[Espanha] Redes Libertárias entrevista o Ateneu Al Margen

Redes Libertárias (RRLL): Quando surge o Ateneu Al Margen?

Ateneu Al Margen (AAM): Embora o Ateneu tenha começado a programar atividades abertas ao público a partir de 1986, o projeto já estava sendo concretizado nos anos anteriores. Como primeira referência, pode-se citar a realização da Semana Cultural da CNT (Cine Alameda, 1980) por um grupo de militantes anarcossindicalistas de Valência, cujo núcleo organizativo também estaria presente no nascimento da Rádio Klara em 1982. Os impulsores dessas iniciativas entraram em contato com outras pessoas do campo libertário valenciano (algumas da CNT, outras não) com o objetivo de fortalecer o coletivo e dotá-lo de um espaço estável e amplo, onde pudessem ser desenvolvidas o maior número possível de atividades culturais e artísticas, ao mesmo tempo em que servisse de espaço para a difusão das ideias anarquistas.
Após várias reuniões preparatórias, começaram a ser dados passos para consolidar o projeto, foram definidas as contribuições dos aderentes, criadas comissões de trabalho e, em 1984, já foi adquirido um imóvel no centro histórico da cidade (muito próximo da planta baixa atual) e iniciadas as obras para adaptá-lo às necessidades do centro ou café cultural que se tinha previsto. No entanto, para seu registro e legalização, foi utilizada a denominação de Associação Cultural Estudos, sendo alterada logo depois para Al Margen; assim se manteve até hoje, embora a nível interno e para a programação ou relações com outros grupos, tenha sido decidido utilizar a figura de ateneu libertário.

Quanto ao surgimento da revista Al Margen, que vem sendo publicada ininterruptamente desde 1992, é importante lembrar que seu nascimento ocorreu a partir de um encontro-jantar da militância libertária que o Ateneu convocou em seu 5º Aniversário; desse encontro surgiram iniciativas como o lançamento de uma publicação periódica de debate e reflexão sobre o anarquismo, a criação de uma caixa alternativa para financiar projetos de interesse social ou a reivindicação da memória de Valentín González, trabalhador afiliado à CNT assassinado anos antes na greve do Mercado de Abastos.

RRLL: Quais objetivos vocês estabeleceram?

AAM: Os objetivos desde o início eram dotar-nos de um local e recursos amplos o suficiente para manter o espaço aberto a todo tipo de propostas vanguardistas e críticas ao sistema político e cultural, além de contar com uma boa biblioteca, um arquivo histórico, salas de reunião, um café para as conversas e uma sala multiuso com capacidade suficiente para realizar exposições, teatro, conferências, recitais e outros eventos que surgissem.
É evidente que o projeto inicial era muito ambicioso e que se sabia que nem todos que participaram das primeiras jantas e reuniões se incorporariam à dinâmica de trabalho militante, mas o fato é que, ao ter resistido por quarenta anos e ver em perspectiva tudo o que foi feito, podemos valorizar positivamente a trajetória de Al Margen como coletivo libertário e pensar que algo contribuímos para a renovação e difusão das ideias anarquistas.
Resumindo, dessa trajetória destacam-se a infinidade de atividades realizadas em nossos dois locais sucessivos, os 132 números da revista, a quarentena de livros publicados pela Ediciones Al Margen, nossa participação em programas da Rádio Klara e Rádio Malva, em feiras de livros anarquistas, em mobilizações sociais, etc.
Em definitiva, acreditamos que valeu a pena e, mais importante ainda, que desfrutamos e criamos um grupo de afinidade com uma forte carga afetiva.

RRLL: Quais são os objetivos prioritários?

AAM: Nossas prioridades hoje em dia são resistir ao máximo com o projeto e prolongar nossa permanência pessoal até que as forças permitam. Isso e manter braços e portas abertas para qualquer pessoa jovem que tenha a intenção de se unir ao coletivo e contribuir com suas ideias e ilusões para um futuro que se prevê complexo. De fato, nos últimos meses houve a incorporação de várias pessoas jovens, com as quais procuramos sintonizar para dar continuidade ao ateneu.
Nessa linha, e considerando a escassez de forças e recursos, nossos compromissos atuais incluem manter e melhorar a revista – ampliando o número de colaboradores e leitores -, ir editando alguns livros – tanto textos clássicos do anarquismo como novos trabalhos de pessoas próximas -, e continuar com as atividades habituais de palestras, exposições, poesia, cinema, etc. Também não renunciamos, apesar das reiteradas decepções e frustrações, ao desejo de alcançar uma relação maior e mais fluida entre as múltiplas visões e realidades do movimento libertário, tanto local quanto internacional.

RRLL: Para quem são direcionadas suas atividades?

AAM: Quando programamos uma atividade, nos dirigimos, através de redes sociais e rádios livres, ao maior número possível de destinatários, sabendo logicamente que serão as pessoas mais próximas de nossas ideias as que estarão interessadas. Da mesma forma, fazemos sempre que publicamos um livro ou um novo número da revista.

Mas geralmente são as pessoas que mantêm uma certa relação histórica com o ateneu ou que, em algum momento, colaboraram em nossas atividades que melhor respondem às nossas convocatórias.
Quanto a contatos mais permanentes e colaborações, contamos com os coletivos com os quais tradicionalmente mantemos uma linha de trocas e apoio: rádios livres, ecologistas, feministas, editoras, revistas alternativas, outros ateneus e espaços libertários.
Também temos entre nossos seguidores um bom número de escritores, poetas, pintores, músicos, livreiros, desenhistas, etc., que nos ajudam quando solicitamos.

RRLL: Quais meios de divulgação vocês utilizam?

AAM: Como já foi dito em algum trecho anterior, não descartamos, a priori, nenhum meio de divulgação para nossas convocatórias, embora seja verdade que, com o passar dos anos, temos apostado nos mais eficazes e acessíveis. De fato, nos primeiros anos, costumávamos enviar nossas notas sobre atividades também para rádios e jornais convencionais (Levante, RNE, Cartelera Turia, etc.), mas acabamos nos concentrando nos meios mais próximos e acessíveis: rádios livres, nosso site e redes sociais, grupos de WhatsApp, blogs, publicação de eventos, etc.

RRLL: Contem-nos sobre as características da sua revista

AAM: A revista Al Margen foi mudando com o tempo. No início, era um pequeno boletim com cerca de 12 páginas, sem cores nem fotos, mas progressivamente fomos adicionando páginas (até 32, 36 ou 40, dependendo dos materiais recebidos), duas cores na capa e contracapa, fotos, etc.
Temos várias seções fixas: editorial, poesia, resenha de livros ou filmes, humor (A tapia e Ecos de sujidade), fotos, sindicalismo, notícias e convocatórias de movimentos sociais (El embudo), frases célebres e catálogo das nossas publicações. Desde o nº 30, incluímos um dossiê sobre algum tema de interesse. Além disso, contamos com colaborações fixas em temas como feminismo, ateísmo, ecologia e outros.
A periodicidade, desde o início, é trimestral, o que nos obriga a manter um compromisso e um ritmo determinado de trabalho: escolha do próximo tema para o dossiê, difusão temática proposta, solicitação de colaborações, pedidos de fotos e desenhos para capa e ilustrações internas, diagramação, correções, impressão e, finalmente, distribuição aos pontos de venda e assinantes.

RRLL: A revista ocupa um lugar prioritário?

AAM: Nem sempre foi assim, mas atualmente, provavelmente, é à revista que mais tempo e recursos dedicamos. No entanto, continuam sendo realizadas outras atividades e, quando surge um tema que exige maior dedicação e esforço, ele é tratado.
Se tivesse sido mantido o nível de militância dos primeiros tempos, é muito provável que outras temáticas (presos, biblioteca, memória histórica, distribuidora, antirracismo, etc.) recebessem maior atenção.

RRLL: Quais colaborações poderiam ser feitas entre grupos e publicações anarquistas?

AAM: Em sintonia com o que foi exposto nas respostas anteriores, consideramos muito interessante a colaboração e o intercâmbio de ideias e trabalhos com outros grupos e publicações, mas, conhecendo nossos limites, não nos atreveríamos a grandes projetos nos quais, infelizmente, acabaríamos não cumprindo com os compromissos assumidos. No entanto, até onde pudermos, estamos abertos a colaborar em debates, encontros ou palestras que possam ser gerados com Redes Libertárias e com os outros espaços e publicações de nosso entorno.

Fonte: https://acracia.org/redes-libertarias-entrevista-al-ateneo-al-margen/

Tradução > Liberto

Conteúdo relacionado:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2021/05/03/espanha-ateneu-libertario-al-margen-de-valencia-35-anos-perseguindo-a-utopia/

agência de notícias anarquistas-ana

Longa chuvarada…
Nos matos e nas lagoas,
um canto de vida.

Humberto del Maestro

[França] Vídeo | Marselha: um carnaval popular e rebelde

Neste fim de semana, em Marselha, mais de 13.000 pessoas participaram do Carnaval de la Plaine, uma grande festa de rua autogerida e comprometida.

