[Itália] Anarquia – uma ideia sempre nova. Carrara, 80° Federação Anarquista Italiana


14 de Outubro de 2025

Realizou-se no sábado, 11, e no domingo, 12 de outubro, no auditório do Teatro Animosi, em Carrara, o congresso de estudos organizado em ocasião do 80° aniversário da constituição da Federação Anarquista Italiana, que aconteceu em Carrara durante o Congresso realizado de 15 a 19 de setembro de 1945.

O Congresso, intitulado “Anarquismo. Uma história global e italiana 1945-2025”, reuniu cerca de vinte estudiosos, pesquisadores e militantes que apresentaram palestras sobre diversos temas: desde o papel do anarquismo na Itália republicana até as geográficas transnacionais do anarquismo italiano, passando pela relação entre anarquismo e movimentos sociais, e também o vínculo com o sindicalismo e os conflitos sociais.

As discussões abrangeram desde temas mais especificamente históricos até questões mais atuais, apresentando assim a complexa história do anarquismo italiano, com os momentos de crise e desenvolvimento ligados ao crescimento da consciência social e ao desenvolvimento dos movimentos de massa. Esse tema foi abordado no primeiro dia, enquanto o segundo dia focou em questões relacionadas às novas tecnologias digitais, às escolhas militaristas e belicistas dos governos, à crise ambiental e ao desenvolvimento dos movimentos transfeministas. Na tarde de domingo, foi discutido o relacionamento com o movimento operário, explorado tanto do ponto de vista histórico quanto no contexto do sindicalismo de base, anarcossindicalismo e as lutas da chamada nova classe operária.

O evento, portanto, preencheu uma lacuna na historiografia italiana, que, ao revisar os conflitos sociais, sistematicamente ignorou o papel do anarquismo, e especialmente do anarquismo organizado. Da mesma forma, a parte dedicada à atualidade confirmou o papel do anarquismo, tanto como referência para práticas de luta e organização dos movimentos de base, quanto como crítica ao governo – não a este ou aquele governo específico, mas uma crítica ao modelo social baseado no domínio, ou seja, uma crítica ao governo enquanto tal.

Durante os dois dias, várias centenas de pessoas assistiram ao congresso, sendo necessário equipar o Teatro de Terra com uma conexão especial para acomodar aqueles que não encontraram lugar na sala e permitir que acompanhassem as discussões. Estiveram presentes delegações da Federação Anarquista Ibérica e da Federação Anarquista Francófona, enquanto o secretariado da Internacional das Federações Anarquistas, impossibilitado de participar, enviou seu caloroso cumprimento.

No sábado, ao final da sessão, ocorreu uma manifestação que seguiu do Teatro Animosi até a Praça Matteotti, onde está localizada a sede histórica do grupo “Germinal”, no auditório do Teatro Politeama, fechado desde 2008 devido a um colapso estrutural que afetou todo o edifício e, consequentemente, a sede do Germinal, por causa de uma especulação imobiliária. Na cerca que envolve o prédio e impede o acesso, um grupo de jovens artistas de Carrara fez um mural com a inscrição: “Federação Anarquista Italiana – Nossa pátria é o mundo inteiro, nossa lei é a liberdade”.

Na noite do mesmo dia, aconteceu o concerto “Acordes Libertários” no ARCI Fuori Luogo, gentilmente cedido. Alessio Lega, Riccardo Dodi, Marchi Marletti, Avanzi di Galera e a Orquestra Filarmônica Fatica e Sudore realizaram uma noite que envolveu e encantou o numeroso público.

Um agradecimento especial aos palestrantes e coordenadores das sessões, que não solicitaram qualquer reembolso de deslocamento.

Um sincero agradecimento, finalmente, às companheiras e companheiros do grupo Germinal, que permitiram o perfeito sucesso do Congresso.

Em resumo, Carrara teve, mais uma vez, a confirmação de que a anarquia é harmonia, enquanto o caos é o produto das instituições e da propriedade privada.

Tiziano Antonelli

Fonte: https://umanitanova.org/anarchia-unidea-sempre-nuova-carrara-80-federazione-anarchica-italiana/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

No terreno baldio
Ainda cheias de orvalho,
Campânulas!

Paulo Franchetti

[São Paulo-SP] Lançamento de livros: “Proudhon: guerra, anarquia e revolução” e “Cinema na Revolução Espanhola”

No dia 31 de outubro, das 18h às 21h30, acontece na Livraria da Vila – Fradique Coutinho o lançamento de dois livros sobre associações livres, invenções e revoltas contra o Estado e os autoritarismos.

Proudhon: guerra, anarquia e revolução

“Desde meados da década de 1840, Proudhon se deixou permear pelas invenções dos produtores, que potencializavam suas formas de trabalho a partir de contratos anarquistas, associando-se por fora do Estado e contra a lógica de soberania. A proliferação de unidades em meio à diversidade e antipolíticas, cujo desdobramento é a emergência de Estados federais, provocam, gradativamente, a demolição da política, tecnologia inseparável das aspirações pacificadoras. O Estado federal é um facilitador das associações livres em detrimento das formas de governo sobre os súditos e pelos súditos, distanciando-se de quaisquer pretensões de soberania. Não está fundamentado em técnicas de regulamentação e regulação de populações, no governo sobre o homem-espécie. Não é um gestor das relações de trabalho, da circulação de pessoas, de mercadorias, da segurança pública. Ao contrário da razão governamental, cujo fundamento é a reflexão em torno dos objetos sobre os quais o Estado intervém, na federação as questões relativas às formas de vida na diferença são levadas adiante pelas forças associadas nos bairros, departamentos, comunas, províncias. Não se trata de uma tecnologia de governo sobre o vivo, mas invenções vitais, criações em torno de outros modos de viver por meio da experimentação e das vontades de cada associação.”

Cinema na Revolução Espanhola

“A revolução libertária na Espanha proporcionou a realização de um cinema que vai além da arte convencional: um cinema que se entrelaça com a vida e com o imaginário, capturando o inquietante, o estopim da revolta que inflama as práticas de liberdade. Trata-se de uma arte insurgente, que encontra seu espaço de rebeldia, para abrir percursos de invenção e experimentação. Os anarquistas lutam pela vida livre de hierarquias, e de governos, evitando projetos ou caminhos pré-determinados, em favor de percursos e resistências inéditos. Os filmes realizados por eles durante a Revolução Espanhola, de forma semelhante aos seus escritos, relatos, publicações, associações e escolas antidisciplinares, constroem uma cultura libertária em combate ao Estado, à propriedade e aos padrões estéticos estabelecidos para serem respeitados de modo obediente. As imagens produzidas no fervor revolucionário atravessam a opacidade da tela de projeção e impulsionam a vida daqueles que buscaram e seguem buscando fazer a anarquia no presente.”

A anarquia sempre está presente!

nu-sol.org

agência de notícias anarquistas-ana

Lua de primavera —
O tempo em que me fazias
pular o muro e fugir.

