[Itália] Buscando liberdade rua por rua

Tempo de balanços para um ano que está chegando ao fim. Um ano cheio de iniciativas em que a presença anarquista foi marcante — e não poderia ser diferente. O contexto em que vivemos é caracterizado pela violência, pelo autoritarismo e pelo fascismo com que os governos impõem às massas exploração, opressão e morte. A guerra é o instrumento comum do domínio, desde a guerra declarada, conduzida com armas nas muitas regiões do mundo devastadas por conflitos e genocídios, até a guerra interna, feita de pobreza, exploração, miséria, opressão e morte; morte também aqui, também entre nós: demonstram isso os quase 1.000 mortos no trabalho deste ano, os quase 100 feminicídios, homicídios de pessoas trans e lesbicídios, e os tantos mortos pela inacessibilidade de cuidados em um sistema de saúde refém do lucro.

E, no entanto, essa morte social que querem nos impor ainda não venceu. Pelo contrário: neste cenário sombrio, vimos as ruas se encherem, as lutas se radicalizarem, a solidariedade crescer, as práticas de combate retomarem centralidade. A esperança se regenera, abre caminho nas ruas.

Estamos presentes nessas lutas, com a clareza da nossa mensagem, da nossa experiência e dos nossos objetivos. Nunca como agora é evidente que é preciso retirar dos governos os instrumentos de domínio, dos quais eles se valem para manter a opressão. Nunca como agora é necessário desafiar um presente intolerável, subverter a ordem, romper as divisões impostas por fronteiras, nacionalismos, patrões, gêneros, religiões e dar força a uma perspectiva baseada na solidariedade e na cooperação, na transformação social real, na liberdade, na anarquia.

É tempo de anarquia. Precisamos estar presentes — e estamos. Estamos nas ruas, ao lado de quem luta, nos movimentos reais e nas estruturas construídas de baixo para cima, levando métodos e práticas libertárias. Temos um patrimônio precioso a ser compartilhado, atravessado por muitas experiências de repressão, prisões, exílio, mas também por muitas lutas, experimentações e contaminações que tornam extremamente significativo e eficaz o nosso atual modo de intervir. É um patrimônio sustentado por um pensamento que a história não derrotou, cuja limpidez, depois de um século e meio, surge intacta para iluminar o presente. Um patrimônio alimentado por um tecido organizativo vivo, feito de pessoas, de círculos, de grupos, de iniciativas constantes.

O ano de 2025 se abriu, em janeiro, com o congresso da F.A.I., e se encerrou no outono com o encontro pelos 80 anos da Federação. No meio disso, um ano de lutas, de iniciativas, de presença nas ruas, de atividade constante. Porque não somos donos de nada, e nosso patrimônio queremos repartir, compartilhar, difundir, fazê-lo estar sempre vivo. Pela liberdade, pela anarquia. Feliz 2026.

A redação

Fonte: https://umanitanova.org/cercando-liberta-strada-per-strada/

Tradução > Liberto

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A bola baila
o gato nem olha
salta e agarra

Eugénia Tabosa

A Cortina de Fumaça das ONGs: O Assistencialismo como Braço do Capital e do Estado

Camaradas, a realidade que nossa militância enfrenta no Espírito Santo é absurda: proliferam-se por nossos territórios organizações não governamentais que, longe de serem espaços de libertação, atuam como agentes de domesticação. São, em sua maioria, extensões camufladas de partidos políticos e igrejas, estruturas que não buscam a transformação radical da sociedade, mas sim a perpetuação de um sistema de dominação. É preciso denunciar com vigor: as ONGs, principalmente estas vinculadas, são parte orgânica do capitalismo e não nos salvarão de suas garras. Pelo contrário, são engrenagens que lubrificam a máquina da opressão.

Observemos as ONGs atreladas a partidos políticos. Sua existência é cíclica e eleitoreira. Surgem como braços “sociais” de legendas que almejam o controle do Estado, oferecendo migalhas assistencialistas em troca de lealdade futura nas urnas. Sua ação não fortalece a autonomia do povo, mas cria uma relação de dependência clientelista. Elas precisam do Estado, seja através de editais públicos, verbas parlamentares ou convênios, recursos esses que são usados para ampliar a base de influência do partido. São, portanto, instrumentos para acessar o poder estatal e, consequentemente, gerir os mecanismos do capital. Lutam por uma fatia do bolo, jamais pela destruição do forno que cozinha a miséria.

Da mesma forma, as ONGs vinculadas a igrejas operam uma colonização mais profunda, misturando caridade com proselitismo. Utilizam a fome e a vulnerabilidade para impor uma moral religiosa e expandir seu rebanho. Sua ajuda é condicional, um embrulho para a doutrinação, que visa pacificar os oprimidos com a promessa de recompensa celestial, anestesiando a revolta terrena necessária. Estas organizações também dependem do Capital, seja através de doações de grandes corporações que buscam lavar sua imagem, seja de recursos públicos obtidos por sua enorme influência política. São o braço “social” do capitalismo teológico, que converte a necessidade material em controle espiritual.

