[Chile] Chamado para um Primeiro de Maio Insurrecional

Repito que sou inimigo da atual ‘ordem’ e repito também que, com todas as minhas forças e enquanto me restar um fôlego, lutarei contra ela (…) Eu lhes digo: Sou anarquista! Eu os desprezo; desprezo sua ordem, suas leis, sua força, sua autoridade! Me enforquem então!” – Louis Lingg

Pois quando em seu coração a liberdade, o amor e a anarquia acompanham seus batimentos cardíacos: a anarquia não morre na boca, ela prevalece nas mãos ativas.” – Punki Mauri

Manter viva a história insurrecional anárquica que nos precedeu, em todos os idiomas e territórios, é vital para as lutas do aqui e agora.

Haymarket em 1886, caos e revolta, greves selvagens, prisão e morte de companheiros nos Estados Unidos que deram origem ao histórico Primeiro de Maio no mundo, são eventos que comemoramos há muito tempo neste território, sob uma posição anárquica.

Convocamos os grupos de ação e os indivíduos anarquistas a se prepararem para um novo Primeiro de Maio de combate, com a memória sempre viva.

Que as ruas da cidade continuem a ser espaços de conflito contra a polícia, os traficantes de drogas, os defensores da propriedade e do poder, que a luta de rua seja fortalecida, que a propaganda seja multiplicada em todos os lugares.

Comecemos o Maio Negro lembrando o companheiro anarquista Mauricio Morales, que 15 anos depois de sua morte em ação continua contagiando novas vontades.

Sozinhos ou acompanhados, com autocuidado e coragem, que nosso grito de guerra seja ouvido.

Nos vemos nas ruas.

POR UM PRIMEIRO DE MAIO INSURRECIONAL!

PELA EXPANSÃO DO CAOS E DA ANARQUIA!

MAURICIO MORALES PRESENTE!

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sinto um agudo frio:
no embarcadouro ainda resta
um filete de lua

Buson

[Itália] Alfredo Cospito e Anna Beniamino condenados a 23 e 17 anos de prisão

As sentenças de 23 anos e 17 anos e 9 meses de prisão para os anarquistas Alfredo Cospito e Anna Beniamino são definitivas. A Corte de Cassação confirma a sentença bis do Tribunal de Apelação de Turim. Os pedidos da defesa e do Ministério Público de Turim foram rejeitados, e eles insistiram até o fim para conseguir a prisão perpétua: Raiva e amor por nossos camaradas! Com as práticas das quais são acusados! Alfredo fora do 41 bis!”.

Foi assim que os companheiros e companheiras da Itália comunicaram nesta quinta-feira (25/04) as sentenças finais impostas a Alfredo Cospito e Anna Beniamino no que foi o julgamento do caso Scripta Manent, que buscava culpar os dois companheiros por “massacre político”, com base na ação contra a escola dos Carabinieri de Fossano.

Durante o julgamento no Tribunal de Cassação em Roma, um recurso referente aos fatores atenuantes na condenação por “massacre político” foi revisado, finalmente reconfirmando as sentenças já estabelecidas em junho de 2023, após a longa greve de fome de Alfredo Cospito contra o 41 bis, que durou 182 dias. Dessa forma, ambos os companheiros permanecem na prisão e sob as mesmas medidas de isolamento.

Deve-se destacar que, durante a madrugada de 22 de abril passado, a DIGOS de Turim “executou 19 medidas cautelares (3 prisões domiciliares, 1 proibição de residência e 15 obrigações de residência e assinatura diária) no âmbito da chamada Operação Cidade relacionada aos eventos da marcha de 4 de março de 2023 em solidariedade a Alfredo Cospito, isso como parte de uma série de intimidações repressivas contra aqueles que se mobilizaram em apoio ao companheiro.

Apesar da perseguição e da prisão contínua de Anna e Alfredo, os sinais de solidariedade continuam fortalecendo-os do outro lado do muro.

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Nem uma brisa:
o gosto de sol quente
nas framboesas

Betty Drevniok

[Espanha] Manifestação de 1º de maio – Dia do Trabalhador – CNT-AIT

Às 12h00 no metrô Buenos Aires

De acordo com o que nos dizem, vivemos no melhor de todos os sistemas possíveis. Esse mantra foi instalado em nossas consciências como uma realidade inquestionável, em sociedades, as do Ocidente coletivo, onde a democracia representativa e o livre mercado são inquestionáveis, enquanto é aceito como se fosse uma lei física que a mídia, as oligarquias econômicas e políticas dirigem o destino de nossas vidas e ditam aos parlamentos o que deve ser feito.

Os dados oficiais nos dizem que 26,5% da população espanhola está em risco de pobreza e exclusão, que 9% de nós vivem em “grave privação material e social”, conforme definido pelo Instituto Nacional de Estatística. No mundo, quase 10% da população, 700 milhões de pessoas, vivem em extrema pobreza, enquanto dezenas de milhares de pessoas arriscam suas vidas migrando para fugir da fome e da guerra, mesmo sabendo que, onde chegarem, se não morrerem no caminho, encontrarão racismo e exploração. Será que esse é o melhor sistema possível? Será que um parlamento que vive discutindo sobre corrupção e anistias, e que está mais preocupado em garantir os lucros das empresas do que em assegurar que seus representantes comam e durmam aquecidos todos os dias, nos representa?

Vivemos no melhor mundo possível, mas a mudança climática causada por esse sistema, e sobre a qual parece haver tanta preocupação nas organizações internacionais e nos governos, está apenas acelerando e antecipando as previsões mais catastróficas, enquanto as emissões de CO2, em vez de diminuírem, aumentam a cada ano: esse, nosso melhor sistema possível, está correndo desenfreadamente em direção à sua autodestruição, e a única solução que vemos os governos realmente adotarem é aumentar os gastos militares.

Vivemos no melhor mundo possível, um mundo em que é legítimo cometer genocídio, se seu nome for Israel e suas vítimas forem árabes. Um mundo em que é legítimo se apoderar dos recursos naturais de outros territórios, mesmo ao custo de mergulhar países como o Congo em uma guerra contínua. Um mundo que considera a possibilidade de uma guerra, Rússia/OTAN, uma guerra que poderia contemplar o uso de armas nucleares. Um mundo que garante, usando a força se necessário, o movimento de bens e capital através de suas fronteiras, e que assassina em suas fronteiras pessoas que querem se mover tão livremente quanto as calças que fabricam.