Guin Ga Eden

[EUA] Defendendo Nossos Colegas dos Ataques do Capítulo da Turning Point USA em Rutgers

8 de outubro de 2025

Nesta semana, nosso colega Dr. Mark Bray foi alvo de ataques pelo capítulo da Turning Point USA em Rutgers devido ao seu trabalho acadêmico público. A campanha do grupo para que o Dr. Bray fosse demitido resultou em doxxing (exposição de dados pessoais) e ameaças de morte que também se estenderam à sua parceira, Dra. Yesenia Barragan, igualmente nossa colega. Esses ataques forçaram os Drs. Barragan e Bray a deixarem suas casas por questões de segurança, tanto deles quanto de seus filhos. Os sindicatos Rutgers AAUP-AFT e Rutgers Adjunct Faculty Union condenam essa campanha e manifestam solidariedade a nossos estimados colegas.

O Dr. Bray, professor assistente no Departamento de História de Rutgers–New Brunswick, foi alvo por seu extenso trabalho como historiador dos movimentos antifascistas, incluindo seu livro amplamente lido Antifa: The Anti-Fascist Handbook (2017). A Dra. Barragan, professora associada no mesmo departamento, é uma pesquisadora premiada sobre a escravidão nas Américas, autora de Freedom’s Captives: Slavery and Gradual Emancipation on the Colombian Black Pacific (2021).

O ataque da Turning Point faz parte de um esforço crescente da extrema direita para suprimir a fala, o ensino e a pesquisa de docentes que não se alinham à sua política. A Turning Point integra uma rede mais ampla de grupos e autoridades eleitas que vêm atacando professores em Rutgers e em todo o país.

A tentativa de má-fé de apresentar o Dr. Bray como uma ameaça aos estudantes e de conseguir sua demissão é uma ofensa aos valores de liberdade acadêmica da universidade, além de contradizer o suposto compromisso da Turning Point com uma “cultura de debate aberto”.

Como afirmou um representante da Turning Point à Fox News: “Queremos chamar o máximo de atenção possível para seu envolvimento com o antifa para ajudar a proteger, você sabe, nossa liberdade acadêmica.” Essa é uma deturpação grotesca do significado de “liberdade acadêmica”, que existe justamente para proteger o trabalho acadêmico e político dos professores Bray e Barragan, da mesma forma que protege o direito da Turning Point de criticá-los. Em nenhum momento da história centenária da liberdade acadêmica nas universidades dos EUA ela significou demitir professores para ‘proteger’ estudantes da exposição a ideias.

Outro porta-voz da Turning Point afirmou que a organização não “concorda com ameaças de morte, assédio ou doxxing”. No entanto, tais consequências têm sido uma característica recorrente das campanhas direcionadas da Turning Point, desde a criação, em 2016, de sua lista Professor Watchlist, que incluía vários docentes de Rutgers. As ameaças contra os professores Barragan e Bray são uma consequência previsível da campanha de distorção das ideias do Dr. Bray. Como resultado, a vida dos professores foi profundamente afetada, e seus estudantes foram privados da troca de ideias em sala de aula, o que compromete sua formação.

O silêncio diante desses ataques apenas encorajará ainda mais a extrema direita. Por isso, os sindicatos docentes de Rutgers rejeitam as campanhas difamatórias da Turning Point USA e declaram apoio público aos colegas Dr. Mark Bray e Dra. Yesenia Barragan. Convidamos todos os membros da comunidade de Rutgers, estudantes, funcionários e administradores, a se unirem a nós nessa posição pública de solidariedade.

Assinam:

Whitney Strub, Co-presidente, Comitê Conjunto de Liberdade Acadêmica, Rutgers AAUP-AFT

Sean T. Mitchell, Co-presidente, Comitê Conjunto de Liberdade Acadêmica, Rutgers AAUP-AFT

Hank Kalet, Co-presidente, Comitê Conjunto de Liberdade Acadêmica, Rutgers Adjunct Faculty Union

Rebecca Givan, Presidente, Rutgers AAUP-AFT

Heather Pierce, Presidente, Rutgers Adjunct Faculty Union

Fonte: https://rutgersaaup.org/defending-our-colleagues-from-attacks-by-the-rutgers-chapter-of-turning-point-usa/

Tradução > Contrafatual

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Por falta de pilha
o relógio parou
na eternidade.

Júlio Parreira

Paro no Equador: escalada de repressão com ao menos três mortos, dezenas de feridos e cidades sitiadas

No contexto de 23 dias de paro nacional convocado pelo movimento indígena e trabalhadores contra a eliminação do subsídio ao diesel e outras demandas, o Equador atravessa uma crise marcada pela repressão estatal, bloqueios generalizados e denúncias de violações a direitos humanos. Ascendem a três os assassinados pelo estado após o “comboio humanitário” que levou repressão à província mais conflitiva. 

Por ANRed | 15/10/2025

Três falecidos e uso excessivo da força

A repressão estatal deixou ao menos três mortos e mais de quarenta feridos na província de Imbabura, epicentro dos protestos. Entre os falecidos se mencionam um comuneiro de Chachimbiro, José Huamán — ferido por intactos de bala — e Rosa Paqui Seraquive, uma mulher idosa que morreu por asfixia derivada do uso intensivo de gás lacrimogêneo.

Organizações humanitárias confirmaram a cifra de três mortos, denunciando que a repressão foi ordenada pelo governo de Daniel Noboa. Ademais, se denuncia que militares ingressaram em hospitais e centros de saúde em Imbabura para deter pessoas feridas, e que ao pessoal médico haviam instruído a não dar atenção a feridos ou alertar imediatamente à Polícia.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) emitiu um chamado ao Governo para estabelecer um diálogo inclusivo e evitar novas violações a direitos humanos, advertindo que o uso de armas de fogo em contextos de protesto está estritamente proibido. Também o expressaram relatores da ONU para a questão indígena.

Otavalo: cidade sitiada, isolada e com escassez

Enquanto isso, a cidade de Otavalo, situada a uns 60 km de Quito, ficou praticamente isolada após os bloqueios de rotas de acesso. Os enfrentamentos entre manifestantes e forças de segurança deixaram dezenas de feridos, e 31 detidos reportados pela Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie). O governo tem sido cruel com a população. No domingo passado, 28 de setembro a repressão sobre a cidade deixou as imagens do assassinato por parte do exército de Efrain Fuerez pai de dois filhos, de 48 anos de idade.

A cidade sitiada comunicou que a atividade comercial e turística esteve paralisada. A Câmara de Turismo local estima perdas diárias de 2 milhões de dólares devido às restrições impostas. A população local denuncia que já começa a escassear o alimento e outros bens essenciais: “está acabando quase todos os alimentos e o pior é que não há quem venda”, declarou uma empregada do centro de Otavalo.