A conjuntura é clara: estas ONGs não existem à margem do sistema. Elas são funcionais a ele. O capitalismo, em sua fase neoliberal, terceiriza para elas o papel de amortecer os impactos mais brutais da exploração, um paliativo que evita a explosão social. O Estado, por sua vez, as financia e regula, cooptando potenciais focos de resistência e transformando demandas por direitos em projetos gerenciáveis. São uma válvula de escape, uma forma de gerenciar a pobreza sem alterar as estruturas que a produzem. Enquanto distribuem cestas básicas, silenciam sobre a propriedade privada dos meios de produção.

Nós, da Federação Anarquista Capixaba, rejeitamos esta cortina de fumaça. Nossa luta não é por mais ONGs, mas por organização popular autônoma, direta e de base. Acreditamos na ação direta, na ajuda mútua desinteressada, na construção de realidades que confrontem o poder, desde baixo, sem mediadores, sem patrões e sem sacerdotes. Construímos comedores comunitários autogeridos, hortas coletivas, grupos de defesa territorial e círculos de estudo sem vínculo com editais ou interesses eleitorais. Nossa solidariedade é de classe, não é esmola nem investimento.

Portanto, desmascaremos essas entidades que, vestidas com o manto da bondade, fortalecem as correntes que nos aprisionam. Não depositemos nossa esperança em salvadores institucionais. Nossa libertação não virá de cima, nem de projetos aprovados no gabinete de um político ou na cúria de uma igreja. Virá da nossa própria capacidade de nos organizarmos, horizontalmente, combatendo o Estado, o Capital e todas as suas faces, inclusive as mais “beneméritas”. A verdadeira transformação social nasce da autonomia, do apoio mútuo e da luta intransigente contra todas as formas de dominação. Fora do povo organizado, não há salvação!

Federação Anarquista Capixaba – FACA

fedca@riseup.net

federacaocapixaba.noblogs.org

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Crepúsculo. O sol no horizonte
Vai descendo
Os degraus do monte.

Clínio Jorge

Natal na prisão (1874) – Piotr Kropotkin

O aniversário de Piotr Kropotkin no calendário moderno cai no solstício de inverno, em 21 de dezembro de 1842 (Wikipedia, como ocorre com muitas coisas, não reconhece que o 9 de dezembro é o aniversário de Kropotkin segundo o antigo calendário russo). A cada ano por estas datas gosto de publicar algo de Kropotkin, às vezes com temática natalina. Assim que este ano apresento este extrato de Memórias de um revolucionário, de Kropotkin, onde descreve como lia os contos natalinos de Charles Dickens enquanto estava encarcerado na Rússia em 1874.

Robert Graham

Quando se inteirou de minha detenção, meu irmão, Alexander deixou tudo imediatamente, o trabalho de sua vida, a própria liberdade, tão necessária para ele como o ar livre para um pássaro, e regressou a São Petersburgo, uma cidade que detestava, só para ajudar-me durante meu encarceramento.

A ambos nos afetou muito esta entrevista. Meu irmão estava muito emocionado. Odiava ver os uniformes azuis dos gendarmes, esses carrascos de todo pensamento independente na Rússia, e expressou seus sentimentos com franqueza em sua presença. Enquanto a mim, vê-lo em São Petersburgo me encheu dos mais sombrios temores. Alegrou-me ver seu rosto honesto, seus olhos cheios de amor, e ouvir que os veria uma vez ao mês; e, no entanto, desejava que estivesse a centenas de quilômetros daquele lugar ao qual havia chegado livre aquele dia, mas ao qual inevitavelmente o levariam alguma noite escoltado por gendarmes. «Por que veio à cova do leão? Volte em seguida!», gritava todo meu ser interior; e no entanto, sabia que ficaria enquanto eu estivesse na prisão.

Ele compreendia melhor que ninguém que a inatividade me mataria, e já havia solicitado permissão para que pudesse voltar ao trabalho. A Sociedade Geográfica queria que terminasse meu livro sobre o período glacial, e meu irmão movimentou todo o mundo científico de São Petersburgo para que apoiasse sua solicitação. A Academia de Ciências se interessou pelo assunto e, finalmente, dois ou três meses depois de meu encarceramento, o governador entrou em minha cela e me anunciou que o imperador me permitia terminar meu informe para a Sociedade Geográfica e que me proporcionaria pena e tinta para tal fim. «Só até o pôr do sol», acrescentou. Em São Petersburgo, o pôr do sol é às três da tarde no inverno, mas isso não se podia evitar. «Até o pôr do sol» foram as palavras que utilizou Alejandro II quando concedeu a permissão.

Assim que podia trabalhar!

Agora me custa expressar o imenso alívio que senti ao poder voltar a escrever. Havia aceitado viver só de pão e água, na cela mais úmida, contanto que me deixassem trabalhar.

No entanto, eu era o único prisioneiro que permitiam ter material de escrita. Vários de meus companheiros passaram três anos ou mais reclusos antes que acontecesse o famoso julgamento de «os cento e noventa e três», e a única coisa que tinham era uma lousa. Claro, inclusive a lousa era bem vinda naquela lúgubre solidão, e a utilizavam para escrever exercícios nos idiomas que estavam aprendendo ou para resolver problemas matemáticos; mas o que se anotava na lousa só durava umas poucas horas.

