[Alemanha] Lüneburg: Lüni fica! As árvores da floresta de Lüner Holz estão ocupadas!

Não é uma surpresa agradável para a Autobahn GmbH.

Desde sábado, 13 de dezembro de 2025, várias árvores no norte de Lüneburg estão ocupadas para impedir seu desflorestamento. A floresta “Lüner Holz” está destinada à destruição para a expansão da autoestrada federal B4 até o primeiro trecho da planejada autoestrada A39. A ocupação, “Lüni bleibt” (Lüni fica), se opõe à construção dessa autoestrada e consiste em diversas plataformas.

Este trecho da rodovia faz parte da nova autoestrada planejada entre Lüneburg e Wolfsburg. Os 100 km da nova autoestrada significarão 100 km de destruição. Desde o início, o planejamento foi acompanhado por inúmeros protestos. Atualmente, uma ação judicial movida pela organização ambiental BUND Baixa Saxônia contra este trecho está sendo analisada pelo Tribunal Administrativo Federal. Ao desmatar a floresta de Lüner Holz, a Autobahn GmbH pretende criar um fato consumado, abrindo caminho para a continuidade da construção e sufocando discussões sobre o futuro da A39. A B4 já havia sido renomeada para A39 no início de dezembro.

A construção de uma nova autoestrada entre Lüneburg e Wolfsburg é um desastre em todos os níveis. Novas autoestradas sempre levam a mais tráfego e, portanto, a mais emissões prejudiciais ao clima. Os efeitos das mudanças climáticas já são devastadores em todo o mundo. Construir novas autoestradas só irá agravar ainda mais a crise climática.” Localmente, a construção da A39 também significa a destruição da natureza e do meio ambiente. A A39 irá dividir áreas protegidas valiosas. O fechamento de áreas naturais destruirá habitats e levará à perda de biodiversidade. Além disso, Lüneburg já possui um dos níveis mais altos de poluição por óxido de nitrogênio na Baixa Saxônia – como demonstraram recentemente as medições da Ajuda Ambiental Alemã (DUH). Ao contrário do que se costuma afirmar, a A39 não oferece nenhum valor agregado significativo para a maioria da população. Os imensos custos investidos na nova construção são urgentemente necessários em outros lugares, como a reativação de linhas ferroviárias e a expansão do transporte público.

A construção da autoestrada A39 e o desmatamento da floresta de Lüner Holz são inaceitáveis ​​do ponto de vista ambiental e das políticas climáticas. Já que todas as outras formas de protesto falharam em gerar a mudança de mentalidade necessária, agora queremos proteger ativamente as árvores ameaçadas. Em vez de uma autoestrada para poucos, queremos mobilidade para todos!

O grupo de ocupação “Lüni bleibt!” (Lüni fica!) se considera um grupo climático autônomo. Afirma ser anticapacitista, queer-feminista e anarquista. “Onde o capitalismo fóssil impera, a ocupação cria uma utopia de solidariedade e antifascismo. 100 km de nova rodovia também significam 100 km de resistência contra a infraestrutura de transporte baseada em combustíveis fósseis!

Em vez de mais destruição com novas rodovias, precisamos finalmente de uma revolução na mobilidade para todos – ecologicamente correta, socialmente justa e sem barreiras!

Grupo de Ação Esquilo-Morcego

Localização da ocupação: Lüner Holz, coordenadas 53.269290, 10.429467, acessível a pé.

Redes sociais:

Instagram @lueni_bleibt

Mastodonte @ lueni_bleibt@climatejustice.global

agência de notícias anarquistas-ana

Cai da folha
a gota d’água. Lá longe,
o oceano aguarda.

Yeda Prates Bernis

[Espanha] Lançamento: “La práctica de la autogestión”, de Guido Candela e Antonio Senta

La práctica de la autogestión” é o vigésimo título da coleção central de La Neurosis o Las Barricadas Ed. Este original trabalho de Guido Candela e Antonio Senta cumpre diversos objetivos: nos introduz os aspectos básicos da organização da produção e o consumo sob parâmetros anarquistas, nos aproxima da variedade de experiências autogestionárias e, também, realiza uma série de experimentos que mostram a potencialidade da cultura libertária como ferramenta fundamental para a implementação de iniciativas de caráter anticapitalista. Este trabalho é um estudo verdadeiramente original em seu foco que vai interessar a todos os leitores e leitoras que se atrevam a mergulhar em suas páginas:

A autogestão, a possibilidade de assumir as rédeas de nossas vidas, passou de ser um conceito puramente econômico para ampliar-se abarcando outros aspectos vitais. Este texto desmonta duas das acusações que recebeu: a da ineficácia e a de necessitar de uma ética impossível de alcançar.

Para isso, os autores recorrem a práticas, dados e diferentes argumentos que revelam que as iniciativas autogestionárias significaram geralmente um questionamento do sistema e, também, o fizeram de maneira satisfatória para seus participantes, cobrindo suas necessidades. Também, em uma proposta muito original, apresenta os resultados de um estudo experimental sobre a nossa racionalidade que permite afirmar que uma ética do apoio mútuo, focada em solucionar os problemas comuns, não sé é possível, mas que, de fato, existe entre as pessoas que mostram sensibilidade libertária.

La práctica de la autogestión serve assim como pequeno manual teórico sobre o conceito de autogestão, como mapa de experiências passadas e presentes e como exposição dos resultados da experimentação. Tudo isso com o objetivo de ampliar propostas liberadoras e fendas no sistema depredador que é o capitalismo.

La práctica de la autogestión

€ 10

Guido Candela e Antonio Senta

Páginas/Cubierta: 250 pp. Cartoné

Tamaño: 18 x 14 cm.

Data/Lugar: Novembro de 2025, Madrid

laneurosis.net

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Com gestos de amor
a bailarina
equilibra a dor

Eugénia Tabosa

[Chile] “A rebeldia feminista não faz acordos com o Estado”

Desde La Ventolera, coletiva do feminismo autônomo de Concepción, se põe à disposição para livre difusão e baixar o seguinte texto intitulado “La Rebeldía Feminista no pacta con el Estado” (A rebeldia feminista não faz acordos com o Estado) uma análise política sobre os acontecimentos que motivaram a revolta e a sua posterior asfixia por parte das estratégias institucionais.