O Governo disse ter enviado “um comboio humanitário” com combustível, remédios e alimentos, que conseguiu ingressar na madrugada após mais de três semanas de reprimir bloqueios. As imagens que foram captadas só mostraram caminhões com  centenas de soldados levados para dissolver o protesto.

Um panorama de confronto e exigências

As denúncias de organizações não governamentais e direitos humanos advertem que a repressão inclui táticas militares dentro de centros de saúde, detenções arbitrárias, uso desproporcional da força, e uma criminalização do protesto indígena. São 23 dias de paro nacional e a única estratégia do governo tem sido a repressão.

Fonte: https://www.anred.org/paro-en-ecuador-escalada-de-represion-con-al-menos-tres-muertos-decenas-de-heridos-y-ciudades-sitiadas/

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Greve na fábrica:
as máquinas paradas
sonham com selvas.

Liberto Herrera

[Itália] Contra Israel – contra todos os Estados!

Ontem (14/10), em Udine, uma grande passeata de mais de 10.000 pessoas percorreu o centro da cidade para expressar sua raiva contra a partida de futebol entre Itália e Israel.

O bloco anarquista, organizada pela Coordenação Libertária Regional contou com a participação de mais de cem pessoas atrás da faixa com os dizeres “Contra todos os Estados, contra todo nacionalismo, pare o genocídio”, seguida por outras faixas.

Inúmeros slogans contra todos os Estados e todas as fronteiras foram gritados. Um dos oradores, falando pelo sistema de som, pediu participação na marcha antimilitarista em Turim, em 29 de novembro.

Fonte: https://germinalts.noblogs.org/post/2025/10/15/contro-israle-contro-ogni-stato/

agência de notícias anarquistas-ana

De nuvem em nuvem
lua de primavera
brilha, distraída.

Tânia D’Orfani

[Grécia] Para o camarada Kyriakos Xymitiris

Há um ano, o camarada Kyriakos Xymitiris perdeu a vida enquanto construía um equipamento explosivo. Ele decidiu reagir de forma dinâmica a uma grande injustiça, a uma política estatal antissocial e de classe, para defender um direito… O que quer que ele tenha decidido fazer, qualquer que tenha sido a ação que escolheu, foi certamente uma ação política armada contra um sistema de poder selvagem e profundamente injusto que, em nossa época, mostra cada vez mais sua face antissocial e racista. Um sistema de poder profundamente classista que agora mostra abertamente seu ódio por tudo que não gera lucro e poder.

O camarada Kyriakos perdeu a vida enquanto trilhava o caminho da ação armada contra o sistema. Na grande história global da luta armada, muitos, muitos combatentes deram suas vidas na luta contra governos autoritários, contra regimes totalitários, contra políticas antissociais, contra guerras entre estados. Eles deram suas vidas na luta por uma sociedade melhor. Eles deram suas vidas lutando com uma arma nas mãos.

Eles deram suas vidas colocando ou construindo dispositivos explosivos. Eles deram suas vidas por uma sociedade sem divisões, sem pobreza, sem guerras, pela libertação social.

Nessa luta, ninguém está perdido. A morte não apaga suas marcas sociais e políticas, que permanecem profundamente gravadas na história revolucionária.

Hoje e a cada dia que passa, vemos os envolvimentos entre o estado e o capital esmagando milhões de pessoas. O sistema de poder trouxe todas as armas que possui à tona e as está usando para sufocar a resistência, consolidar o consenso por meio da coerção e da violência, manter a passividade na base social, impor todas as medidas antissociais que deseja e aumentar os lucros do grande capital roubando da maioria. O capital e os estados modernos estão revelando sua face mais brutal e implacável na história. Ou eles expandem e fortalecem sua soberania sobre outros estados, ou deixarão que os privilégios de sua soberania diminuam e desapareçam. Dentro de uma profunda crise sistêmica que tem um passado e um futuro e na qual os estados e o capital estão afundando cada vez mais, todos os dias vivemos uma limpeza social generalizada – indireta ou diretamente –, guerras, genocídio de povos inteiros, racismo brutal, extermínio dos párias, exploração econômica extrema. Tudo isso se conecta em uma rede de gestão da crise de sobrevivência do sistema e manutenção dos lucros dos super-ricos do planeta. Junto com todas as formas de violência desencadeadas pelo sistema dominante de poder contra os fracos, o veneno do ódio pelo diferente e pelo fraco que afeta os jovens também está sendo desencadeado. A resistência e a luta contra o estado estão se tornando cada vez mais exigentes e, ao mesmo tempo, cada vez mais necessárias.

O mínimo que podemos fazer por lutadores como Kyriakos, que não se curvam, que não desistem, que não têm medo de enfrentar a escolha da ação armada numa época em que a violência excessiva do regime está superando todos os precedentes históricos modernos, é torná-los pontos de referência para a continuação da luta e inspiração para todos.

O camarada Kyriakos permanecerá para sempre um exemplo vivo de dedicação total e altruísmo em uma luta comum que diz respeito a toda a sociedade.

O camarada Kyriakos Xymitiris estará sempre presente na luta pela libertação social das amarras do estado e do capital.

Ele é Imortal.

Pola Roupa – Nikos Maziotis

Fonte: https://actforfree.noblogs.org/2025/10/04/for-comrade-kyriakos-ximitiris-by-pola-roupa-and-nikos-maziotis-greece/

Tradução > transanark / acervo trans-anarquista

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O black bloc avança—
o banco é um castelo
de cartas baratas.

Liberto Herrera

Não perca o prazo de inscrições para as atividades da XV Feira Anarquista de SP!

ATENÇÃO: os coletivos interessados têm até 25/10 para inscreverem suas propostas de atividades, oficinas, debates, exposições, apresentações, etc., por meio do formulário da Feira (link na bio do Instagram e site da Feira)

Haverá uma seleção das atividades, dado a limitação no espaço da escola. Assim, pedimos que se inscrevam o quanto antes. Lembrando que daremos prioridade aos grupos diretamente alinhados aos ideais anarquistas e lutas sociais.

Biblioteca Terra Livre | Centro de Cultura Social | Núcleo Estudos Libertários Carlo Aldegheri

XV Feira Anarquista de São Paulo

Data: 06 de dezembro de 2025

Horário: 10h – 19h

Local: ARCO Escola-Cooperativa, Rua Corinto, 652 – Butantã, São Paulo/SP

@feiraanarquistasp

agência de notícias anarquistas-ana

luar na relva
vento insone
tira o sono das flores

Alonso Alvarez

[Espanha] Apresentação do livro “La Vida en el Alambre – Memorias de Pepe Figueroa”

Desde a CNT Aranjuez informam da apresentação do livro “La Vida en el Alambre”, editado conjuntamente pela associação La Casa Negra, Doce Calles Ediciones e a delegação da Fundação Anselmo Lorenzo em Aranjuez. 