Minha vida na prisão adquiriu então um caráter mais regular. Tinha um motivo imediato para o qual viver. Às nove da manhã já havia dado minhas primeiras trezentas voltas pela cela e esperava que me trouxessem meus lápis e canetas. O trabalho que havia preparado para a Sociedade Geográfica continha, além de um informe sobre minhas explorações na Finlândia, uma discussão sobre as bases nas quais devia sustentar-se a hipótese glacial. Agora, sabendo que tinha muito tempo pela frente, decidi reescrever e ampliar essa parte de meu trabalho. A Academia de Ciências pôs a minha disposição sua admirável biblioteca, e um canto da minha cela logo se encheu de livros e mapas, incluindo todas as publicações do Serviço Geológico Sueco, uma coleção quase completa de informes de todos as viagens ao ártico e séries completas da Revista Trimestral da Sociedade Geológica de Londres. Meu livro cresceu na fortaleza até alcançar o tamanho de dois grandes volumes. O primeiro deles foi impresso por meu irmão e Polakóff (nas Memórias da Sociedade Geográfica), enquanto que o segundo, ainda sem terminar, permaneceu em mãos da Terceira Seção quando fugi. O manuscrito não foi encontrado até 1895 e entregue à Sociedade Geográfica Russa, que o enviou a Londres.

Às cinco da tarde, às três no inverno, assim que traziam a pequena lâmpada, me tiravam os lápis e canetas e tinha que deixar de trabalhar. Então costumava ler, sobretudo livros de história. As gerações de presos políticos que haviam estado reclusos na fortaleza haviam criado uma biblioteca bastante completa. Permitiram-me acrescentar à biblioteca várias obras fundamentais sobre a história da Rússia e, com os livros que me traziam meus familiares, pude ler quase todas as obras e coleções de atos e documentos relacionados com o período moscovita da história da Rússia. Desfrutava lendo não só os anais russos, especialmente os admiráveis anais da república democrática medieval de Pskov, talvez os melhores da Europa no que respeita à história desse tipo de cidades medievais, mas também todo tipo de documentos áridos e inclusive as Vidas dos santos, que em ocasiões contêm dados da vida real das massas que não se pode encontrar em nenhum outro lugar. Durante esse tempo também li um grande número de novelas e inclusive me preparei um presente para a véspera de Natal. Meus familiares conseguiram enviar-me as histórias natalinas de Dickens e passei as festas rindo e chorando com essas belas criações do grande novelista.

Fonte: https://theanarchistlibrary.org/library/petr-kropotkin-christmas-in-prison

Tradução > Sol de Abril

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Regato tranquilo:
uma libélula chega
e mergulha os pés.

Anibal Beça

Rayistas gregos – Contra o poder, sempre com o bairro.

RAYISTAS GREGOS — SOLIDARIEDADE COM EXARCHIA

De Vallecas [Espanha] a Exarchia [Grécia], os bairros que resistem compartilham o mesmo fôlego, a mesma força, a mesma dignidade.

Hoje, o bairro de Exarchia sofre o ataque de um Estado que teme tudo o que não pode controlar: a auto-organização, a coletividade e a solidariedade.

Nós, os Rayistas Gregos – torcedores de um clube [Rayo Vallecano] nascido nos bairros operários de Madrid, que carrega o orgulho dos de baixo – colocamo-nos ao lado do povo de Exarchia.

Para nós, o futebol, o bairro e a vida não se separam.

Onde houver gente que luta para manter o espaço público livre, onde existir comunidade que defende seu direito de viver sem medo nem ocupação policial, ali estará também o nosso lugar.

Posicionamo-nos contra toda forma de gentrificação, tanto nas ruas de Exarchia quanto nas de Vallecas.

Não queremos bairros vitrine, mas lugares vivos que pertençam à sua gente.

O turismo massivo e os Airbnb expulsam os moradores, aumentam os aluguéis e transformam a vida cotidiana em mercadoria.

A destruição de Exarchia através das obras do metrô, a privatização da colina de Strefi e a presença policial constante são parte do mesmo plano de controle e mercantilização.

Apoiamos as ocupações e os espaços autogeridos, porque ali respira a coletividade, a expressão livre, o esporte, a comunicação e a fraternidade. São as raízes que mantêm vivos os bairros quando tudo ao redor é privatizado.

E assim como apoiamos Exarchia, também expressamos nosso apoio aos moradores de Vallecas, que lutam contra os fascistas e as empresas que tentam fechar seus próprios espaços ocupados e autogeridos. Porque a luta é uma só – de Madrid até Atenas.

A solidariedade não conhece fronteiras – é nossa bandeira.

Nas ruas de Vallecas e nas ruas de Exarchia, os muros falam a mesma língua: Resistência, dignidade, liberdade.

De nossas arquibancadas até vossas praças,

Força para Exarchia.

Nenhum bairro nas mãos do poder.

As ruas pertencem a quem as vive.

RAYISTAS GREGOS – Contra o poder, sempre com o bairro.

Tradução > Liberto

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vento apressado
por que não senta aqui
do meu lado

Alexandre Brito

[México] Até sempre, Yorch.

