[Reino Unido] A extrema direita, a esquerda e a armadilha da política eleitoral

Presa ao capitalismo e ao eleitoralismo, a esquerda estadista não tem nada a oferecer durante um período de crise e reestruturação – deixando o campo para os fascistas.

 ~BladeRunner~

Ao longo da última década, testemunhamos o surgimento de um padrão histórico familiar, com segmentos da classe trabalhadora e das comunidades mais pobres recorrendo cada vez mais a figuras de extrema-direita como Trump e Le Pen. A Áustria é o último país a dar uma guinada acentuada à direita, com o anti-imigração, pró-Rússia Partido da Liberdade (FPÖ), garantindo a posição vencedora nas eleições do último domingo, que teve uma impressionante participação eleitoral de 80%. Isto confirma uma tendência crescente observada recentemente em países como Itália, Hungria, Polônia, Brasil e França.

Os principais círculos de esquerda, frequentemente, interpretam esta mudança como um resultado das suas próprias “falhas” para encaminhar os interesses da classe trabalhadora. Um argumento comum é que ocorreu uma “reversão de classe”, com os partidos de esquerda sendo cooptados pelas educadas elites neoliberais. Outros afirmam que a esquerda tem abandonado a análise econômica em favor das políticas identitárias.

Contudo, a raiz do problema reside nas falhas do próprio sistema de democracia eleitoral. Os sentimentos de traição e desilusão decorrem do fracasso histórico da esquerda estadista em desafiar o espetáculo da política eleitoral, que serve para manter o sistema de classes a todo custo. Em vez disso, os partidos de esquerda cooptaram períodos de insurreição e agitação, durante o colapso dos ideais social-democratas nas crises econômicas na chegada do século XXI. Ao fazê-lo, a esquerda (focada atualmente no New Deal Verde, no identitarismo e nos direitos humanos) posicionou-se como um dos dois pilares da política hegemônica, sendo o outro a direita (focada na negação das alterações climáticas, no nacionalismo e na religião).

A esquerda estadista moderna enfrenta uma tragédia fundamental. Atrelada ao eleitoralismo, enreda-se na teia da governança neoliberal, não oferecendo nem soluções alternativas reais nem desafiando eficazmente o sistema capitalista durante um período de crise e de reestruturação – um momento que deveria ser uma excelente oportunidade para avançar num novo caminho. Entretanto, a elite mantém o controle, desviando os trabalhadores da ação direta e orientando-os para opções eleitorais de extrema-direita ou para motins xenófobos orquestrados. Estas distrações dão tempo à classe dominante para reestruturar a produção e os sistemas políticos para se adaptarem às duras realidades do colapso climático e do ecocídio.

Ironicamente, é a extrema direita, e não à esquerda, que prospera com falsas promessas. Os líderes da extrema-direita escondem-se numa retórica anti-establishment, posicionando-se como heróis da classe trabalhadora “esquecida”. Ao explorar mitos como a “Grande Substituição” e a degeneração da civilização ocidental, canalizam a raiva da classe trabalhadora para o nacionalismo e a xenofobia. A sua agenda mais uma vez fratura a classe trabalhadora, dividindo-a em classificações raciais, étnicas e nacionais. Uma vez no poder, a extrema-direita capitaliza o desespero econômico que inicialmente impulsionou a sua ascensão, impondo políticas de austeridade e anti-trabalhadores que aprofundam ainda mais as desigualdades.

Desta forma, reforçam tanto as barreiras materiais quanto ideológicas que protegem, dentro da cidadela, os privilegiados dos “outros” excluídos, espalhando o medo e o ódio em ambos os lados. Aos excluídos é negada a entrada nas zonas de prosperidade da Fortaleza Europa, enquanto o Estado exerce controle sobre a população “próspera”, mostrando tolerância zero para qualquer um que esteja fora dos limites do depressivo realismo capitalista.

A solução não reside na reforma dos partidos eleitorais de esquerda para alinhá-los com o colapso do sistema capitalista em curso. Está na construção de um movimento que rejeite todo o quadro da política eleitoral. A resposta está na ação direta, no apoio mútuo e na organização de base comunitária que rejeite tanto a xenofobia da extrema-direita como as promessas vazias da esquerda. Somente com uma radical consciência de classe e uma organização anti-autoritária é que as estruturas capitalistas e estatais que continuamente nos traem podem ser desmanteladas.

Fonte: https://freedomnews.org.uk/2024/10/07/the-far-right-the-left-and-the-trap-of-electoral-politics/

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Um aroma chegando
na brisa que sopra do mar —
é primavera!

Marco Antônio Fontolan

[Holanda] Estações de recarga elétrica sabotadas em Amsterdã

À medida que os impactos da mudança climática se tornam cada vez mais evidentes, o capitalismo procura se rebatizar uma imagem nova e verde. Dizem-nos que, se calcularmos nossa pegada pessoal de CO2, comprarmos os produtos certos (caros) e fizermos nossa parte na reciclagem, poderemos salvar o planeta. Isso é categoricamente falso. Nenhuma maneira de consumir nos tirará desta crise. O que pode impedir o derretimento dos glaciares, o incêndio das florestas e o deslocamento de humanos e animais dos seus habitats é nada menos do que um afastamento radical do crescimento sem fim exigido pelo capitalismo.