Este é um panfleto para o 1º de maio, o dia da luta dos trabalhadores, e não falamos sobre condições de trabalho. Perdoe-nos se não nos lembrarmos dos mártires de Chicago, nem mencionarmos que o CEOE quer liberar as empresas dos custos sociais de seus trabalhadores. Estamos sufocados pela raiva de ver um mundo impassível diante de tanta atrocidade e queremos acabar com esse sistema que nos separa, nos confronta e nos mata.

Reivindicamos nossa tradição revolucionária, nos identificamos com aquela tradição operária que não se contentou em melhorar sua própria situação, mas buscou melhorar a situação de todos, um movimento operário solidário e internacionalista. A situação está piorando exponencialmente; o tempo de reformar pouco a pouco acabou; é necessária uma mudança radical, e ela é necessária agora. Obviamente, não temos a força necessária, mas teremos de obtê-la porque é a nossa própria existência e a de nossos iguais que está em jogo.

Porque outro mundo é necessário;

1º de maio Revolucionário.

sovmadrid.org

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Arco-íris no céu,
chega ao fim o temporal:
tobogã de gnomos.

Ronaldo Bomfim

[Espanha] Não permitiremos que acabem com tudo. Vamos construir juntas um mundo melhor

Neste 1º de maio desde CNT, dizemos basta. Não podemos permitir que destruam nosso mundo, nossa dignidade e nosso futuro.

A ameaça tem muitas caras: a ameaça de um sistema capitalista que nos explora, espreme nossos recursos naturais e degrada o meio ambiente. A de uma classe política corrupta e elitista que destrói o público, ignora nossas necessidades e nos arrasta para genocídios e guerras. E também uma sociedade que discrimina, marginaliza e exclui os mais vulneráveis.

Nosso sindicato está crescendo a cada dia. Embora tenham tentado nos silenciar centenas de vezes, estamos cada vez mais presentes nas lutas, nas greves, nos locais de trabalho. A bandeira vermelha e preta da Confederação tremula onde quer que haja um conflito trabalhista, onde quer que um de nós exija o que é justo. Desde Xixón até Granada, de Compostela a Valência.

Nossas lutas e reivindicações são agora mais vigentes do que nunca, por condições de trabalho decentes, salários justos e direitos sindicais. Por uma sociedade baseada na igualdade, solidariedade e apoio mútuo. Por um mundo em que valha a pena viver.

É por isso que construímos um sindicalismo de ação direta, trabalhamos dia a dia para nos organizarmos em nossos locais de trabalho, desde as assembleias, sem líderes ou dirigentes, onde todos nós temos o mesmo valor e nossas opiniões são levadas em conta, onde somos ouvidos, onde aprendemos a ouvir. Onde colocamos em prática o mundo que queremos e lutamos para mudar o que não gostamos.

Não pararemos até alcançarmos um mundo em que todas as pessoas sejam donas de seu destino, onde a riqueza seja distribuída igualmente e em que a natureza seja respeitada. Chegou a hora de mostrar que somos mais, que estávamos aqui antes deles e que somos capazes de construir tudo o que eles destroem todos os dias.

cnt.es

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Com lua diante
nenhuma palavra surge
somente contemplo.

Francisco Handa

[Espanha] Cartagena: 1º de maio de 2024: até quando você vai aguentar?

Os sindicatos da CNT-AIT em Cartagena e Múrcia estão convocando trabalhadores, estudantes, migrantes, desempregados e aposentados a saírem às ruas no dia 1º de maio de 2024. Nessa ocasião, a Confederação participará das manifestações em Cartagena e Múrcia, juntamente com outras organizações sociais e libertárias.

Murcia – Plaza Preciosa – 10:30h. Bloco Anarquista.

Cartagena – Plaza de España – 11:00h. Bloco Confederal.

Até quando vamos aguentar? Vamos continuar fazendo e acreditando no que nos dizem? Vamos continuar jogando esse jogo? Podemos fazer outra coisa. Podemos decidir, podemos escolher. Podemos exigir uma economia baseada na satisfação das necessidades de todas as pessoas, não em negócios, guerras e pilhagem. Podemos nos organizar como consumidores para boicotar as empresas exploradoras que são cúmplices da pilhagem que sofremos. Podemos nos organizar como classe trabalhadora para defender nossos direitos e nos preparar para a produção autogestionada. Podemos nos organizar como cidadãos para exigir justiça social e reparto da riqueza.

Isso está aqui. É agora. É você. Organize-se conosco e lute!

Sindicato de Ofícios Vários de Cartagena.

cartagena@cntait.org

Confederação Nacional do Trabalho aderida à Associação Internacional das e dos Trabalhadores.

cntaitcartagena.blogspot.com

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Bolha de sabão.
Borboleta distraída…
Colisão no ar!

Fanny Dupré

[Argentina] Solidariedade com o Clube Social e Esportivo Antifascista “La Cultura del Barrio”

QUEM SOMOS?

La Cultura Del Barrio [“A Cultura do Bairro”, em tradução livre] nasceu há 13 anos como o primeiro e único clube social e esportivo antifascista da América Latina. O clube é uma continuação direta, e uma expansão, do trabalho da Ação Antifascista Buenos Aires, uma organização que comemora seu 23º aniversário em 2024.

Estamos escrevendo a história do antifascismo organizado e militante em Buenos Aires há 23 anos, baseando nosso trabalho em três princípios fundamentais: organização de base, o apoio mútuo, e a construção de alternativas fora de qualquer partido político. Nossas propostas acompanharam os diferentes processos políticos que ocorreram na Argentina desde 2001 – participamos dos movimentos sociais de trabalhadores desempregados (piqueteros), criamos cooperativas de trabalho, fizemos parte de uma assembleia de bairro, e ocupamos um espaço onde construímos um centro social.

Nossa convicção na importância social e política de gerar alternativas independentes de qualquer partido político nos levou a construir nosso próprio espaço. Um espaço que, originalmente, estava mais ligado à contracultura, mas que, com o passar dos anos, tornou-se um clube social e esportivo com uma forte ligação com o bairro.

POR QUE “A CULTURA DO BAIRRO”?

Por que nos organizamos como um clube? Por causa da história dos clubes sociais e esportivos em nosso país (formados por anarquistas, socialistas e pela comunidade afro-argentina em seus primórdios) e da importância de gerar um espaço de pertencimento e resistência para a classe trabalhadora.