Hoje nos atravessa a ausência.
Arrancaram de nós a vida de Yorch.
Dói nomeá-lo no passado.
Dói saber que seus passos e sua teimosia luminosa não voltam mais.
Dói porque não foi destino, mas um caminho cheio de violência, abandono
e injustiça por parte do Estado e da UNAM, que sentenciaram sua vida.
.
Fica em nós uma raiva que queima, raiva pelo que lhe arrebataram, pelo
que quiseram destruir nele e em quem resiste, por uma história que não
foi um acidente, mas reflexo de um sistema podre.
.
Mas também nos fica sua força, a que ele semeou em cada gesto e palavra,
a que hoje nos obriga a não baixar o olhar e a continuar a luta com mais força.
Que a terra te seja leve, querido Yorch.
.
Teu nome seguirá vivo em nossa memória coletiva,
na luta que continua embaixo e à esquerda, a partir da dor, do amor e da raiva.
Abraçamos quem te acompanhou com amor, cuidado e dignidade,
quem sustentou teu nome e tua luta quando tudo parecia desmoronar.
.
Até sempre, Yorch.
Aqui seguimos por ti. Pelos que faltam, pelos que virão.

.

#yorchnomurióelestadolomató
#AbajoLosMurosDeLasPrisiones

Tradução > Liberto

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Uma chuva leve.
João-de-barro feliz
Quer barro fresquinho.

Eric Felipe Fabri

[Grécia] Contra a repressão estatal, a disciplina, as expulsões e as perseguições

Solidariedade aos/às estudantes anarquistas de Arquitetura da EME (Universidade Técnica Nacional de Atenas), que nos dias 15 e 16 de dezembro serão convocados para um conselho disciplinar e ameaçados de expulsão por terem ocupado sua escola contra as reestruturações antissociais na educação.

Tirem as mãos dos/as estudantes em luta

Assembleia Anarquista para a Emancipação Social e de Classe

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Frases compostas
no sol que passeia
sob minha caneta.

Jocelyne Villeneuve

[México] Viva o companheiro Yorch! Viva a Anarquia!

Declaração da CATL pela morte de Yorch

Após vários anos de sequestro e uma série de atos de violência e omissões por parte do sistema penitenciário, nosso companheiro Jorge Esquivel Díaz, conhecido como Yorch, faleceu. É com profunda tristeza e indignação que nos despedimos dele, com a promessa de não esquecer este crime do Estado.

Nosso companheiro foi preso pela primeira vez em 24 de fevereiro de 2016, nas proximidades da UNAM. Ele foi acusado de tráfico de drogas depois que lhe colocaram uma mochila com drogas do lado de fora do Auditório Che Guevara. Posteriormente, ele foi processado pelo crime forjado de posse de drogas e transferido, primeiro para uma prisão federal em Miahuatlán, Oaxaca, e depois para a prisão de segurança máxima em Hermosillo, Sonora, com o objetivo de desmobilizar os companheiros que o acompanhavam e exigiam sua liberdade.

No final de fevereiro de 2016, foi proferida uma sentença de prisão formal. Em março do mesmo ano, ele obteve liberdade sob fiança. Apesar disso, continuaram as ameaças, a estigmatização pela mídia e uma campanha sistemática de criminalização.

Em 8 de dezembro de 2022, ele foi novamente detido nos arredores da Okupa Che. Nessa nova detenção, o Ministério Público recorreu da reclassificação de 2016, o que permitiu que as acusações iniciais — consideradas graves — fossem restabelecidas. Finalmente, em 3 de junho de 2024, após cerca de 18 meses detido sem sentença desde sua recaptura, um juiz o condenou a sete anos e seis meses de prisão.

Durante sua detenção, Yorch foi torturado e, na prisão, isolado e punido de várias formas. A falta de atendimento médico oportuno foi a verdadeira condenação do nosso companheiro. Sua morte é, sem dúvida, um castigo exemplar, brutal e uma mensagem dirigida à comunidade anarquista.

Yorch era um companheiro anarcopunk que trabalhava num desses espaços onde se trocam histórias de vida, receitas e conhecimentos: a cozinha do Auditório Che Guevara. Hoje, nós que estávamos próximos a ele, companheiros de luta e ideias, que compartilhamos a dor e a raiva, sabemos que ele foi vítima da sociedade carcerária e da arrogância autoritária, como tantos outros companheiros na história dos oprimidos.

Abraçamos fraternalmente os amigos e companheiros próximos de Yorch, a galera da Okupa Che, sua mãe e sua irmã neste luto. Manifestamos nosso total repúdio às instituições cruéis e desumanas que violaram seu corpo até o limite, que tentaram dobrar seu espírito e que acabaram tirando-o de nosso lado pelo fato de ser pobre, pelo fato de ser rebelde.

Uma vida inteira de luta pela memória dos nossos mortos, nem um instante de paz para os opressores do mundo! Na memória insurreta guardaremos o sorriso e o nome de Yorch, e continuaremos lutando pela libertação total, até que caia a sociedade carcerária e tudo o que ela representa!

Hoje, mais do que nunca: Abaixo os muros das prisões!

Morte ao Estado, ao capital e aos seus corpos de repressão! As ideias não morrem, mesmo que nossos corpos morram! Viva o companheiro Yorch! Viva a Anarquia!