Para esta 25ª edição, o Carnaval aconteceu em dois dias: uma primeira fogueira iluminou a noite no sábado, 15 de março, à noite, depois um desfile de rua aconteceu no domingo, 16. Fantasias coloridas, corais, máscaras, carros alegóricos e slogans contra a repressão e a extrema direita encheram as ruas.

Uma réplica de carro de polícia e grandes cabeças simbolizando os opressores pegaram fogo na noite de domingo, enquanto a multidão dançava e cantava ao redor da fogueira. Como sempre acontece, a polícia chegou para estragar a festa por volta das 22h, usando granadas e um canhão de água antes de entrar em ação. Mas eles não conseguiram impedir que a festa selvagem e coletiva que acabara de acontecer fosse um sucesso.

Desde seus primórdios, o carnaval tem sido um momento para o povo desabafar, se revoltar e derrubar valores estabelecidos. Um falso “rei” temporário é nomeado, as pessoas se vestem, gêneros e papéis são invertidos, eles celebram e ídolos são queimados. O capitalismo contemporâneo destruiu o significado dos carnavais, que se tornaram procissões regimentadas, turísticas e sinistras, controladas pelo Estado.

Como acontece todos os anos, o Carnaval de Marselha traz à tona a verdadeira tradição do Carnaval: um momento de alegria e irreverência. E, apesar das ameaças das autoridades, nunca houve tantas pessoas no Carnaval de la Plaine. E se esse tipo de carnaval popular e rebelde florescesse em todos os lugares?

>> Veja o vídeo aqui:

https://contre-attaque.net/2025/03/18/marseille-carnaval-populaire-et-revolte-2/

agência de notícias anarquistas-ana

Árvore sem frutos
ainda é uma árvore:
frutifica sombra.

Isaac

[Itália] Não aos megaprojetos de devastação – Vamos parar o porto de cruzeiros em Fiumicino!

Bilancione Occupato é um pedaço do nosso coração. O Bilancione é muito mais do que um espaço físico: é um lugar de agregação, cultura e resistência, um ponto de luta que, ao longo desses anos, tem sido um ponto de referência para o território de Fiumicino e para aqueles que vivem de relações baseadas na autogestão e na solidariedade.

O porto de cruzeiros de Fiumicino, promovido pela Royal Caribbean, é uma ameaça à vida do mar e das pessoas.

Mais uma vez, por trás da retórica do “desenvolvimento”, se esconde a mesma lógica predatória: concreto, poluição e especulação em benefício de poucos, em detrimento de todos. Este mega projeto transformará a costa em uma enorme infraestrutura turística, apagando a vida. Os lucros das multinacionais de cruzeiros virão à custa de um ecossistema comprometido, da erosão costeira e da poluição marinha e atmosférica, como já ocorreu em muitos outros portos do Mediterrâneo.

Nosso NÃO ao porto de cruzeiros em Fiumicino se reflete na luta.

Mantenham as mãos longe do Bilancione!

Nos vemos lado a lado em Fiumicino.

L38SQUAT

33 anos de ocupação, 33 anos de autogestão

l38squat.noblogs.org

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Muro de parquinho –
Pequena abelha descansa
sobre a flor pintada.

Teruko Oda

[França] Niort – Série de incêndios: 15 carros da burguesia são colocados fora de serviço

Mas o que acontecerá com o proletário sem seu Tesla?

Entre 14 de setembro de 2024 e 18 de março de 2025, para atrapalhar a vida cotidiana da pequena burguesia, ou pelo menos de indivíduos que se comportam como tal, 15 de seus carros foram incendiados na região de Niort.

Nenhum desses veículos pegou fogo acidentalmente, como os “jornais” La Nouvelle République e Ouest-France escreveram em seus artigos.

Obviamente, é muito mais cômodo para os “jornalistas” transmitir as mentiras da polícia em vez de fazer perguntas sobre uma série curiosa de incêndios envolvendo exclusivamente veículos de luxo…

2 Tesla – 18 março 2025 – Rue de Gabiel, Chauray

Tesla Model 3 – 10 março 2025 – Route d’Aiffres, Niort

Porsche Cayenne – 21 fevereiro 2025 – Rue Brin-sur-Seille, Niort

Tesla Model Y – 30 dezembro 2024 – Place Georges Renon, Niort

Tesla Model S – 28 novembro 2024 – Avenue Léo Lagrange, Niort

Tesla Model 3 – 24 novembro 2024 – Rue de l’Industrie, Niort

Tesla Model 3 – 18 novembr0 2024 – Boulevard Charles Baudelaire, Niort

Porsche Macan – 12 novembr0 2024 – Rue Pierre Poisson, Niort

Tesla Model 3 – 28 outubro 2024 – Rue de Gabiel, Chauray

Aston Martin – 22 outubro 2024 – Avenue de Limoges, Niort

Tesla Model Y – 21 outubro 2024 – Rue de l’Industrie, Niort

Tesla Model 3 – 15 outubro 2024 – Avenue de Limoges, Niort

Tesla Model 3 – 7 outubro 2024 – Avenue Saint-Jean d’Angély, Niort

Tesla – 15 setembro 2024 – Route d’Aiffres, Niort

– Porque a luta contra a burguesia não tem limites.

– Porque a ação direta é mais do que necessária neste mundo.

– Porque as ações sempre serão mais eficazes do que as palavras.

Dica:

Às vezes, é mais seguro queimar 12 Tesla’s em 12 noites do que em uma.

Apoio a todos os companheiros que estão lutando contra os parasitas desta sociedade: o Estado, os capitalistas, seus cães de guarda… e aqueles que os apoiam.

A luta continua.

Anarquistas

Fonte: https://nantes.indymedia.org/posts/141862/serie-dincendies-a-niort-15-voitures-de-bourgeois-mis-hors-service/

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Num pesado embalo
alguém traz a cerejeira –
Noite de luar.

Suzuki Michihiko

[Espanha] Novidade editorial: “Escuela Eliseo Reclús. Una experiencia de educación autogestionada”, de Félix Carrasquer

A presente obra é uma tentativa de recuperar do esquecimento parte de nossa cultura libertária e um fragmento das correntes não autoritárias no âmbito da pedagogia. A escola Eliseo Reclús foi uma das escolas baseadas em ditas correntes. Poderemos encontrar a cotidianidade deste projeto revolucionário, os obstáculos com os quais se toparam, a metodologia desenvolvida por seus próprios protagonistas, quer dizer, as alunas/os e os impulsionadores do mesmo projeto.

Escuela Eliseo Reclús. Una experiencia de educación autogestionada

ISBN:978-84-16553-05-1

Coleção: Pedagogies

Autor: Félix Carrasquer

Páginas: 230

Preço 7,00 €

descontrol.cat

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Ao sol da manhã,
Imóvel como se dormisse,
A coruja no fio.

Paulo Franchetti

[Chile] Deveria estar na rua faz 2 anos: Marcelo Villarroel cumpre 17 anos na prisão

Por La Zarzamora

Este 15 de março Marcelo Villarroel preso subversivo antiautoritário cumpriu 17 anos na prisão efetiva, após ser condenado no ano de 2014 a 14 anos por dois assaltos bancários, condenação que se cumpriu em 16 de dezembro de 2023, no entanto o Estado o mantêm ainda no sequestro carcerário.

Com múltiplas atividades e ações de solidariedade diversos grupos de afinidade se solidarizaram com a atual situação que enfrenta o companheiro, que deveria já estar na rua faz 1 ano e 3 meses, não obstante o aparato jurídico do Poder ignora sua própria legalidade, fazendo caso omisso ao cumprimento destas condenações e impondo-lhe sentenças emitidas pela isenta e nefasta promotoria militar, que segundo o poder já não está ativa, mas que segue sendo utilizada para manter Marcelo no confinamento.

UMA BREVE PASSAGEM POR SUA HISTÓRIA

Marcelo Villarroel companheiro que aos 13 anos parte em seu caminho no Movimento Juvenil Lautaro orgânico com o qual posteriormente rompe 10 anos depois, adentrando nas perspectivas autônomas não hierarquizadas e ideias anárquicas. Desde muito jovem vive o encarceramento graças a sua ativa participação no combate urbano contra a ditadura e a pós-ditadura.

Na prisão faz parte do Kolectivo Kamina Libre, um coletivo anticarcerário que aprofunda os questionamentos sobre a horizontalidade, o cárcere ativo, a compreensão de estar inserido na sociedade carcerária mais além dos muros das prisões, o consumo de animais, entre outras reflexões, tudo acompanhado de publicações caracterizadas por suas gráficas,  compostas por desenhos dos mesmos companheiros prisioneiros.

A etapa atual de encarceramento se inicia após o assalto ao Banco Security onde morre o paco [polícia] Moyano, o qual gera uma perseguição midiática, política e judicial contra um grupo de companheiros que tinham um longo histórico de combate. Esta campanha persecutória culmina com a detenção de Marcelo Villarroel e outros companheiros do outro lado da cordilheira em 15 de março de 2008.

