. O advogado de Ghezzi, Michael Frenckel, conseguiu obter um documento que certificava a cidadania soviética de seu cliente; assim, após nove meses de prisão, ele foi libertado: o Ministério das Relações Exteriores soviético lhe emitiu um passaporte em seu nome e Ghezzi pôde retornar a Moscou como cidadão soviético.
Retorno à URSS
Na União Soviética, Ghezzi viveu e trabalhou durante vários anos (1923-1926) em uma pequena comuna agrícola de Yalta (na Crimeia, às margens do Mar Negro), junto com outros anarquistas estrangeiros que haviam emigrado para a Rússia. Entre eles estavam os italianos Otello Gaggi (preso em 1935), Tito Scarselli (falecido antes de 1937), Oscar Scarselli, Nazareno Scarioli e o anarquista francês Robert Ginof.
Ghezzi restabeleceu o contato com anarquistas estrangeiros, assim como com sua família na Itália e com sua primeira esposa, Frieda Bolliger, na Suíça. Mais tarde, a polícia política de Stalin (a GPU) o acusou não apenas de «correspondência antissoviética com elementos anarquistas», mas também de uma visita particular à comuna da filha de Leon Trotsky, embora Ghezzi insistisse que se tratava de «uma visita particular, sem relação com o trotskismo».
Investigador: Nos informaram que durante sua estadia na comuna você trocou correspondência antissoviética com anarquistas estrangeiros. Confirma?
Ghezzi: Claro que sim. Ao retornar à Rússia, não abandonei minhas ideias anarquistas. Declaro que fui e continuo sendo anarquista. Enquanto estive em Yalta, escrevi muitas cartas a meus camaradas no exterior, condenando a política do Partido Comunista em relação à NEP [Nova Política Econômica]. Escrevi a eles que na Rússia eram permitidos o comércio privado e a exploração, e que os anarquistas eram perseguidos. Em uma dessas cartas, escrevi que os bolcheviques haviam preso o anarquista Nikolai Lazarevich, e por esse motivo enviei um protesto à GPU.
Em 1926, Ghezzi se mudou para Moscou e foi contratado como operário na fábrica estatal de «aplicações experimentais». Colaborou com os grupos anarquistas moscovitas, que naquela época operavam de forma semiclandestina (desde meados da década de 1920, os bolcheviques haviam reprimido as principais organizações anarquistas da Rússia e os anarquistas eram presos repetidamente). Apesar de tudo, Ghezzi tentou manter o contato entre os anarquistas russos e os do exterior. Entre seus correspondentes estavam Diego Abad de Santillán na Espanha, Errico Arrigoni e Osvaldo Meraviglia nos Estados Unidos, Luigi Fabbri no Uruguai e anarquistas russos exilados (Mark Mračnyj, Efim Yarchuk e Piotr Arshinov). Ghezzi conseguiu enviar ao exterior um panfleto escrito pelo filósofo anarquista russo Alexei Borovoi por ocasião do décimo aniversário de Outubro. O livro foi publicado no exterior e depois introduzido clandestinamente na Rússia (em 1926 o partido no poder havia proibido todas as atividades da editora anarquista Golos Truda, fundada em 1919 por anarcossindicalistas).
A única oportunidade legal para a atividade anarquista em Moscou era o Museu Kropotkin, dirigido pelos anarquistas que ainda restavam (entre eles Borovoi e Ghezzi). Em 1928, o conflito entre os anarquistas «ideológicos» e os «anarcomísticos» liderados por Alexei Solonovich causou grande rebuliço. Estes últimos, de acordo com a viúva de Kropotkin, Sofia Ananieva-Rabinovich, queriam «despolitizar» o Museu para evitar a repressão bolchevique. Na primavera de 1928, o grupo anarquista foi forçado a abandonar o Museu e formou um grupo à parte que continuou sua atividade libertária.
O novo grupo entrou em contato com Piotr Archinov, que na época publicava em Paris a revista «Delo Truda». Archinov enviou a Moscou sua famosa Plataforma Organizativa que foi debatida no seio do grupo, junto com as críticas de Malatesta. Ghezzi estava entre os opositores. Posteriormente declarou aos investigadores que «não concordava com as propostas disciplinares nem com outras teses contidas na Plataforma».
Bem-vindo ao gulag
Entre maio e junho de 1929, os anarquistas «ideológicos» do Museu Kropotkin foram os primeiros a serem presos, seguidos (em 1930) pelos «anarcomísticos». Ghezzi figurava entre um grupo de doze anarquistas presos e acusados de ser «anarquistas não desarmados que participavam de atividades contrarrevolucionárias contra as políticas do VKPB (Partido Pan-Comunista Bolchevique Russo) e o poder soviético». Em 31 de maio de 1929, Ghezzi foi condenado a três anos de trabalhos forçados e enviado a «isolamento político» em Suzdal, a 250 quilômetros a nordeste de Moscou, onde já residiam centenas de militantes anarquistas e socialistas.