Colectiva la Ventolera

Nossa história nos ensinou que as mulheres – e as feministas – estivemos sempre presente nos momentos de agitação, revolta ou revoluções sociais. A Revolta Social de 2019 não foi uma exceção. É assim que, como Colectiva la Ventolera, após cinco anos da potente revolta, nos emerge a necessidade de escrever e analisar nossa história e experiências desde o território de La Ribera Del Río Bío-Bío, no povoado Lorenzo Arenas. Considerando, também, o atual contexto político, caracterizado por uma forte institucionalização do processo vivido, no qual se instaurou uma memória derrotista a partir do “fracasso constituinte” que invisibilizou a memória social e popular de nossas lutas dentro das já conhecidas políticas de esquecimento.

Não poderia ser de outra maneira, pois esta revolta pôs, uma vez mais, em dúvida a política burguesa e fomos testemunhas de como a resposta do poder foi unânime: toda a classe política se uniu para defender seus privilégios e a institucionalidade que a sustenta. Nos falaram de ocupar seus postos representativos como uma estratégia válida, porque em momentos fundamentais estariam aí para “complementar” nossa luta cotidiana, de rua, etc. No entanto, vemos que aí estão e não estiveram de nosso lado.

Atualmente parece que uma grande maioria renega o vivido, desconhecendo importantes expressões de protesto, de negação do capital e questionamentos profundos ao sistema patriarcal-capitalista. Em contraposição, cremos importante construir uma memória desde um feminismo autônomo, que consiga dar conta dos processos vividos com um olhar desde baixo, desde o local, desde o coletivo, desde as mulheres, distanciando-nos do centralismo da capital, que coloque valorize o cotidiano. Para isto, nos referiremos a alguns fatos, ideias e organizações da revolta, a processos que a antecederam, à repressão vivida, às relações sociais subvertidas, à forma de fazer política, à institucionalização de nossas lutas e às tensões com o feminismo institucional.

Nossa tarefa é conseguir sonhar e criar projetos a partir da leitura dos que nos antecederam, de suas experiências históricas, com base na comunhão de quem portamos ideias revolucionárias, sem cair nessa sororidade a-política que nos propõe nada e que reafirma a feminilidade imposta onde todas devemos ser “boas”, mas nunca impertinentes ou inconvenientes.

Nesta análise lhes convidamos a sair dos esquemas da política tradicional e situar-nos desde os olhares críticos à democracia, com teorias radicais anticapitalistas, antipatriarcais e antipartidárias, com o fim de construir nossos próprios relatos.

Queremos que este exercício nos sirva para olharmos com mais carinho e respeito, honrar os nossos mortos e assassinadas, presas e presos, mutiladas e mutilados para seguir construindo frestas ao capital…

LÊ E/OU BAIXE O TEXTO COMPLETO NO SEGUINTE LINKE:

Fonte: https://lazarzamora.cl/colectiva-la-ventolera-la-rebeldia-feminista-no-pacta-con-el-estado/

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

nas noites de frio
um bom vinho, um edredon
dois corpos no cio

Cristina Saba

[Indonésia] Oito detidos anarquistas do caso “Chaos Star” foram transferidos após audiência

Oito detidos anarquistas do caso “Chaos Star” passaram por sua primeira audiência judicial em 18 de novembro de 2025. Com isso, foram transferidos para o centro de detenção da promotoria.

Eles são acusados de atirar pedras contra policiais, supostamente causando cerca de 2 bilhões de Rúpias em danos (cerca de R$ 119,6 milhões de Reais) durante a manifestação de 30 de agosto de 2025. Os oito foram denunciados com base em múltiplos artigos: Artigo 170 (violência em público), Artigo 214 (resistência coletiva) e Artigo 406 (destruição de propriedade alheia) do Código Penal da Indonésia. São eles:

– Muhamad Subhan (M.S)

– Eli Yana (E.Y)

– Muhamad Vansa Alfarisi (M.V.A)

– Muhamad Rifa Aditya (M.R.A)

– Veri Kurniawan Kusuma (V.K.K)

– Joy Erlando Pandiangan (J.E.P)

– Muhamad Jalaludin Mukhlis (M.J.M)

– Jatnika Alang Ramdani Septiawan (J.A.R.S)

Todos os oito foram torturados para forçá-los a confessar os supostos crimes.

Envie mensagens de solidariedade aos detidos anarquistas, em inglês ou em bahasa indonésio:

[Nome]

Jl. Jakarta No. 42–44,

Kebonwaru, Kec. Batununggal,

Cidade de Bandung, Java Ocidental

Indonésia

Palang Hitam / Anarchist Black Cross: precisamos urgentemente de solidariedade financeira para continuar as atividades de apoio aos presos e para garantir advogados privados para os réus. Entre em contato com Dark Nights (darknights [A] riseup.net) ou com grupos ABC reconhecidos e de longa atuação para realizar doações.

Fonte: https://darknights.noblogs.org/post/2025/11/18/eight-anarchist-detainees-from-the-chaos-star-case-have-been-transferred-after-court-indonesia/   

Tradução > Contrafatual

Conteúdos relacionados:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/11/05/atualizacao-sobre-as-situacoes-de-satria-putra-pustaka-catut-e-um-chamado-a-solidariedade-para-a-indonesia/

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/10/28/indonesia-atualizacao-e-endereco-postal-dos-431-camaradas-presos-da-rede-chaos-star-em-bandung/


agência de notícias anarquistas-ana

É quase nada
a cara da libélula:
somente olhos. 

Chisoku

[Espanha] Descoberta Memória Histórica da CNT

Compartilhamos esta notícia

MUSEU DO MAR SANTAPOLA

Ontem (15/12), a equipe de arqueólogos que está trabalhando na prospecção da Arquitetura Defensiva na serra de Santa Pola encontrou este emblema da CNT que representa Hércules lutando contra o leão, uma peça muito significativa que indicaria a presença de milicianos na região. Continuamos documentando cada detalhe para reconstruir com maior precisão nossa história recente.