Em 16 de dezembro de 2009 Marcelo foi expulso da Argentina depois de 21 meses de confinamento passando por diferentes unidades de detenção da província de Neuquén, ficando assim a disposição da jurisdição $hilena. Desde então permaneceu na prisão, mas sempre ativo fazendo parte do exterior mediante seus escritos, palavras, gráficas, e música, entre outros, que acompanham atividades, experiências e também fatos e despedidas que marcaram os últimos anos da ofensiva anárquica.

A NECESSIDADE IMPERANTE

A manutenção destas condenações emitidas pela nefasta justiça militar é uma aberração que não se sustenta nem sequer sob os mesmos parâmetros legais da justiça burguesa, pelo que a equipe jurídica do companheiro se mantêm ferreamente no esforço de conseguir a anulação destas.

Sob o atual contexto de agudização do confinamento e o isolamento carcerário, a situação do companheiro se torna urgente e primordial na luta contra a sociedade carcerária, e sua saída à rua, uma prioridade nesta.

OS GESTOS SOLIDÁRIOS

Como forma de se solidarizar com o companheiro diversos grupos afins realizaram atividades informativas sobre sua situação. A Red Solidaria Antikarcelaria «Marcelo Villarroel a la kalle» (★RSAMVALK) fez uma nova declaração de apoio, junto a um conjunto de cartazes grandes e panfletos como parte da agitação e propaganda necessária neste contexto. Além de Santiago o Espaço recuperado La Kopa (comuna de La Granja) realizou uma jornada pela anulação das condenações da promotoria militar, na qual houve intervenções teatrais, música ao vivo e uma mesa redonda sobre a situação legal de Marcelo. Também contou com a transmissão ao vivo da jornada por parte da Rádio Última Frecuencia, amplificada simultaneamente por Axolote rádio (Mx), Rádio Lafkenche de San Antonio e Rádio La Zarzamora. 

Desde as redes de apoio de Buenos Aires, Argentina e desde a Península Ibérica, enviaram saudações em solidariedade com a situação do companheiro.

De igual maneira no Tattoo Circus de Torino, Itália, se realizou a apresentação de Kamina Libre, Livro no marco da campanha internacionalista pela anulação das condenações da justiça militar, e igualmente desde diversos territórios se realizaram gráficas, gestos solidários e se desenvolverão outras atividades durante as próximas semanas no marco da campanha indispensável por sua saída da prisão.

«Fazemos um chamado a manter a solidariedade ativa com Marcelo, companheiro que não claudicou e que apesar das múltiplas adversidades próprias da sociedade carcerária, continua sendo um aporte concreto à luta antiautoritária, mantendo uma sintonia explícita com a rua, jamais em silêncio e aquilo se deve destacar.» ★RSAMVALK

É vital enunciar o relevante deste ano na resolução jurídica da situação do companheiro e desde aí a importância de redobrar os gestos e atos tendentes a difundir, agitar, aportar e propagar, estendendo sua luta como parte de uma luta coletiva antiautoritária que mantêm viva a memória de resistência pela destruição total da sociedade carcerária, mais além de meras bandeiras, através de uma história ativa que não morre.

É o momento de romper os muros da indiferença, articulando iniciativas constantes para conseguir o objetivo de tirar o companheiro da prisão, arrebatá-lo do Estado e sua institucionalidade social fascista, que ainda legitima a nefasta justiça militar de Pinochet, 35 anos depois de supostamente ter acabado a Ditadura.

Pela saída à rua agora do companheiro Marcelo Villarroel!!

A estender a Solidariedade Ativa!!

Força companheiro, o cárcere não pode ser eterno!

Fonte: lazarzamora.cl

Tradução > Sol de Abril

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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2024/12/05/semana-de-agitacao-desde-9-a-16-de-dezembro-de-2024-marcelo-villarroel-a-rua-ja/

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Enquanto agachado
Ao lado da chaleira
Como faz frio!

Naitô Jôsô

[EUA] No segundo aniversário das prisões em massa em Atlanta, vários réus do caso RICO entram com ações civis buscando indenização contra a polícia e a cidade

Diversas ações judiciais incluem acusações de prisão falsa e retaliatória, detenção ilegal e processo malicioso, em violação aos direitos da Primeira e Quarta Emenda dos requerentes

ATLANTA, GA – Nesta quarta-feira (05/03/25), completaram-se dois anos desde as prisões em massa e inconstitucionais de 23 participantes do South River Music Festival em Atlanta, acusados de envolvimento na organização política contra o Centro de Treinamento de Segurança Pública de Atlanta, conhecido como ‘Cop City’. Os 23 detidos em 5 de março de 2023 sob acusações de terrorismo doméstico ainda não foram formalmente indiciados. Em agosto de 2023, o procurador-geral da Geórgia apresentou a maior acusação baseada na lei RICO (Organizações Corruptas Influenciadas pelo Crime Organizado) já registrada no estado contra 61 pessoas, incluindo os 23 participantes do festival, devido ao seu suposto envolvimento no movimento ‘Stop Cop City’.

Nos dois anos desde as prisões, vários réus do caso RICO entraram com ações civis para cumprir o prazo de prescrição de dois anos na Geórgia. Até o momento, seis processos foram abertos com alegações que vão desde prisão falsa e retaliatória até detenção ilegal e perseguição judicial seletiva. Os réus também alegam que seus direitos sob a Primeira e Quarta Emenda foram violados no processo. Além disso, a acusação foi denunciada por gravar e divulgar comunicações confidenciais entre advogados e clientes durante a fase de descoberta de provas.

Jamie Marsicano, preso em 5 de março de 2023, entrou com um processo federal pedindo indenização contra os policiais responsáveis pelas prisões na South River Forest e contra a cidade de Atlanta por “implementar uma política ilegal e generalizada de prender e acusar de forma pretextual indivíduos percebidos como opositores do Cop City”.

Os advogados de defesa de Marsicano afirmam ter documentado diversos casos de acusações pretextuais sob essa política da cidade e argumentam que foi essa mesma política que levou à execução de Manuel Esteban Paez Terán, conhecide como ‘Tortuguita’, em 18 de janeiro de 2023.

‘A polícia nos aterrorizou’: detalhes sobre as prisões de 5 de março

Em 5 de março de 2023, mais de mil pessoas se reuniram no Weelaunee People’s Park: um espaço então público também conhecido como Intrenchment Creek Park, a cerca de um quilômetro do local de construção do Cop City, para participar do South River Music Festival, organizado como parte de uma semana de ações em apoio ao movimento Stop Cop City. Por volta das 17h30, veículos da polícia e de construtoras foram incendiados no canteiro de obras. Cerca de uma hora depois, a polícia entrou na área do festival e começou a realizar prisões indiscriminadas.

Conforme reportado pelo Mainline e The Appeal, os policiais “não se comunicaram ou deram ordens claras aos presentes, incluindo idosos e crianças.” Testemunhas relataram que os policiais “apontaram luzes e armas para dentro de um pula-pula infantil.” Naquela noite, um total de 35 pessoas foram detidas, incluindo um observador legal da National Lawyers Guild. Dessas, 23 foram presas sob acusação de terrorismo doméstico e levadas para a prisão do condado de DeKalb, onde ficaram detidas por meses sem direito a fiança. No total, 42 pessoas foram presas sob essa acusação, e até o momento, cinco foram formalmente indiciadas.

“A experiência do cativeiro é algo que nunca vou esquecer”, diz Victor Puertas, preso enquanto participava do festival e posteriormente acusado sob a lei RICO. “Tudo o que eu sabia naquele momento era que tinha sido preso de maneira extremamente violenta e acusado dos crimes mais absurdos e punitivos possíveis: terrorismo doméstico e RICO.”

Outras ações judiciais

Outro réu do caso RICO, preso em 5 de março de 2023, entrou com um processo na quarta-feira. Três réus que foram presos em 18 de janeiro de 2023, no mesmo dia em que a polícia assassinou Tortuguita, já haviam movido ações civis por prisão falsa, detenção ilegal e processo malicioso. Outra ré, Hannah Kass, foi presa em 12 de maio de 2022 após participar de um protesto no escritório da empreiteira Brasfield & Gorie, contratada para a construção do Cop City, e também entrou com um processo cível.

“Entrei com uma ação judicial porque acredito que é crucial para nós, defensores da floresta perseguidos, resistirmos à repressão autoritária do estado contra o movimento Stop Cop City”, disse Kass, que abriu seu processo em maio de 2024. “O estado deve ser responsabilizado e desencorajado de continuar usando terror policial, prisões arbitrárias, detenções ilegais, processos maliciosos e outras violações de direitos civis como ferramentas de abuso contra aqueles que discordam de suas ações.”

A experiência de Kass é apenas um exemplo de como o processo de prisão, encarceramento e espera pelo julgamento sob acusações graves teve um impacto devastador na vida de dezenas de ativistas. “Como resultado da minha prisão, sofro continuamente de estresse pós-traumático e danos à minha reputação”, continuou Kass. “Fui hospitalizada e precisei de medicação devido a crises de pânico e paranoia. Fui alvo de doxxing e assédio por parte de comentaristas e trolls da mídia de direita, e posteriormente submetide a um processo disciplinar pela minha universidade.”

