partimos, mas retornamos em fevereiro de 2026. | libres y salvajes! 

2 0 2 6 | Foda-se as eleições! | Continuaremos sendo ingovernáveis!

Sou a Anarquia | Émile Armand

Não preciso nem desejo a vossa disciplina. Quanto às minhas experiências, quero vivê-las por mim mesma.

É delas, e não de vós, que tirarei a minha regra de conduta. Quero viver a minha vida.

Os escravos e os lacaios inspiram-me horror.

Detesto quem domina e repudio quem se deixa dominar.

Aquele que consente em inclinar as costas sob o chicote não vale mais do que aquele que o chicoteia.

Amo o perigo e me seduz o incerto, o imprevisto. Desejo a aventura e não dou a mínima para o sucesso.

Odeio a vossa sociedade de funcionários e administrados, milionários e mendigos.

Não quero adaptar-me aos vossos costumes hipócritas nem às vossas falsas cortesias.

Quero viver os meus entusiasmos no meio do ar puro da liberdade.

Suas ruas traçadas com régua torturam meu olhar, e seus edifícios uniformes fazem ferver de impaciência o sangue de minhas veias. Ignoro para onde vou. E isso me basta.

Sigo em frente meu caminho, ao sabor de meus caprichos, transformando-me incessantemente, e não quero ser amanhã semelhante ao que sou hoje.

Vago sem rumo e não me deixo tosquiar pela tesoura de um único comentador. Sou amoral.

Sigo em frente, eternamente apaixonada e ardente, entregando-me ao primeiro homem que se aproxima de mim, ao caminhante esfarrapado, mas não ao sábio sério e presunçoso que gostaria de regulamentar o comprimento dos meus passos.

Nem ao doutrinário que gostaria de me fornecer fórmulas ou regras.

Não sou uma intelectual; sou uma mulher.

Uma mulher que vibra diante dos impulsos da natureza e das palavras amorosas.

Odeio todas as correntes e todos os obstáculos, adoro passear nua, deixando que os raios do sol voluptuoso acariciem minha pele.

E, ó ancião, pouco me importa que a sua sociedade se parta em mil pedaços, desde que eu possa viver a minha vida.

– Quem és tu, garota sugestiva como o mistério e selvagem como o instinto?

– Sou a Anarquia.

Émile Armand (1872-1962) foi um anarquista individualista francês. Fundou, junto com outros individualistas, a Ligue Antimilitariste e editou o jornal L’En-Dehors por 17 anos.

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Em cima da folha
Joaninha descansa
Que colorido!

Andréa Cristina Franczak

[Nova Zelândia] A captura liberal do anarquismo

Nos últimos anos, uma corrente peculiar varreu partes do meio anarquista, especialmente os cantos mais próximos da academia, do aparato das ONGs e dos amplos ecossistemas de “justiça social” da esquerda liberal. É algo assim, “não vivemos em tempos revolucionários”. A frase é sempre dita com uma espécie de resignação cansada, como se o orador tivesse se tornado sofisticado demais, experiente demais, traumatizado ou profissional demais para ainda acreditar em qualquer um dos velhos princípios.

Dizem que os anarquistas não podem rejeitar o eleitoralismo, seria “dogmático” ou “purista”. Não podemos manter um antimilitarismo de princípios diante de alinhamentos imperiais e tabuleiros geopolíticos, isso seria “ingênuo”, “privilegiado” ou simplesmente “não é assim que o mundo funciona”. Não podemos desafiar o nacionalismo, porque aparentemente até os anarquistas devem se ajoelhar diante do altar das bandeiras quando a guerra de direita estourar. Em Aotearoa, somos cada vez mais instruídos a que os anarquistas, de todas as pessoas, devem simplesmente se alinhar com o Labour, os Verdes ou o Te Pāti Māori, e que qualquer outra coisa equivale a ajudar a Direita, apoiar o fascismo ou não levar a sério as “consequências do mundo real”.