Anarquistas no exterior e várias figuras públicas organizaram uma campanha pela libertação de Ghezzi. O escritor francês Romain Rolland — particularmente ativo na defesa da libertação de socialistas e anarquistas presos na Rússia (Victor Serge foi libertado e pôde sair da Rússia em grande parte graças à sua pressão) — enviou uma carta, junto com outros dezesseis signatários, ao escritor soviético e amigo de Stalin, Máximo Gorki, pedindo-lhe que intercedesse pela libertação de Ghezzi. «Este jovem italiano», escreve Rolland, «é respeitado por todos que o conhecem; desde sua juventude lutou pela libertação do proletariado e pela realização do comunismo… Não há dúvida da dedicação à causa proletária deste ativista íntegro».
Mas Gorki não compreende o compromisso de Rolland com a libertação do famoso anarquista e revolucionário Ghezzi. Para ele, as políticas repressivas do regime soviético contra os anarquistas parecem justificadas, o que provoca um conflito entre Gorki e Rolland, a ponto de sua correspondência praticamente cessar. Finalmente, Gorki levanta o assunto a Stalin e ao chefe da GPU, Genrikh Yagoda, mas eles respondem que é impossível libertar Ghezzi.
Após uma campanha internacional, Ghezzi foi finalmente libertado, mas não lhe foi permitido sair da União Soviética. Inicialmente, em janeiro de 1931, foi libertado do «isolamento político» em Suzdal e enviado ao exílio no Cazaquistão, mas após um mês e meio, todas as sanções foram levantadas e lhe foi concedida permissão para residir em qualquer lugar da URSS. Ele retornou a Moscou e retomou seu trabalho na mesma fábrica onde havia trabalhado antes de sua prisão.
O último sindicalista
Como foi a vida de Ghezzi entre sua libertação e sua posterior prisão seis anos depois? Nas notas coletadas para os investigadores pelo diretor e pelos líderes políticos e sindicais da fábrica, após a prisão de Ghezzi em 1937, lê-se: «Ele tinha formação política. Era de convicções anarcossindicalistas. Durante o tempo que trabalhou para nós, participou de assembleias operárias, mas nunca quis se expressar sobre questões políticas, o que, dado seu histórico político, só pode ser explicado por sua dissidência em relação às atividades do Partido Comunista e do governo soviético».
Ghezzi, no entanto, era uma pessoa emotiva, por isso nem sempre permanecia em silêncio durante as reuniões dos trabalhadores. Victor Serge, ativista da oposição trotskista de esquerda nos anos vinte e início dos anos trinta, escreveu em suas memórias: «Nas duas capitais, Moscou e Leningrado, meus contatos no âmbito do livre-pensamento não passavam de vinte pessoas, muito diferentes em suas opiniões e mentalidades. Magro, rigoroso e vestido como um autêntico proletário, o sindicalista italiano Francesco Ghezzi, da União Italiana de Sindicatos, havia sido recentemente libertado da prisão de Suzdal e falava com veemência da vitória da industrialização. Seu rosto sulcado de rugas brilhava com olhos febris. Mas retornar à fábrica o deprimia: “Vi proletários dormindo junto às máquinas. Sabe que durante os dois anos que estive em confinamento solitário, os salários reais caíram 5 por cento?”, me disse».
Entre 1936 e 1937, Ghezzi tentou acompanhar de perto os acontecimentos da Revolução Espanhola, pois sabia mais do que a imprensa soviética informava. Quando foi preso novamente, os investigadores encontraram cópias de duas cartas dirigidas a líderes bolcheviques nas quais ele pedia para ser enviado à Espanha como voluntário. Provavelmente era uma tentativa desesperada de abandonar a Rússia e, ao mesmo tempo, ser útil à causa anarquista. Durante os interrogatórios, declarou sentir-se «ofendido pelo poder soviético, que me negou a oportunidade de ir à Espanha para participar do movimento revolucionário». Evidentemente, Stalin, que aplicava na Espanha as mesmas políticas repressivas contra os anarquistas que na Rússia, não tinha nenhum interesse em enviar para lá outro anarquista.
A última prisão
Em 5 de novembro de 1937, Ghezzi foi preso novamente. A acusação formal contra ele foi a seguinte: «Como firme anarcossindicalista, realizou agitação contrarrevolucionária em seu local de trabalho». A acusação também continha uma insinuação absurda, mas comum, de que ele era «simpatizante do nazismo alemão». A prisão foi fundamentada no material coletado pelos agentes e nos testemunhos. Oito testemunhas depuseram contra ele, todos funcionários de sua fábrica. Um deles, que conversou com Ghezzi no caminho para casa após o trabalho, declarou: «Ghezzi fez muitas declarações difamatórias sobre o líder operário, o camarada Stalin. Falou-me de um livro publicado na França que contém a biografia de Stalin. Ghezzi disse que o livro continha toda a verdade sobre Stalin, que a revolução não foi feita por ele, mas por aqueles a quem ele agora está julgando. Naquele livro está escrito que Lenin, em seu leito de morte, disse para não permitirem que Stalin se tornasse líder. Informei esses sentimentos contrarrevolucionários à direção sindical, que por sua vez os comunicou ao líder do Partido [da fábrica]».