Para mais informações sobre o amplo processo criminal baseado na lei RICO e maneiras de apoiar os réus e o movimento Stop Cop City, visite: weelauneethefree.org.

Tradução > Contrafatual

Conteúdo relacionado:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2024/05/17/eua-o-anarquismo-nao-deve-ser-criminalizado-declaracao-de-12-das-61-pessoas-indiciadas-por-acusacoes-da-rico-em-atlanta/

agência de notícias anarquistas-ana

Jogue estes crisântemos
E todos os que tiver
Dentro do caixão!

Sôseki

Financiamento coletivo para publicar o livro “Anarquia na era dos dinossauros”

Mas o que virá depois dos dinossauros?

O projeto

Alguns dos incontáveis disfarces usados pela Autoridade são o Capitalismo, o Estado e a Hierarquia. Mas o que virá depois dos dinossauros? A resposta: a anarquia.

Anarquia na era dos dinossauros, publicado pela Curious George Brigade e que agora ganha versão em português brasileiro pela Monstro dos Mares, é um mergulho nas crônicas da anarquia que já vive e ressoa por todo o mundo.

Das favelas da América do Sul à Resistência Francesa na Segunda Guerra Mundial, passando pelos motins no exército estadunidense na Guerra do Vietnã, Anarquia na era dos dinossauros é sobre e para os anarquistas de hoje. Defendendo a descentralização, o caos, o apoio mútuo e as asas das borboletas, entre muitas outras coisas, os textos neste livro dão vida a táticas e estratégias para uma resistência eficaz contra os dinossauros atuais.

Anarquia na era dos dinossauros

The Curious George Brigade

Monstro dos Mares

166 páginas

Papel pólen natural de 80g, orelhas de 7 cm.

Capa colorida com ilustração de Jane Herkenhoff (@jane.herkenhoff)

Tradução de DaVinci, anônimo e Monstro dos Mares

Revisão e preparação: Caronte Mayer

Diagramação: Baderna Jaime

>> Para apoiar, clique aqui:

https://www.catarse.me/era-dos-dinossauros?

agência de notícias anarquistas-ana

Menino de rua
arrastando os passos
na névoa noturna

Jorge Lescano

[Espanha] Epidemiologia e governança capitalista

UMA REFLEXÃO DE ANTONIO ESCOLAR PUJOLAR

Apresentação

Antonio Escolar Pujolar é médico de saúde pública, epidemiologista social. Nascido em Manresa (Barcelona) e criado em Alguaire, um pequeno povoado de Segría (Lleida). Licenciado em Medicina pela Universidade Autônoma de Barcelona (1976), completou sua formação MIR em Medicina Preventiva e Saúde Pública em Madrid, Talavera de la Reina e Murcia (1981).

A província de Cádiz tem sido, ao longo de quase 40 anos, seu principal espaço vital e profissional. Suas pesquisas buscam visibilizar a relação entre os determinantes sociais e a distribuição dos problemas de saúde. Seu trabalho como epidemiologista social tem sido dedicado ao estudo das desigualdades sociais em saúde e sua relação com alguns determinantes estruturais e intermediários (as políticas e o poder; o nível de estudos; dificuldade para chegar ao fim do mês; nível de privação e vulnerabilidade do bairro de residência; acesso aos serviços de saúde…)

Membro da Associação pela Defesa da Saúde Pública da Andaluzia, editor do Primeiro Relatório sobre Desigualdades Sociais e Saúde na Andaluzia, participou da organização das Jornadas sobre Desigualdades Sociais e Saúde, realizadas de forma ininterrupta na cidade de Cádiz de 2001 a 2020.

A pesquisa com a qual se sente mais à vontade como epidemiologista social está contida no livro «O Meio Social, a pedra angular», que junto com o de Beatriz Díaz «Caminho de Gibraltar», buscava compreender «as causas das causas das causas» da sobremortalidade por câncer na região de El Campo de Gibraltar.

Para xs interessadxs em conhecer as pesquisas nas quais participei:

https://www.researchgate.net/profile/Antonio-Escolar-Pujolar

«A epidemiologia é um terreno de luta de ideias, de disputa sobre como enunciar a saúde e como agir, e essa disputa obedece a interesses sociais conflitantes». Jaime Breilh

É difícil

responder o que acaba te levando à prática profissional de um epidemiologista social. Minha formação na Faculdade de Medicina e no MIR de Medicina Preventiva e Saúde Pública não apontavam nessa direção.

A epidemiologia, o ramo do conhecimento que escolhi para meu futuro desempenho profissional, constitui um âmbito particular da Saúde Pública, dedicado à medida da frequência e distribuição populacional de problemas e fenômenos de saúde, identificar seus determinantes, propor-estabelecer medidas de controle e avaliar sua eficácia e efetividade. A epidemiologia em sua etapa chamada moderna, a partir da segunda metade do século XX, consolida-se como o ramo da Saúde Pública que converte em números, quantifica, a magnitude e características dos problemas de saúde de uma população, perspectiva especialmente implementada nos países do norte global de influência anglo-saxã.

No marco de um modelo de desenvolvimento capitalista, com uma orientação empirista da ciência, enumerar da forma mais precisa possível os fenômenos de saúde nas populações e propor medidas de controle era e é fundamental para garantir sua continuidade. Os problemas de saúde nos interrogam sobre suas possíveis causas, inquietam as populações, que buscam e exigem respostas, as quais devem ser convenientemente modeladas pelo poder para evitar efeitos desestabilizadores. Conduzir o processo de investigação causal era e é fundamental para a governança do Sistema. Uma governança que não podia se permitir a aparição surpreendente de episódios epidêmicos, pandêmicos entre eles, que pudessem colocar em questão o objetivo irrenunciável do crescimento econômico e, sobretudo, revelar sua responsabilidade na gênese dos problemas de saúde.

A epidemiologia moderna

nos países do norte global não ia se enfrentar tanto a epidemias de doenças infecciosas, com exceções como a AIDS, ou a mais recente da COVID-19, quanto às consequências sobre a Saúde Pública derivadas do modelo de desenvolvimento capitalista de matriz industrial. Consequências ligadas, entre outras exposições de risco para a saúde, à introdução massiva no meio natural e nos corpos (incorporação) de centenas de milhares de substâncias químicas biocompatíveis, fossem ou não cancerígenas. Exposições de risco introduzidas extensivamente nos distintos processos industriais sustentadores do desenvolvimento capitalista e executadas nos compartimentos de exploração laboral (benzeno, cloreto de vinila…), impregnadas nos hábitos (tabagismo, …), submersas na alimentação (alimentos processados…), e/ou vertidas ao meio ambiente (contaminantes atmosféricos, águas, alimentos…). Consequências finalmente «encarnadas» nos corpos sob a forma de distintos tipos de câncer, doenças cardiovasculares, respiratórias, digestivas, musculoesqueléticas, autoimunes…, além de doenças mentais entrelaçadas com os processos de transformação das relações sociais, a destruição do comunitário e a entronização das fantasias da individualidade.

A epidemiologia moderna se situava diante de um novo perfil de morbimortalidade dominado pelas doenças crônicas, que sem reparos acabamos denominando como próprias das sociedades desenvolvidas do norte global, o preço, justificava-se, que essas sociedades deviam pagar pelo desenvolvimento capitalista, inevitáveis se queríamos desfrutar do bem-estar que, apesar de tudo, destilava o capitalismo. Negando a existência de modelos econômicos e sociais alternativos, as populações do norte global deviam assumir em prol do progresso econômico exposições e riscos para a saúde. Assim o acabaram aceitando as populações do norte global e a comunidade científica, a qual, majoritária e adequadamente disciplinada pela indústria farmacêutica e pelas prioridades de financiamento, concentrou seus esforços investigativos na busca de soluções terapêuticas que permitissem, mais que a cura, a cronificação dos processos patológicos, com o que assim se garantia a continuidade do fluxo de dividendos e bônus entre acionistas e diretores. A epidemiologia convencional, embora com um menor protagonismo, acompanhou esse caminho, encarregando-se de encontrar as soluções adequadas para manter a frequência das doenças do novo perfil dentro de limites «normais», mas sem questionar a radicalidade de suas causas.

ENQUANTO ISSO

grande parte da população do sul global ia ser submetida a partir dos anos 80, e após uma descolonização aparente, ao papel de ator secundário que a nova globalização de orientação neoliberal lhes havia reservado. Privados de direitos trabalhistas e garantias ambientais, sua incorporação aos processos de manufatura de bens de consumo destinados aos mercados do norte e sul global ia conduzi-los, após os correspondentes períodos de latência (tempo entre as exposições e a doença), a somar seus corpos aos novos perfis de morbimortalidade das sociedades ocidentais desenvolvidas, mas sem dispor de recursos amortizadores suficientes para enfrentar suas consequências. Perfil que, em muitos territórios, sobretudo africanos, ia conviver com seus panoramas prévios de morbimortalidade próprios das doenças infecciosas.