Pepe Figueroa, um riberenho nascido em 1.918 em uma Espanha de enormes desigualdades e em uma família com grandes dificuldades econômicas, viveu um dos períodos históricos mais convulsivos da história da Espanha, em muitos dos quais participou ativamente. Em sua luta pela liberdade e para escapar da miséria viveu com ilusão a chegada da II República e, após o Golpe de Estado, já militante anarquista, participou como combatente na Guerra Civil, sofrendo por isso as consequências em campos de concentração e batalhões de trabalho. E, como tantos outros homens e mulheres, Pepe Figueroa teve que buscar uma saída pessoal à derrota coletiva. E o fez, como tantos outros.

Mas Pepe não queria esquecer e, anos depois, quis deixar por escrito seu testemunho pessoal como um legado para sua filha, um testemunho no qual se mesclam fatos, recordações, sentimentos, poemas, explicações, interpretações, confissões, contradições, etc., e que nos permitem seguir Pepe por grande parte de sua vida.

Graças à generosidade de sua família as Memórias de Pepe Figueroa vão fazer parte também da memória coletiva dos riberenhos e riberenhas, ajudando-nos a compreender melhor nosso passado imediato e a reconhecer a importância não só da história com maiúsculas mas também das histórias menores, as da gente da rua, como Pepe, como nós…

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Noite fria, escura,
no asfalto negro da rua
late o cão vadio.

Fanny Dupré

[França] Torres de vigia de caça destruídas pouco antes do início da temporada de caça.

Setembro, França.

PARA CELEBRAR A ABERTURA DA CAÇA, DESTRUÍMOS TORRES DE VIGIA.

Nas noites que precederam a abertura da temporada de caça em setembro, por toda a França, dezenas de torres de vigia utilizadas para a caça foram sabotadas para se opor à abertura da temporada.

Os caçadores usam essas torres para contrariar qualquer defesa dos animais caçados e por isso escolhemos destruí-las em solidariedade.

A caça é uma prática masculina e assassina que prejudica em primeiro lugar as pessoas não-humanas mortas por caçadores, mas também todas as pessoas minorizadas. Reforça a violência dos homens cis. Armados, eles acreditam controlar os não-humanos e seus habitats, mas também mulheres, minorias de gênero e crianças. Agimos em solidariedade com todos os habitantes da floresta e com todas as outras pessoas afetadas pelos caçadores.

Alguns números sobre a França:

• 97% dos caçadores franceses são homens.

• 1/4 dos feminicídios são cometidos com armas de caça.

• Não existe lei que proíba crianças de irem caçar a partir dos 15 anos; um menor pode praticar “caça acompanhada” a partir dos 16 anos, um menor pode tirar a sua licença de caça e usar uma arma.

• Em 2023, o estado comprometeu-se a pagar novas ajudas aos caçadores (60 milhões de euros ao longo de 3 anos).

• Mais de 1,5 milhão de euros foram distribuídos às federações para vários projetos “educativos”.

O antiespecismo é uma luta política ligada a todas as outras. Quando normalizamos a violência do especismo (um sistema de dominação baseado na espécie), alimentamos o racismo, o sexismo, o capacitismo, fobias…

A animalização dos corpos possibilita justificar todas as opressões; um corpo “animal” é um corpo que pode ser esmagado.

Não podemos conceber a libertação total dos povos oprimidos sem os nossos camaradas não-humanos!

As únicas pragas são aquelas que desfrutam do poder e da dominação. Erradiquemos o seu poder de causar incômodo, vamos BLOQUEAR TUDO!”

Tradução > Contrafatual

agência de notícias anarquistas-ana

A lei é um caco
de vidro—nós pisamos
descalços, e sangramos.

Liberto Herrera

[México] Fanzine “Las Magonistas”, vocês de resistência e rebeldia das mulheres revolucionárias

O fanzine “Las Magonistas Revoluciones” reconta as histórias de vidas de 23 revolucionárias mexicanas em princípios do século XX sob o lema “Terra, Amor e Liberdade”. Financiado pela fundação política alemã Rosa-Luxemburg-Stiftung (RLS), foi apresentado em 25 de abril em Oaxaca.

Este zine é produto de uma série de oficinas realizadas em Oaxaca, Querétaro e Puebla, onde se juntaram garotas, dissidências, defensoras do território e adultas idosas para compartilhar a vida de algumas revolucionárias, falar de suas próprias revoluções cotidianas e das dissidências como uma potência política.

As magonistas decidiram abordar a luta não só desde as armas, mas desde o pensamento, da comunidade, das ruas, construindo redes de comunicação ou fazendo comedores comunitários. Com o fanzine se torna visível a trajetória da participação das mulheres na revolução e seu sentido profundo de comunidade e coletividade.

Não estão representadas todas as mulheres revolucionárias daquele tempo, mas as que pensaram nos três elementos de terra, o amor e a liberdade que ainda se vive nos territórios e em sua defesa. Sem a terra não há nada – nos dá de comer, onde nasce e corre a água e onde crescem as flores que comemos. O amor, porque sustentar a vida cotidiana com quem escolheu fazê-lo, é uma ação de amor verdadeiro. As magonistas consideraram que o amor é indispensável para uma revolução. Em liberdade, para poder seguir seu próprio caminho mais forte que as fronteiras impostas, livres e contra tudo aquilo que quer enjaular a mente e livres para criar uma nova geração livre e rebelde.

O fanzine contêm histórias de mulheres como as irmãs Andrea e Teresa Villarreal-González que viveram anos de intensa perseguição por sua luta pela liberação de presos políticos e os direitos das mulheres e da classe trabalhadora. A Basilisa Franco que foi expulsa do México em 1912 por distribuir um semanário proibido e não ceder aos soldados assediando-a. Felipa Velázquez Ozuna teve um papel importante nos sindicatos de obreiros e camponeses em Baja California onde lutava pela recuperação de terras de grandes empresas pelo que foi encarcerada. Mestra de profissão encontrou na poesia uma maneira de expressar suas ideias revolucionárias e escreveu em 1926:

Y como madre que soy

Y hermana de aquel servil

Por eso invitando voy

A destruir todo lo vil.

¡Y grito a la humanidad!

Si ser felices queremos,

Reclamemos la igualdad

Que por derecho tenemos.”

Baixar Fanzine Las Magonistas Revoluciones “Tierra, Amor y Libertad” (pdf, 81 pág.)

Este material é compartilhado com autorização de Educa Oaxaca

Fonte: https://www.briega.org/es/noticias/fanzine-magonistas-voces-resistencia-rebeldia-mujeres-revolucionarias

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Greve na fábrica:
as máquinas paradas
sonham com selvas.

Liberto Herrera

[Espanha] Greve Geral – 15 de outubro

Em solidariedade com a Palestina e contra o genocídio em Gaza

Na próxima quarta-feira, 15 de outubro, a CGT convoca uma greve geral de 24 horas em todos os setores produtivos do Estado. O motivo é claro: parar o genocídio do povo palestino e tornar visível a responsabilidade tanto do nosso próprio governo quanto das nossas empresas nesse massacre.