A mudança para veículos elétricos que está sendo promovida pelos governos de toda a Europa e pelas empresas automobilísticas que esses estados subsidiam é parte dessa tentativa velada de recuperar a catástrofe climática chamada capitalismo. Não há nada de sustentável em um carro elétrico. Cada etapa da cadeia de suprimentos global que envia um veículo elétrico fabricado nos Estados Unidos para nossa porta em Amsterdã envolve a exploração de trabalhadores e a destruição do planeta. A mineração de minerais para a bateria, por si só, é um processo incrivelmente destrutivo. O lítio extraído no Chile contamina as fontes de água locais, o cobalto extraído no Congo envolve trabalho infantil e o níquel extraído na Indonésia libera metais pesados no oceano. Sem mencionar o aço, o titânio, o alumínio e o plástico necessários para a estrutura do carro. Essas matérias-primas são escassas e a corrida dos Estados e das empresas para garantir o acesso está alimentando uma nova onda de colonialismo no sul global.

Depois que nosso carro tiver sido enviado para o outro lado do mundo, podemos ficar parados no trânsito a caminho do trabalho com a consciência tranquila, sabendo que não há CO2 saindo do escapamento. Só que a energia para alimentar as estações de recarga elétrica tem de vir de algum lugar e na Holanda, como em quase todos os outros países do mundo, mais de metade desta energia ainda provém de combustíveis fósseis. O crescente setor de energia renovável enfrenta os mesmos problemas de poluição que a fabricação de um veículo elétrico: as baterias necessárias para armazenar energia não são nada limpas e o transporte e a fabricação da infraestrutura de energia consomem muitos recursos. Ao mudarmos para alternativas supostamente renováveis, estamos apenas terceirizando para as partes mais pobres do mundo a devastação ambiental necessária para manter o nosso crescente abastecimento de energia cada vez maior.

É por isso que ontem (26/09) à noite sabotamos uma dúzia de estações de recarga elétrica em Amsterdã, enchendo suas portas de recarga com espuma de construção. Essas estações são de propriedade da TotalEnergies, uma das sete maiores empresas de petróleo. Nenhuma quantidade de greenwashing [mentira verde] pode limpar uma empresa que está poluindo a Terra há cem anos.

Sabotar a normalidade capitalista.

Fonte: https://indymedia.nl/node/55098

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final de tarde
se amontoam sabiás
a cantar entre nós

Antonio Marcos Amorim

[Espanha] CNT e decrescimento para o fim do capitalismo

O sindicalismo combativo, o ambientalismo de base e os movimentos sociais reunidos em Xixón discutiram quais mecanismos podemos colocar em prática fora do Estado e das instituições para enfrentar o cenário de crise global, lançando as bases para o gerenciamento generalizado das necessidades básicas em uma estrutura de sociedades com menor disponibilidade de energia, mas mais democráticas e solidárias.

A lógica capitalista não compreende os limites ambientais ou sociais. Qualquer necessidade vital é suscetível de se tornar um nicho de mercado, a colonização cruzando qualquer fronteira política, física, social e mental. A sociedade de consumo que começou a se modular no século passado acelerou o processo de desculturação com as novas tecnologias de comunicação e informação como a mais recente alavanca. Os movimentos de base deixaram de ter hegemonia cultural no início do século XX para se tornarem irrelevantes na tempestade comunicativa de hoje. Isso levou a uma banalização da vida, da natureza e da sociedade que dificilmente podemos confrontar com a mídia convencional. Apesar de tudo, temos a experiência acumulada de séculos de luta, com a memória viva de conselhos, ateneus, grupos, sindicatos… que resolveram tantos problemas e que ainda são capazes de unir as lutas em resposta às agressões dos poderosos em suas mais diversas manifestações: capitalismo, patriarcado, extrativismo, racismo, fascismo…

Da mesma forma que os povos indígenas colocam a vida e a natureza no centro de sua luta, o sindicalismo combativo, o ambientalismo de base e as plataformas de defesa do território estão comprometidos com o enfrentamento das muitas empresas que colocam os interesses especulativos acima das pessoas e do meio ambiente; com o estabelecimento e a promoção de uma nova cultura de cuidado; com o apoio a projetos autogerenciados que estão construindo uma economia alternativa e solidária que possibilita não apenas a satisfação das necessidades vitais por meio da restauração da natureza, mas também a reconstrução dos laços sociais de baixo para cima.

O caos climático, mas, acima de tudo, a extinção da biodiversidade e um colapso mais do que provável das sociedades industriais estão colocando em risco um modo de vida consumista e irrefletido que não deve ser substituído por um ainda mais totalitário. Diante do perigo de que isso aconteça, é essencial se organizar e semear novas alternativas por meio da escuta e também da ação.

Mais informações em: apoyomutuoocolapso@riseup.net.

Fonte: https://www.cnt.es/noticias/cnt-y-el-decrecimiento-para-el-fin-del-capitalismo/?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=cnt-y-el-decrecimiento-para-el-fin-del-capitalismo

Tradução > Liberto

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Nuvens,
sem raízes
até que chova.

Werner Lambersy

Marcar nossas peles como um ato de convicção anárquica. Flash Tattoo Solidário na Feira do Livro Anarquista. Porto Alegre 2024

Os eventos de tatuagens solidárias como o Solidariedade à Flor da Pele, tem marcado uma forma de autogerir a solidariedade anti-carcerária.

Assim como nas últimas Feiras do Livro Anarquista em Porto Alegre, levamos adiante essa iniciativa mais uma vez, porque acreditamos que marcar nossas peles como um ato de convicção anárquica e prática solidária deixa em nossos corpos muito mais do que desenhos ou letras.

O evento acontecerá no sábado, dia 9 de novembro, das 9 da manhã até as 18 horas, na Sede da Escola de Samba Acadêmicos da Orgia. Avenida Ipiranga 2741, Porto Alegre.

Acompanhe a agenda de horários reservados na aba especial aqui no blog:

https://feiradolivroanarquistapoa.noblogs.org/category/flash-tattoo/

Para entrar em contato e agendar horário:

@marceloarakno @Juwtattoostudio

fla-poa2024@riseup.net @flapoa

feiradolivroanarquistapoa.noblogs.org

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Uma flor que cai –
Ao vê-la tornar ao galho,
Uma borboleta!