~ Coordinadora Anarquista Tejiendo Libertad

catl.noblogs.org

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Em cima da folha
Joaninha descansa
Que colorido!

Andréa Cristina Franczak

[Grécia] Marcha de Thissio ao Parlamento para o Dia Internacional das Montanhas com o lema “Liberdade para rios e montanhas”

Na noite de quinta-feira (11/12), ocorreu um protesto dinâmico em Atenas por ocasião do Dia Internacional das Montanhas (11 de dezembro).

Uma multidão de pessoas, atendendo ao chamado de coletivos e movimentos locais para o Dia Internacional das Montanhas, partiu de Thissio e, passando pela Praça Monastiraki, terminou na Praça Syntagma, em frente ao Parlamento Grego.

Os manifestantes enviaram uma mensagem clara contra a mercantilização da natureza, entoando slogans como “Desenvolvimento significa vidas deslocadas”, “Liberdade para rios e montanhas”, “Viva a natureza selvagem”, “Montanhas queimadas, vilas inundadas, o Estado e o capital nos afogaram em sangue” e “Nenhuma paz com o Estado e os patrões, montanhas livres”.

“Destruição legitimada”

O foco das reivindicações era a oposição ao chamado modelo de desenvolvimento “verde”. Os organizadores falaram de uma “catástrofe ecológica e social legitimada e irreversível”, denunciando como os bens comuns estão sendo transformados em mercadorias e cada lugar em objeto de especulação por meio do mercado de ações de energia.

Como apontam em seu texto, grupos energéticos nacionais e internacionais “transformam cada montanha, ilha, lago, rio e planície em um canteiro de obras”, instalando milhares de unidades industriais de energias renováveis ​​(eólica, fotovoltaica, hidrelétrica), projetos de mineração e atividades correlatas, muitas vezes apesar da opinião contrária das comunidades locais.

Luta contínua

Os participantes alertaram para o colapso total do setor primário e os efeitos do turismo excessivo, falando de um plano capitalista com legitimação do Estado de “apropriação de terras”.

Afirmando que o dia 11 de dezembro não é visto como uma simples data internacional, mas como uma ocasião relevante para a ação contra a “pilhagem da natureza e da vida”, os coletivos anunciaram a continuação dos protestos e o fortalecimento de sua luta multifacetada.

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Voa andorinha
Com a leve leveza
De quem quer amar

Tatiana K. Goldman

[México] Yorch era inocente, Yorch não morreu, o Estado o matou

Hoje, infelizmente, faleceu Jorge Esquivel “El Yorch”, anarquista, artesão e cozinheiro, preso político do Estado mexicano desde 2016, vítima de discriminação, perseguição, armação, falsas acusações e negligência médica. 

Não foi uma doença que acabou com a vida de Yorch. Foi o Estado que o criminalizou e prendeu com mentiras, que o perseguiu e assediou, que o manteve em cativeiro negando-lhe atendimento médico, até tirar-lhe a vida. 

O mesmo Estado que criminaliza a resistência, que destrói espaços autônomos como a Okupa Che e que usa suas prisões e tribunais para punir aqueles que defendem o território, a liberdade, a vida e a dignidade.

Yorch não morreu, Yorch foi morto pelo Estado mexicano e seu sistema prisional assassino.

A luta de Yorch continua na Okupa Che, nas ruas, nos campos, em qualquer lugar onde a injustiça queira se impor, em qualquer canto onde a autogestão, a resistência, a rebeldia e a organização floresçam como resposta contra o poder.

Memória, Verdade e Justiça para Yorch Esquivel!

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Entardecer
Sob o velho telhado
Retornam pardais.

Hidemasa Mekaru

[Alemanha] Manifestação: ACAB = GUERRA AO SISTEMA

ACAB SIGNIFICA

TODOS OS COLONIZADORES SÃO ALVOS

TERRA RETORNADA

GLÓRIA À RESISTÊNCIA

No dia 13/12, levamos nossa ira às ruas. Contra todo o sistema de controle, prisões, colonialismo, fronteiras e genocídio que a polícia representa e defende todos os dias.

Contra o seu estado racista normal, contra os seus perfilamentos, a sua inversão entre agressor e vítima, as suas deportações. Contra o assassinato de mulheres sob custódia e o “tiro final de resgate”, nas costas.

Contra o patriarcado que eles mantêm. Contra os perpetradores que eles protegem. Contra a violência mortal da “normalidade” cisheterossexual deles.

Contra a sua lógica de Estado genocida, com apoio a “Israel” em centenas de milhares de assassinatos. Contra o fornecimento de armas aos Emirados Árabes Unidos e a cumplicidade direta no genocídio no Sudão. Contra a militarização interna e as exportações de armas no exterior.

ACAB significa comemoração de todas as vítimas da violência policial, ACAB significa retomar e defender as ruas, apunhalar nazistas e atacar estruturas fascistas. Liberdade para todos os prisioneiros, e a toda a companheirada, na resistência e na prisão.

Vamos deixar claro quem realmente domina as ruas.

Viva a resistência!

Fonte: https://international.nostate.net/2025/12/demo-acab-krieg-dem-system

Tradução > CF Puig

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Cigarras em coro
Ecoam no cemitério
Quebrando o silêncio.