Felipe Mejías López José Ramón Ortega Pérez Eloy Poveda.

elche.cnt.es

agência de notícias anarquistas-ana

Cai da folha
a gota d’água. Lá longe,
o oceano aguarda.

Yeda Prates Bernis

[Reino Unido] Relembrando Joe Hill

O lendário compositor e membro da IWW, executado 110 anos atrás, foi celebrado mundialmente por sua resiliência e seu humor

Owen Clayton ~

Joseph Emanuel Hägglund, mais tarde conhecido como Hill, nasceu em 1879 na Suécia. Depois de seu pai ter morrido, quando ele ainda era criança, ele foi criado em meio a dificuldades. Sem treinamento formal, ele herdou dos pais um amor pela música – seu pai tocava órgão e sua mãe era uma cantora talentosa. Conforme foi crescendo, Hill foi afiando suas habilidades musicais e líricas criando músicas de paródia, algo que acabaria o tornando famoso. Seu talento também se estendia aos quadrinhos, um meio de comunicação popular dentre a classe trabalhadora.

Hill se mudou para os Estados Unidos em 1902. As evidências sobre o que ele fez pelos próximos 5 anos são controversas, mas provavelmente ele ia rodando o país como um trabalhador temporário, situação de trabalho também chamada na época de “hobo”. Esses trabalhadores se deslocavam ilegalmente, pegando carona em trens de carga, trabalhando nas minas, nos moinhos, assentando trilhos de trem, e em geral construindo o Oeste capitalista estadunidense. Sabemos que Hill estava em San Francisco durante o terremoto de 1906, porque ele escreveu sobre isso para o jornal da sua cidade natal.

Em 1908 ele estava em Portland, onde se uniu ao Industrial Workers of the World (a IWW, ou os “wobblies”), o único sindicato que não excluía pessoas por etnia e que também tentava organizar todos os trabalhadores, ao invés de apenas aqueles em cargos “qualificados” (os cargos de ofício da época). Os wobblies acreditavam que se todos os trabalhadores estivessem em “Um Grande Sindicato”, isso poderia levar a uma greve geral, e, a partir daí, à tomada dos meios de produção. Eles evitavam política partidária e a via eleitoral, em prol de uma postura revolucionária, o que fez deles o inimigo público número 1 no que ficaria conhecido mais tarde como o “Primeiro Terror Vermelho” dos Estados Unidos.

Hill participou da famosa luta por liberdade de expressão em Spokane, Washington, nos anos de 1909 e 1910. Foi uma luta contra uma retirada de direitos de livre associação e expressão. A IWW chamou centenas de ativistas para ir a Spokane com a deliberada intenção de serem presos por falar em público. As cadeias de Spokane ficaram logo cheias de wobblies incontroláveis, o que desesperou um governador, que não conseguia fazê-los parar de cantar. O custo ao Estado foi astronômico, e então os prisioneiros eventualmente foram soltos e o banimento à liberdade de associação e expressão foi revogado – um evento que ecoa atualmente nas prisões em massa da Palestine Action.

Por essa época, Hill e camaradas wobblies começaram a usar música de rua para combater as bandas do Exército da Salvação que deliberadamente tentavam abafar oradores da IWW. Foi um momento crucial para a IWW, que depois ficou conhecida como um “sindicato que canta”: lançando edições regulares de seu Little Red Songbook (Livrinho Vermelho de Canções), também conhecido como “música para atiçar as chamas do descontentamento”.

Hill embarcou numa onda prolífica de composições. Sua música mais famosa é “The Preacher and the Slave” (também conhecida como “Long Haired Preachers”), que critica o “Exército da Inanição” por prometer uma “torta no céu” (“pie in the sky”, uma frase que Hill inventou) ao invés de dar ajuda mais imediata. Assim como ele fez na Suécia, Hill frequentemente usava melodias religiosas ou populares, em parte porque suas músicas muitas vezes eram paródias, mas também porque isso deixava as músicas mais fáceis de aprender.

Hill disse que “se uma pessoa conseguir colocar alguns fatos frios, de senso comum, numa música, e vesti-los com um manto de humor… ela terá sucesso em atingir um grande número de trabalhadores”. E sua música era imensamente popular: de 12 músicas da edição de 1913 do Little Red Songbook, 10 eram de Hill. Valorizando sua música como uma forma de propaganda, a IWW o enviou a um local de greve no Canadá para que ele pudesse escrever uma nova música por lá.

Hill acreditava na importância de alcançar mulheres trabalhadoras, que eram, ele escrevia, “mais exploradas que os homens”. Ele escreveu uma de suas músicas mais famosas, “The Rebel Girl”, em homenagem a organizadoras wobbly como Elizabeth Gurley Flynn (o nome “Rebel Girl” é provavelmente um trocadilho com “Gurley”), Katie Farr, e Anges Thecla Fair. Ele também escreveu cartas argumentando que os wobblies passavam tanto tempo organizando homens trabalhadores que eles acabavam negligenciando a organização de mulheres. Não é necessário dizer que, ao fazer esses argumentos, ele estava bem à frente de seu tempo.

Em 1911, Hill manifestou seus sentimentos revolucionários de um jeito mais prático. Com vários outros wobblies, ele se juntou à Revolução Mexicana, que depôs com sucesso o Porfirio Diaz, ditador apoiado pelos EUA. A revolução logo foi traída, como acontece frequentemente, por seus temporários aliados Liberais: uma vez que Diaz saiu do poder, eles voltaram o exército mexicano contra os rebeldes. Hill teve sorte não apenas por escapar com vida, mas também por poder retornar com sucesso aos Estados Unidos.

Entretanto, em 1913, sua sorte acabou. Como é sabido, ele levou um tiro no que ele alegava ter sido uma discussão por uma mulher na mesma noite que um vendedor e seu filho foram assassinados. A evidência era extremamente frágil, mas o juiz do julgamento de Hill, Morris L. Ritchie, era tão tendencioso, que Hill foi considerado culpado pelos assassinatos e condenado à morte. A IWW lançou uma campanha pública em massa sobre seu julgamento injusto, embora Hill tivesse expressado receio de se tornar um mártir, ou um “Jesus de Lata”, como ele sarcasticamente dizia. Quando a hora finalmente chegou, ele foi estoico e bastante irônico: segundo relatos, ele deu ao pelotão de fuzilamento a ordem para atirar.