Há décadas, o Estado de Israel impõe um sistema de ocupação, fragmentação territorial e deslocamento do povo palestino. Nos últimos dois anos, testemunhamos o assassinato de milhares de crianças, bombardeios a hospitais e o bloqueio total de alimentos, água e medicamentos para dois milhões de pessoas em Gaza.

Isso não é uma guerra — é um crime prolongado e sistemático com fins coloniais e de limpeza étnica.

Por que isso nos interpela como classe trabalhadora?

Porque a crueldade militar é sustentada por interesses econômicos: venda de armas, acordos comerciais e cumplicidade diplomática. Somos a classe social com poder real para atingir interesses econômicos vitais, se agirmos coletivamente. A paralisação da produção e dos serviços reduzirá seus lucros e obrigará governos e empresas a se posicionarem.

Sabemos que CCOO e UGT [sindicatos majoritários] não vão se mover. Por interesses próprios, optarão por posturas mornas e meramente simbólicas. Mas nós não.

Se a injustiça não te deixa indiferente, aja.

A Palestina e os nossos direitos caminham juntos.

A mesma lógica que sustenta o genocídio em Gaza é a que corta nossos direitos:

  • Aumento dos gastos militares enquanto a saúde e a educação são sucateadas.
  • Impunidade política e empresarial diante das nossas condições de trabalho.
  • Uma deriva autoritária e belicista que destrói vidas aqui e lá fora.

Uma mobilização global

Neste 15 de outubro, nos unimos a uma onda de greves, paralisações e mobilizações que se espalham por diversos países do mundo em solidariedade com a Palestina.

Aqui, já vimos como a greve estudantil de 2 de outubro esvaziou salas de aula e encheu as ruas de mais de 40 cidades do país. Agora é a nossa vez.

No dia 15 de outubro: pare. Participe. Dê mais um passo.

>> Você pode ler o comunicado completo da CGT aqui: https://www.cgtaltenspain.es/wp-content/uploads/2025/10/Comunicado-Huelga-General-por-Palestina-15O.pdf

cgt.es

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Ainda que morrendo
o canto das cigarras
nada revela!

Matsuo Bashô

[Itália] One Piece chegou ao porto

Há algumas semanas, a bandeira de One Piece também está tremulando em Ancona. Um dos efeitos mais miraculosos das grandes manifestações pela Palestina na capital da nossa região foi a aparição da Geração Z, finalmente nas ruas. Quando algumas mil pessoas romperam a ridícula linha de contenção da DIGOS [força especial da polícia italiana] e entraram no porto comercial de Ancona, a bandeira do pirata mangá tremulava despreocupada.

As últimas semanas de setembro e, em seguida, a greve geral de 3 de outubro e a manifestação ardente em Roma no dia seguinte, testemunharam uma aceleração de eventos, ideias e emoções como não se via há um tempo. O genocídio palestino alcançou claramente um nível de intolerabilidade tão grande que alterou equilíbrios sociais que pareciam congelados.

No dia 22 de setembro, em solidariedade à iniciativa da Global Sumud Flotilla, mais de 8.000 pessoas ocuparam o porto de Ancona com um cortejo e um piquete fixo, participando de duas iniciativas diferentes que se mostraram complementares, apesar das diferenças e da difícil comunicação entre os organizadores, o Coordenamento Marche pela Palestina e os Centros Sociais das Marcas. Menos de dez dias depois, quando a Flotilha de solidariedade com Gaza foi sequestrada pelos militares israelenses, a Itália foi despertada pela primeira verdadeira greve geral após vinte anos de letargia. Em Ancona também, houve uma convergência, embora difícil, entre o sindicalismo de base, a CGIL e o movimento pela Palestina.

No dia 3 de outubro, os manifestantes e as manifestantes, determinados e indisciplinados, conseguiram, com sua pressão, entrar no porto comercial e bloquear por horas as atividades de carga e descarga de um mega navio da companhia MSC. O mesmo aconteceu com os Ferry-Boat que chegavam e partiam. No final do dia, um cortejo espontâneo bloqueou um dos pontos mais importantes da cidade e enfrentou a polícia em formação anti-distúrbios, que bloqueava o acesso à estação ferroviária. Foi nesse momento que, com o grito de “Palestina livre!”, apareceram os fantasmagóricos maranza, o pesadelo de Piantedosi desde que Ramy foi morto em Milão por uma viatura da polícia. O estopim não explodiu, pelo menos por enquanto, mas nasceram amizades e alguma cumplicidade.

Durante esses dias, e também em outros com menos participação, mas com grande energia, vimos pessoas que pensávamos perdidas, a geração abaixo dos trinta anos: determinada, curiosa, aberta. Houve encontros e reabriu-se um sentido inédito de possibilidade de mudança. Uma posição ética, contra um mundo insuportável, reabriu a possibilidade de criticar todo o resto: as condições materiais da miséria capitalista, a crise ecológica, o autoritarismo do fascismo dos algoritmos. No entanto, as relações de força ainda são muito desfavoráveis. A ameaça de uma guerra na Europa aumenta e a Palestina é cada vez mais maltratada, apesar de uma crescente solidariedade global por baixo. A intervenção diplomática de Trump para um cessar-fogo em Gaza tem o sabor de uma grande operação global de contra-insurreição preventiva, às custas de uma resistência palestina exausta e traída pelos estados árabes.

Enche-nos o coração o sorriso das crianças de Gaza, que talvez por um tempo viverão sem o som das bombas. Mas sabemos que essa história não termina aqui. O que vimos nascer é um movimento incrível e necessário, tão frágil quanto ameaçado por muitos perigos. Devemos cuidar dele. Como revista, continuamos a oferecer um espaço de crescimento, confronto e crítica para quem não se contenta com o presente e não quer se fechar em identidades sectárias e excludentes.

Neste número, continuamos a aprofundar os temas que nos são caros, para não desistir de nos formar, para afiar nossa capacidade crítica, criatividade política e cultural. As páginas se abrem e se fecham com dois espaços anarquistas de palavra e cooperação: a Feira do Livro Anarquista de Bolonha e a entrevista com o sempre verde Tomás Ibáñez, anarquista espanhol de grande experiência e ética. O que há no meio deixamos para vocês descobrirem. Por fim, mandamos um abraço ao Encontro Intergaláctico de Genuino Clandestino, que será realizado em meados de outubro pela CIURMA em Urbino: mercado de produtores, festa, discussões, convivência… falaremos sobre isso no próximo número.