É uma notável contorção ideológica, que transformou grande parte dos autodeclarados anarquistas em adjuntos do liberalismo, parceiros menores do esquerdismo parlamentar e, em alguns casos, defensores barulhentos do poder militarizado do Estado. Esse colapso não é meramente deriva política; representa uma profunda recusa em defender os princípios mais básicos do anarquismo. É uma capitulação disfarçada de realismo, rendição disfarçada de nuances e medo de ser politicamente fora de moda mal embalado como maturidade.

Contudo, na essência, esse discurso expressa algo simples e corrosivo, a crença de que o anarquismo é incapaz de atuar como força revolucionária por si e, portanto, precisa terceirizar a sua agência a instituições liberais.

Não se pode entender o colapso atual da independência anarquista sem entender o ecossistema cultural que muitos na esquerda habitam atualmente. Em Aotearoa, como em todo o mundo ocidental, a energia política tem sido sistematicamente redirecionada para ONGs, consultorias, departamentos acadêmicos e instituições “progressistas”, financiadas publicamente e operando com conforto na infraestrutura capitalista. Esses espaços falam a linguagem do radicalismo, mas se comportam conforme os incentivos da burocracia.

Muitos jovens anarquistas não se radicalizam mais por meio da luta, ocupações, organização no local de trabalho, resistência antimilitarista, brigas habitacionais ou ação contra a polícia. Em vez disso, são socializados em uma esfera profissional na qual o objetivo principal é garantir contratos, manter o capital social e evitar riscos políticos. O resultado é previsível: o anarquismo torna-se só estética de marca, em vez de compromisso com a ação revolucionária.

Dentro desses espaços institucionais, rejeitar o eleitoralismo é apresentado como infantil. Criticar partidos de esquerda é apresentado como sabotagem do “progresso”. Manter princípios antimilitaristas é apresentado como idealismo perigoso. Recusar-se a colapsar em um bloco eleitoral Trabalhista-Verde-Partido Māori é visto como traição à “comunidade”.

Só que não são julgamentos morais, são profissionais. Anarquistas que atuam em redes de ONGs e acadêmicas rapidamente internalizam que a sua sobrevivência material depende de se alinhar com o consenso de esquerda moderada. A crítica eleitoral corre o risco de contratos. O antimilitarismo coloca em risco a segurança da reputação. A política anti-Estado complica as relações com financiadores.

Assim, se desenvolve uma nova norma, os anarquistas devem evitar ser anarquistas demais. Retórica radical é permitida, até mesmo incentivada, desde que acabe reforçando a esquerda parlamentar. Qualquer coisa que ameace o monopólio do Estado sobre a legitimidade se torna indescritível.

O resultado é um anarquismo que fala fluentemente sobre “ajuda-mútua”, mas esquece que a ajuda mútua não é um serviço social, é uma arma contra a alegação de necessidade do Estado. Um anarquismo que condena o racismo e o colonialismo, mas canaliza toda resistência para instituições alinhadas ao Estado. Um anarquismo que defende a descolonização, mas recua diante de qualquer desafio à autoridade parlamentar em Aotearoa. Um anarquismo que apoia lutas no exterior, mas só quando se alinham com narrativas estratégicas ocidentais.

Em essência, é um anarquismo que perdeu a coragem, e racionalizou essa perda como sofisticação intelectual.

A deriva para o raciocínio eleitoral é um sintoma-chave desse colapso. Ele assume várias formas.

Às vezes é explícito: “Devemos votar no Labour/Verdes/TPM para manter a Direita fora.” Às vezes, disfarçado por retórica de justiça social: “Comunidades marginalizadas são prejudicadas quando a Direita vence, portanto os anarquistas têm a responsabilidade de votar.” Às vezes, ela é envolvida em fatalismo estratégico: “Votar não vai nos salvar, mas ajuda a ganhar tempo.”

Porém, por trás de tudo isso está a mesma suposição central de que o Estado deve continuar sendo o principal veículo para a mudança social, e os anarquistas precisam ajustar a sua política para acomodar essa realidade.