Neide Rocha Portugal

[Alemanha] Berlim-Friedrichshain, 13 de dezembro de 2025 – Manifestação no Dia Internacional contra a Violência Policial

Sob o lema ‘ACAB – Guerra ao Sistema’, diversos grupos anarquistas, autônomos, antifascistas e de migrantes, bem como redes de solidariedade à Palestina, estão convocando mais uma vez uma manifestação para o dia 13 de dezembro, Dia Internacional contra a Violência Policial.

Há vários anos, ações e manifestações vêm ocorrendo em muitos países e cidades, utilizando o código 1312 (ACAB) como uma oportunidade para denunciar ou resistir à violência brutal e, por vezes, mortal dos capangas das elites imperialistas e coloniais.

Este ano, a manifestação está novamente marcada para ocorrer nos distritos sul e norte de Friedrichshain. O ponto de encontro é na estação de metrô e trem urbano Warschauer Straße. É lá que se encontra a Torre Amazon, alvo de resistência da vizinhança há anos: contra a gentrificação e a cumplicidade em genocídios.

No ano passado, houve uma participação muito animada de conjuntos habitacionais e moradores dos bairros de Friedrichshain, com a exibição de faixas, cartazes, caixas de música e fogos de artifício em varandas e telhados.

Eventos preparatórios para a manifestação de 1312

No dia 3 de dezembro, a Migrantifa realizou um workshop ‘Demo 1×1’ em Neukölln para se preparar para a manifestação de 1312, e no dia 5 de dezembro houve um evento de mobilização em solidariedade à Palestina e em apoio à manifestação de 1312 no centro comunitário Zielona Góra, na Boxhagener Platz.

Além disso, o ‘Bairro Anarquista’, que participou do acampamento de desarmamento Rheinmetall em Colônia no final de agosto de 2025, está se mobilizando por três dias em Berlim para os ‘Dias do Bairro Anarquista’, com discussões e análises sobre o tema da militarização. A manifestação de 13 de dezembro também consta na programação dos Dias do Bairro Anarquista.

E na noite anterior à manifestação, em 12 de dezembro, haverá um evento beneficente para Gaza em Friedrichshain, com apresentações ao vivo de bandas punk, seguidas de uma noite com DJ, como parte dos concertos de solidariedade mundial organizados pela iniciativa Punks Against Apartheid.

anarchists4palestine.noblogs.org

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Coral de sapos –
na lagoa sem mestre,
até o coaxar é livre.

Liberto Herrera

[França] Lançamento: “Michel Bakunin: Os Adormecidos seguiram pela Instrução Integral”, de Hugues Lenoir

Diante do tumulto dos acontecimentos atuais e do caos generalizado organizado pela exploração capitalista, torna-se urgente, se quisermos resistir às múltiplas fraudes intelectuais que nos atacam, recorrer aos pensadores mais capazes de fornecer as chaves mais eficazes para o entendimento.

Entre esses clarividentes, mas será que realmente é uma surpresa, está Bakunin.

Na série de artigos contida neste curto volume, esse incansável denunciador desmonta – diria-se que hoje desmistifica – o papel obscuro da suposta burguesia esclarecida de sua época, bem como o funcionamento opressor e a educação mantido para garantir sua sustentabilidade.

Ainda é necessário distinguir entre o que, nos escritos de Bakunin, pertence ao contexto particular do século XIX, no qual a ocorrência de uma revolução social era mais do que plausível, e o que pertence ao nosso próprio presente, onde o retorno de forças reacionárias e obscurantistas parece impossível de conter.

É a esta obra, como leitor atento dos textos fundadores do anarquismo, que Hugues Lenoir apresenta aqui: os comentários que ele insere alternadamente com o texto original destacam, por sua vez, a ironia com que o revolucionário russo gratifica a eterna burguesia estupidez e sua convicção de que, em assuntos científicos, certas disciplinas não têm outra função senão justificar desigualdades econômicas.

Em resumo, um livro essencial para falar fluentemente com Bakunin!

Michel Bakounine: Les Endormeurs suivis de l’Instruction integrale

Autor: Hugues Lenoir

132 p., €10

editions.federation-anarchiste.org

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A gota que cai
É a chuva de lágrimas
Em minha solidão.

Claude Huss Natividade

[México] “Com o fogo nas mãos e a vingança no olhar, sempre”.

No dia de hoje (09/12), Yorch, Jorge Esquivel, preso político, anarquista, ativista da Okupa Che [Cidade do México], transcendeu.

Depois de ser perseguido pelo Estado e suas instituições, em cumplicidade com parte da casta universitária, hoje travou sua última batalha. 

Primeiro foi detido em 2016, depois de ser torturado pela polícia da Cidade do México, foi entregue ao MP, lhe inventaram uma acusação por tráfico de drogas, nunca foi comprovado nada, assim que conseguiu sair. Em 2022, aconteceu exatamente o mesmo. Pessoas à paisana o detiveram no mesmo lugar, fabricaram o mesmo caso, apesar das irregularidades e contradições, o condenaram a 7 anos e 6 meses em junho de 2024.

Sua saúde se deteriorou no cárcere, as autoridades não lhe deram a atenção médica que necessitava, sua negligência e falsas acusações terminaram com ele.