Arakida Moritake

Apresentação página Anarquismo em Movimento

A propaganda anarquista tem a finalidade de aproximar as pessoas dos princípios que carregamos. Repetindo constantemente o mundo que buscamos e como podemos chegar até lá, e com isso, somar pessoas em nossas atividades, potencializando o que já é feito, e criando novas ações.

Precisamos compartilhar e tornar visível os esforços de cada companheiro, apresentar solidariedade a quem se sente sozinho em suas ações, e mostrar oportunidades para quem possui vontade mas não sabe onde atuar, ou por onde começar algo novo.

Esse é o motivo do por que há 8 anos atuamos nesta página, e buscamos o apoio de quem possa ser alcançada por ela.

Queremos que todo aquele que se sente sozinho, estreite seus laços com quem todo aquele que compartilha os mesmos princípios libertários que nós. E contamos com seu apoio para isso.

E por isso, apesar do desgaste, retomamos, mais uma vez, as atividades desta página.

Fortaleçamos a luta que já existe, criemos a luta onde não há.

Instagram: @anarquismoemmov

Facebook: @anarquistasvaledosinos

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o vento afaga
o cabelo das velas
que apaga

Carlos Seabra

Alta abstenção no 1º turno das eleições 2024 | “O TSE deveria apertar as regras e aumentar a multa para os faltantes”

Com abstenção alta no 1º turno nas eleições de 2024 em muitas cidades do Brasil, autoridades, cientistas sociais, jornalistas e “especialistas” já comentam que é preciso “endurecer” as regras para os abstencionistas e “estimular a votação no país”.

Ao anunciar o índice de abstenção após o encerramento das urnas na noite de domingo (06/10), a presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Cármen Lúcia, afirmou: “Nós tivemos índice de abstenção que continua sendo alto para os nossos padrões”. Em seguida, defendeu que medidas precisam ser tomadas para estimular a votação no país.

“As sanções aplicadas aos faltosos são extremamente brandas. A multa para quem não vota é de apenas R$3,51 por turno, um valor irrisório que não impõe um custo significativo para os eleitores que optam por ser abster”, opina um cientista político.

“A facilidade em justificar o voto e o valor baixo da multa imposta aos ausentes são fatores que estimulam a abstenção. O TSE deveria apertar as regras e aumentar a multa para os faltantes”, diz um jornalista.

“As pessoas deveriam ser mais coagidas a votar, a exercer seu poder através do voto. A sensação para quem não participa das eleições é de que não votar não tem consequência, que a punição é leve”, comenta um “especialista”.

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Sobre o telhado
um gato se perfila:
lua cheia!

Maria Santamarina

[Alemanha] Ação contra a ampliação da megafábrica da Tesla

 

Na tarde de quarta-feira, 9 de outubro, três ativistas encapuzados e vestidos de preto ocuparam uma escavadeira por 21 horas, bloqueando os trabalhos de terraplenagem na fábrica de carros da Tesla em Grünheide, perto de Berlim. Uma unidade especial da polícia tentou desalojar os ocupantes usando uma espécie de plataforma elevatória, mas a tentativa foi abortada por motivos de segurança devido ao solo macio da floresta. Essa ação ocorreu em um local onde as árvores já haviam sido derrubadas em setembro, em preparação para a construção de uma estação de mercadorias, uma nova estação de passageiros e a extensão do pool de logística para a megafábrica da Tesla.

No início do dia, os manifestantes tentaram várias vezes atravessar uma cerca no local da construção para se juntar aos manifestantes, mas a polícia usou spray de pimenta para impedi-los. Há muitos meses, o coletivo “Tesla Stoppen” vem realizando protestos e manifestações em Grünheide contra a única fábrica europeia da Tesla de Elon Musk.

Um dos ativistas deixou a escavadeira por conta própria antes do fim da ação e não foi incomodado pela polícia, mas os outros dois manifestantes foram detidos.

Fonte: https://secoursrouge.org/allemagne-action-contre-lextension-de-la-mega-fabrique-tesla/

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Hora do recreio.
Em algazarra, no parque,
gritam maritacas.

Lena Jesus

[Espanha] Escrito desde as masmorras da democracia

Estou preso contra a minha vontade no Centro Penitenciário de Brians 2 desde 30 de maio deste ano. Nestes 4 meses tive altos e baixos, mas graças à solidariedade dos compas que estão do outro lado, tudo ficou mais fácil de aguentar. Tive visitas todas as semanas, correio, dinheiro, roupa, livros. Preocuparam-se com minha família e arcaram com as despesas. A todos eles, muita gratidão.

Estou preso com uma condenação de 3 anos e 9 meses e uma Responsabilidade Civil de 9050 euros por uma agressão a um nazi depois de uma manifestação do JUSAPOL em novembro de 2018. Desde que se fez o julgamento e mais tarde os recursos, se realizou uma campanha entre compas, adquirindo experiência com seus acertos e erros.

Aqui dentro estou praticando esportes, lendo e trabalhando para me encarregar um pouco da questão financeira, ainda que se ganhe uma miséria. O que sim, se ganha com certeza é uma dor nas costas, ainda assim espero ter um bom estado de ânimo e passar a condenação o melhor possível.

Queria nomear alguns espaços e coletivos que mostraram sua solidariedade:

Às pessoas que fizeram o Grupo de Apoio, Ègida, Ateneu Llibertàri de Gracia, Ateneu Llibertàri Del Palomar, CNT-AIT, às pessoas de La Bartola, Ágora Juan Andrés Benítez, Ateneu Enciclopèdic, CSO La Revoltosa, Kan Pascual, CSO Nabat, Plataforma Antirepresiva de Barcelona, Tatoo Circus, Kasablanca…

Também agradecer a todas as pessoas que me escreveram. A todos muita gratidão.