Logo antes da sua execução, ele rascunhou um poema chamado “The Last Will of Joe Hill”, que proclama que seu testamento é fácil de ditar, por ele não ter nada a dividir; e que sua família não precisa chorar, porque pedras que rolam não juntam musgo. O poema também expressa um desejo de ser cremado, o que a IWW honrou. Suas cinzas foram divididas em seiscentos envelopes e enviados ao redor do mundo, para que uma parte de Joe Hill pudesse inspirar futuras gerações. Em uma de suas cartas finais mais famosas, Hill disse ao líder da IWW “Big” Bill Haywood: “Não percam nem um segundo em luto – organizem”. Mas, na verdade, parece mais apropriado fazer os dois.

A influência de Hill só aumentou depois de sua morte. Isso se deu em parte à popular música-poema de 1936 “Joe Hill” por Alfred Hayes e Earl Robinson, em que Joe volta em um sonho, que diz que ele “nunca morreu”, e diz que ele está presente “Em toda mina e moinho/Onde trabalhadores fazem greve e se organizam/Lá você encontrará Joe Hill”. Músicos como Joan Baez, Tom Morello, Billy Bragg e a estrela de hiphop finlandesa Paleface citaram Hill como inspiração. Seu nome até foi tomado em homenagem pelo escritor de terror Joseph Hillstrom King, o filho de Stephen King (que escolheu dar ao filho o nome “Hillstrom”). E, principalmente, suas músicas ainda são cantadas em marchas e em linhas de piquete ao redor do mundo, em que trabalhadores e ativistas buscam concretizar a promessa de um mundo melhor por Joe Hill.

Imagem: Joe Hill, ‘Oh You Hoboing’ [tradução pro português: Ah, Você Sendo Hobo], enviado para Charles Rudberg por carta, em 2 de setembro de 1911

Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/11/19/remembering-joe-hill/ 

Tradução > Caio Forne

Conteúdos relacionados:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2022/05/30/eua-memoria-outro-tipico-exemplo-de-montagem-incriminadora-contra-o-movimento-obreiro-com-o-caso-de-joe-hill-em-utah/

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2015/06/02/franca-lancamento-joe-hill-a-criacao-de-uma-contracultura-operaria-e-revolucionaria-nos-estados-unidos-de-franklin-rosemont/

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2015/03/24/suecia-por-um-mundo-sem-fronteiras-congresso-internacional-em-memoria-de-joe-hill/


agência de notícias anarquistas-ana

Dia de chuva.
João-de-barro constrói ninho
No alto do poste.

Ângela Iachechen

[Espanha] Socavando a montanha mercantilizada

Nos últimos anos, o processo de esportivização do montanhismo e da escalada tem sido acompanhado por uma progressiva mercantilização de sua prática. No entanto, há algum tempo vêm ganhando força vozes que reivindicam um modelo de alpinismo que não seja permeado pelos valores hegemônicos do capitalismo.

Já vimos isso em demasiadas ocasiões: dezenas de montanhistas fazendo fila para conseguir coroar um cume dos que chamam de míticos. Ou montanhas de lixo acumuladas em paragens alpinas que parecem ter sucumbido à paixão do ser humano pelas alturas. Falamos, claro, dos efeitos colaterais do alpinismo sob o regime do capitalismo de telas.

Já vimos isso pela televisão ou em nossos telefones celulares, mas não é preciso ir muito longe para perceber até que ponto as dinâmicas sociais do capitalismo permearam a prática dos esportes de montanha atualmente. Predação do meio ecológico, turistificação de ambientes naturais, proliferação de academias de escalada vinculadas a grandes grupos empresariais, esportivização extrema… E junto a tudo isso, a quase obrigatória exibição da conquista, a integração do sucesso esportivo na construção da marca pessoal favorecida pelas redes sociais e a busca por uma almejada singularidade que, por um lado, corrói os vínculos humanos e, por outro, nos desconecta de toda a alteridade que a montanha encerra.

Uma tônica generalizada na maior parte dos esportes, sobretudo nos que se praticam individualmente, e que se repete, pelo menos no que diz respeito à exploração da marca pessoal e à busca desesperada por uma singularidade exclusiva, naqueles ambientes fechados destinados à otimização do corpo e da mente, sejam academias, spas ou retiros espirituais.

E é que, atualmente, a prática esportiva e o cuidado do corpo, juntamente com a psicologia positiva e o coaching, dir-se-ia que se tornaram dois elementos-chave na produção de uma subjetividade que contribui para a fragmentação social, a individualização das problemáticas sociais e sua patologização; uma subjetividade que, a partir do exposto, parece nos relacionar com o mundo exterior através de um modo de vida composto por sucessivas experiências de consumo. Porque sim, a montanha também pode ser consumida, e, ao menos para alguns lobbies empresariais, deve sê-lo sem restrições, já que a explotação dos ambientes naturais tem de ser um elemento de primeira linha na reestruturação da indústria de serviços que deve sustentar a nova fase do capitalismo verde.

No entanto, e como em quase todos os âmbitos da sociedade, também na prática do alpinismo e da escalada há vozes dissidentes. No passado 19 de junho, por exemplo, em uma mesa redonda organizada pela Piedra Papel Libros na sede madrilenha da Fundación Anselmo Lorenzo, reuniram-se vários coletivos para falar de montanhismo sob uma ótica anticapitalista e eminentemente libertária. Entre esses coletivos, a Unión de Grupos Excursionistas Libertarios de Madrid, que poderia ser considerada herdeira daqueles grupos anarquistas que, antes da Guerra Civil, faziam da conexão com a natureza uma ferramenta chave para a autoemancipação da classe trabalhadora, aposta por um modelo de alpinismo e escalada que, ao mesmo tempo que fomenta uma prática desmercantilizada e anticompetitiva, contribui para reconectar o alpinismo com o legado de valores revolucionários associados ao anarquismo ibérico.