Estamos abertos das 8h às 23h todos os dias do ano. Nos fins de semana, organizamos eventos e nosso espaço está disponível (gratuitamente) para diferentes coletivos, organizações, bandas, artistas, etc.

Durante os 13 anos desde que fundamos nosso clube, a Argentina passou por várias presidências. Fomos perseguidos, espionados e invadidos durante o governo de Mauricio Macri (hoje temos a mesma Ministra de Segurança) – e vivemos o processo de crescimento da pobreza durante o último governo de Alberto Fernández, que terminou com mais da metade das crianças do país vivendo abaixo da linha da pobreza. Diante dessa realidade, criamos um projeto social chamado Boxe Popular na área sul da Grande Buenos Aires, em Isla Maciel, bairro considerado “conflituoso”. Liderado por uma assistente social, o projeto Boxe Popular trabalha com crianças e adolescentes para criar um espaço no qual seus direitos como jovens da classe trabalhadora sejam restaurados e garantidos.

POR QUE PRECISAMOS DO SEU APOIO

A Argentina está atualmente em meio a uma crise social e econômica sem precedentes. A vitória do ultraliberal Javier Milei acelerou o processo de pulverização dos salários. O poder de compra do salário de um trabalhador hoje é menos de 50% do que era há apenas três meses, e a inflação ainda é de 10% a 20% ao mês.

Nós nos esforçamos para manter taxas de associação populares e acessíveis em nosso clube (e ninguém nunca é impedido de participar de uma atividade por falta de dinheiro!), bem como preços populares para shows, eventos, refeições, bebidas etc. Mas as reformas ultraliberais da economia desregulamentaram completamente os preços, e nos deparamos com aumentos de 100% a 500% em tudo, desde a eletricidade até o aluguel e a compra de materiais.

As perspectivas não são animadoras, mas é precisamente em um momento em que a classe capitalista está realizando seu ataque mais frontal aos trabalhadores, tentando impor uma visão da sociedade que degrada nossa existência a uma guerra de todos contra todos pela sobrevivência, que é mais importante apoiar e manter espaços coletivos autogeridos. Espaços que desafiam a lógica do capital, do consumismo e da competição. Espaços que praticam a autogestão, onde todos são bem-vindos, e que servem para capacitar as pessoas e os bairros a construir uma visão da sociedade na qual vivemos em solidariedade coletiva uns com os outros.

EM FACE DA AGRESSÃO CAPITALISTA – SOLIDARIEDADE INTERNACIONAL

Acreditamos na solidariedade de classe internacional, acreditamos na ajuda mútua entre os companheiros e acreditamos que a única maneira de enfrentar tudo isso é em comunidade, tecendo redes e demonstrando que as coisas podem ser feitas de outro modo. Precisamos da sua solidariedade para podermos continuar com esse projeto de mais de vinte anos!

>> Apoie aqui:

https://www.firefund.net/accionantifabuenosaires

Tradução > anarcademia

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Lua da manhã—
Se arrasta sobre a bandeja
A névoa do Asama.

Kobayashi Issa

[Chile] O capitalismo é dívida, exploração e catástrofe

O aumento do custo de vida, amparado no ENDIVIDAMENTO cotidiano para garantir nossas necessidades. A CATÁSTROFE dos incêndios que impactam os territórios do centro-sul deste país, deixando morte, pobreza e desolação. Parece algo novo? Não, fazem parte da estrutura conhecida de opressão e pobreza que cotidianamente nos apresentam como a única forma de viver. Não é mais que o PROGRESSO CAPITALISTA, amparado no controle e devastação para garantir a riqueza de uns poucos, sustentada na EXPLORAÇÃO e COLAPSO da maioria de nós e da natureza.

A classe política, de qualquer setor, só atua para reforçar e assegurar o funcionamento desta ordem CRIMININOSA, pois sempre estará a serviço dos poderosos.

O que nos resta? RECUPERAR NOSSAS VIDAS, como um ato necessário, mas sobretudo VITAL, ocupando no aqui e agora todas as ferramentas possíveis, para que viver não nos custe a existência.

Frente à CATÁSTROFE do capitalismo, nossa alternativa é:

AUTO-ORGANIZAÇÃO, LUTA E AÇÃO DIRETA.

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Sentada no jardim
Vejo um bichinho.
Lá vem a joaninha

Tainá Gomes do Nascimento

[França] Lançamento: “Alpinismo & Anarquismo”, de Guilherme Goutte

Nascido no século XIX no coração da alta sociedade britânica, o montanhismo não permaneceu como prerrogativa dos dominantes. A ideia de escalar os picos também pegou entre os explorados, graças às férias pagas.

Mas a montanha não é apenas um playground, é também um refúgio para os oprimidos, um lugar de passagem clandestina, um campo privilegiado de expressão para as lutas; Um ambiente que pode parecer hostil, e que exige que aqueles que se aventuram nele se ajudem mutuamente.

Neste ensaio, Guillaume Goutte, ativista da CGT, anarquista e entusiasta da montanha, analisa as ligações entre montanhismo e anarquismo e destaca um espaço onde a solidariedade e a liberdade formam um fundamento de valores comuns.

Seguido por Alpinismo (1925), de Isaac Puente.

Alpinisme & Anarchisme

Guilherme Goutte

ISBN: 9791092457667

NÚMERO DE PÁGINAS: 144 p.

10,00€

nada-editions.fr

agência de notícias anarquistas-ana

Trovão –
Ontem à leste,
Hoje a oeste.

Kikaku

[Galícia] Por um 1º de maio revolucionário

As organizações CNT, CGT e a Biblioteca Anarquista La Maldita convocam a uma manifestação em Burgos para esta quarta-feira, 1º de maio, que iniciará a partir das 13:00 horas desde a plaza del Cid. Publicamos em seguida o manifesto conjunto por um 1º de maio revolucionário e combativo.

Por um 1º de maio revolucionário. Por um 1º de maio emancipador e combativo.

Poderíamos começar este texto como tantos outros do 1º de maio denunciando as más condições de vida da classe trabalhadora, os contratos lixo, a maquilagem ao capitalismo dos partidos de esquerda enquanto os abusos da patronal e do empresariado se sucedem.

Falar também dos casos repressivos a sindicalistas como os de “La Suiza” em Xixón, “os 6 de Zaragoza” ou a repressão brutal que exerce o Estado contra todos e todas as que obstaculizem seus planos de negócio.

Poderíamos seguir com as cifras de mortos em acidentes laborais (721), amputados e enfermos, e colocar o aumento com relação ao ano anterior em porcentagens.