É extraordinário como anarquistas esquecem rapidamente que o Estado moderno, liberal ou conservador, é estruturalmente incapaz de abolir a exploração, as hierarquias e o aparato coercitivo que o definem. Mesmo quando governos de esquerda tentam reformas, eles o fazem fortalecendo a máquina que os anarquistas buscam desmontar: polícia, prisões, exércitos, fronteiras, burocracias de assistência social, tecnologias de vigilância, sistemas de extração de impostos.

Em Aotearoa, o Partido Trabalhista é um exemplo clássico. Toda vez que retorna ao poder, o meio anarquista se fragmenta. Os mais próximos das infraestruturas de ONGs começam a defender apoio estratégico. A retórica da “redução de danos” se torna usada como arma para calar críticas daqueles que insistem, com razão, que o Partido Trabalhista provou ser um servo confiável do capital, das alianças imperiais e do gerencialismo doméstico.

Essa dinâmica se intensificou durante a era Ardern. Muitos anarquistas que antes zombavam dos parlamentares se viram reduzidos a críticas tímidas ou silêncio completo, porque a atmosfera social de adoração liberal fazia a dissidência genuína parecer culturalmente tabu. Dentro dos círculos ativistas, o ardernismo era tratado como “bom o suficiente”, e anarquistas que discordavam eram retratados como encrenqueiros, misóginos ou puristas irreais.

Um movimento que se vê como revolucionário nunca deveria ser tão frágil. No entanto, o colapso foi generalizado e revelador: muitos anarquistas estavam mais comprometidos com o pertencimento social na classe cultural liberal do que com o próprio anarquismo.

Uma vez essa mudança cultural ocorre, a lógica fatal se instala: os anarquistas não devem rejeitar o eleitoralismo porque os seus aliados, muitas vezes os seus empregadores, dependem dele.

É assim que uma tradição revolucionária se transforma em um grupo de lobby.

A expressão mais alarmante dessa deriva tem sido o abandono do antimilitarismo anarquista. Por séculos, os anarquistas insistiram que a guerra não é uma aberração, mas um resultado previsível do sistema estatal capitalista. O militarismo é a expressão mais pura do poder hierárquico, da extração de recursos, do nacionalismo e da obediência. É a máquina que devora a juventude da classe trabalhadora para proteger os interesses das classes dominantes rivais.

No entanto, nos últimos anos, muitos autodenominados anarquistas adotaram uma lógica militar indistinguível do liberalismo ocidental. Torcem pela OTAN quando lhes convém. Falam com aprovação sobre enviar armas para conflitos por procuração. Amplificam a linguagem de “defesa”, “segurança” e “necessidade estratégica”. Envergonham os antimilitaristas por “não apoiarem o lado certo”.

Esta é a capitulação mais perigosa de todas.

Depois que anarquistas aceitam a legitimidade da guerra, entregam a última distinção significativa da esquerda estatista. O resultado é um anarquismo que segue obedientemente os ritmos emocionais dos ciclos midiáticos ocidentais, indignado quando instruído, solidário quando instruído, silencioso quando instruído, em vez de manter a própria bússola antimilitarista.

Parte desse colapso é ideológica. Parte é material. Mas uma parte significativa é psicológica.

Muitos anarquistas hoje têm medo de serem vistos como “irresponsáveis”. A cultura liberal-esquerda mais ampla enquadra a política sob a ótica da conformidade, da segurança e da minimização de danos. Qualquer coisa que desafie os arcabouços institucionais é vista como imprudente. Qualquer coisa que perturbe a normalidade política é perigosa. Qualquer coisa que mine o esquerdismo parlamentar está indiretamente “ajudando a direita”.

Isso cria um cenário moral paralisante, no qual o pior pecado que um anarquista pode cometer é não apoiar suficientemente o status quo. O medo de serem culpados por uma vitória da direita se torna tão avassalador que muitos deixam de imaginar a política fora do estreito horizonte das eleições. O medo de ser acusado de “não se importar” com comunidades marginalizadas torna-se uma arma usada para silenciar a política radical.

Nesse clima, o anarquismo se torna uma identidade, não uma práxis, uma forma de se sentir radical enquanto se comporta com segurança.