Precisamente, essas genealogias militantes, mais concretamente, aquela que conecta os coletivos anarquistas de montanha atuais com os grupos naturistas e excursionistas libertários do início do século XX, podem ser rastreadas, ainda que parcialmente, em La bandera en la cumbre, de Pablo Batalla Cueto, autor também de La virtud en la montaña. Vindicación de un alpinismo lento, ilustrado y anticapitalista. Falamos de dois livros que fazem parte de uma fértil safra editorial na qual também podemos citar algumas obras importantes e arriscadas, como Alpinismo bisexual y otros escritos de altura, de Simón Elías, Escalantes e Ingrávidas, de María Francisca Mas Riera, ou Cartografías nómadas, Quebrantahuesos, La montaña apócrifa y Fin de cordada, de Olga Blázquez, responsável também pelo blog Antecima Anticima, onde se podem ler e baixar gratuitamente alguns trabalhos bem interessantes como Sociología del trabajado asociado al montañismo.

Encontramo-nos, pois, em um momento em que a progressiva mercantilização do alpinismo e da escalada está sendo contestada, tanto a nível teórico como prático, por uma pequena constelação de grupos cujo trabalho está abrindo novos caminhos de oposição ao modelo hegemônico. Academias de escalada autogeridas, coletivos anticapitalistas de montanha, grupos excursionistas de inspiração anárquica, livros e fanzines, encontros e jornadas… Não são poucos os projetos e iniciativas que, de diferentes âmbitos, estão apresentando alternativas reais.

Esperemos, é claro, que este movimento cresça nos próximos anos, multiplicando essas vozes dissidentes e evidenciando que é possível intervir em uma arena política — a do esporte — até bem pouco tempo pretensamente despolitizada. Estaremos atentos.

Juan Cruz López, editor da Piedra Papel Libros

Fonte: https://www.elsaltodiario.com/opinion-socias/socavando-montana-mercantilizada

Tradução > Liberto

Conteúdos relacionados:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/10/06/espanha-lancamento-a-bandeira-no-cume-uma-historia-politica-do-montanhismo-de-pablo-batalla-cueto/

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/02/24/espanha-caminantes-anarquistas-eliseo-reclus/

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2024/04/26/franca-lancamento-alpinismo-anarquismo-de-guilherme-goutte/


agência de notícias anarquistas-ana

Mal o dia clareia
a passarada
em coro chilreia

Eugénia Tabosa

A Vida Se Muda Nas Ruas

.

A vida se muda nas ruas

quebrando a normalidade,

o cotidiano e a rotina.

.

Todo espaço é público,

Palco de encontros e desencantos.

Todo tempo é outro, dentro e fora de nós.

.

É na praça que se reinventa a cidade,

que se subverte a realidade,

que se nega a ordem e a autoridade.

.

Ocupem permanentemente as ruas,

as margens, as encruzilhadas,

os corações e mentes da rapaziada.

.

Carlos Pereira Junior

agência de notícias anarquistas-ana

Joaninha em meu braço
Vovó viu e falou
Vem sorte por aí

Francieli da Silva

[Itália] Cresce o negócio das armas. O relatório do Sipri

2024 foi um ano recorde para a indústria bélica, com receitas globais de 600 bilhões.

A indústria de armas não conhece crise. Impulsionadas pelas guerras na Ucrânia e em Gaza, em 2024 as vendas dos 100 maiores produtores do mundo aumentaram 5,9%, alcançando um faturamento de cerca de 589 bilhões de euros. O crescimento foi detalhado no novo relatório do Stockholm International Peace Research Institute (Sipri).

Os aumentos mais significativos ocorreram nos Estados Unidos e na Europa. Pela primeira vez desde 2018, as cinco principais empresas em nível mundial aumentaram todas as suas receitas.

Os Estados Unidos continuam fazendo a maior parte. O faturamento total das 39 empresas norte-americanas entre as 100 maiores chegou a 290 bilhões de euros, com um aumento de 3,8%. Seis das dez maiores empresas são dos Estados Unidos, incluindo as três primeiras: Lockheed Martin, RTX e Northrop Grumman. Os fabricantes europeus de armas também registraram aumento nas vendas: das 36 empresas analisadas, 23 viram seu faturamento crescer, com um volume total em alta de 13%, chegando a 131 bilhões de euros, impulsionado pela demanda decorrente da guerra na Ucrânia.

Apesar das sanções, as receitas russas do setor de armamentos continuam a crescer. As duas principais empresas russas, ambas no Top 100 — Rostec e United Shipbuilding Corporation — alcançaram um faturamento de 27 bilhões de euros, com aumento de 23%.

Outro ponto de destaque documentado pelo relatório é, pela primeira vez, um número recorde de empresas do Oriente Médio no Top 100: são nove (eram seis no ano passado), com um faturamento total de 27 bilhões de euros, em alta de 14%. Três empresas israelenses representaram pouco mais da metade do faturamento total, com um valor conjunto de 14 bilhões de euros, também em crescimento de 14%.

Tradução > Liberto

Conteúdo relacionado:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/12/08/industria-de-defesa-brasileira-cresce-114-em-dois-anos/

agência de notícias anarquistas-ana

Por aqui passou
uma traça esfomeada:
livro de receitas.

Francisco Handa

Com aval de Lula 3, Força Aérea Brasileira realiza disparo inédito do míssil Meteor com o caça Gripen

A FAB (Força Aérea Brasileira), realizou o primeiro disparo do míssil Meteor pelo novo caça sueco, o F-39 Gripen, no mês de novembro, em Natal, no Rio Grande do Norte. O Meteor é um dos mísseis mais letais da atualidade e um dos mais avançados do mundo.

Na América do Sul, apenas o Brasil conta com um míssil do tipo, o que o torna o mais poderoso do continente. Dentre os países que já operam com o Meteor, estão a França, Reino Unido, Alemanha, Itália, Espanha, Suécia e Índia.

Durante o teste realizado pela FAB, o míssil atingiu alvos aéreos manobráveis Mirach 100/5, drones que simulavam perfis de voo de caças em alta velocidade e altitude. A intenção foi criar um cenário desafiador para avaliar a precisão do míssil.

O Meteor é um míssil com capacidade além do alcance visual contra alvos a longa distância, como caças, drones e mísseis de cruzeiro, em um ambiente com maciça interferência de contramedidas eletrônicas.