Depois denunciar a corrupção do PSOE e do PP; a dos juízes e policiais, a de carcereiros e chefes. Denunciar também os meios de comunicação por mentir-nos uma e outra vez de maneira descarada, para manipular-nos em função dos interesses de seu pagador. E recordar também o perigo da fascistização social, a ameaça do punitivismo, do militarismo, do patriotismo e do belicismo ao qual nos arrasta o pensamento dirigido e dominante, assim como a deriva totalitária e repressiva adotada pelos Estados. Poderíamos falar-te dos perigos da tecnologia digital e da perda de uma parte muito importante da essência do ser humano. De como nos isola gerando um marco perfeito para a alienação capitalista.

Poderíamos denunciar os genocídios que assolam o mundo, as guerras e os interesses da indústria militar; o trato de seres humanos e as mortes nas fronteiras, delegacias e CIES. Neste mundo a morte gera dinheiro. A destruição da vida e do planeta geram dinheiro.

O duplo critério dos Estados, as duas caras do poder, a hipocrisia dos organismos internacionais que sendo parte do problema, tomam decisões que se traduzem em incontáveis perdas de vidas humanas.

E depois, o quê? Tomamos um chopinho e… até o ano que vem? Não!

Há que parar a maquinaria: a solução nós a temos, os e as trabalhadoras. Há que recuperar a greve internacional insurrecional como medida de pressão. Comprometer-nos com a luta por um mundo justo e apostar em defender a vida até suas últimas consequências. É urgente.

Basta de meias medidas. O capitalismo não é reformável. O Estado e suas instituições nunca serão neutras. Até que não acabemos com o capitalismo e o Estado, jamais seremos livres.

Basta de falsas esperanças, de discursos hipócritas, basta de seguidismos, basta de poses e eloquências.

Recuperemos o espirito revolucionário do movimento libertário, a solidariedade, o apoio mútuo, a ação direta, a desobediência, a ruptura, o conflito permanente com a dominação e com seus defensores sejam da cor que for.

Tomemos as ruas uma vez mais, apostemos pela revolução social frente à barbárie capitalista e genocida.

POR UM PRIMEIRO DE MAIO QUE NOS LEVE A UMA GREVE INTERNACIONAL INSURRECIONAL.

CNT, CGT, BIBLIOTECA LA MALDITA

Fonte: https://diariodevurgos.com/dvwps/por-un-1o-de-mayo-revolucionario.php

Tradução > Sol de Abril

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Folha no rio
vai para o mar sem volta –
chorão se renova.

Anibal Beça

Rapper Toomaj Salehi condenado à morte no Irã

Um tribunal revolucionário iraniano condenou hoje (24/04) à morte o conhecido ‘rapper’ Toomaj Salehi por sedição, propaganda contra o sistema e incitação a tumultos durante os protestos que se seguiram à morte da jovem curda Mahsa Amini, em 2022.

A condenação foi divulgada por Amir Raesian, advogado de defesa do ‘rapper’, que se encontra detido há mais de ano e meio pelo apoio ao movimento de contestação.

Centenas de pessoas morreram durante os protestos que se seguiram à morte, em 16 de setembro de 2022, da jovem curda iraniana Mahsa Amini, de 22 anos, três dias depois de detida pela polícia da moralidade por alegadamente não ter respeitado o código de vestuário muito rigoroso imposto às mulheres no Irã.

“O tribunal revolucionário de Isfahan […] condenou Toomaj Salehi à pena de morte por corrupção na Terra”, uma das acusações mais graves no Iran, disse o advogado do cantor, Amir Raesian, citado pelo diário Shargh, acrescentando que vai recorrer da decisão.

O advogado explicou que o tribunal considerou as acusações de sedição, conluio e propaganda contra o sistema e incitação a motins contra Salehi como exemplos de “corrupção na terra” e por isso proferiu a sentença de morte contra o músico.

A acusação de corrupção na Terra abrange uma série de crimes contra a segurança pública e a moralidade islâmica.

Raesian considerou que a sentença “não tem precedentes” e anunciou que recorrerá da decisão.

Salehi foi preso no final de outubro de 2022 e acusado de “corrupção na terra” por apoiar os protestos desencadeados pela morte de Amini.

Em julho de 2023, um outro tribunal revolucionário condenou Salehi a seis anos e três meses de prisão, sentença que foi rejeitada em recurso pelo Supremo Tribunal, que devolveu o caso a um tribunal de primeira instância para o estudar novamente.

Em novembro de 2023, Salehi foi libertado sob fiança, mas acabaria novamente preso apenas onze dias depois.

O ‘rapper’ e dissidente, conhecido pelo seu nome próprio – Toomaj -, já entrou em confronto com as autoridades no passado e foi condenado a seis meses de prisão e multa em janeiro de 2022 por “provocar violência e insurreição”, embora a pena de prisão tenha sido suspensa.

O cantor Shervin Hajipour também foi condenado a três anos e oito meses de prisão por “propaganda contra o sistema e incitação a motins” pela sua canção “Baraye” (Stop), que se tornou o hino dos protestos.

A morte de Amini gerou fortes protestos que durante meses pediram o fim da República Islâmica e só desapareceram após uma repressão que causou 500 mortes e a prisão de pelo menos 22 mil pessoas e na qual foram executados oito manifestantes, um deles em público.

Muitas mulheres deixaram de usar o véu após os protestos como um gesto de desobediência civil e agora as autoridades levaram a chamada Polícia da Moralidade de volta às ruas para reimpor o uso do traje islâmico.

Fonte: agências de notícias

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Na noite escura
um mar de espuma
chama pela lua

Eugénia Tabosa

[Espanha] 1º de maio de 2024: “Os mesmos conflitos, as mesmas reivindicações”

Mais uma vez a mesma música (de merda) está tocando. A letra pode ser um pouco diferente, mas a melodia de fundo do espetáculo da mídia nos lembra que os conflitos do passado ainda estão vivos e bem. Caso algum de nós tenha ficado confuso, a “crise de 2008” derivada da especulação imobiliária nunca desapareceu (o número crescente de famílias despejadas prova isso), o preço da vida continua subindo ano após ano, a Palestina foi ocupada por décadas e sua população exterminada impunemente, e o recorde de temperatura global foi quebrado em 2023 (antes acontecia em 2022 e assim por diante) e estamos caminhando com precisão milimétrica para um colapso ecológico e talvez para a próxima extinção.