Essa política baseada na ansiedade produz um anarquista que:

·           em privado, concorda que o Estado não pode libertar ninguém, mas teme dizer isso publicamente;

·           em privado, sabe que as eleições não mudam nada fundamental, mas vota mesmo assim e pressionam outros a fazê-lo;

·           em privado, se opõe à guerra, mas compartilha pontos de vista liberais para não parecer insensível; e

·           em privado, quer resistir diretamente ao capitalismo, mas se contenta com ações simbólicas dentro do sistema.

O resultado é trágico: anarquistas radicais em todos os lugares, exceto onde realmente importa.

A situação em Aotearoa intensifica esse colapso porque a esquerda liberal é estruturada em torno de estruturas morais ligadas ao biculturalismo, ao discurso do Tratado e ao trabalho de justiça social baseado em ONGs. São terrenos importantes de luta, mas o Estado aprendeu a usá-los como arma para manter a legitimidade.

Isso produz um cenário político onde anarquistas são pressionados a tratar atores parlamentares, especialmente o Trabalhista, os Verdes e os Te Pāti Māori, como veículos centrais para o “progresso”, mesmo quando seu histórico está profundamente entrelaçado à administração colonial, ao policiamento, ao capitalismo de mercado e à política externa militarizada.

O Estado liberal em Aotearoa tornou-se habilidoso em realizar virtudes morais enquanto intensifica a violência estrutural. Utiliza o kupu Māori na reformulação enquanto expande as prisões. Financia “provedores comunitários” enquanto esmaga o padrão de vida da classe trabalhadora. Contrata consultores iwi enquanto promove a vigilância militarizada no Pacífico. Oferece reconhecimento simbólico enquanto evita a descolonização material.

Ainda assim, muitos anarquistas, imersos em ambientes de ONGs e oficinas do Tratado, lutam para criticar essa dinâmica sem serem acusados de ignorância cultural ou política reacionária. O resultado é silêncio, cautela ou apologismo, comportamentos totalmente incompatíveis com os compromissos anarquistas de enfrentar o poder do Estado, todo o poder do Estado, independente da retórica que envolva.

Assim o argumento retorna: os anarquistas devem apoiar partidos de esquerda; Os anarquistas não devem rejeitar o eleitoralismo; Os anarquistas não devem se opor a estruturas nacionalistas ou militarizadas quando são apresentadas como protetoras da soberania indígena ou comunidades marginalizadas.

Esse raciocínio confunde o Estado com o povo, um erro contra o qual os anarquistas passaram 150 anos alertando.

A alegação de que os anarquistas “não podem” rejeitar o eleitoralismo, ou “não podem” se opor a partidos de esquerda é, em última análise, uma alegação sobre a impossibilidade da imaginação política. Pressupõe que o Estado é o único terreno disponível, que nada significativo pode ser feito fora dele, e que os anarquistas precisam se alinhar à esquerda gerencial porque a alternativa é irrelevante.

Isso, contudo, só é verdade se aceitarmos as premissas do fatalismo liberal. Toda a tradição anarquista existe porque gerações anteriores recusaram essas premissas. Emma Goldman não olhou para o início do século XX e decidiu que os anarquistas deviam apoiar prefeitos progressistas. Kropotkin não concluiu que a classe trabalhadora deveria votar em reformadores liberais. Radicais Māori na década de 1970 não decidiram que a libertação passasse pelo Parlamento. A CNT espanhola não acreditava que a emancipação exigisse alianças com partidos burgueses, até que a captura interna dos liberais os enfraqueceu com consequências desastrosas.

O anarquismo sempre insistiu que política é algo para muito além dos ciclos eleitorais. As crises da nossa época, o colapso climático, o colapso habitacional, os alinhamentos imperiais militarizados, a infraestrutura social em colapso provam, tão somente, que a organização anarquista não é só viável, mas necessária. O Estado não é o único local de ação política. Nem é o mais eficaz. É só o único que os liberais conseguem imaginar.