Desta vez, viverei a marcha à Brians deste lado dos muros.

Abel Mora Campos

CP Brians 2

Setembro de 2024

Tradução > Sol de Abril

Nota:

Jusapol é um grupo de elementos da Polícia Nacional, uma associação que pretendia unir sob a mesma bandeira os agentes da Polícia Nacional e da Guarda Civil daquele país.

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Sob o céu nublado,
Pomar de caquis maduros
— lâmpadas acesas!

Francisco

[Espanha] Tempo de anarquistas “generosos e cativos”: “Que seu nome não fique no esquecimento”

Este livro, como uma ferramenta “para entender a magnitude da tragédia” do povo aragonês e espanhol “e especificamente das mulheres e homens do anarquismo e do anarcossindicalismo, que foram capazes, em 1936, de vencer o exército e o fascismo e começar a construir o sonho da revolução”, será apresentado na próxima sexta-feira, 18 de outubro, às 19h30, no CSA A Ixena, em Teruel (rua Carrel, 35).

O evento contará com a presença do autor de “Tiempo de generosos y cautivos anarquistas: para echar a andar en el recuerdo 1939-1976”, Manel Aisa Pàmpols, para debater e refletir sobre o conteúdo do livro.

“No final da guerra, em 1939, o fascismo de Franco cobrou seu preço desses combatentes e ceifou o maior número de vidas possível. Tanto é assim que, ainda hoje, 84 anos depois, muitas dessas vidas permanecem em silêncio” nas valas de todas as cidades de Aragão e do Estado espanhol “sem ainda processar os assassinos”, enfatizam os CSA A Ixena.

“Em suma, o objetivo é recuperar o nome e a identidade de cada pessoa que, nos tempos sombrios do regime de Franco, teve a dignidade de lutar contra a ignomínia de um sistema corrupto, repressivo e assassino, quando toda a Espanha era uma prisão”, enfatizam.

Eles também lembram que “houve aqueles que não aceitaram esse regime político opressivo e enfrentaram as mentiras do sistema. E para que as mulheres e os homens que viram seus sonhos de um mundo muito melhor, entre iguais, serem interrompidos, não percam sua identidade, resgatamos aqui uma pequena parte de sua história”, enfatizam.

“Para que os nomes e sobrenomes dos anarquistas generosos e cativos não sejam esquecidos e possamos resgatar sua história, que é a história de um povo que lutou pela liberdade. Que seu nome não fique no esquecimento”, concluem desde o CSA A Ixena.

Fonte: https://arainfo.org/tiempo-de-generosos-y-cautivos-anarquistas-que-su-nombre-no-quede-en-el-olvido/

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Um gosto de amora
Comida com sol. A vida
Chamava-se: “Agora”.

Guilherme de Almeida

“São poucos os geógrafos que conhecem o anarquismo e menos ainda os que se utilizam deles na discussão teórica.”

Instituto de Estudos Libertários entrevista Amir El Hakim de Paula, autor do livro “Os Operários Pedem Passagem”

Outubro 2024

Nos fale um pouco sobre o seu esforço para divulgar o anarquismo na sua prática docente.

Sempre tento colocar na minha prática docente as ideias libertárias. Seja nas aulas e nas avaliações que faço, procuro destacar a importância da participação coletiva, demonstrando de que maneira o anarquismo pode ser também efetivo na constituição de uma universidade mais plural e democrática. Como coordenador de PIBID, sempre incentivei que os bolsistas fizessem uma troca constante com os alunos das escolas, perguntando a eles quais as áreas de maior interesse e assim fosse possível trazer ao ambiente escolar temas que nunca eram debatidos pelos livros didáticos/apostilas.

Você tem lançado alguns livros, poderia nos falar sobre eles?

Desde a minha chegada na UNESP, em 2012, procuro publicar livros que versem sobre o anarquismo e a geografia. É importante ressaltar que aqui na biblioteca da unidade só havia um livro anarquista, demonstrando um profundo desconhecimento da comunidade universitária acerca das ideias ácratas. Dois deles estão disponíveis na editora Unesp e na Amazon, facilitando o acesso de muitos que estão fora da universidade mas que possuem grande interesse pela temática. Esse ano publicarei um sobre os operários e a cidade de São Paulo no período das greves gerais (1917), apontando como o anarquismo se apropria dos conceitos geográficos e os transforma em estratégias de luta.

Mais recentemente você publicou o livro: “Os Operários Pedem Passagem”. Quais as teses centrais desse novo trabalho?

Esse livro demonstra como os operários compreendiam uma cidade que passava por grandes transformações urbanísticas, trazendo a esse setor populacional a ocupação de áreas arrabaldes. Mais do que isso, ele insere nos debates geográficos a importância das greves e manifestações de rua enquanto um processo de apropriação espacial e territorial, permitindo que um evento local logo se espraie por todos o país. Assim espaço e território são apresentados como estratégias de luta da classe trabalhadora e não apenas conceitos que permitem um esclarecimento neutro.

Ao tratar da questão espacial das cidades, tendo como protagonistas os operários você estaria inovando ou esse é um tema familiar aos geógrafos?

Olha existem geógrafos que trabalhem os movimentos sociais e o papel de luta destes setores na sociedade de classes que vivemos. O que acho importante destacar é que a minha preocupação foi pontuar isso no início do século XX, apontando como esses trabalhadores iam se apropriando da cidade enquanto realizavam seus processos de luta. Me preocupei em demonstrar a assertividade do operário e não apenas as lamúrias de uma vida difícil.

Temos visto maior interesse dos geógrafos na temática libertária. Você considera que tal seja uma tendência ou as iniciativas são ainda isoladas?