Em meio ao turbilhão atual do capitalismo homicida e predatório (nem as pessoas nem a natureza importavam em seus objetivos), há vários fatos que, embora previsíveis, não deixam de nos perturbar. O cinismo e a hipocrisia são a regra geral na classe política. O grande capitalismo “devora” o tecido social e produtivo dos territórios, descentralizando a economia e criando monopólios que especulam com a própria vida. A perturbadora capacidade de tomada de decisões e a influência das elites sobre a geopolítica mundial, quando é de seu interesse colocar a máquina de guerra em movimento porque há dinheiro a ser ganho. A guerra é um grande negócio. E, por último, mas não menos importante, a indiferença que caracteriza as sociedades atuais, nas quais o individualismo e o consumismo torpedeiam a solidariedade e a ação coletiva.

As lutas de hoje são titânicas, aparentemente intratáveis. Dada a situação, o princípio de “agir localmente com uma visão global” é necessário. São as organizações de base, os sindicatos, as organizações de bairro, os ateneus e os grupos culturais que devem enfrentar os conflitos locais de forma horizontal e com fraternidade entre os membros da comunidade. A história nos mostra repetidamente que os sucessos do movimento trabalhista são o resultado da consciência e da ação coletiva. Não há ferramentas mágicas, não. A luta assumirá diferentes formas, mas permanecerá a mesma em sua essência. Daí o slogan “Mesmos conflitos, mesmas reivindicações”.

E estamos fartas de viver em um mundo cada vez mais hostil e irrespirável. Cansadas de sermos menosprezadas por nossa força de trabalho, com jornadas intermináveis, salários ridículos e desequilibrados, estamos aprendendo a contestar, a enfrentar os conflitos, a nos organizar, a não nos deixarmos enganar pela propaganda da mídia. Vejam como nossa sociedade está avançada e como as mulheres, que já são maioria nas pastas ministeriais, estão empoderadas! Mas não nos enganam, não importa quantas mulheres estejam no poder, a estrutura e a sociedade ainda são machistas. As trabalhadoras estão bem cientes disso.

Com os jovens incapazes de se emancipar e com as famílias exauridas pelo aumento do custo de vida, as antigas reivindicações dos trabalhadores de Chicago nunca perderam sua relevância. Não percamos a esperança de que, juntos, podemos construir o mundo que merecemos. E, como os antigos revolucionários disseram com razão, a liberdade não é tanto o fim mas o meio. Vamos praticá-la com virtude.

Pelas trabalhadoras da hotelaria em León, pelas companheiras da Suiza, contra a precariedade nas residenciais e nos serviços sociais, contra os abusos dos patrões e sempre a favor da autogestão no trabalho. A união de todas é a força do sindicato.

Contra o afã de lucro de uma minoria e a arbitrariedade do poder,

solidariedade dos trabalhadores e das trabalhadoras, autogestão e sempre liberdade!

leon.cnt.es

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Rosa branca se diverte
Pétalas no vento
Imitam a neve.

Vinícius C. Rodrigues

[Espanha] A entrega dos restos do companheiro Emilio Pedrero Mardones

Sabíamos que não teríamos o microfone para poder participar no ato de exumação de quem militou na CNT e na FAI, Emilio Pedrero, e isso nos parecia bem porque nos disseram que só interviria a ARMH de Valladolid (Associação para a Recuperação da Memória Histórica) e os familiares das vítimas que o desejassem.

Sabíamos que podíamos estar presentes com nossas bandeiras e nossos faixas  para homenagear nosso companheiro torturado e assassinado em agosto de 1938 porque tínhamos o beneplácito da família e o consentimento, de palavra, do presidente da ARMH que levou ao sindicato o convite para estar no ato.

Pensávamos que no ato estaríamos os familiares das vítimas, os familiares ideológicos dos assassinados, os próprios membros da ARMH e os atores e atrizes que voluntariamente puseram o ponto emotivo ao ato.

Mas nos encontramos com uma ministra, um alcaide de Valladolid e um representante da Junta de Castilla y León, rodeados de meios de comunicação, monopolizando todo o protagonismo e ignorando as famílias, pois os jornalistas nem se aproximaram para lhes perguntar.

E, claro, protestamos. Fizemos ouvir nossas queixas que eram também as queixas de muitos familiares. Dissemos à princípio que estávamos de acordo com o silêncio das organizações onde militaram os assassinados porque o protagonismo devia ser das famílias. Mas não entendíamos o protagonismo que foi dado a uns políticos que nada tinham que ver com os mortos; que mantêm as “honrarias” franquistas no escudo da cidade; que não ordenam retirar as placas dos golpistas nas fachadas das igrejas, que seguem consentindo nomes de franquistas nas ruas de muitos povoados de Valladolid; os que diziam “para a memória zero euros”; os da nova lei de concórdia, esses que querem “evitar um uso partidário da história”; os que, definitivamente descendem, ao menos ideologicamente, dos assassinos golpistas.

Protestamos, quando o evento ainda não havia começado, porque nos parecia um escárnio o que estavam fazendo com os familiares de nossos assassinados. A raiva foi crescendo ao ver o protagonismo que estavam dando ao alcaide de Valladolid com quem temos solicitada uma reunião desde janeiro deste ano, para recuperar o espaço de memória libertária que tínhamos no cemitério e desapareceu quando se preparava o terreno no início das primeiras escavações da ARMH nas fossas do cemitério.

Os políticos, do PSOE e do PP, que nunca fizeram nada, ou quase nada, pela memória histórica estavam presentes no evento. A quê vinham? Para sair na foto, para rir de todas nós? O quê faziam ali?

Nos indignamos quando, uma vez começada a cerimônia o presidente da ARMH estragou nosso protesto por denunciar que se dava mais protagonismo aos políticos que às famílias; quando se fez um elogio dirigido à Junta de Castilla y León levando-lhes a cara em políticas de memória e implorando-lhes que “revisem a futura lei de concórdia”.

Todos sabemos quais foram essas políticas memorialistas: Foram os últimos do Estado em fazer uma lei (onze anos depois de entrar em vigor a lei socialista de Zapatero). Fizeram um decreto que nem sequer tem valor de lei, sem nenhum tipo de consenso, ainda que podiam ter buscado com as diferentes associações, partidos e sindicatos, mas tinham a maioria absoluta, para que tentar o consenso. Algumas das exumações tentaram boicotar, como a do povoado de Villadangos del Páramo, onde o alcaide do PP pôs todos os obstáculos. As subvenções aportadas para as exumações, provenientes da administração central, são controladas e distribuídas entre as associações “oficiais” pela própria Junta que na realidade não põe nem um euro.