Fonte: https://rivista.edizionimalamente.it/2025/10/11/one-piece-e-arrivato-al-porto/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

nuvem que passa,
o sol dorme um pouco –
a sombra descansa

Carlos Seabra

[Itália] Histórias pouco conhecidas: Elena, uma anarquista irredutível

Elena Melli (Lucca, 1889 – Carrara, 1946) foi uma incansável militante anarquista italiana cuja vida inteira esteve dedicada à luta contra a injustiça social e o capitalismo. Desde muito jovem, participou nos círculos anarquistas. Operária na fábrica Ansaldo de Gênova em 1917, se integrou nos movimentos obreiros de Sampierdarena e estabeleceu vínculos com a Unione Sindacale Italiana (USI). Sua militância e suas ideias radicais — como o antimilitarismo e a defesa do amor livre — a converteram em alvo de uma intensa repressão estatal, especialmente dura por tratar-se de uma mulher que desafiava os papeis tradicionais. Foi presa, deslocada, duramente vigiada e confinada em povoados isolados, tentando cortar sua luta.

Durante o Biênio Vermelho (1919-1920), momento insurrecional levado a cabo por anarquistas e socialistas que criaram conselhos obreiros, foi detida no marco de uma série de atentados anarquistas. Ainda que absolvida, reafirmou publicamente sua posição com a frase: “Anarquista nasce, não se faz!”. Pouco depois, participou no atentado do Teatro Diana, organizado por Giuseppe Mariani contra o chefe de polícia fascista. O ataque, que terminou com a morte de 17 pessoas, foi rechaçado pela maioria do movimento anarquista e marcou um ponto de inflexão na luta contra o fascismo. Muitos anarquistas se opuseram no momento ao atentado ainda que, no entanto, foram solidários e se propuseram pessoalmente para a defesa dos anarquistas envolvidos.

Em um clima repressivo altíssimo, Elena seguiu participando na luta antifascista, vinculando-se, por exemplo, à milícia popular anárquica Arditi del Popolo, que enfrentou de armas na mão o fascismo que se consolidava na Itália. Em 1926, após uma série de enfrentamentos e atentados fracassados contra Mussolini, a repressão fascista se incrementou. A Lei Única de Segurança Pública anulou as liberdades civis, e a recém-criada OVRA (polícia política secreta) impôs um sistema de vigilância total sobre os opositores, incluindo Elena, sua filha e o quem nessa ocasião era seu companheiro sentimental, Errico Malatesta. Os três foram submetidos à prisão domiciliar e controle permanente. Qualquer interação com conhecidos era castigada; as pessoas próximas eram interrogadas ou detidas só por cumprimentá-los na rua, e toda sua correspondência era lida pelas forças estatais.

Apesar deste clima de terror, Elena se negou  — junto a Malatesta — a assinar a adesão obrigatória ao regime fascista, diferente de muitas figuras públicas que cederam por medo. Em 22 de abril de 1928 foi detida, como em muitas outras ocasiões, desta vez por escrever a conhecidos em Milão sem nenhuma implicação política, e condenada a cinco anos de reclusão. Após dois meses sem condenação e devido à pressão exercida por vários protestos, Elena foi liberada, mas sob condições de confinamento extremadamente duras.

Pouco depois, sua filha Gemma, de apenas 15 anos, foi agredida brutalmente por um policial. A partir de então, ainda que recebessem ajuda solidária de anarquistas da Itália e do exterior, a repressão se tornou ainda mais implacável. Depois da queda do regime fascista, Elena se transladou a Carrara, zona de forte tradição anárquica onde recebeu ajuda dos companheiros da Federação Anarquista Italiana. Até sua morte em 1946, Elena se manteve fiel a seus princípios, enfrentando sem render-se à repressão, o exílio interior e a violência do Estado que buscou confiná-la uma vez ou outra. Sua vida foi exemplo de dignidade revolucionária, compromisso inquebrantável e resistência. Como anarquista militante, desafiou o poder com coragem, defendendo as ideias anarquistas de solidariedade e apoio mútuo, a violência defensiva revolucionária e a auto-organização, deixando um legado que ainda merece ser reconhecido e recuperado.

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Burocracia: teia
de aranha morta—o povo
varre com a risada.

Liberto Herrera

Irã, mais de mil pessoas executadas neste ano até agora

Redes Libertárias

Mais de 1.000 pessoas foram executadas no Irã durante este ano, denunciaram especialistas das Nações Unidas. Segundo Iran Human Rights, é a cifra mais alta nos últimos 30 anos. IHR, com sede na Noruega, contabiliza e verifica as execuções no Irã diariamente. A organização se queixa da ausência de reações internacionais ante esta barbárie.

O IHR afirmou que suas cifras são “um mínimo absoluto”, e que a cifra real provavelmente seja maior “devido à falta de transparência e as restrições à informação”. No Irã, as execuções se realizam atualmente mediante enforcamento, ainda que no passado se empregassem outros métodos. A maioria se realiza na prisão, ainda que ocasionalmente se realizem enforcamentos públicos. Segundo as organizações de direitos humanos, o Irã é o segundo país com maior número de execuções do mundo, depois da China, onde se crê que se executam milhares de pessoas ao ano, ainda que não se dispõe de cifras precisas.

O número de pessoas executadas pelas autoridades iranianas nos nove primeiros meses deste ano já superou a cifra de 972 execuções do ano passado. O IHR informou que a maioria dos enforcamentos se devia a delitos não letais, e que 50% das execuções se deviam a casos relacionados com drogas. Ao menos 499 pessoas foram executadas por este motivo, um aumento brutal com relação às entre 24 e 30 execuções anuais registradas entre 2018 e 2020.

Do total de execuções no que vai de 2025, 28 foram de mulheres, muitas das quais foram condenadas após matar a um marido por sofrer violência de gênero.

Desde os protestos Mulher, Vida, Liberdade de 2022, as autoridades iranianas aumentaram o uso da pena de morte como ferramenta de repressão estatal e, assim, esmagar a dissidência. Após a escalada de hostilidades entre Israel e Irã em junho de 2025, as autoridades também intensificaram o uso da pena de morte sob pretexto da segurança nacional. Desde 13 de junho de 2025, ao menos dez homens foram executados por acusações de motivação política, oito dos quais foram acusados de espiar para Israel.

É muito comum, que as pessoas em situação de risco de ser condenadas a morte o sejam por acusações excessivamente amplas e pouco definidas, como “inimizades contra Deus” (moharebeh), “corrupção na terra” (efsad-e fel-arz) e “rebelião armada contra o Estado” (baghi).

As investigações da Anistia Internacional demostraram que os tribunais revolucionários, que exercem jurisdição sobre delitos relacionados com a segurança nacional e as drogas, carecem de independência e impõem condenações severas, incluída a pena de morte, após julgamentos manifestamente injustos, e que às pessoas julgadas ante ditos tribunais lhes negam sistematicamente seu direito a um julgamento justo.

A aplicação da pena de morte tem tido um impacto desproporcional sobre as minorias marginalizadas, especialmente as pertencentes às comunidades afegãs, baluchi e kurda. Ao menos duas mulheres kurdas, a trabalhadora humanitária Pakhshan Azizi e a dissidente Verisheh Moradi, estão condenadas à morte e correm o risco de serem executadas.