As iniciativas são bem isoladas. São poucos os geógrafos que conhecem o anarquismo e menos ainda os que se utilizam deles na discussão teórica. É só ver a quantidade de trabalhos do congresso de geógrafos deste ano. Quando coloca-se anarquismo, Reclus ou Kropotkin aparece um trabalho apenas no meio de centenas. Muito está sendo feito mas ainda a presença destes autores e das dinâmicas dos anarquistas ainda é pouco conhecida quiçá debatida.

Um diálogo horizontal e equilibrado entre História e Geografia é possível?

Acho que a Geografia Histórica tenta, minimamente, discutir os temas históricos a partir de um viés espacial. Neste sentido, é importante perceber que todas as revoluções, eu disse todas, tiveram o espaço como o eixo de dispersão ou confinamento. A depender de como as classes trabalhadoras se envolviam nas práticas espaciais e territoriais a luta ganhava força ou arrefecia. Pensar as estratégias também geograficamente permite compreender que um processo histórico desenvolveu-se mais ou menos tendo as realidades espaço-territoriais como catalizadoras ou não. Não se trata de sobrepor uma ciência a outra. Mas apontar como a relação simétrica permite uma nova compreensão do processo.

Que outros autores você destacaria na busca de uma Geografia com acento libertário?

Eu continuo com os clássicos. Precisamos conhecer cada vez mais eles. Só assim perceberemos a importância de seus trabalhos e o diferencial que eles trazem para o pensamento geográfico. Isso não significa que anarquistas do século XX, como David Graeber e Murray Bookchin não sejam discutidos também!

ielibertarios.wordpress.com

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Na noite sem lua
o mar todo negro
se oferece em espuma

Eugénia Tabosa

Flecheira Libertária 783 | “Democrata também vive de retórica…”

antivoto

Desde o século XIX, anarquistas como Pierre-Joseph Proudhon combatiam a política e os processos eleitorais, a partir de suas próprias experiências. Proudhon, eleito em 1848, rapidamente percebeu o distanciamento entre os eleitos e a realidade social, expondo o isolamento e a ignorância da Assembleia Nacional. Essa recusa à representação influenciou outros libertários, como Piotr Kropotkin, Emma Goldman, Élisée Reclus, José Oiticica etc., que defendiam a ação direta e rejeitavam o voto como meio de transformação social. Como bem frisou Emma Goldman: “se votar fizesse alguma diferença, fariam-no ilegal.”

números, obrigatoriedades e democracia…

Como diz a canção: “são tantas coisinhas miúdas…”. Entre os votos nulos, a imprensa destaca aqueles por erros de digitação nas periferias de São Paulo. Muitos? O suficiente para dar a liderança, no primeiro turno, a quem ficou em segundo lugar. Miúdo: botaram 13 para prefeito quando o candidato apoiado por esse partido tinha outro número, obviamente por ser de outro partido. Para os simplórios tanto faz, são todos da mesma caçarola. Acostumados a grudar no presidente, obrigados a votar e mandados por alguns, eles e elas erram desejando acertar. Conduta típica de assujeitados(as)(es). Seus olhos cobiçam algum benefício imediato ou bem de consumo. Entre os(as)(es) que votam, cada vez menos importa o partido, mas o chefe. Idem para o legislativo: votam em sua minoria ou contra direitos de minorias: representação polarizada e contínua entre pobres e religiosos. O fim da polarização é assunto de elite, não é para assujeitados(as)(es), devoto(a)(e) religioso e crente em fantasias futuras paradisíacas sobre a melhoria da sua condição de bosta. Aprendem que o paraíso terreno é este lodo em que vivem. Aprenderam, há muito tempo, que os partidos lutam por controle de empregos.

abstenções

Em São Paulo e muito no Brasil, mesmo com toda a fantasia universitária, da imprensa e de redes sociais, há quase 30% que não comparecem para votar. É uma constante, com ou sem pandemia. Um dia dirão basta a esse delírio chamado democracia, representação, votos e seus penduricalhos opacos!

os que vivem de retórica

Não é de hoje que muitos politólogos e politiqueiros defendem, com unhas e dentes, o voto obrigatório no Brasil, para homens e mulheres maiores de 21 anos que foi instituído pelo Código Eleitoral de 1932, com idade reduzida para 18 anos, em 1934 e mantido após 1988. Argumentam que, caso não fosse assim, os governos, à esquerda, à direita ou ao centro, careceriam de “legitimidade”, uma vez que as abstenções são uma constante. Tratando-se de entusiastas da democracia, poderiam, no mínimo, ser questionados a respeito disso. Afinal, já que a palavra “direito” está presente em cada uma das frases pronunciadas por muitos especialistas das humanidades, por que não preservar a vontade dos que não estão interessados em eleger quaisquer chefes ou indicados dos chefes? Democrata também vive de retórica…

os gestores

Retórica que se apresenta como “radical”, eleições, acomodação em cargos e empregos e, claro, moderação. Esse é o itinerário comum aos sociais-democratas na Europa e, não menosprezando as diferenças históricas e locais, o é também da esquerda do continente americano que, outrora, aderiu às premissas revolucionárias do socialismo autoritário. No Uruguai, concebido por muitos como um dos grandes exemplos de “maturidade” e estabilidade democrática na região, o candidato da esquerda local apresenta como trunfo um economista vinculado ao setor corporativo. Essa é a composição apoiada pela agremiação constituída por antigos guerrilheiros tupamaros, considerados, atualmente, as vozes moderadas, negociadoras e com disposição de diálogo na política nacional uruguaia. Em muitos casos, os antigos guerrilheiros se tornaram os gestores que a ordem tanto necessita.

gestores e caricatos

No Brasil não é diferente, só mais caricato. Não à toa, há quem apresente a trajetória do candidato de esquerda em São Paulo como atualização dos caminhos de Cristo, agora ao lado dos que não têm moradia. Em nome da tolerância e do pluralismo democrático, há quem não hesite em reiterar que aproveitará propostas do coach de ultradireita para derrotar o candidato apoiado pelo homem que sentava anteriormente no trono do palácio. Tudo para conseguir votos populares em zonas nas quais os assujeitados, hoje em dia, estão mais alinhados com a direita. Tudo em busca de cargos, controle de empregos e reforço da moral. Isso é a política, seja de esquerda, de direita ou de sempre. Pouco importa.