O Sistema precisava levar uma boa contabilidade de doenças e mortes. Mas não valia qualquer contabilidade, pois os problemas de saúde podem ser contados (numerados) e contados (relatados) de diversas maneiras. A metodologia que se impôs, tanto no relato quanto na quantificação, dissecava os fenômenos de saúde mostrando os elementos causais mais próximos à doença, ao mesmo tempo que se ocultavam e ignoravam os elementos que poderiam ter iniciado a cadeia causal, os distais. Estudos específicos e sistemas de vigilância epidemiológica assumiriam essa abordagem, favorecendo, entre outras iniciativas, a criação e exploração de bases de dados nas quais os elementos individuais, comportamentais e/ou biológicos, fossem os protagonistas destacados.

FUNDAMENTALMENTE

a epidemiologia moderna concentrou a busca dos determinantes da saúde em: 1º) os comportamentos individuais, os chamados estilos de vida, 2º) o funcionamento de nossa biologia (marcadores celulares e moleculares), e 3º) o funcionamento dos serviços de saúde (qualidade, acessibilidade, cobertura). A partir de abordagens analíticas de uma progressiva complexidade matemático-estatística, a epidemiologia forneceu um extenso catálogo de “fatores de risco” de cunho individual. Desse catálogo extrai-se a tríade preventiva: 1º.) deixar de fumar, 2º) praticar exercício físico e 3º) aumentar o consumo de frutas e verduras, tríade convertida na principal guia de uma vida saudável, guia assumida pela população geral e pelos profissionais de saúde, e proclamada de forma incansável pelos meios de comunicação. Uma estratégia geradora de mais desigualdade, dado que o seguimento da norma saudável ignora sua determinação social, com o que aqueles indivíduos pertencentes a grupos e classes sociais com melhores condições de vida, em suma, com mais capacidade de decisão, podem adotá-la com mais facilidade. Os dados mostram, com muito poucas exceções, um gradiente social negativo na distribuição da tríade saudável.

Uma sofisticada riqueza «metodológica» nas análises, da qual se presume em congressos e reuniões científicas, frente a uma pobreza epistemológica esmagadora. Aprisionados sob toneladas de dados, dedica-se mais tempo ao trato dos mesmos que à ação direta dirigida a dar soluções efetivas aos problemas analisados. Apesar de seu fracasso objetivo, a estratégia de promoção da saúde centrada nos estilos de vida, e não nas condições e modos de vida, acabou se impondo.

PARA O SISTEMA

era e é fundamental colocar o foco causal do «adoecer» no plano individual dos comportamentos, invisibilizando simultaneamente os contextos nos quais estes se produzem. Uma abordagem que situa o indivíduo como único responsável pelo problema de saúde. Amputados de seus contextos sociais, só «conta» o que nos digam os parâmetros biológicos ou comportamentais. Os afetados por um problema de saúde são culpabilizados por não terem sido capazes de cumprir a norma saudável, uma culpa que se prolonga o não comparecimento aos serviços de saúde para obter conselho preventivo ou um diagnóstico. Vítimas convertidas em culpadas, enquanto os verdadeiros culpados se ocultam na culpa alheia. Um panorama ideal para os que definem as regras da «normalidade», os detentores do poder.

A conservação da saúde e a prevenção da doença se convertem, na atual etapa do capitalismo neoliberal, em um projeto de gestão empresarial, a gestão do EU saudável se incorpora à do EU empreendedor. Uma gestão sustentada em dois pilares: o seguimento da guia saudável e o contato regular com o sistema de cuidados de saúde. O compromisso de produtividade exigido pelo Sistema para a obtenção de mais-valias se estende ao âmbito da saúde, produzir sua própria saúde fazendo um uso adequado do conhecimento que, entre outros âmbitos da ciência, forneceu a epidemiologia moderna.

Para quando a vontade individual falha, quando minha gestão do EU saudável se mostra incapaz de alcançar os objetivos marcados, aparece o Mercado ao resgate, para quem possa pagar, colocando à minha disposição um amplo catálogo de salva-vidas: cursos de alimentação natural, de manutenção do peso, prática de esportes e exercício físico, yoga, mindfulness, atividades de lazer, detecção precoce de doenças, explorações complementares, conselhos, monitorizações, etc.

Desprovida de seus contextos, as alternativas preventivas, terapêuticas ou reparadoras ficam limitadas a estas duas geografias: o indivíduo e o mercado.

IMPOR

um determinado modelo causal no âmbito da saúde-doença é fundamental para poder conduzir as populações para os desvios explicativos que garantam a continuidade da governança capitalista, sobretudo para a manutenção da desigualdade social sobre a qual esta se constitui. Uma vez interiorizado que o processo de adoecer ou de manter a saúde depende principalmente de si mesmo, os designers das perguntas e respostas convenientes podem seguir concentrados em seu principal objetivo, a acumulação de mais-valias e privilégios associados.

Durante um curto período temporal animado pela OMS, as análises e recomendações surgidas da Conferência Internacional de Alma-Ata (1978) tentaram deslocar o hospitalocentrismo prevalente, eixo dominante dos Sistemas de Saúde, para um modelo alternativo, a Atenção Primária de Saúde, mais próxima da cotidianidade vital das pessoas e no qual se considerasse a Saúde como um direito carregado de conteúdo socioeconômico, aberto à participação da sociedade, com uma assistência sanitária baseada em métodos e tecnologias simples, cientificamente fundamentadas e socialmente aceitáveis. No entanto, e para desgraça de grande parte da população mundial, sobretudo do sul global, a chegada de M. Thatcher (1979) e R. Reagan (1981) aos governos da Grã-Bretanha e dos EUA deu um impulso decisivo à extensão da iniciativa privada e público-privada a todas as áreas da atividade econômica, incluída a sanitária, limitando o papel do Estado na defesa dos serviços públicos.

A Atenção Primária de Saúde que reclamava dos Estados um papel central para seu desenvolvimento e manutenção entrou em uma crise da qual não se recuperou, e que no Estado Espanhol se encontra em seu máximo esplendor. O hospital como instituição emblemática, que concentra especialistas e tecnologias, se reafirma como centro do sistema de cuidados de saúde, o farol que ilumina a rota da cidadania na busca de soluções para seus problemas de saúde. O hospital como destilado da primazia biotecnológica sobre os corpos, sua materialidade, acabou se impondo sobre a significação social e relacional da Atenção Primária de Saúde. Concentração de significados curativos engrenada com a concentração de dispositivos tecnológicos.

FRENTE

a esse agir da epidemiologia moderna surge a moderna «epidemiologia social», que se distingue, de acordo com N. Krieger, por seu empenho em investigar explicitamente os determinantes sociais das distribuições da saúde, da doença e do bem-estar nas populações, em vez de tratar esses determinantes como um simples pano de fundo dos fenômenos biomédicos e/ou comportamentais (acréscimo meu). Um empenho que, para alguns autores, sobretudo latino-americanos (J. Breilh), ficava aquém no afã de aprofundar na radicalidade das causas e que deu lugar à reivindicação de uma epidemiologia social que aprofundasse em maior medida no estudo das relações de poder que determinam a saúde dos povos, orientação à qual se etiquetou como epidemiologia crítica.

Entre outras características específicas da epidemiologia social «crítica» está sua ênfase no estudo do processo de saúde-doença nos coletivos, na comunidade, entendendo-a não como um conjunto unidimensional ou um somatório de indivíduos, como assim se contempla na epidemiologia moderna ou convencional, mas reclamando o coletivo ou comunitário pela carga social e histórica que os constitui como grupo humano. Na epidemiologia convencional, o socioeconômico, quando é considerado nas análises, é apenas um fator de risco mais, como pode ser o ter sido fumante, não como um determinante estrutural.

No espaço da epidemiologia social, elaboraram-se distintos marcos teóricos explicativos relativos à determinação social da saúde-doença. O ponto essencial de quase todos eles é que o padrão-perfil de distribuição da saúde em uma população é fundamentalmente consequência das condições e modos de vida de seus componentes, condições e modos que, em maior ou menor medida, estão desigualmente e injustamente distribuídos. Condições e modos de vida estreitamente ligados às estruturas e relações de poder político-econômicas, expressas de acordo com os contextos culturais e históricos nos quais aquelas se configuram. Através de interações complexas, entre outras com as características biológicas individuais, expressa-se finalmente uma distribuição social da saúde-doença em um espaço, um lugar e um tempo históricos dados.

Para explicar essa distribuição, é chave resgatar o conceito de mais-valia, ou mais-valor, base fundamental do sistema capitalista que permite a desigual e injusta acumulação de capital e de acesso ao bem-estar material, do qual se beneficiam especialmente os situados no topo da estrutura social. Todo o processo extrativo necessário para a geração de mais-valias precisa de uma intermediação com a natureza e com os corpos dos sujeitos implicados (gráficos 1 e 2). Segundo o papel atribuído no processo extrativo, de acordo com o gênero, a classe social, a etnia ou o território, a saúde contida em uns corpos é, em maior ou menor grau, extraída e transferida para outros corpos situados em posições de poder superiores1.