Um dos mísseis mais poderosos do mundo

Dentre os diferenciais que tornam o Meteor tão poderoso estão sua capacidade de ser lançado sem emitir sinais de seu radar até chegar mais próximo do alvo, o que dificulta a detecção e aplicação de contramedidas por aeronaves adversárias.

Além disso, o míssil conta com um link de dados bidirecional que permite que a aeronave de caça forneça atualizações de destino no meio do curso ou redirecionamento, se necessário, incluindo dados de outras aeronaves.

Diferentemente dos mísseis convencionais, o Meteor conta com um motor “ramjet”, capaz de modular a velocidade e consumo de combustível durante o voo, com isso, o míssil acelera na parte final, quando o alvo se encontra sem a possibilidade de escapar, o chamado escape zone.

Fonte: agências de notícias

agência de notícias anarquistas-ana

na rua deserta
brincadeira de roda
vento se sujando de terra

Alonso Alvarez

[Itália] Buscando liberdade rua por rua

Tempo de balanços para um ano que está chegando ao fim. Um ano cheio de iniciativas em que a presença anarquista foi marcante — e não poderia ser diferente. O contexto em que vivemos é caracterizado pela violência, pelo autoritarismo e pelo fascismo com que os governos impõem às massas exploração, opressão e morte. A guerra é o instrumento comum do domínio, desde a guerra declarada, conduzida com armas nas muitas regiões do mundo devastadas por conflitos e genocídios, até a guerra interna, feita de pobreza, exploração, miséria, opressão e morte; morte também aqui, também entre nós: demonstram isso os quase 1.000 mortos no trabalho deste ano, os quase 100 feminicídios, homicídios de pessoas trans e lesbicídios, e os tantos mortos pela inacessibilidade de cuidados em um sistema de saúde refém do lucro.

E, no entanto, essa morte social que querem nos impor ainda não venceu. Pelo contrário: neste cenário sombrio, vimos as ruas se encherem, as lutas se radicalizarem, a solidariedade crescer, as práticas de combate retomarem centralidade. A esperança se regenera, abre caminho nas ruas.

Estamos presentes nessas lutas, com a clareza da nossa mensagem, da nossa experiência e dos nossos objetivos. Nunca como agora é evidente que é preciso retirar dos governos os instrumentos de domínio, dos quais eles se valem para manter a opressão. Nunca como agora é necessário desafiar um presente intolerável, subverter a ordem, romper as divisões impostas por fronteiras, nacionalismos, patrões, gêneros, religiões e dar força a uma perspectiva baseada na solidariedade e na cooperação, na transformação social real, na liberdade, na anarquia.

É tempo de anarquia. Precisamos estar presentes — e estamos. Estamos nas ruas, ao lado de quem luta, nos movimentos reais e nas estruturas construídas de baixo para cima, levando métodos e práticas libertárias. Temos um patrimônio precioso a ser compartilhado, atravessado por muitas experiências de repressão, prisões, exílio, mas também por muitas lutas, experimentações e contaminações que tornam extremamente significativo e eficaz o nosso atual modo de intervir. É um patrimônio sustentado por um pensamento que a história não derrotou, cuja limpidez, depois de um século e meio, surge intacta para iluminar o presente. Um patrimônio alimentado por um tecido organizativo vivo, feito de pessoas, de círculos, de grupos, de iniciativas constantes.

O ano de 2025 se abriu, em janeiro, com o congresso da F.A.I., e se encerrou no outono com o encontro pelos 80 anos da Federação. No meio disso, um ano de lutas, de iniciativas, de presença nas ruas, de atividade constante. Porque não somos donos de nada, e nosso patrimônio queremos repartir, compartilhar, difundir, fazê-lo estar sempre vivo. Pela liberdade, pela anarquia. Feliz 2026.

A redação

Fonte: https://umanitanova.org/cercando-liberta-strada-per-strada/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

A bola baila
o gato nem olha
salta e agarra

Eugénia Tabosa

A Cortina de Fumaça das ONGs: O Assistencialismo como Braço do Capital e do Estado

Camaradas, a realidade que nossa militância enfrenta no Espírito Santo é absurda: proliferam-se por nossos territórios organizações não governamentais que, longe de serem espaços de libertação, atuam como agentes de domesticação. São, em sua maioria, extensões camufladas de partidos políticos e igrejas, estruturas que não buscam a transformação radical da sociedade, mas sim a perpetuação de um sistema de dominação. É preciso denunciar com vigor: as ONGs, principalmente estas vinculadas, são parte orgânica do capitalismo e não nos salvarão de suas garras. Pelo contrário, são engrenagens que lubrificam a máquina da opressão.

Observemos as ONGs atreladas a partidos políticos. Sua existência é cíclica e eleitoreira. Surgem como braços “sociais” de legendas que almejam o controle do Estado, oferecendo migalhas assistencialistas em troca de lealdade futura nas urnas. Sua ação não fortalece a autonomia do povo, mas cria uma relação de dependência clientelista. Elas precisam do Estado, seja através de editais públicos, verbas parlamentares ou convênios, recursos esses que são usados para ampliar a base de influência do partido. São, portanto, instrumentos para acessar o poder estatal e, consequentemente, gerir os mecanismos do capital. Lutam por uma fatia do bolo, jamais pela destruição do forno que cozinha a miséria.

Da mesma forma, as ONGs vinculadas a igrejas operam uma colonização mais profunda, misturando caridade com proselitismo. Utilizam a fome e a vulnerabilidade para impor uma moral religiosa e expandir seu rebanho. Sua ajuda é condicional, um embrulho para a doutrinação, que visa pacificar os oprimidos com a promessa de recompensa celestial, anestesiando a revolta terrena necessária. Estas organizações também dependem do Capital, seja através de doações de grandes corporações que buscam lavar sua imagem, seja de recursos públicos obtidos por sua enorme influência política. São o braço “social” do capitalismo teológico, que converte a necessidade material em controle espiritual.