Fonte: https://www.nu-sol.org/wp-content/uploads/2024/10/flecheira783.pdf

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Flor do cerrado —
Na primavera seca
Só o ipê floresce

Eduardo Balduino

[Austrália] Libertem o companheiro William Sadiq, já!

O veterano anarquista e membro da Workers Solidarity Federation, afiliada da IWA no Paquistão, foi preso e detido pela polícia de Karachi em uma manifestação de protesto contra extremistas religiosos que mataram um médico em Karachi acusado de blasfêmia.

Também foram presos os companheiros da WSF Sindhu, Zahra, Nasir, Jami e sua filha, juntamente com cerca de 600 ativistas, apesar de ser um protesto legal.

A WSF Karachi atraiu a ira dos “islamistas zumbis” por seus protestos contra o assassinato de Mahsa Amini pela polícia religiosa do Irã em 2022 e pelas manifestações públicas em Karachi em apoio aos direitos dos transgêneros no ano passado.

Agora, o governo do Partido Popular da província de Sindh ordenou que a polícia de Karachi reprimisse os protestos contra os extremistas religiosos assassinos.

A ASF-IWA se solidariza com nossos companheiros no Paquistão. Onde e quando quer que aconteça no mundo, um ataque a um filiado da IWA é um ataque a todos.

Fonte: https://asf-iwa.org.au/release-comrade-william-sadiq-now/

agência de notícias anarquistas-ana

um raio de sol
transluz — balança a cortina…
borboleta amarela!

Douglas Eden Brotto

[Espanha] Vídeo: Ação direta em Sevilha: 1 ano de genocídio, em solidariedade ao povo palestino

Ação direta realizada nas primeiras horas do dia 8 de outubro na cidade de Sevilha. Contra o genocídio. Fogo a Israel e a todos os Estados!

O SOM DA PÓLVORA O INCOMODA?

Esse som, juntamente com seus efeitos mortais, é o que o povo da Palestina vem experimentando há um ano. Israel e seus apoiadores estão apenas lucrando com o genocídio. A vida dessas pessoas se tornou uma moeda de troca para a crise do capital que, mais cedo ou mais tarde, acabará com o Ocidente e, portanto, com você também. Não consideremos o genocídio/etnocídio palestino como um evento geograficamente isolado.

Há aqueles que ainda não querem ver a conexão entre o Estado espanhol e o genocídio na Palestina: o Estado espanhol, como outros Estados que se dizem democratas, bem como muitas empresas privadas que tentam branquear sua imagem, estão fabricando e vendendo armas, apoiando-os economicamente, mentindo e justificando o genocídio, desumanizando o povo palestino, estão sendo cúmplices diretos desse genocídio em nome de todo o Estado, em nome de todo o povo.

Hoje, a simulação de um bombardeio chegou à cidade de Sevilha, a fim de aproximar essa realidade dos bairros, porque não, não é algo estranho. Se a Palestina está sendo executada, assumamos que estamos em guerra e paremos de pensar que se trata de um evento exclusivo entre Israel e Palestina, porque nesse espetáculo de guerra há muitas mãos manchadas de sangue também em nosso território.

A diferença entre ouvir a pólvora e fazer com que ela atravesse seu corpo está, no momento, relacionada ao local onde você está, e como não estamos sendo massacrados aqui e temos um cérebro vivo para pensar e refletir, de que adianta viver no escuro? Nesses ataques de Israel, eles estão matando todos os tipos de seres vivos, desde principalmente mulheres e crianças até animais, porque o objetivo é a destruição total do território com todo o seu conteúdo. Por isso, durante essa ação, assumimos a contradição sobre os efeitos da simulação de um bombardeio na cidade de Sevilha: pessoas para as quais os sons estridentes são uma situação extrema, pássaros, animais que nos acompanham em casa? Lamentamos o que isso possa ter causado e os convidamos a refletir sobre o que está acontecendo na Palestina. Será que já não é suficiente? Enquanto a população permanecer dormindo, achamos que não é suficiente e que simular um bombardeio tem essas consequências, com o privilégio de que, depois da pólvora, não há morte.

FOGO EM ISRAEL E EM TODOS OS SEUS CÚMPLICES!

>> Veja o vídeo aqui:

https://vimeo.com/1017521947?share=copy

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Quase desperdício.
Moscas sobre caquis podres
Só o sapo come.