A consecução de mais-valias leva incorporada não só a componente de intercâmbio monetário, mas também de intercâmbio de saúde produzido nos diversos circuitos extrativos, de produção e reprodução, transitados ao longo da vida. A obtenção de mais-valia implica um plus de saúde (vida) para uns à custa de menos saúde de outros (doença e morte). Segundo seja a magnitude e características da extração e transferência de saúde na escala social e seus estratos, assim serão as desigualdades sociais em saúde.

DESIGUALDADES SOCIAIS EM SAÚDE

definidas como diferenças no estado de saúde e/ou doença que aparecem entre grupos de população definidos social, econômica, demográfica ou geograficamente, que qualificamos como iniquidades em saúde quando são improcedentes, injustas, evitáveis e desnecessárias. A classe social, o gênero, a etnia e o território são alguns dos eixos que as determinam. As desigualdades sociais em saúde são uma consequência da iniquidade social, são o reflexo da injusta distribuição do poder cultural, político e econômico de uma sociedade, expressão do conjunto de relações históricas ‘depositadas’ no interior dos corpos dos indivíduos.

De forma similar à pegada ecológica gerada pelo padrão de exploração dos recursos naturais necessários para manter estilos, condições e modos de vida, também acumulamos (coletiva e individualmente) uma pegada de desigualdade social em saúde gerada pelo padrão de exploração dos corpos necessário para manter estilos, condições e modos de vida. Não só a exploração dos recursos naturais facilita a existência de desiguais níveis de bem-estar, mas para que isso seja possível, precisa-se da exploração da força de trabalho, um processo que leva consigo a extração e transferência de saúde entre os corpos implicados.

A investigação epidemiológica socialmente orientada tem posto repetidamente em evidência que são sobretudo mulheres e populações situadas no extremo inferior da estrutura social, muito mais submetidas a processos extrativos de saúde, as que apresentam piores cifras de morbimortalidade, esperança de vida e outros indicadores de saúde. É importante assinalar que a desigualdade social em saúde pode se expressar na escala social não só em sentido vertical, de cima para baixo, mas também de forma horizontal, transversal. Em cada um dos estratos que compõem a escala social, dão-se desiguais distribuições de poder que afetam a magnitude e distribuição da desigualdade em saúde. A violência contra a mulher, como exemplo, não deve se circunscrever exclusivamente ao marco de relações próprio do sistema capitalista, mas além disso está integrada em marcos culturais e antropológicos que o transcendem desde há séculos.

O extrativismo de saúde efetuado sobre o corpo das mulheres pode ser exercido por homens situados nos mesmos estratos sociais nos quais aquelas se situam, inclusive no mesmo grupo familiar. O trabalho reprodutivo e doméstico, trabalho não remunerado, constitui um dos fatores sobre os quais se construiu a obtenção de mais-valias de saúde extraídas dos corpos das mulheres, e transferidas para benefício maioritário dos homens. A mulher sofreu e sofre um duplo impacto negativo da desigualdade social em saúde, um derivado de sua posição na escala social e outro derivado do componente de gênero. Como destaca o coletivo ecofeminista venezuelano LaDanta LasCanta: para a manutenção da ordem política “A dominação da natureza e a dominação das mulheres são duas caras de uma mesma moeda, próprias da civilização patriarcal-capitalista”.

Adentrar-se no terreno da investigação sobre a determinação social das desigualdades em saúde é complicado e frustrante quando o equipamento formativo se encontra tão ligado a ciências impregnadas de reducionismo empírico e quantitativista. Para um epidemiologista social, deslocar-se desde as abordagens analíticas que consideram como objeto principal o efeito dos determinantes sociais intermediários (estilos de vida em especial) para os determinantes de tipo mais estrutural (governança, contexto econômico e político, normas e valores culturais, políticas…) exige a busca de aportes procedentes da história, da política, da economia, da sociologia e da antropologia, entre outras áreas do conhecimento humanista. Em consequência, a investigação qualitativa, também em epidemiologia, deveria ocupar um lugar muito mais destacado.

ENCERRAMENTO:

Encontrar um espaço de escuta aos argumentos da determinação social da saúde torna-se cada vez mais complicado quanto mais cresce o alegato científico neoliberal. Os discursos comerciais e mecanicistas avançam com promessas de implantes neuronais, transcrição de mentes a dispositivos eletrônicos, geoengenharia, design genético sob medida, viagens interplanetárias ou imortalidade entre outras utopias-delírios transumanistas. No entanto, e mais que nunca, precisamos de análises humanistas, desnudos de tecnologias, para poder compreender como chegamos à atual situação de crise civilizatória que ameaça a vida do planeta. Confiar na tecnologia para evitar as consequências negativas intrínsecas ao atual modelo capitalista de crescimento sem limites é uma falácia, um jogo de autoengano alimentado pelos fogoneiros do Sistema e aplaudido por seus pregoeiros. É primordial apagar o fogo que seguem alimentando como se não houvesse um amanhã para habitar.

Desde a epidemiologia social, com uma ênfase crítica mais explícita, podem-se aportar conhecimentos que nos ajudem a abandonar a cosmovisão própria do capitalismo, com uma sociedade entregue ao incremento constante e sem limites da produção e do consumo de bens materiais, uma cosmovisão na qual está presa a ciência e uma parte importante da população mundial.

Para poder crescer em equidade social e, portanto, em saúde, é imperativo mudar nossa relação predatória com a natureza, abandonar as fantasias da individualidade e recuperar o coletivo, o comunitário, o apoio mútuo.

Obrigado.

«Quando olho para minha mãe,

com um corpo paralisado pela dor de quinze anos de árduo trabalho de pé,

em uma cadeia de montagem,

com direito a apenas duas pausas de dez minutos para ir ao banheiro,

impressiona-me o que significa fisicamente a desigualdade social».

Didier Eribon, filósofo.

NOTA:

Gráficos 1 e 2. Modificação pessoal do original em: Report No. 20 to the Storting (2006-2007). National strategy to reduce social inequalities in health. Recommendation from the Ministry of Health and Care Services. Norway, 2007. Ilustração de Elisabeth Moseng.

Fonte: https://www.nodo50.org/ekintza/2025/epidemiologia-y-gobernanza-capitalista/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Libélula!
Dá saudades da terra natal
A cor deste muro

Buson

[México] Chamada para inscrições na 5ª Feira de Publicações Anarquistas e DIY

A crítica e o compartilhamento de ideias devem estar presentes nas práticas anarquistas, por isso convidamos editoras, coletivos, grupos de afinidade e indivíduos a participarem da 5ª Feira de Publicações Anarquistas e DIY, a ser realizada no dia 22 de março no Guie’Huini (CDMX).

Como nas edições anteriores, geraremos um espaço para o diálogo e a troca de propostas e reflexões para aprimorar posições e práticas antiautoritárias.

Se você quiser participar de alguma forma, seja divulgando material ou apresentando uma palestra ou discussão, escreva antes de 22 de março para o seguinte endereço de e-mail

atintanegra36@gmail.com

Aguardamos suas propostas (A)

agência de notícias anarquistas-ana

Névoa matinal –
No colo das montanhas
O sol com preguiça…

Suely Moraes

Alerta Vermelho: Segurança Digital e Metadados — Não Seja Alvo da Repressão!

Compas,

Enquanto a repressão avança, seja nas ruas ou nas redes, nossa resistência precisa ser tão ágil quanto inteligente. Não basta gritar palavras de ordem se nossos dispositivos e comunicações viram armas contra nós. Segurança digital não é paranoia: é sobrevivência.

O que é segurança digital? 

É o conjunto de práticas para proteger informações, identidades e comunicações de vigilância, hackeamento ou interceptação. Não se trata só de “esconder” algo, mas de negar ao inimigo (Estado, corporações, grupos reacionários) a capacidade de rastrear, prender ou silenciar quem luta.

Metadados: O Rastro Invisível 

Metadados são dados sobre dados. Parece abstrato? Imagine:

– Quem você ligou, quando e por quanto tempo.

– De onde acessou um site, qual app usou, com quem trocou mensagens.

– Localização do seu celular, mesmo com GPS desligado.

Isso é um metadado. Eles não revelam o conteúdo da sua mensagem (se está criptografada), mas expõem padrões: sua rede de contatos, rotina, horários de ação. Sob um regime repressivo, metadados são suficientes para te identificar, invadir reuniões ou prender antes do ato.

Cuidados Urgentes: 

  1. Apps de Mensagem: Use o Signal (criptografia ponta-a-ponta) ou Briar (sem servidores centralizados). Evite WhatsApp, SMS e Telegram (não são totalmente seguros).
  2. Redes e IP: Use VPNs confiáveis (como ProtonVPN) ou Tor para navegar. Seu IP é seu endereço digital — não deixe rastro.
  3. Celular: Evite vincular número real a contas ativistas. Use chips anônimos e desligue o aparelho em ações.
  4. Redes Sociais: Crie contas desvinculadas de sua identidade real. Não poste fotos com geolocalização ativa.
  5. Arquivos e Fotos: Remova metadados de imagens (use ferramentas como ExifCleaner) antes de compartilhar.
  6. Eduque-se e Eduque o Coletivo: Segurança é responsabilidade de todxs. Faça oficinas, compartilhe tutoriais, teste vulnerabilidades.