A conjuntura é clara: estas ONGs não existem à margem do sistema. Elas são funcionais a ele. O capitalismo, em sua fase neoliberal, terceiriza para elas o papel de amortecer os impactos mais brutais da exploração, um paliativo que evita a explosão social. O Estado, por sua vez, as financia e regula, cooptando potenciais focos de resistência e transformando demandas por direitos em projetos gerenciáveis. São uma válvula de escape, uma forma de gerenciar a pobreza sem alterar as estruturas que a produzem. Enquanto distribuem cestas básicas, silenciam sobre a propriedade privada dos meios de produção.

Nós, da Federação Anarquista Capixaba, rejeitamos esta cortina de fumaça. Nossa luta não é por mais ONGs, mas por organização popular autônoma, direta e de base. Acreditamos na ação direta, na ajuda mútua desinteressada, na construção de realidades que confrontem o poder, desde baixo, sem mediadores, sem patrões e sem sacerdotes. Construímos comedores comunitários autogeridos, hortas coletivas, grupos de defesa territorial e círculos de estudo sem vínculo com editais ou interesses eleitorais. Nossa solidariedade é de classe, não é esmola nem investimento.

Portanto, desmascaremos essas entidades que, vestidas com o manto da bondade, fortalecem as correntes que nos aprisionam. Não depositemos nossa esperança em salvadores institucionais. Nossa libertação não virá de cima, nem de projetos aprovados no gabinete de um político ou na cúria de uma igreja. Virá da nossa própria capacidade de nos organizarmos, horizontalmente, combatendo o Estado, o Capital e todas as suas faces, inclusive as mais “beneméritas”. A verdadeira transformação social nasce da autonomia, do apoio mútuo e da luta intransigente contra todas as formas de dominação. Fora do povo organizado, não há salvação!

Federação Anarquista Capixaba – FACA

fedca@riseup.net

federacaocapixaba.noblogs.org

agência de notícias anarquistas-ana

Crepúsculo. O sol no horizonte
Vai descendo
Os degraus do monte.

Clínio Jorge

Natal na prisão (1874) – Piotr Kropotkin

O aniversário de Piotr Kropotkin no calendário moderno cai no solstício de inverno, em 21 de dezembro de 1842 (Wikipedia, como ocorre com muitas coisas, não reconhece que o 9 de dezembro é o aniversário de Kropotkin segundo o antigo calendário russo). A cada ano por estas datas gosto de publicar algo de Kropotkin, às vezes com temática natalina. Assim que este ano apresento este extrato de Memórias de um revolucionário, de Kropotkin, onde descreve como lia os contos natalinos de Charles Dickens enquanto estava encarcerado na Rússia em 1874.

Robert Graham

Quando se inteirou de minha detenção, meu irmão, Alexander deixou tudo imediatamente, o trabalho de sua vida, a própria liberdade, tão necessária para ele como o ar livre para um pássaro, e regressou a São Petersburgo, uma cidade que detestava, só para ajudar-me durante meu encarceramento.

A ambos nos afetou muito esta entrevista. Meu irmão estava muito emocionado. Odiava ver os uniformes azuis dos gendarmes, esses carrascos de todo pensamento independente na Rússia, e expressou seus sentimentos com franqueza em sua presença. Enquanto a mim, vê-lo em São Petersburgo me encheu dos mais sombrios temores. Alegrou-me ver seu rosto honesto, seus olhos cheios de amor, e ouvir que os veria uma vez ao mês; e, no entanto, desejava que estivesse a centenas de quilômetros daquele lugar ao qual havia chegado livre aquele dia, mas ao qual inevitavelmente o levariam alguma noite escoltado por gendarmes. «Por que veio à cova do leão? Volte em seguida!», gritava todo meu ser interior; e no entanto, sabia que ficaria enquanto eu estivesse na prisão.

Ele compreendia melhor que ninguém que a inatividade me mataria, e já havia solicitado permissão para que pudesse voltar ao trabalho. A Sociedade Geográfica queria que terminasse meu livro sobre o período glacial, e meu irmão movimentou todo o mundo científico de São Petersburgo para que apoiasse sua solicitação. A Academia de Ciências se interessou pelo assunto e, finalmente, dois ou três meses depois de meu encarceramento, o governador entrou em minha cela e me anunciou que o imperador me permitia terminar meu informe para a Sociedade Geográfica e que me proporcionaria pena e tinta para tal fim. «Só até o pôr do sol», acrescentou. Em São Petersburgo, o pôr do sol é às três da tarde no inverno, mas isso não se podia evitar. «Até o pôr do sol» foram as palavras que utilizou Alejandro II quando concedeu a permissão.

Assim que podia trabalhar!

Agora me custa expressar o imenso alívio que senti ao poder voltar a escrever. Havia aceitado viver só de pão e água, na cela mais úmida, contanto que me deixassem trabalhar.

No entanto, eu era o único prisioneiro que permitiam ter material de escrita. Vários de meus companheiros passaram três anos ou mais reclusos antes que acontecesse o famoso julgamento de «os cento e noventa e três», e a única coisa que tinham era uma lousa. Claro, inclusive a lousa era bem vinda naquela lúgubre solidão, e a utilizavam para escrever exercícios nos idiomas que estavam aprendendo ou para resolver problemas matemáticos; mas o que se anotava na lousa só durava umas poucas horas.

Minha vida na prisão adquiriu então um caráter mais regular. Tinha um motivo imediato para o qual viver. Às nove da manhã já havia dado minhas primeiras trezentas voltas pela cela e esperava que me trouxessem meus lápis e canetas. O trabalho que havia preparado para a Sociedade Geográfica continha, além de um informe sobre minhas explorações na Finlândia, uma discussão sobre as bases nas quais devia sustentar-se a hipótese glacial. Agora, sabendo que tinha muito tempo pela frente, decidi reescrever e ampliar essa parte de meu trabalho. A Academia de Ciências pôs a minha disposição sua admirável biblioteca, e um canto da minha cela logo se encheu de livros e mapas, incluindo todas as publicações do Serviço Geológico Sueco, uma coleção quase completa de informes de todos as viagens ao ártico e séries completas da Revista Trimestral da Sociedade Geológica de Londres. Meu livro cresceu na fortaleza até alcançar o tamanho de dois grandes volumes. O primeiro deles foi impresso por meu irmão e Polakóff (nas Memórias da Sociedade Geográfica), enquanto que o segundo, ainda sem terminar, permaneceu em mãos da Terceira Seção quando fugi. O manuscrito não foi encontrado até 1895 e entregue à Sociedade Geográfica Russa, que o enviou a Londres.