Anibal Beça

Lançamento: v e r v e 46 | Revista do NU-SOL — Núcleo de Sociabilidade Libertária

sumário

só os vestígios fazem sonhar: uma aproximação e as várias diferenças entre os anarquismos e o surrealismo

Gustavo Simões

em tempos de eleições

Martins Garcia

depois das eleições

Incógnito

64: 60 anos depois e depois do depois

Edson Passetti

eu o vi morrer

Robert Arlt

técnica

Christian Ferrer

eu também sou um niilista

Renzo Novatore

lia junqueira: uma obá entre os mortais

Márcia Cristina Lazzari

claire auzias: potência da anarquia e da vida

José Maria Carvalho Ferreira

dossiê heliana conde

Nu-Sol, Rosimeri de Oliveira Dias, Katia Aguiar, Alessandro Francisco e Jonas Waks

dossiê dodi (dorothea voegeli passetti)

Nu-Sol, Beatriz Scigliano Carneiro, João da Mata, Nilson Oliveira, José Maria Carvalho Ferreira & Dorothea Voegeli Passetti

resenhas

saberes e práticas dos trabalhadores (1906-1935)

Diego Lucato

o menino que foi menina: um romance libertariamente possível

Flávia Lucchesi

>> Clique aqui – Versão completa em pdf:

https://www.nu-sol.org/wp-content/uploads/2024/10/VERVE-46_2024.pdf

agência de notícias anarquistas-ana

As nuvens do céu –
o céu do infinito
eu de nenhum lugar

Stefan Theodoru

Queimadas como estratégia do agronegócio para a expansão territorial: Uma análise anarquista

As queimadas são uma estratégia de expansão territorial do agronegócio às custas da saúde pública e do equilíbrio ecológico dos biomas. Elas fazem parte do projeto da fração agrária da burguesia interna para a ampliação de áreas de cultivo e pastagem. A maior parte das queimadas resulta do desmatamento ilegal, motivado pela expansão acelerada do agronegócio, e é de conhecimento e cumplicidade das autoridades. O legado socioambiental desse projeto expansionista de lucro privado é a degradação ambiental, o roubo de terras, a morte de animais selvagens e a precarização da saúde da classe trabalhadora, particularmente dos setores mais vulneráveis, como crianças, idosos e pessoas com problemas respiratórios.

Em 2024, incêndios queimaram a Amazônia, o Cerrado e o Pantanal, atingindo diversas regiões do Brasil, inclusive metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro. De acordo com dados do Programa Queimadas do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), houve um crescimento das queimadas em todas as regiões do país em comparação a 2023. O desmatamento no Cerrado, desde janeiro de 2023, resultou na emissão de mais de 135 milhões de toneladas de CO2, o que equivale a cerca de 1,5 vezes as emissões anuais do setor industrial brasileiro. Em 2024, o Cerrado registrou, até setembro, o maior número de queimadas desde 2012, afetando aproximadamente 11 milhões de hectares, conforme dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. As emissões associadas ao desmatamento estão principalmente concentradas na região do MATOPIBA, entre janeiro e julho de 2023, segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia.

No Centro-Oeste, o Mato Grosso do Sul apresentou um aumento de 601%, com 11.990 focos em 2024; o Distrito Federal registrou um crescimento de 269%, totalizando 318 focos; e em Mato Grosso, o aumento foi de 217%, chegando a 45 mil focos. No Norte, o Pará também teve uma elevação, contabilizando 17.297 focos, o que representa um crescimento de 21,2%. No Sudeste, destacam-se os aumentos em São Paulo e no Rio de Janeiro. Em São Paulo, o crescimento foi de 428% em setembro, com 7.855 focos registrados. No Rio de Janeiro, o aumento foi de 184%, totalizando 1.074 focos.

Luciana Gatti, coordenadora do Laboratório de Gases de Efeito Estufa do INPE, responsabilizou o agronegócio por essa situação e recebeu hostilidade do setor. Nem mesmo o aparelho repressor do Estado conseguiu omitir que as queimadas foram planejadas. Embora oculte a origem de classe dessas ações, o delegado Humberto Freire de Barros, diretor de Amazônia e Meio Ambiente da Polícia Federal, afirmou em entrevista à Globo News que investigações preliminares indicam que vários incêndios começaram quase simultaneamente, sugerindo a possibilidade de uma coordenação. Ao mesmo tempo, a fração jurídica do Estado tem tentado ocultar os responsáveis já identificados, como ficou explícito na decisão judicial que determinou que o nome de um indivíduo envolvido no desmatamento e em incêndios no Pantanal, na região de Corumbá (MS), permanecesse sob sigilo.

O governo Lula-Alckmin (PT-PSB) anunciou recentemente a reativação de iniciativas de combate ao desmatamento, incluindo o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia (PPCDAm). Contudo, o governo liberou para o combate aos incêndios cerca de 0,1% do que foi destinado aos latifundiários do agronegócio através do Plano Safra, que destinou R$ 400 bilhões à agricultura empresarial, um aumento de 10% em relação à safra anterior. Além disso, R$ 108 bilhões em títulos de dívida emitidos por bancos elevaram o total disponível para o agronegócio nacional para R$ 508 bilhões.

Demonstrando o compromisso do atual governo com a continuidade de um modelo agrário-exportador para o Brasil — e destacando que a prática de “passar a boiada” não é exclusiva do governo Bolsonaro —, em setembro, os ministros das Relações Exteriores e da Agricultura, Mauro Vieira e Carlos Fávaro, enviaram uma carta à liderança da União Europeia (UE) expressando preocupação com a nova legislação aprovada pelo bloco. Essa lei, conhecida como EUDR, proíbe a importação de produtos provenientes de áreas desmatadas, independentemente da legalidade, a partir de 2020. A medida, que entrará em vigor no final deste ano, terá um impacto significativo nas exportações para a região. Em um país que é o segundo maior em assassinatos de ambientalistas, as respostas governamentais têm se concentrado em esforços limitados de combate às queimadas e em ameaças tímidas de punição aos responsáveis, sem abordar a base do poder dos latifundiários: a posse da terra.

Questão ambiental como questão social: a necessidade de uma revolução integral

Do ponto de vista anarquista, em uma sociedade de classes, a questão ambiental é uma questão social. Ou seja, em sociedades nas quais a apropriação da terra e da natureza é mediada pela propriedade privada dos meios de produção e regulada por uma autoridade estatal que legitima e viabiliza essa apropriação, os usos dos biomas não ocorrem nas mesmas condições para as diferentes classes sociais.