Tudo isto é o que tanto aplaudem e parece bem ao presidente e membros da ARMH de Valladolid? Esta é, segundo disse textualmente o presidente da ARMH de Valladolid, a “atuação digna” da administração autônoma desde 2002?

Nos indignamos quando se fez referência à solidão da ARMH e a pouca ou nenhuma colaboração de outras associações e organizações sindicais obviando que nossa organização, a CNT, pequena e sem subvenções, mantem uma pessoa voluntária do sindicato colaborando nas escavações desde a uns anos.

Nos incomodou o tratamento para as três famílias que foram recolher os restos de seus parentes assassinados. Tiveram que deslocar-se desde suas localidades por seus próprios meios, em seus veículos particulares e nem sequer se teve a deferência de convidá-las ao menos ao almoço.

A ministra, o alcaide e a representante da Junta tinham um espaço reservado para estacionar os carros oficiais que os levaram. Não sabemos se, também, foram comer todos juntos com o presidente da ARMH de Valladolid.

Nossa presença no encontro foi digna, não interrompemos a celebração, tão só protestamos pelo protagonismo que estavam dando a quem não devia estar ali presente. Só demos, no transcurso do ato, uns Vivas! à anarquia, ao comunismo libertário e ao companheiro Emilio quando a família recolhia seus restos.

Ficamos com a satisfação de nosso posicionamento, nossa rebeldia e o carinho para conosco da família de Emilio. O sobrinho neto, Saturnino, não quis nos devolver a bandeira vermelho e negra com a qual cobrimos os restos do companheiro pois seu desejo era enterrá-lo com ela na fossa familiar de León. Claro, nós a presenteamos com todo nosso afeto.

A Emilio, o médico do povoado, a CNT e sua família, lhe farão brevemente uma homenagem confederal na cidade de León onde esperamos que vão companheiras libertárias de todas as tendências.

VIVA A CNT!

SAÚDE E ANARQUIA

Fonte: https://www.cnt.es/noticias/la-entrega-de-los-restos-del-companero-emilio-pedrero-mardones/

Tradução > Sol de Abril

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agência de notícias anarquistas-ana

sapo cururu
na beirada do ribeiro
coaxa bem baixinho

Silva

[Portugal] 50 anos do 25 de Abril de 1974: uma visão anarquista

Todas as datas redondas conduzem-nos a um balanço entre as expectativas criadas e os resultados concretos. O 25 de abril de 1974 é um destes casos, objeto de balanços e análises sempre que passa mais um aniversário.

Do ponto de vista anarquista, o golpe militar de 25 de abril – transformado em revolução até ao 28 de setembro e, depois, em processo revolucionário cada vez mais condicionado pelos aparelhos políticos até ao golpe de direita de 25 de novembro de 1975 – resolveu duas questões importantes existentes na sociedade portuguesa: o fim da guerra colonial, devido à pressão dos militares que, nas colónias, pararam a guerra não querendo continuar a ser carne para canhão e dos jovens que se recusaram a embarcar, tornando impossível a continuidade da guerra de agressão contra os povos africanos da Guiné, Angola e Moçambique; e a liberdade de associação e de expressão que tomou conta das ruas e que levou às mais variadas formas de auto-organização das populações, com o fim da PIDE e da censura à imprensa.

Durante estes 50 anos, no entanto, muito ficou por fazer numa sociedade que continua dividida entre os que tudo têm e aqueles a quem tudo falta e onde os níveis de exploração de quem trabalha continuam em patamares muito elevados. Apesar das reformas de velhice, do SNS, do surgimento de diversos sistemas de apoio, o fosso entre ricos e pobres ainda é avassalador; a corrupção está entranhada nos principais sectores económicos, políticos e financeiros do país; as novas migrações e a destruição do meio ambiente, em plena época de alterações climáticas profundas, levantam questões novas e urgentes; a participação direta das populações na resolução dos seus problemas é cada vez mais substituída pela intermediação política e partidária profissionalizada, com pouco ou nenhum contato com a  realidade e servindo interesses particulares.

O sector cooperativo e de apoio-mútuo tem vindo a definhar com o aparecimento de grandes conglomerados económicos, visando apenas o lucro e utilizando práticas sistemáticas de destruição da concorrência, ao mesmo tempo quevastas áreas do território são deixadas ao abandono, com uma agricultura predadora, que conduz à desertificação humana e física do interior e a uma sobrelotação (e muitas vezes, em paralelo, também a uma gentrificação) do litoral, em que a atividade turística massificada destrói as relações de proximidade e vizinhança e o equilíbrio com a natureza.

Num mundo em que novas guerras surgem e antigas guerras ressurgem, o militarismo e o apelo a que se gaste mais com as forças armadas e militarizadas, quando se volta a falar do regresso do serviço militar obrigatório, são sinais de retrocesso no caminho da construção de um mundo mais solidário e mais empenhado na paz, em que as fronteiras não dividam, mas unam os povos. Do mesmo modo, a repressão policial sobre os mais indefesos, nomeadamente as minorias que vivem nos bairros periféricos das grandes cidades, o racismo e a intolerância para com a diferença são marcas deste tempo que se queria global e em que cada vez aparecem mais os sinais de múltiplos identitarismos, que atomizam e isolam em vez de unir.

Também a alienação, alimentada pelas redes sociais e por uma comunicação social ao serviço dos grandes interesses económicos e partidários, tem crescido, fazendo com que os valores do fascismo e da extrema-direita, consubstanciados no “Deus, Pátria, Família” de antanho, estejam a ressurgir, com o florescimento de inúmeras religiões e seitas que, a coberto da liberdade religiosa, se instalam por todo o lado, da grande cidade à mais pequena aldeia.

Para quem, como os anarquistas, sofreram as prisões do fascismo e o combateram durante dezenas de anos, o fim da PIDE e da censura, a possibilidade de auto-organização e de livre expressão são bens relevantes em si mesmos, mas não suficientes, quando em aberto está ainda a propriedade privada dos grandes meios de produção; a ausência de órgãos de democracia direta nos setores relevantes da organização social ou as inúmeras desigualdades (económicas, de género, sociais ou mesmo culturais) que ainda grassam na sociedade portuguesa.