 Lembre-se: 

Nenhuma ferramenta é 100% segura, mas a negligência é 100% perigosa. A repressão não dorme — ela aprende. Não dê a ela seu rosto, seu nome ou seu movimento.

Pela liberdade, nas ruas e nos bytes! 

Federação Anarquista Capixaba – FACA 

Nota: Este texto é um guia básico. Aprofunde-se em segurança digital com fontes especializadas e adapte as práticas à sua realidade.

🔒 Compartilhe, mas com cuidado: evite imprimir ou deixar registros digitais desnecessários.

federacaocapixaba.noblogs.org

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Veja a brisa matinal
soprando os pêlos
da taturana!

Buson

[São Paulo-SP] Cineclube Chico Cubero: “Enredos da Liberdade – O Grito do Samba pela Democracia”

Dia 22/03 teremos o segundo encontro do Cineclube Chico Cubero no CCS. Exibiremos dois episódios da série brasileira “Enredos da Liberdade – O Grito do Samba pela Democracia” e teremos a presença do diretor, Luis Carlos de Alencar, para o bate-papo: Integrante do IEL (Instituto de Estudos Libertários), sócio-diretor da produtora Couro de Rato, Luis Carlos de Alencar é documentarista e produtor executivo, seu trabalho aborda processos políticos e movimentações sociais, narrando lutas populares e pensamentos dissidentes. Dentre as obras recentes que dirigiu estão a série para a Globoplay Enredos da Liberdade (5 EPs, 2024), e os docs Não é a primeira vez que lutamos pelo nosso amor (2022); Genocídio e Movimentos (2021) e Homens Invisíveis (2019).

“Enredos da Liberdade” traz o contexto dos anos 80, quando, mesmo censuradas e vigiadas, as Escolas de Samba fizeram enredos críticos inesquecíveis e enfrentaram a Ditadura Militar com coragem, criatividade e muita alegria.

Episódios que exibiremos:

Ep 1: Um Sonho Que Resiste: 1980-1981 (34 min) – Bombas são explodidas por militares terroristas descontentes com a redemocratização do Brasil e as Escolas de Samba cantam o sonho de um novo país.

Ep. 3: O Carnaval Das Diretas: 1984-1985 (37 min) – O povo brasileiro luta pelas eleições diretas para Presidente e as Escolas de Samba participam ativamente das manifestações.

Direção: Luis Carlos Fontes de Alencar Filho

Roteiro: Rodrigo Antonio Reduzino, Vitor Gurgel de Medeiros

Gênero: Documentário

Ano de lançamento: 2023

País: Brasil

Cineclube Chico Cubero

Data: Sábado, 22/03/25

Teremos pipoca, se puder e quiser, traga algo para beber!

Local: Sede do CCS de SP (Rua Gal. Jardim, 253, sl. 22, Vila Buarque – SP)

⁠Os encontros são presenciais, gratuitos e abertos para todas as pessoas interessadas. Lembrando que o CCS-SP se orienta pelos princípios anarquistas, tais como autogestão, apoio mútuo, internacionalismo, anticapacitismo, anticapitalismo e não partidarismo. Não toleramos qualquer tipo de discriminação de raça, gênero ou sexualidade.

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paciência de tartaruga
cem anos
em cada ruga

Alexandre Brito

Indústrias, Portos e Desespero: A Economia Capixaba Não Se Importa com Você

Enquanto o território dominado pelo estado do Espírito Santo é apresentado como um dos estados mais industrializados e dinâmicos do Brasil, com um PIB impulsionado por exportações de ferro, aço, petróleo e café, e registra crescimentos econômicos expressivos — como por exemplo, o avanço de 3,7% no primeiro trimestre de 2024  —, a realidade cotidiana de grande parte da população revela a face cruel do “desenvolvimento” capitalista. A diversificação econômica, exaltada como símbolo de “progresso”, mascara um sistema que concentra riquezas nas mãos de poucos, enquanto milhares de capixabas seguem enfrentando condições de vida desumanas.

A Federação Anarquista Capixaba denuncia que, por trás dos números do crescimento industrial e portuário, persistem estruturas de exploração que condenam trabalhadores e comunidades periféricas à miséria. Enquanto o Estado e as corporações lucram com a extração de recursos naturais e a industrialização, pessoas morrem de fome, são vítimas da violência estrutural, vivem nas ruas ou sucumbem ao desespero do suicídio — sintomas de uma sociedade que prioriza o lucro sobre a vida. A industrialização, longe de ser sinônimo de bem-estar, muitas vezes se traduz em precarização do trabalho, desemprego tecnológico e degradação ambiental, como observado em regiões aqui impactadas pela mineração e pelo agronegócio.

Para a FACA, a solução não está em reformas superficiais ou em políticas assistencialistas, mas na ruptura com o capitalismo e suas instituições opressoras. É urgente construir alternativas autônomas, baseadas na autogestão, na solidariedade e na distribuição equitativa dos recursos. Enquanto o Estado segue servindo aos interesses de uma elite econômica, a luta anarquista aponta para a organização popular, a defesa dos territórios e a criação de redes de apoio mútuo. Afinal, um sistema que sacrifica vidas em nome do PIB jamais será justo — e é contra esse sistema que nos insurgimos.

Federação Anarquista Capixaba – FACA

federacaocapixaba.noblogs.org

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Ao pôr-do-sol
O brilho humilde
Das folhas de capim.

Paulo Franchetti

[Espanha] Frente ao rearmamento europeu, desobediência e insubmissão social

Em uma reunião extraordinária dos 27 países da União Europeia, foi aprovado no dia 6 de março um programa de rearmamento sem precedentes, que soma 800.000 milhões de euros em quatro anos para enfrentar a suposta “ameaça da Rússia”.

O plano apresentado pela presidenta da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, inclui a flexibilização das regras fiscais para que os países aumentem os gastos militares.

Pedro Sánchez não demorou a demonstrar publicamente seu apoio a este programa de rearmamento e seu compromisso de alcançar 2% do PIB em gastos com defesa até o ano de 2029. Antecipando-se ao que foi acordado em 2022 no âmbito da cúpula da OTAN em Madrid. Portanto, o Estado Espanhol deverá aumentar os gastos militares em mais 20.000 milhões de euros.

Para cumprir com os compromissos do plano ReArm Europe, o Estado espanhol deverá aumentar este ano o orçamento militar em 3.500 milhões de euros, mantendo um gasto de 23.897 milhões de euros a cada ano até 2028. Gastos que, sem dúvida, vão afetar gravemente os gastos sociais.

Já em 2023, o gasto militar conjunto dos países da UE aumentou 16%, o que representa o maior aumento desde a Guerra Fria. No caso espanhol, o orçamento oficial para gastos militares praticamente se duplicou ao incluir os gastos comprometidos em outras partidas ministeriais, superando assim durante vários anos os 2% do PIB em investimento total em armamento, conforme denunciado pelas organizações antimilitaristas.

Esta é a dinâmica observada em toda a Europa nos últimos anos. Segundo o Centre Delàs, em 2021, as cinco principais empresas beneficiárias dos projetos do Fundo Europeu de Defesa — Leonardo, Thales, Airbus, Saab e Indra — receberam mais de 30% de financiamento. Por países, os principais beneficiários são França, Itália, Espanha e Alemanha, que, em conjunto, recebem quase dois terços (65,1%) de financiamento total.

Os gigantes europeus vêm aumentando seu valor há meses, como a alemã Rheinmetall, que subiu 85% na bolsa neste ano, seguida pela francesa Thales com um aumento de 72%, a italiana Leonardo com 65%, e a espanhola Indra com 46%. Por sua vez, a britânica BAE Systems subiu 13,36%, apenas nos últimos dias após o anúncio de rearmamento europeu.

Estamos diante de um negócio lucrativo do qual os governos europeus não pensam abrir mão. E onde o Estado Espanhol é um dos principais beneficiários.

A lógica militarista da Europa se assenta na economia de guerra, para consolidar um processo de rearmamento que começou há muitos anos. Enquanto se ouvem tambores de guerra e se implementam planos para reativar o serviço militar com diferentes modalidades.

Um mundo controlado por oligarquias que competem entre si pelo controle dos recursos e pela hegemonia econômica internacional, reproduzindo as mesmas dinâmicas coloniais e extrativistas de sempre, onde os governos europeus nos conduzem a um cenário bélico perigoso. Porque o capitalismo já não pode oferecer outra coisa além da guerra como forma de escapar de suas próprias contradições, para iniciar um novo processo de acumulação baseado na destruição e na morte.

O Feminismo e as lutas anticoloniais dos últimos anos nos ensinaram que o Capitalismo transformou o conflito Capital – Trabalho em um conflito Capital – Vida.

Frente a essa lógica da morte, as organizações que se definem como anarcosindicalistas, de classe, federalistas, internacionalistas e antimilitaristas estamos chamadas a capitalizar o descontentamento e a desigualdade social que será gerado pelo aumento dos gastos militares, com mobilizações pela paz, pela defesa dos serviços públicos, dos direitos humanos e pela proteção do planeta, para transformar a realidade por meio das lutas pela vida.