Se o anarquismo quiser se recuperar da captura liberal, precisa reafirmar algumas verdades básicas e intransigentes.

Os anarquistas rejeitam o eleitoralismo não porque as eleições sejam moralmente impuras, mas porque a participação eleitoral mina ativamente o desenvolvimento do poder autônomo da classe trabalhadora. Cada hora investida em campanha é uma hora que não é dedicada à organização. Todo argumento sobre votação estratégica é uma distração do verdadeiro trabalho de construir alternativas. Cada segundo gasto defendendo partidos de esquerda é um segundo gasto normalizando a ideia de que a libertação flui para baixo a partir do Parlamento, em vez de para cima a partir da luta.

Os anarquistas se opõem a todo militarismo, não seletivamente, não só quando se alinha aos interesses ocidentais, não só quando os liberais aprovam, porque toda guerra fortalece o Estado, intensifica o nacionalismo e expande o aparato repressivo que, em última análise, será usado contra nós.

Os anarquistas rejeitam a noção de que partidos de esquerda representam “a comunidade”. O Labour não representa os trabalhadores. Os Verdes não representam resistência ecológica. Te Pāti Māori não representa descolonização. Os partidos representam a si mesmos, a sua liderança, os seus financiadores, os seus incentivos institucionais, as suas carreiras.

Os anarquistas recusam a política de culpabilização do liberalismo, a ideia de que somos responsáveis pelas vitórias da direita se recusarmos nos alinhar à esquerda parlamentar. Essa lógica é chantagem emocional usada para disciplinar a dissidência.

Mais importante ainda, os anarquistas precisam redescobrir a confiança de que podemos agir, podemos nos organizar e podemos construir poder político fora do Estado. Precisamos parar de acreditar que autonomia é impossível. O futuro não pertence aos eleitores, mas àqueles que correm o risco de criar algo fora dos sufocantes quadros da governança capitalista.

O discurso liberal que infecta o anarquismo contemporâneo acaba se reduzindo a uma frase lamentável:

“O anarquismo não pode fazer tudo, então os anarquistas devem ajudar os liberais.”

É um credo derrotista disfarçado de pragmatismo. É o sussurro de um movimento que perdeu a fé em si mesmo. É a ideologia de um anarquismo que esqueceu a própria história, as próprias vitórias, a própria capacidade de aterrorizar os poderosos.

Quando os anarquistas argumentam que não podem rejeitar o eleitoralismo, estão abandonando o princípio de que a libertação cresce de baixo. Quando os anarquistas argumentam que não podem se opor a partidos de esquerda, estão entregando a independência às próprias instituições criadas para neutralizar movimentos sociais. Quando os anarquistas argumentam que não podem manter o antimilitarismo, estão aceitando a lógica do império. Quando anarquistas argumentam que não podem agir sem permissão estatal, deixam de ser anarquistas.

Estamos em um momento em que o capitalismo está se desfazendo, o clima desmorona, o militarismo global acelera e as velhas categorias políticas colapsam. Não é um momento para recuar no pragmatismo exausto da esquerda liberal. É o momento de resgatar a audácia e a clareza do anarquismo: a crença de que a classe trabalhadora pode se organizar, que as comunidades podem se governar, que a solidariedade pode substituir a coerção, e que os Estados, todos os Estados, são obstáculos à liberdade, e não são veículos para ela.

Devemos ao mundo algo melhor do que nos tornarmos a ala auxiliar do liberalismo.

Fonte: https://thepolarblast.wordpress.com/2025/11/22/the-liberal-capture-of-anarchism/

Tradução > CF Puig

agência de notícias anarquistas-ana

A virgindade, mito
para vender corpos
no mercado nupcial.

Liberto Herrera

[EUA] ‘Limpeza doméstica’ é uma metáfora principalmente política

de Noah Siela | 14/11/2025

Suze apareceu com um balde e esfregão e aquele tipo de equilíbrio que vem de viver sem rede de segurança. Com uma mão na maçaneta, a outra segurando sprays e trapos, subiu os meus degraus congelados como quem resolveu problemas mais difíceis do que a gravidade. Por dentro, ela se movia como alguém entrando num mundo que já havia decidido o seu valor.