É contra isto que continuamos o combate. Por um mundo solidário, de bem estar económico e de igualdade efetiva, sem exploração nem opressão. É um longo caminho. Mas cá continuaremos. Por mais 50. Ou 100 anos. Porque “o caminho faz-se caminhando”.

Coletivo Portal Anarquista

Abril de 2024

colectivolibertarioevora.wordpress.com

agência de notícias anarquistas-ana

Todos dormem.
Eu nado na noite que
entra pela janela.

Robert Melançon

[Espanha] 1º de maio. Recupera tua vida

Pela redução da jornada laboral sem perda de salário

Na CGT temos claro que a redução da jornada laboral já está presente no debate público. Trata-se de uma disputa pela riqueza e os recursos, um conflito entre a classe trabalhadora e o capital. Principalmente falamos de uma batalha pelo tempo dedicado ao trabalho que implica também a distribuição da riqueza que geramos. Por isso, para este 1º de maio, queremos que o debate sobre a redução da jornada esteja mais presente que nunca nas ruas, mas antes vamos nos fazer uma série de perguntas:

Quantos dias chegas à casa arrebentada depois do trabalho?

Quantas vezes te encontras com que ao final do dia, depois de ter feito a compra, preparado a comida, limpado e organizado as tarefas de cuidados não tens quase nem tempo para descansar?

Com que frequência sentes que não tens tempo para ver tuas filhas e filhos, para cuidar de teus familiares ou para ter tempo livre?

Quanta vida passamos no trabalho obrigados a entregar o melhor de nossa saúde e de nosso tempo em troca de um salário que dá apenas para poder viver e pagar o aluguel, enquanto os empresários se enriquecem as nossas custas?

Faz mais de 100 anos o movimento obreiro libertário conseguiu conquistar a jornada laboral de oito horas e, atualmente, comprovamos que os avanços em produtividade e tecnologia serviram exclusivamente para aumentar a riqueza de modo exponencial das grandes empresas e capitalistas. Enquanto isso, seguimos tendo a mesma jornada laboral. Isto tem que mudar! Assim como lutamos por salários dignos e melhores condições laborais,  é o momento de batalhar para reduzir a jornada laboral de uma maneira contundente e sem redução de salário.

Desde a CGT somos conscientes de que o desenvolvimento desta reivindicação não será simples. Cada setor, empresa ou centro de trabalho apresenta realidades complexas e dispares e conquistar uma redução da jornada laboral implica percorrer um caminho até chegar a uma redução de jornada muito mais ampla e contundente que a proposta pelo Governo, uma redução de jornada que nos faça recuperar nossas vidas.

Em que beneficiará a redução de jornada aos e as trabalhadoras?

  • Mais tempo livre: para ter tempo para dedicar ao que realmente queremos e que nos realiza como pessoas, para poder pôr a vida no centro.
  • Melhor distribuição do tempo nas tarefas de cuidados no lar: para avançar para uma divisão mais equitativa entre homens e mulheres valorizando esses trabalhos de cuidados tão necessários para a manutenção da vida.

Fonte: Secretariado Permanente do Comitê Confederal da CGT

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Muitos ventos sopram.
Dentro e fora de mim uivam
lobos que não sou.

Urhacy Faustino

Líder mapuche Héctor Llaitul condenado no Chile

De origem mapuche, Llaitul é uma figura indígena bem conhecida no Chile e se tornou notável por exigir a devolução de terras ancestrais aos povos nativos do país.

Na segunda-feira (22/04), um tribunal chileno considerou o conhecido líder mapuche Héctor Llaitul culpado de um delito, segundo o tribunal, de agressão à autoridade e atos violentos cometidos em duas regiões do sul do país.

No entanto, o tribunal só anunciará a sentença no início de maio, depois de decidir que Llaitul, que lidera a organização indígena Coordinadora Arauco Malleco (CAM), seria culpado de outros delitos, incluindo invasão violenta e roubo, de acordo com a lei de segurança do Estado que data da época da ditadura militar de Pinochet.

Ao ler o veredicto, a juíza Rocío Pinilla observou que o tribunal considerou que havia “provas abundantes de que o acusado aparece cometendo atos perturbadores” em vídeos e imagens que foram adicionados ao processo judicial.

De acordo com o tribunal, “foi demonstrado que o telefone (de Llaitul) tinha conversas e imagens que credenciavam sua participação nesses ataques de 2020”.

“O veredicto de condenação pelos crimes de incitação e apologia à violência, nos termos da Lei de Segurança do Estado, como delito reincidente”, disse o tribunal.

Durante vários anos, o Estado chileno culpou a CAM, sob a liderança de Llaitul, por supostos incêndios criminosos e ataques armados a máquinas florestais, caminhões e edifícios pertencentes a empresas florestais localizadas em territórios expropriados do povo mapuche.

De origem mapuche, Llaitul é uma figura indígena bem conhecida no Chile e se tornou notório por exigir a devolução de terras ancestrais aos povos originais do país.

O líder indígena foi preso em agosto de 2022 e, desde então, está sob custódia no Complexo Penitenciário de Biobío, a cerca de 500 quilômetros da capital chilena.

Os promotores chilenos estão buscando uma sentença de 25 anos de prisão por crimes cometidos entre 2020 e 2022, enquanto Llaitul chamou o julgamento contra ele de “perseguição política” motivada por um “choque cultural”.

“Aqui houve um choque cultural que levou a um julgamento criminal”, que “tem a ver com essa impossibilidade de entender o que é a causa mapuche”, disse ele em sua última declaração aos tribunais antes do anúncio da sentença.

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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2022/06/16/chile-chem-ka-rakiduam-o-pensamento-e-a-acao-da-cam-em-um-livro-apresentado-por-suas-proprias-porta-vozes/

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2022/05/13/chile-diante-da-ofensiva-estatal-do-estado-intermediario-a-cam-pede-para-se-preparar-para-a-defesa/

agência de notícias anarquistas-ana

sementes de algodão
agora são de vento
as minhas mãos

Nenpuku Sato

Barbárie no Sudão: um pedido desesperado de ajuda dos anarquistas do Sudão!

Na última edição da revista francesa Anarchosyndicalisme, a CNT-AIT fez eco ao apelo à solidariedade dos anarquistas do Sudão.