As próprias classes construíram relações diferenciadas com os biomas ao longo do tempo no Brasil. O campesinato, os povos indígenas e as comunidades tradicionais se relacionaram com a Amazônia, Caatinga, Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica e Pampa visando à sua reprodução social, construindo culturas e formas de organização social que conservam esses biomas porque deles dependem para sua sobrevivência. Já a burguesia tem transformado a biodiversidade dos biomas para servir às suas monoculturas, pastos e minas, visando à acumulação de capital por meio da exportação de commodities.

O Estado não apenas protegeu, por meio de legislação e forças policiais e militares, as transformações ecológicas necessárias para a expansão da economia capitalista, mas também tornou possível a apropriação burguesa dos biomas, através de uma burocracia técnico-científica que mapeou fronteiras agrícolas, minerais e energéticas para a instalação de frentes de expansão em territórios tradicionalmente habitados por uma diversidade de povos. A expansão do capitalismo e do estatismo está dialeticamente vinculada. A expansão do Estado-nação implicou tanto uma integração subordinada dos povos ao sistema de governo quanto uma degradação ecológica dos biomas para a instalação de infraestruturas (fazendas, barragens, rodovias, linhões de energia, usinas eólicas, solares, nucleares), resultando, assim, em um processo de dominação socioecológica de povos e biomas.

As lógicas do estatismo e do capitalismo são expansionistas. O Estado visa aumentar seu domínio subordinando e integrando povos e territórios. O capitalismo está assentado na busca infinita por crescimento e lucro por meio da exploração da força coletiva de trabalho e da apropriação privada da natureza. Ambas as estruturas de dominação são incompatíveis com a preservação da diversidade de povos e biomas do Brasil e da América Latina, o que implica que o equilíbrio ecológico necessário à reprodução da vida e à salvaguarda dos povos depende de um combate à degradada ordem socioecológica produzida pelo Estado e pelo capital.

O Estado e o capital devem ser encarados não apenas como instituições sociopolíticas e econômicas das classes dominantes assentadas na exploração e dominação da força coletiva do proletariado internacional, mas também como agentes capazes de alterar o equilíbrio ecológico de solos, aquíferos e da atmosfera, milenarmente alcançados pela natureza, para atender às suas lógicas expansionistas de centralização de poder e concentração de capital. nesse sentido, o Estado e o capital são capazes de produzir um ordenamento socioecológico pelo qual o poder e a riqueza da classe dominante são garantidos e reproduzidos às custas das condições socioecológicas de vida dos povos e da natureza.

Frente a uma crise integral, que é econômica, política, social e ambiental, necessitamos de uma revolução social também integral. O futuro do equilíbrio ecológico do planeta, da liberdade e do bem-estar dos povos depende dessa revolução integral e internacionalista, capaz de socializar os monopólios de riqueza e poder e reordenar profundamente as atuais relações socioecológicas.

uniaoanarquista.wordpress.com

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agência de notícias anarquistas-ana

Seus cachos de seda
são borboletas douradas
brincando na brisa.

Humberto del Maestro

[Espanha] CNT com o povo palestino e contra o genocídio

A partir da CNT, queremos denunciar publicamente a escalada militar e a barbárie capitalista no Oriente Médio.

A recente invasão do território libanês pelas forças armadas do Estado de Israel, com a cumplicidade e o silêncio de seus Estados aliados, é mais uma consequência da política militar liderada pelo governo sionista de Netanyahu, cujo epicentro é o genocídio em Gaza.

Com base em nossos princípios internacionalistas e libertários, estamos ao lado das pessoas que são vítimas das consequências dessas operações militares, que causam sofrimento, morte e o deslocamento de milhares de pessoas. Mas também, a partir desses mesmos princípios, condenamos todos os Estados e outras entidades não estatais que, ao mesmo tempo em que oprimem todos os povos da região, instrumentalizam as vidas humanas das classes despossuídas para manter suas guerras, mantendo intactos os privilégios das classes dominantes que as lideram.

Apelamos para as classes populares, para o povo trabalhador, para o proletariado; a única classe sem interesses partidários em todas essas lutas ou interesses de privilégio, governo ou classe. Apelamos para as classes trabalhadoras do mundo, pois elas são as únicas que têm a capacidade real de acabar com a guerra. Esperamos que experiências como a da Frente Unida dos Trabalhadores para a Defesa do Povo Palestino, que uniu organizações de trabalhadores e sindicatos do mundo árabe, do Magrebe, do Irã, do Curdistão e da Palestina, sirvam para desenvolver o espírito internacionalista proletário.

Também apelamos para a parte da classe trabalhadora em Israel que, mesmo hoje, por mais que seja uma minoria, se opõe ativamente à guerra. Apesar da militarização de qualquer sociedade em tempos de guerra, sempre haverá aqueles que se recusam a obedecer e lutam pela liberdade. Apelamos para a classe trabalhadora aqui também, à distância de estarmos situados no sul de uma Europa cúmplice do Estado de Israel, para que se organize como uma classe.

A escalada da guerra no Oriente Médio também está afetando nossas sociedades, tornando nossas economias mais precárias em benefício do esforço de guerra e militarizando a vida pública por meio da normalização da barbárie. A única alternativa à guerra e à barbárie capitalista é a revolução social, mas primeiro precisamos nos organizar para sermos uma força capaz de realizar esse trabalho.

Proletários do mundo, unamo-nos! Pela paz no Oriente Médio, não à guerra! Pela revolução social!

cnt.es

Tradução > Liberto

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agência de notícias anarquistas-ana

À luz da manhã
cigarras cantam uníssonas:
homenagem ao sol.

Ronaldo Bomfim