Às cinco da tarde, às três no inverno, assim que traziam a pequena lâmpada, me tiravam os lápis e canetas e tinha que deixar de trabalhar. Então costumava ler, sobretudo livros de história. As gerações de presos políticos que haviam estado reclusos na fortaleza haviam criado uma biblioteca bastante completa. Permitiram-me acrescentar à biblioteca várias obras fundamentais sobre a história da Rússia e, com os livros que me traziam meus familiares, pude ler quase todas as obras e coleções de atos e documentos relacionados com o período moscovita da história da Rússia. Desfrutava lendo não só os anais russos, especialmente os admiráveis anais da república democrática medieval de Pskov, talvez os melhores da Europa no que respeita à história desse tipo de cidades medievais, mas também todo tipo de documentos áridos e inclusive as Vidas dos santos, que em ocasiões contêm dados da vida real das massas que não se pode encontrar em nenhum outro lugar. Durante esse tempo também li um grande número de novelas e inclusive me preparei um presente para a véspera de Natal. Meus familiares conseguiram enviar-me as histórias natalinas de Dickens e passei as festas rindo e chorando com essas belas criações do grande novelista.

Fonte: https://theanarchistlibrary.org/library/petr-kropotkin-christmas-in-prison

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Regato tranquilo:
uma libélula chega
e mergulha os pés.

Anibal Beça

Rayistas gregos – Contra o poder, sempre com o bairro.

RAYISTAS GREGOS — SOLIDARIEDADE COM EXARCHIA

De Vallecas [Espanha] a Exarchia [Grécia], os bairros que resistem compartilham o mesmo fôlego, a mesma força, a mesma dignidade.

Hoje, o bairro de Exarchia sofre o ataque de um Estado que teme tudo o que não pode controlar: a auto-organização, a coletividade e a solidariedade.

Nós, os Rayistas Gregos – torcedores de um clube [Rayo Vallecano] nascido nos bairros operários de Madrid, que carrega o orgulho dos de baixo – colocamo-nos ao lado do povo de Exarchia.

Para nós, o futebol, o bairro e a vida não se separam.

Onde houver gente que luta para manter o espaço público livre, onde existir comunidade que defende seu direito de viver sem medo nem ocupação policial, ali estará também o nosso lugar.

Posicionamo-nos contra toda forma de gentrificação, tanto nas ruas de Exarchia quanto nas de Vallecas.

Não queremos bairros vitrine, mas lugares vivos que pertençam à sua gente.

O turismo massivo e os Airbnb expulsam os moradores, aumentam os aluguéis e transformam a vida cotidiana em mercadoria.

A destruição de Exarchia através das obras do metrô, a privatização da colina de Strefi e a presença policial constante são parte do mesmo plano de controle e mercantilização.

Apoiamos as ocupações e os espaços autogeridos, porque ali respira a coletividade, a expressão livre, o esporte, a comunicação e a fraternidade. São as raízes que mantêm vivos os bairros quando tudo ao redor é privatizado.

E assim como apoiamos Exarchia, também expressamos nosso apoio aos moradores de Vallecas, que lutam contra os fascistas e as empresas que tentam fechar seus próprios espaços ocupados e autogeridos. Porque a luta é uma só – de Madrid até Atenas.

A solidariedade não conhece fronteiras – é nossa bandeira.

Nas ruas de Vallecas e nas ruas de Exarchia, os muros falam a mesma língua: Resistência, dignidade, liberdade.

De nossas arquibancadas até vossas praças,

Força para Exarchia.

Nenhum bairro nas mãos do poder.

As ruas pertencem a quem as vive.

RAYISTAS GREGOS – Contra o poder, sempre com o bairro.

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

vento apressado
por que não senta aqui
do meu lado

Alexandre Brito

[México] Até sempre, Yorch.

Hoje nos atravessa a ausência.
Arrancaram de nós a vida de Yorch.
Dói nomeá-lo no passado.
Dói saber que seus passos e sua teimosia luminosa não voltam mais.
Dói porque não foi destino, mas um caminho cheio de violência, abandono
e injustiça por parte do Estado e da UNAM, que sentenciaram sua vida.
.
Fica em nós uma raiva que queima, raiva pelo que lhe arrebataram, pelo
que quiseram destruir nele e em quem resiste, por uma história que não
foi um acidente, mas reflexo de um sistema podre.
.
Mas também nos fica sua força, a que ele semeou em cada gesto e palavra,
a que hoje nos obriga a não baixar o olhar e a continuar a luta com mais força.
Que a terra te seja leve, querido Yorch.
.
Teu nome seguirá vivo em nossa memória coletiva,
na luta que continua embaixo e à esquerda, a partir da dor, do amor e da raiva.
Abraçamos quem te acompanhou com amor, cuidado e dignidade,
quem sustentou teu nome e tua luta quando tudo parecia desmoronar.
.
Até sempre, Yorch.
Aqui seguimos por ti. Pelos que faltam, pelos que virão.

.

#yorchnomurióelestadolomató
#AbajoLosMurosDeLasPrisiones

Tradução > Liberto

Conteúdo relacionado:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/12/12/mexico-viva-o-companheiro-yorch-viva-a-anarquia/

agência de notícias anarquistas-ana

Uma chuva leve.
João-de-barro feliz
Quer barro fresquinho.

Eric Felipe Fabri

[Grécia] Contra a repressão estatal, a disciplina, as expulsões e as perseguições

Solidariedade aos/às estudantes anarquistas de Arquitetura da EME (Universidade Técnica Nacional de Atenas), que nos dias 15 e 16 de dezembro serão convocados para um conselho disciplinar e ameaçados de expulsão por terem ocupado sua escola contra as reestruturações antissociais na educação.

Tirem as mãos dos/as estudantes em luta

Assembleia Anarquista para a Emancipação Social e de Classe

agência de notícias anarquistas-ana

Frases compostas
no sol que passeia
sob minha caneta.

Jocelyne Villeneuve