“Com o fogo nas mãos e a vingança no olhar, sempre”.

Kamilt

Tradução > Sol de Abril

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Pássaro ligeiro
Come o pêssego maduro
Antes de mim.

Roseli Inez Jagiello

[EUA] Marcha de 12 dias em homenagem a Mumia Abu-Jamal termina no SCI Mahanoy.

“Libertem Mumia!”, gritavam cerca de 150 pessoas na terça-feira (09/12), ao concluírem a Marcha por Mumia, uma marcha de 166 quilômetros que visava conscientizar a população sobre a importância do atendimento médico em presídios e para dar visibilidade aos desafios de saúde e à negligência médica que Mumia Abu-Jamal enfrenta.

A marcha de 12 dias e 166 quilômetros (103 milhas) começou na Filadélfia em 28 de novembro e terminou em Frackville, Pensilvânia, em frente do Instituto Correcional Estadual (SCI) Mahanoy, onde Mumia está detido, e com mais de 65 pessoas caminhando os últimos cinco quilômetros (três milhas). O dia 9 de dezembro também marcou o 44º aniversário do incidente que levou ao seu sofrimento.

Em 9 de dezembro de 1981, o policial da Filadélfia Daniel Faulkner foi morto em um incidente que envolveu várias pessoas. Mumia foi baleado e quase morto no incidente, sendo acusado pela morte de Faulkner. Ele foi condenado em 3 de julho de 1982 e inicialmente sentenciado à morte. Sua sentença de morte foi posteriormente anulada e alterada para prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional.

Mumia e seus advogados têm lutado para incluir nos autos do processo provas que demonstrem sua inocência. Nenhum juiz, até o momento, permitiu a apresentação dessas provas.

Manifestações simultâneas: Libertem Mumia!

Em Berlim, também na terça-feira (09/12), aproximadamente 40 pessoas se manifestaram em frente à Embaixada dos EUA na Pariser Platz em solidariedade a Mumia Abu-Jamal. Assim como em Berna, Londres e Cidade do México, em frente às missões diplomáticas americanas. Um protesto semelhante já havia ocorrido em Paris, em frente à Embaixada dos EUA, na quarta-feira (03/12).

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agência de notícias anarquistas-ana

Vermelho céu manchado
Sombras em seus lugares
Lua aparece.

Chang Yi Wei

[Reino Unido] Ecos de Oscar Wilde

O escritor, cuja morte foi há 125 anos, nesta data, defendeu a individualidade criativa livre contra todas as formas de tirania social

Maurice Schuhmann ~

Em 30 de novembro de 1900, o irlandês, escritor, poeta e autor de peças teatrais, Oscar Wilde (n. 1854) morre no exílio, em Paris, França. A sua sepultura, que fica no prestigioso cemitério Père Lachaise Cemetery, onde o anarquista ucraniano Nestor Makhno, bem como o genro de Karl Marx, Paul Lafargue e a sua esposa, Laura, também descansam, se tornou, do mesmo modo que a lápide do vocalista do The Doors, Jim Morrison, local de uma espécie de peregrinação de fãs.

Wilde foi forçado ao exílio, em 1897, logo após a sua soltura da prisão de Reading. As razões para isso eram sociais, legais e pessoais, tornando a vida na Inglaterra praticamente impossível. Morreu completamente empobrecido, em um hotel barato no 6º distrito de Paris. Antes disso, tinha sido sentenciado a dois anos de trabalhos forçados, a punição máxima, na época, para a homossexualidade, “o amor que não ousa dizer o seu nome”. Ele processou o seu tempo na prisão em duas obras: De Profundis e A balada de Reading Gaol. Enquanto o primeiro texto é bem pessoal, um texto essencialmente apolítico, o último contém a dimensão política. A sua balada é a condenação crítica social e poética do sistema penal e uma expressão de solidariedade humana, o que a torna relevante para as críticas anarquistas ao encarceramento.

A frase “o amor que não ousa dizer o seu nome” (the love that dare not speak its name), que ele usou no seu famoso discurso da sala do tribunal, que não serviu para exonerá-lo, e que logo foi retomado pelo anarquista alemão-escocês John Henry Mackay. Usando pseudônimo Sagitta, Mackay publicou o seu Livros do Amor Sem Nome (Books of the Nameless Love), iniciando uma tradição de literatura homoerótica na Alemanha (da perspectiva contemporânea, os trabalhos de Mackay precisam ser avaliados criticamente, já que incluem, entre outros conteúdos, passagens de pedofilia).

Oscar Wilde era, no fundo, anarquista, por defender o indivíduo livre e criativo contra todas as formas de tirania da sociedade. É essencialmente o que Emma Goldman afirma, no seu ensaio “O significado social do drama moderno” (The Social Significance of the Modern Drama). Ela se refere ao seu texto A alma do Homem sob o Socialismo (The Soul of Men under Socialism), vendo, nele, uma defesa consistente do anarquismo individualista. É, portanto, pouco surpreendente que Goldman, fortemente influenciada, à época, por Friedrich Nietzsche e Max Stirner, traduziu esse texto ao alemão, usando vocabulário stirneriano e nietzscheano. Essa tradução continua a ser editada no mundo de fala alemã de hoje, modelando a interpretação referenciada por Emma Goldman.