O número de pessoas afegãs executadas pelas autoridades iranianas teve um crescimento triplicado, passando de 25 em 2023 a 80 em 2024. Esta tendência alarmante coincide com uma proliferação dos discursos racistas e xenófobos por parte das autoridades iranianas e se produz em meio de uma onda sem precedentes de expulsões massivas forçadas de pessoas de nacionalidade afegã que afeta inclusive às nascidas no Irã.

Fonte: https://redeslibertarias.com/2025/10/13/iran-mas-de-mil-personas-ejecutadas-en-lo-que-va-de-ano/

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

a sombra da nespereira
mergulha
na frescura do poço

Rogério Martins

[França] Dois livros para entender os efeitos da invasão tecnológica

Em um pequeno livro publicado no final de 2011, Frédéric Metz convida o leitor a buscar com ele respostas para uma pergunta formulada de maneira simples: o que acontecerá “quando o google, diante do mundo, souber ver e nomear”? [1]

“O google”, aqui, não é apenas o “G” dos GAFAM. É por isso que o autor remove sua letra maiúscula inicial e o transforma em um nome comum. O google é a máquina, no sentido genérico do termo — essa grande máquina de contornos indistintos, ao mesmo tempo rede e agregado de máquinas, da qual normalmente só percebemos a função de “mecanismo de busca”, mas que sabemos ser sustentada por uma miríade de sistemas e interdependências.

Na época em que Metz escreveu, o google ainda não sabia ver. Ele só manipulava palavras e reconhecia imagens apenas por suas legendas, aquelas que humanos haviam adicionado. Ele comparava, discriminava e calculava apenas a partir de palavras. Não “via”: não conseguia distinguir um rosto de outro, nem uma foto de flor de um desenho de flor. Já era formidavelmente poderoso, mas o autor nos convida a projetar o próximo passo de sua evolução: o momento em que ele poderia, por meio de uma rede infinita de olhos e sensores, ver o mundo por si mesmo e interpretá-lo sem mediação humana aparente [2]. Trata-se de considerar o que essa capacidade, e o uso que os humanos farão dela, fará com o próprio conhecimento.

“Não estamos falando aqui de uso policial — nem da destruição de toda clandestinidade possível. Também não estamos falando do medo de que as máquinas tomem o poder, nem do medo por nossa ‘liberdade’, nem mesmo do medo de polícias oniscientes e superpoderosas. Falamos, muito mais simplesmente, de uma revolução — colossal e perfeitamente simples — do cotidiano e da vida […].

Falamos do desaparecimento definitivo das coisas inicialmente desconhecidas.

De toda pessoa, antes que ela tenha dito algo, antes que você tenha olhado para ela, visto algo, seu computador — não maior que um telefone, sendo seu telefone — lhe dará a idade, a história, a genealogia, o currículo e algumas centenas de fotos tiradas aqui ou ali […]. E isso não vale apenas para o reconhecimento de pessoas. Há também o reconhecimento do pássaro desconhecido na cerca viva, do quadro desconhecido e da melodia. A máquina se torna capaz de me dar o nome de tudo o que aparece diante de mim. Ela reconhece e nomeia tudo o que vejo. É o conhecimento dado sem mediação — sem experiência prévia, sem vida […]. A máquina, em toda parte, antecipa meu conhecimento e meu desejo de conhecer. Onde encontrarei o desejo de aprender, de fazer conhecimento, quando minha máquina me indicar, por si mesma, de antemão, sempre tudo?”

Esse é o cerne da questão, a constatação vertiginosa à qual Frédéric Metz busca nos alertar, evocando os trabalhos dos maiores filósofos (Aristóteles, Kant e Merleau-Ponty) sobre a natureza do conhecimento, da experiência e da percepção, e desenvolvendo o antigo aviso de Walter Benjamin de que, com o advento da era moderna, “o curso da experiência despencou”.

O google que está por vir, nos diz Metz, é simplesmente o fim da experiência. É um mundo onde o conhecimento precede a experiência, as respostas precedem as perguntas. O saber acumulado em um instante “t” é devolvido aos humanos de forma padronizada (validada por vieses desconhecidos) e, assim, os poupa de qualquer aventura. O passado, um certo passado, antecipa todo futuro possível.

“O mundo com o google será uma percepção saciada; sempre já terminada, antes mesmo de começar; sempre já satisfeita; sem desejo; sempre já feita; sem violência. […] O google extingue a violência da percepção.” E mais adiante: “Uma coisa, de agora em diante, nunca mais aparecerá sozinha. Ao se apresentar, ela carregará sempre seu nome, dado por outro que não eu, amarrado a ela, e além de seu nome, terá a carga — esta a sobrecarregando igualmente, duplamente, quadruplamente — de todo o conhecimento acumulado sobre ela — contido no google. O google não coloca, portanto, o problema de um mundo virtual, mas o do mundo real transformado — reduzido a — conhecimento imediato. O google cobrirá com seus nomes as coisas do mundo. E o mundo não mais aparecerá senão enfeitado, carregado, amarrado, fechado, trajado, coberto.”

Quem controla a linguagem controla o pensamento

Quem controla a linguagem controla o pensamento, dizia Orwell. Ao antecipar toda experiência, todo conhecimento sobre as coisas e os seres do mundo, Metz nos alertava, em 2011, sobre uma ameaça formidável ao próprio pensamento. E o que é verdadeiramente terrível, ao escrever esta nota em 2025, é constatar que esse google já chegou; e que, se a “IA” é provavelmente o nome mais recente que essa máquina assumiu, ela não esperou por essa última evolução para atingir o estágio que Metz temia. A IA seria antes uma nova metamorfose, que nos leva ainda mais longe do que as especulações desse primeiro autor.

Desde 2011, vivenciamos não apenas a distribuição global dos smartphones (que são tanto máquinas de acesso ao conhecimento do google quanto olhos e instrumentos para alimentá-lo), mas também a disseminação de câmeras e satélites, o reconhecimento automático de linguagem, a coleta e cruzamento permanentes de dados e, finalmente, com o advento do aprendizado de máquina, a submissão mecânica de uma parte crescente da gestão dos assuntos humanos.

Estamos lá, então. Já. Não apenas o google aprendeu a ver e nomear — mas agora ele fala, aconselha e determina certos aspectos da história humana. Somos sujeitos em seu mapa global atualizado em tempo real — sujeitos, agentes e usuários.