Desde a CGT, fazemos um apelo à desobediência civil e à insubmissão social, para iniciar um novo processo de mobilização que possa responder à Necropolítica imperante, à altura das grandes mobilizações pela paz que nos precederam, com internacionalismo, apoio mútuo, solidariedade e ação direta. Porque nossas vidas estão em jogo.

Guerra às suas guerras!
Nem guerra entre povos, nem paz entre classes!

Secretariado Permanente do Comitê Confederal da CGT

Fonte: Gabinete de imprensa do Comitê Confederal da CGT

Tradução > Liberto

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Difícil de ler
Este livro em guarani –
Gatos enamorados.

Suinan Hashimoto

[Itália] M – O Filho do Século

Agora que o clamor acalmou um pouco, parece-nos o momento certo para gastar algumas palavras sobre a série que, nas últimas semanas, atraiu a atenção do público, da crítica e, marginalmente, do mundo político.

Estamos falando de M – O Filho do Século, produzida pela Sky e baseada no romance homônimo de Antonio Scurati.

M – O Filho do Século é provavelmente, em seu gênero, a obra mais interessante apresentada ao grande público na Itália nos últimos anos.

Havia todas as condições para dar errado, se é que podemos dizer assim. Tratava-se de contar uma história complicada e evidentemente nunca totalmente resolvida em nosso país: a de Benito Mussolini e sua ascensão ao poder.

Vamos esclarecer, antes de tudo, um conceito: M – O Filho do Século não é e não quer ser um documentário. É uma ficção inspirada em um romance. Histórico, sim, mas ainda assim um romance. Os espectadores politizados ou simplesmente mais familiarizados com o tema certamente encontrarão imprecisões ou lacunas, mas, na realidade, nunca são falhas graves, porque, fundamentalmente, tudo o que era essencial para a compreensão dos eventos foi dito e descrito.

Normalmente, quando se fala do fascismo, de sua origem e evolução, faz-se com as ferramentas e grades interpretativas da historiografia, da política e da sociologia. Neste caso, porém, os fatos são narrados com uma abordagem dramática e linguagens, no mínimo, inesperadas.

O que realmente impressiona, de fato, é a maneira como é contada a história pessoal de Mussolini, uma história que se entrelaça inevitavelmente com a do país, uma dimensão privada e política ao mesmo tempo.

Comecemos pela direção. Joe Wright, que em sua carreira dirigiu – entre outros – Orgulho e PreconceitoExpiaçãoO Destino de Uma Nação e, na televisão, Carlos II: O Poder da Paixão e um episódio de Black Mirror, renovou a narrativa do fascismo com uma edição de ritmo frenético, uma fotografia sombria que às vezes remete a atmosferas de quadrinhos e uma ambientação sempre claustrofóbica. O roteiro, assinado por Stefano Bises e Davide Serino, é repleto de insights e descrições que servem para delinear os perfis psicológicos dos muitos personagens que animam a série.

Para as trilhas sonoras, não se limitaram ao repertório da época ou a algo que remetesse às sonoridades do início do século XX. Muito pelo contrário. Por mais absurdo que pareça, em uma série que fala do fascismo, confiaram a Tom Rowlands, dos Chemical Brothers, a tarefa de acompanhar com música eletrônica o desenvolvimento narrativo em seus momentos mais surreais e grotescos – com o excelente resultado de tornar tudo incrivelmente fresco e moderno.

Sobre o imenso Luca Marinelli já se falou muito. Ele mesmo confessou, ao declarar-se orgulhosamente antifascista, que sentiu um enorme desconforto ao vestir a pele de Mussolini. Acreditamos nele e, certamente, não zombamos dele como fizeram alguns jornalistas de direita – e, principalmente, sem argumentos. Não zombamos de Marinelli porque ele foi simplesmente brilhante ao tornar crível um personagem tão complexo. Uma caricatura que não deforma, mas que, ao contrário, enfatiza os traços mais autênticos do Duce do fascismo. Todo o elenco, aliás, esteve à altura: merecem menção especial Benedetta Cimatti, que interpretou Rachele Mussolini, e Francesco Russo no papel de Cesare Rossi.

Uma linguagem moderna e crível, como dissemos, a começar pela escolha de manter as cadências regionais com inserções de dialeto em alguns diálogos, assim como a frequente quebra da quarta parede, com a qual Marinelli-Mussolini se dirige ao público para esclarecer seus pensamentos, revelar seu jogo duplo ou comentar o que lhe acontece. Assistir a esta série é surpreendente e, em vários momentos, perturbador. Mussolini é um histrião, uma máscara trágica e cômica ao mesmo tempo, e quase nos sentimos culpados – vez ou outra – quando essa máscara nos arranca até mesmo um sorriso. É uma culpa ligada não tanto ao conhecimento que cada um de nós pode ter do personagem ou da história, mas ao que nos é continuamente apresentado com brutal eficácia: uma violência feroz e paroxística, retratada tanto pela concretude de cenas próximas do splatter quanto por imagens oníricas que nunca perdem o contato com a realidade.

Um dos méritos de M – O Filho do Século é que o fascismo é finalmente trazido de volta à sua essência: um movimento violento, nascido da violência e imposto com violência. Para além de todas as análises históricas, sociais e políticas já feitas ou que ainda serão feitas sobre o porquê de a Itália ter se entregado a Mussolini em determinado momento, esta série demole a falsa crença de que, afinal, os fascistas não eram tão ruins assim (muito menos comparáveis aos nazistas) ou que Mussolini não passava de uma espécie de palhaço inofensivo.

Pois bem: esse “palhaço” era um oportunista, disposto a tudo para tomar o poder; um narcisista, invejoso, macho tóxico que maltratava as mulheres (começando por sua esposa); um inseguro, mentiroso, indivíduo sem qualquer senso de honra. Mas não era burro e soube farejar o vento: «Sou como os animais, sinto o tempo que está por vir». Quando se prepara para receber os aplausos em um teatro lotado, pouco antes de ir a Roma receber do rei o cargo de primeiro-ministro, Marinelli-Mussolini nos explica quem são os verdadeiros “palhaços” na política. São aqueles que não entendemos, mas isso é irrelevante: olhar fixo na câmera, polegar para cima e uma frase que soa tão familiar quanto sinistra: «Make Italy Great Again».

Aqui está o grande mérito desta série: ao nos contar o pesadelo do fascismo com uma linguagem compreensível, M – O Filho do Século fala de nós, da sociedade atual, das dinâmicas e protagonistas que – mutatis mutandis – se repetem e se atualizam, tão iguais e tão diferentes, na Itália e no mundo.

Há algo que deveríamos aprender com o Mussolini protagonista da série: a capacidade de sentir o tempo que está por vir e agir de acordo. Para desmascarar os palhaços e deter as feras.

Alberto La Via

Fonte: https://umanitanova.org/m-il-figlio-del-secolo/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

uma pétala caída
que torna a seu ramo
ah! é uma borboleta

Arakida Moritake

[Argélia] A solidariedade com ‘Las 6 de La Suiza’ ecoa nos acampamentos de refugiados saharauis em Tinduf

UGTSARIO, sindicato saharaui, mostra seu apoio à causa das companheiras.

Aproveitando a viagem de alguns cenetistas aos acampamentos de Tinduf para colaborar em diferentes projetos solidários com a população saharaui refugiada, uma delegação do sindicato se reuniu com Ali Mohamed Salem, Secretário Geral de UGTSARIO, a União Geral de Trabalhadores de Saguia El-Hamra e Rio de Oro, organização sindical que agrupa os trabalhadores e trabalhadoras saharauis com o fim de proteger seus direitos laborais e somar esforços pela liberação de seu povo.

Na reunião, a delegação cenetista pode entregar um informe e expor a situação atual do conflito de ‘Las 6 de La Suiza’, além de receber a solidariedade da organização sindical saharaui. A respeito, Ali Mohamed mostrou sua preocupação pela situação das companheiras, sua possível entrada na prisão e o precedente que isso supõe para a prática do sindicalismo na Espanha. Igualmente exigiu o respeito aos direitos sindicais em nosso país.

Da mesma maneira, ambas as partes deram ênfase no internacionalismo, a solidariedade e o apoio mútuo da classe obreira acima das fronteiras que nos separam. Finalmente, a delegação cenetista aproveitou sua estadia nos acampamentos para ampliar a voz das companheiras de La Suiza entre a população refugiada e os diferentes projetos de solidariedade que trabalham nos acampamentos. Pelo internacionalismo! Viva a solidariedade dos povos e a classe trabalhadora!

Fonte: https://www.cnt.es/noticias/la-solidaridad-con-las-6-de-la-suiza-resuena-en-los-campamentos-de-refugiados-saharauis-en-tinduf/

Tradução > Sol de Abril

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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/02/10/espanha-nao-vamos-abaixar-a-cabeca-manifestacao-em-madrid-em-apoio-as-6-de-la-suiza/

agência de notícias anarquistas-ana

pássaros cantando
no escuro
chuvoso amanhecer

Jack Kerouac