Em A Alma do Homem sob o Socialismo, Wilde argumenta que a verdadeira liberdade individual somente é possível em uma sociedade que priorize a criatividade, a autorrealização e a cooperação voluntária, no lugar da propriedade e da coerção. Critica tanto o capitalismo e a filantropia caridosa, pois ambas perpetuam, em vez de eliminar, a pobreza. Para ele, o Estado parece ser a força central de opressão, impedindo o indivíduo de realizar o seu potencial artístico e moral. Wilde, portanto, não concebe o socialismo como controle estatal, mas como um sistema que provê para todas as pessoas, com lazer e liberdade de interação criativa. Tal libertação das limitações da pobreza e da própria pobreza, na sua visão, levaria à maior individualidade, felicidade aumentada e uma sociedade verdadeiramente humana.

As palavras que introduzem a obra, “Não vale nem à pena olhar para um mapa do mundo que não inclua a Utopia.” (A map of the world that does not include Utopia is not worth even glancing at.), provavelmente o trecho mais citado de toda a obra de Wilde, e que continua a encantar não só aos anarquistas. O aniversário da sua morte é, mais uma vez, boa ocasião para revisitar a sua obra literária de uma perspectiva anarquista, e não só “O retrato de Dorian Gray”.

Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/11/30/anarchist-echoes-of-oscar-wilde/

Tradução > CF Puig

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agência de notícias anarquistas-ana

a luz do poente
escala a alta montanha;
no cume será a noite.

Alaor Chaves

[Bélgica] “Viver sem polícia”: encontro com Victor Collet

Olá,

Temos o prazer de convidar para quarta-feira, 10 de dezembro, às 19h, para a apresentação do livro Vivre sans police [Viver sem polícia], na presença do autor, Victor Collet. Publicado pela Agone Editions, o livro, em francês, revisita a história recente do distrito de Exarchia em Atenas, epicentro dos grandes distúrbios de dezembro de 2008 após a morte do jovem Alexis Grigoropoulos (de 15 anos), assassinado pela polícia nas ruas desse distrito.

Misturando memórias militantes e análises históricas, Victor Collet oferece um ponto de vista situado, comprometido e consciente de uma experiência única de revolta popularEm que vemos como, em meio a uma crise, o antifascismo está se reinventando.

“Um paraíso para anarquistas, paraíso para anarcoturistas, zoológico de tumultos para jovens perdidos, distrito de resistência ou insurreição contra a ditadura dos coronéis, da revolta e dos amotinados após dezembro de 2008, distrito de intelectuais, cantinho trabalhoso de artesãos, editoras, livreiros, impressores, luthiers, um bairro pacífico e colorido, comercial e festivo, “contracultural” ou “alternativo”, cada vez mais na moda, gentrificado, abordado e depois invadido por turistas ao anoitecer, bairro de todos os refugiados, de sem-teto e de exilados, antifascistas e arruaceiros do AEK Atenas, traficantes e mafiosos, koukouloforoi (jovens encapuzados delinquentes), bairro de todas as saídas, esvaziado pelo Airbnb, mercantilização ou folclore militante, um distrito de assembleias e de disputas intermináveis entre grupos militantes, em agonia diante da sua militarização, sufocados por barreiras metálicas e projetos de planejamento urbano delirantes, o coração da cidade e o lugar catártico de uma política do bairro, da capital, do país.

“Descrever Exarchia, o distrito de toda hipérbole, uma versão miniatura (e extrema) dos conflitos nacionais, e das fantasias e projeções da elite militante internacional… É melhor desistir imediatamente. Mas não é da natureza dos mitos escapar de tentativas de monopolização? Não nos deixar confinar ou reduzir a uma definição, uma dimensão e uma direção que respondam aos interesses? Uma vizinhança, por mais polimorfa que seja, não é tão fácil de capturar. No fim das contas, é melhor escolher um ponto de vista e, por que não, o meu?”

Como um bairro pode se libertar do controle policial por uma década inteira? Victor Collet nos guia por Exarchia, as suas ocupações, violência, solidariedade, esperanças frustradas, vitórias… Para nos mostrar as possibilidades que existem quando as pessoas conseguem enfrentar o fascismo, seja ele militante, estatal ou ambos.

Ele consegue escrever a história singular de um país cujas crises viveu, inserindo-a na história mais ampla das cidades que resistem, a todo custo, a todas as formas de opressão. Embora a narrativa grega possa ser lida como uma narrativa de antecipação, em muitos aspectos, ela também dá motivos para esperança. Compreender Exarchia é entender o que funcionou, vislumbrar o que poderia ter funcionado e se inspirar nas razões para a impossibilidade de permanecer uma ilha imune à lógica da opressão, para, talvez, recriar redes de solidariedade em outros lugares.

Veja online: librairie-par-chemins.be

“Viver sem polícia”: encontro com Victor Collet

Quarta-feira, 10 de dezembro de 2025, 19h00 – 21h00 iCal

Librairie Par Chemins,

rue Berthelot 116

1190 Forest

Tradução > CF Puig

agência de notícias anarquistas-ana

Flor esta
De pura sensação
Floresta.

Kleber Costa