Por alguns meses no último inverno, ela limpou a casa, a restaurando para algo no qual pudéssemos morar. A minha esposa e eu trabalhamos demais. Três filhos adotivos, uma pilha de contas, a correria de sempre. Eu me convencia de que estávamos ganhando tempo, mas nunca parecia certo.

Uma tarde, ao sair, ela notou o adesivo no para-choque no meu carro. A ação direta traz resultados.

“É o seu?” perguntou, com a mão no puxador, o balde do esfregão ao lado.

Era. Foi assim que a conversa começou.

Suze era anarquista. Não do tipo de desenho animado, nem de caos ou bombas de fumaça. Anarquista autodidata, o que seria mais puro do que descobrir Chomsky em um dormitório e citá-lo como se fosse uma escritura. Falava sobre a anarquia como uma forma de viver desafiando hierarquias invisíveis: o chefe, o senhorio, o porteiro, o burocrata. Ela disse que era sobre desaprender obediência antes da obediência desaprender você.

Teria sido mais fácil se ela fosse ingênua ou séria, mas não era. Suze era afiada, engraçada, ancorada no real. A política não era um hobby. Era uma forma de sobrevivência.

O que ainda me incomoda é o quanto eu concordava com ela. Eu acreditava que o sistema deveria ser desmontado, que reformas eram só atrasos. Porém, também passei a vida dentro do sistema, ajudando a funcionar, me convencendo de que o incrementalismo era sanidade.

Nove meses após o início desse governo, já parece que esquecemos o que o último devia ter ensinado. As pessoas que prometeram estabilizar o navio estão se parabenizando por não virarem, como se simplesmente não ser monstruoso contasse como progresso moral. O combate ao extremismo endureceu, se tornando um tipo de calma gerencial que confunde competência com mudança. Para o resto de nós, pessoas como eu, chamamos isso de progresso porque estamos cansados demais para chamar pelo nome: sobrevivência disfarçada de virtude.

Suze não tinha paciência para nada disso. Ela disse que confundimos ordem com paz. Que o país continuava confundindo silêncio com justiça. Que o poder depende da nossa disposição de acreditar que nada pode mudar.

Eu apoiei políticos que tentaram tirar os tradicionais do torpor. Torci por eles, fiz doações, me senti justo por uma semana e depois os vi serem esmagados. Foram financeiramente sufocados, zombaram deles ou foram transformados em histórias de advertência. O que eu fiz, então? Suspirei, racionalizei e fui votar na ilusão que a MSNBC vinha vendendo desde que chegou a Iowa com câmeras e uma costeleta de porco no espeto. A alternativa era fascismo ou fascismo leve, e votar na ilusão parecia responsável.

Só que foi esse tipo de responsabilidade que abriu caminho para o fascismo para começo de conversa. Pessoas como eu continuaram escolhendo a opção segura até que a própria segurança se tornasse vazia o suficiente para algo cruel atravessar e se chamar de renovação.

Nove meses depois, não consigo dizer se algo está sendo consertado ou se estamos só aprendendo a conviver com o barulho novamente. O mercado imobiliário continua sendo um cassino. Escolas desmoronando sob guerras falsas sobre livros. O custo de permanecer na classe média parece uma assinatura vitalícia do cansaço. O movimento que deveria corresponder ao momento parece se preocupar principalmente com a civilidade, como se a educação fosse um plano político.

A civilidade não importava para Suze. Estava ocupada demais em sobreviver para precisar de permissão. Limpava as casas para pessoas que tinham o luxo do cansaço. Ela nunca suavizava a sua raiva para algo controlável. Continuava acreditando em derrubar tudo. Acreditando em quebrar aquilo que está te quebrando. Toda vez que saía de casa, eu a via descendo os degraus e pensava: lá vai alguém que ainda não se rendeu à mentira do equilíbrio, que se recusa a chamar o cansaço de sabedoria.