E aqui está o veredicto de culpabilidade:
As testemunhas entrevistadas (oito pessoas) declararam que Ghezzi… realizou uma ativa agitação contrarrevolucionária dentro da fábrica, difundiu propaganda anarquista e propagou informação falsa sobre a difícil situação dos trabalhadores na URSS. Ao mesmo tempo, difamou a direção do VKPB e o governo soviético. Durante o julgamento do grupo terrorista trotskista contrarrevolucionário, fez propaganda a favor dos inimigos do povo.
«Falou da difícil situação material dos trabalhadores, declarou sua incapacidade de compreender a democracia soviética devido à presença de um partido único e questionou se todos os presos pela NKVD [o novo nome da GPU] eram contrarrevolucionários.»
Ghezzi: «Declaro aos investigadores que fui e continuo sendo anarquista, e ninguém pode mudar estas convicções. Em 1929 afirmei que o trabalho na Rússia era mal pago, que os cargos de liderança eram ocupados por burocratas que contribuíam para a piora da situação dos trabalhadores. Naquela época, discordei abertamente da política do partido, que era muito lenta na reconstrução da economia, o que era a causa de um exército de desempregados na Rússia… Confirmo ter feito numerosas declarações antissoviéticas, assim como meu desacordo com a política sindical do partido. Em 1937 afirmei que não existia uma verdadeira democracia nos sindicatos soviéticos, porque todas as correntes políticas na Rússia estavam reprimidas».
Cabe destacar que uma das testemunhas, interrogada novamente em 1956, quando o caso Ghezzi foi reaberto, recusou-se a confirmar seu testemunho anterior contra ele, alegando que havia sido ameaçado pelos investigadores naquela época.
Por sua parte, Ghezzi, apesar de se encontrar em uma situação similar à de 1984 de Orwell, não sente a necessidade de transigir nem de negar sua responsabilidade. O regime stalinista nunca obteve dele nenhuma confissão pública de ter aderido a ideias «equivocadas», nem o viu «depor as armas perante o partido». Seu nome nunca aparece nos jornais soviéticos entre os opositores e anarquistas que admitiram seus «erros» perante o partido, só para serem assassinados imediatamente depois pela máquina repressiva do Estado. Após sua prisão, a investigação durou um mês. Ele foi interrogado três vezes e não negou nenhuma das declarações que as testemunhas afirmaram ter ouvido. Apenas negou simpatizar com o trotskismo ou outras correntes de oposição dentro do Partido Comunista (embora não tenha negado ter criticado duramente os julgamentos de Stalin contra os «inimigos do povo» e os opositores).
Entre sua prisão e sua condenação, Ghezzi permaneceu preso na Lubianka, a prisão interna da NKVD no centro de Moscou. Posteriormente foi enviado a um campo de trabalho além do Círculo Polar Ártico. Finalmente, em 3 de abril de 1939, a comissão especial da NKVD o sentenciou a oito anos de trabalhos forçados, e duas semanas depois foi enviado a Vorkuta.
Em 1943, outro decreto da NKVD (datado de 13 de janeiro) condenou Ghezzi à morte por fuzilamento por «declarações antissoviéticas»: aparentemente, nem mesmo no campo de prisioneiros ele havia mudado suas opiniões ou seu comportamento. No entanto, a sentença não foi executada porque Ghezzi já havia falecido. Seu atestado de óbito está datado de 3 de agosto de 1942.
Em julho de 1955, Olga Gaake, sua esposa, escreveu uma carta ao líder soviético Nikita Khrushchev, pedindo-lhe que reabrisse o caso de seu marido e o reabilitasse. Em 21 de maio de 1956, o tribunal de Moscou encerrou a revisão do caso de Ghezzi, declarando que «as provas contra ele eram insuficientes» e anulando a sentença da NKVD. Claro, o tribunal não poderia anular a sentença com a fórmula «por não ter cometido o delito», já que Ghezzi sempre foi um anarquista declarado.
«Sem dúvida, continuará sendo para nós o que sempre foi: o companheiro de armas de todos aqueles que lutam pela libertação da classe operária», escreveu Romain Rolland em 1929 em um apelo pela libertação de Francesco Ghezzi. É uma expressão entusiasta que reflete sua época, mas que descreve perfeitamente a vida de Ghezzi, um «anarquista declarado» que se recusou a se curvar diante de Stalin e da máquina de repressão estatal até seu último suspiro.
Fonte: https://redeslibertarias.com/2025/11/18/el-anarquista-ghezzi-contra-stalin/
Tradução > Liberto
agência de notícias anarquistas-ana
Ano que termina
areia cheia
conchas mínimas
Alice Ruiz
Anônimo, não só isso. Acredito que serve também para aqueles que usam os movimentos sociais no ES para capturar almas…
Esse texto é uma paulada nos ongueiros de plantão!
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Força aos compas da UAF! Com certeza vou apoiar. e convido aos demais compa tbm a fortalecer!
Não entendi uma coisa: hoje ele tá preso?