É isso que James Bridle chama, em um livro publicado em 2022, de “Nova Era das Trevas” [3]. Ele acrescenta imediatamente que a fórmula não visa suscitar angústia, mas é antes uma constatação e um convite: a tecnologia tornou o mundo obscuro para nós. Avançamos agora no meio de causalidades desconhecidas, tateando na névoa, e temos que aprender a lidar com isso. A principal causa das trevas, segundo Bridle, é o que ele chama de “pensamento computacional”, que apresenta como uma radicalização do conceito de “solucionismo tecnológico”. O pensamento computacional é a organização numérica do mundo em todas as suas formas. É o abismo dentro do qual toda questão deve encontrar sua resposta com instrumentos de medição e cálculo, mesmo quando se trata de questionar a medição e o cálculo em si. Um pensamento finito, que não conhece mais um exterior, que subsume tudo. Bridle multiplica os exemplos em todas as direções — da gestão da economia por meio do “trading de alta frequência” à vigilância da navegação aérea e do clima com tecnologias autônomas, da criação automática de vídeos no YouTube e objetos comerciais absurdos e aterrorizantes à saturação das agências de inteligência por seus próprios dados acumulados, da natureza desconhecida das “verdades” encontradas na internet aos complôs reais ou supostos…

Vamos parar antes de terminar com uma das anedotas que ele apresenta, porque ela ressoa tragicamente com uma realidade ainda mais recente, como um último sintoma nesta hora de aceleração desenfreada em que estamos imersos. Bridle retoma uma história (mesmo que “provavelmente apócrifa”) na qual redes neurais foram treinadas pelo exército para identificar tanques inimigos escondidos nas florestas. A aposta do “aprendizado de máquina” é que, ao fornecer quantidades fenomenais de informações a máquinas capazes de se autoeducar, elas poderão desenvolver novas formas de percepção que, mesmo inconcebíveis para humanos, responderão às perguntas que eles fazem. Nesse caso, o treinamento foi um sucesso: as máquinas conseguiram determinar com quase 100% de precisão as fotos aéreas de florestas onde havia tanques e descartar as que não tinham. No entanto, o teste em condições reais foi um fracasso retumbante. Os militares só entenderam depois que o que a máquina detectava não era a presença ou ausência de tanques, mas o estado da cobertura de nuvens nas fotos — as séries de imagens usadas no treinamento haviam sido tiradas em dois momentos diferentes do dia, um com tanques na floresta em tempo bom, e outro sem tanques com o tempo nublado.

É isso que James Bridle chama, em um livro publicado em 2022, de “Nova Era das Trevas” [3]. Ele acrescenta imediatamente que a fórmula não visa suscitar angústia, mas é antes uma constatação e um convite: a tecnologia tornou o mundo obscuro para nós. Avançamos agora no meio de causalidades desconhecidas, tateando na névoa, e temos que aprender a lidar com isso. A principal causa das trevas, segundo Bridle, é o que ele chama de “pensamento computacional”, que apresenta como uma radicalização do conceito de “solucionismo tecnológico”. O pensamento computacional é a organização numérica do mundo em todas as suas formas. É o abismo dentro do qual toda questão deve encontrar sua resposta com instrumentos de medição e cálculo, mesmo quando se trata de questionar a medição e o cálculo em si. Um pensamento finito, que não conhece mais um exterior, que subsume tudo. Bridle multiplica os exemplos em todas as direções — da gestão da economia por meio do “trading de alta frequência” à vigilância da navegação aérea e do clima com tecnologias autônomas, da criação automática de vídeos no YouTube e objetos comerciais absurdos e aterrorizantes à saturação das agências de inteligência por seus próprios dados acumulados, da natureza desconhecida das “verdades” encontradas na internet aos complôs reais ou supostos…

Vamos parar antes de terminar com uma das anedotas que ele apresenta, porque ela ressoa tragicamente com uma realidade ainda mais recente, como um último sintoma nesta hora de aceleração desenfreada em que estamos imersos. Bridle retoma uma história (mesmo que “provavelmente apócrifa”) na qual redes neurais foram treinadas pelo exército para identificar tanques inimigos escondidos nas florestas. A aposta do “aprendizado de máquina” é que, ao fornecer quantidades fenomenais de informações a máquinas capazes de se autoeducar, elas poderão desenvolver novas formas de percepção que, mesmo inconcebíveis para humanos, responderão às perguntas que eles fazem. Nesse caso, o treinamento foi um sucesso: as máquinas conseguiram determinar com quase 100% de precisão as fotos aéreas de florestas onde havia tanques e descartar as que não tinham. No entanto, o teste em condições reais foi um fracasso retumbante. Os militares só entenderam depois que o que a máquina detectava não era a presença ou ausência de tanques, mas o estado da cobertura de nuvens nas fotos — as séries de imagens usadas no treinamento haviam sido tiradas em dois momentos diferentes do dia, um com tanques na floresta em tempo bom, e outro sem tanques com o tempo nublado.

Essa história ridícula parece, infelizmente, o paradigma de uma realidade trágica quando consideramos que, menos de dez anos depois, soldados do exército israelense recebem algumas de suas ordens diretamente da “inteligência artificial” adotada por seu comando. Chamada cinicamente de “Evangelho”, ela identifica supostos membros do Hamas com base no cruzamento de dados coletados por vários sistemas de vigilância. Esses combatentes supostos são então mortos com base em um cálculo algorítmico de funcionamento desconhecido. Isso já não é mais ficção científica…

Tonio

Notas

[1] Frédéric Metz, Les Yeux d’Œdipe (inutiles, sauvés). Quand le google, face au monde, saura voir et nommer, Pontcerq, 2011. Versão PDF disponível para download em: http://i2d.toile-libre.org/PDF/2011…

[2] É claro que essa mediação permanece, mas é mantida invisível: seja através dos “vieses” de programação ou da exploração humana em massa necessária para que IAs, câmeras com reconhecimento de comportamento e outros dispositivos conectados possam ser constantemente ajustados às expectativas de seus usuários.

[3] James Bridle, Un Nouvel âge de ténèbres. La technologie ou la fin du futur, Allia, 2022.

Fonte: http://oclibertaire.lautre.net/spip.php?article4424

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

nos dias quotidianos
é que se passam
os anos

Millôr Fernandes

Chamada para cartazes: V Feira Anarquista Feminista de Porto Alegre

Esse ano decidimos como tema GENTRIFICAÇÃO e NECROPOLÍTICA, algo que está acontecendo muito nesse território. Vemos ao nosso redor espaços públicos se convertendo em espaços privados, todos os dias mais máquinas e destruição, mais empresas contaminando as ruas da cidade. Cada vez menos popular, menos do povo, menos dos povos originários e quilombolas, menos dos seres humanos e animais, menos do verde e mais das empresas. Esse território também é nosso, e nos unimos para pensar estratégias de recuperação de nossos espaços, e como enfrentar a onda forte de Neoliberalismo que suga nossas vidas.

Sendo assim, chamamos mulheres y dissidências que queiram somar com sua arte (seja visual – colagens, pinturas, serigrafia, stencil, aquarela, digital, etc. ou audiovisual – vídeos, músicas, filmes) para a V Feira Anarquista Feminista de Porto Alegre, será muito bem-vinda!

Bora construir o território que queremos habitar!

Envie sua arte para: fafpoa@riseup.net

agência de notícias anarquistas-ana

A lei é um caco
de vidro—nós pisamos
descalços, e sangramos.

Liberto Herrera