Desde 15 de Abril de 2023, que eclodiu uma terrível guerra entre duas facções militares – as Forças de Apoio Rápido (ou milícias Janjaweed) contra o Exército oficial – os civis têm vivido num clima de “puro terror” devido a um “conflito implacável” e sem sentido”, denunciada pela ONU à indiferença geral. Pelo menos 15 mil pessoas morreram e mais de 26 mil ficaram feridas, mas estes números estão certamente subestimados. Existem 11 milhões de pessoas deslocadas internamente, 1,8 milhões de exilados, 18 milhões de pessoas correm risco agudo de fome. 8 milhões de trabalhadores perderam o emprego e os rendimentos. 70% das áreas já não têm água nem eletricidade, 75% dos hospitais estão destruídos, 19 milhões de estudantes interromperam os estudos, 600 estabelecimentos industriais foram destruídos e saqueados, bem como 110 bancos, 65% da agricultura foi destruída, 80% dos insumos (fertilizantes, agrotóxicos, máquinas agrícolas e colheitadeiras) da área irrigada de Geziera – a maior do mundo – foram saqueados e destruídos…

O silêncio dos meios de comunicação e dos militantes em torno do Sudão permite que os soldados de ambos os campos cometam um verdadeiro genocídio com total impunidade. O conflito entre os dois clãs tem muitos componentes: étnicos, com o seu cortejo de genocídios recíprocos (segundo a ONU); “imperialista”, porque cada um dos dois grupos que se confrontam é apoiado por diferentes potências estrangeiras que cobiçam o Sudão pelos seus recursos naturais e pela sua localização estratégica. Mas acima de tudo é uma guerra “contrarrevolucionária”. Ao colocar fogo e sangue no país, destruiu as esperanças da revolução civil e democrática. E empurrou muitos ativistas envolvidos na revolução para as estradas do exílio. Ao desestabilizar completamente o país, esta guerra permite que os executivos do antigo regime permaneçam no cargo sem serem julgados pelos crimes que cometeram durante décadas (durante a ditadura militar e depois o golpe de Estado). (Fonte: SudfaMedia, mídia participativa franco-sudanesa https://sudfa-media.com)

Os Comités Revolucionários, nos quais participam os nossos companheiros anarquistas, estão a tentar manter a sua atividade, mas isso está a tornar-se cada vez mais difícil, com a escalada da violência das duas facções militares.

Na sequência do apelo à solidariedade, recebemos mais de 1.200 euros (incluindo 200 euros dos companheiros do Fórum Anarquista de Língua Curda, KAF) que puderam ser transmitidos aos companheiros sudaneses. Esta solidariedade permitiu-lhes organizar distribuições humanitárias de cobertores, produtos de higiene (proteção periódica, sabonete, pasta de dentes) e leite infantil. Foi organizada uma área de recepção para crianças, com materiais de desenho e também aulas de ensino fundamental, permitindo que as crianças escapassem um pouco da loucura da guerra.

Mas hoje a situação está realmente se tornando impossível. A violência dos grupos militares é desencadeada. As milícias Janjaweed comportam-se como bárbaros em relação aos civis. Eles assassinaram a nossa parceira Sarah depois de a violarem. Por seu lado, os soldados prenderam e torturaram os revolucionários, acusando-os de serem aliados dos Janjaweed. Os nossos companheiros necessitam urgentemente de se abrigar nos países vizinhos. Transmitimos o seu apelo desesperado ao movimento anarquista internacional.

Se desejar contribuir para a solidariedade, pode enviar os seus cheques nominais à CNT AIT para; CNT-AIT 7 rue St Rémésy 31000 Toulouse, ou na plataforma PayPal: https://www.paypal.com/paypalme/cntait1

تدعوكم مجموعة اناركين سودان للتضامن معها لكي تستطيع مواصلة نشا طها التحرر

|| O grupo de anarquistas sudaneses convida-o a mostrar solidariedade para que possa continuar a sua atividade de libertação ||

Saudações dos camaradas revolucionários do Sudão a todos os anarquistas do mundo

Depois do regime ter tentado destruir e desmantelar a gloriosa Revolução de Dezembro, a eclosão da Guerra de 15 de Abril, que provocou a deslocação de 15 milhões de sudaneses, o sofrimento de toda a população, o início da fome e a deterioração da situação humanitária. E agora as brigadas islâmicas lançaram campanhas contra os revolucionários e fizeram inúmeras detenções e renúncias.

O grupo de anarquistas sudaneses convida-vos a mostrar-vos solidários para que possam continuar a sua grande atividade de libertação e retomá-la, inclusive a partir do estrangeiro.

Esperamos a sua contribuição para abrigar certos camaradas ameaçados de prisão arbitrária fora do país.

Abaixo o regime militar fascista, abaixo as brigadas Janjaweed

Não à prisão de revolucionários, Não à tortura de revolucionários

Viva a Revolução Livre de Dezembro!

Reunião de anarquistas sudaneses

O QUE FAZER EM SOLIDARIEDADE COM O POVO SUDANÊS?

Você pode fazer muito, individualmente ou com poucas pessoas. O importante é falar do Sudão para que o maior número possível de pessoas seja informada sobre o que lá acontece!

1) Mantenha-se informado sobre a situação no Sudão através do site da mídia participativa franco-sudanesa SudfaMedia, https://sudfa-media.com)

2) Envie mensagens de solidariedade para contact@cnt-ait.info que repassaremos aos nossos colegas anarquistas no Sudão

3) Falem nas redes sociais, com as suas famílias, com os seus amigos, com os seus colegas de trabalho, sobre o Sudão, a sua revolução e a abominação do exército e das forças rápidas e dos islamistas

4) Organizar distribuições de folhetos, mesas de imprensa, recolhas solidárias, eventos de solidariedade com o povo sudanês, contra os massacres.

#العسكر_للثكنات_والجنجويد_يتحل

Os soldados nos quartéis e as milícias (janjawid) devem dissolver-se

#لاتفاوض_لاشراكة_لامساومة

Sem negociação, sem parceria, sem barganha

#ضد_الحرب

Contra a guerra

#السلطة_سلطة_شعب

O poder é o poder do povo

#السلام والحرية والتضامن

Paz, liberdade e solidariedade

Não abandonemos os anarquistas do Sudão! A solidariedade e a ajuda mútua nos fortalecem!

Encontro de anarquistas do Sudão e CNT-AIT França

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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2022/03/11/fundo-de-solidariedade-para-anarquistas-sudaneses/

agência de notícias anarquistas-ana

A pedra
nada pergunta ao rio
sobre água e tempo.

Yeda Prates Bernis