Aquele adesivo de para-choque do qual falamos não está em uma van enferrujada. Está em um Subaru mais novo, o veículo oficial das escolhas liberais habituais, o que me torna o clichê, o cara que fala sobre destruir sistemas enquanto dirige um símbolo de mantê-los confortavelmente intactos.

A piada amarga é que todo o arranjo, dois adultos trabalhando demais, três filhos, eu comprando tempo de alguém que não tinha nada para vender, nunca foi sobre luxo. Era sobre exaustão fingindo ser estabilidade.

Alguns meses de contadores brilhantes. Suze pagou. Eu, sentado aqui, agora, percebendo que, nove meses após o início do governo, a mulher com o esfregão é a única que continua dizendo a verdade.

Noah Siela foi criado em estradas rurais de cascalho, moldadas por uma cidade universitária do Meio Oeste e uma cidade da Costa Leste, EUA, e se interessa pelas pessoas que tornam esses lugares únicos. É diretor do Programa de Educação de Adultos e Alfabetização das Escolas Públicas de Columbia. Escreve uma coluna mensal para o Missourian.

Fonte: https://www.columbiamissourian.com/opinion/local_columnists/cleaning-house-is-mostly-a-political-metaphor/article_4e43cc19-c03c-4bca-8cd6-320383f5d43f.html

Tradução > CF Puig

agência de notícias anarquistas-ana

Janela fechada:
borboleta na vidraça
dá cor ao meu dia.

Anibal Beça

Clifford Harper, o poder das ilustrações anarquistas

Ao longo de muitas décadas de produção prolífica, as poderosas imagens de Clifford Harper (Chiswick, Londres, 1949) nos contam, juntas, uma história eloquente.

De Montserrat Álvarez

Recentemente, vi a foto de uma manifestação em Londres. Um grupo de manifestantes carregava uma faixa com um desenho de Clifford Harper chamado “Solidariedade”. Não é o primeiro nem o único caso de uso desses desenhos sem citar o autor, e geralmente sem saber disso. Talvez o instinto os conheça livres de lucro ou de reconhecimento. Sabe-se que o instinto não está errado. O reconhecimento, no entanto, é sempre justo.

Essas imagens poderosas começaram a aparecer em fanzines underground, cartazes e revistas anarquistas na década de 1970. O autor é autodidata, nascido em Chiswick em 1949, filho de cozinheira e carteiro, expulso da escola aos 13. Na década de 1960, tornou-se figura importante na cena dos squaters (ocupas) em Londres e, nas décadas seguintes, ilustrador para publicações radicais e também para jornais diários de grande circulação, notadamente o The Guardian, onde trabalhou de 1990 a 2014 e através do qual suas obras rapidamente se tornaram populares com um público mais amplo.

Uma das obras de Clifford Harper que ilustram esta página representa um sonho, o de outro possível mundo alternativo: seu título é “Sonho Alternativo”. Produzida em 1977 e publicada na edição 20 da revista Undercurrents, fundada por Godfrey Boyle, que desafiava os usos da tecnologia na sociedade moderna e defendia uma “ciência radical” para um futuro mais humano. No meio de um cenário sombrio, degradado por prisões, confrontos com a polícia, campos infestados de agrotoxinas, poluição, guerras, há uma estrada no final da qual o sol nasce vigorosamente, e ao lado da estrada uma placa de madeira nos recebe: Bem-vindos ao território libertado de Albion. “Bem-vindo à Terra Livre de Albion”.

O caminho para esse sonho, buscado, entre outras coisas, em comunas e ocupações, provou ser longo e difícil, cheio de obstáculos, confusões, inimigos abertos e falsos aliados. Harper já disse isso à sua maneira num dia de setembro de 1982, na entrevista memorável com Adam Cornford reunida no livro The Education of Desire. [Ilustrações Anarquistas de Clifford Harper], publicado em Londres em 1984:

 – Nas comunas e ocupações passavam hippies de classe média. Iam para a casa dos pais no fim de semana para tomar banho, lavar roupas e comer uma boa comida, e voltavam na segunda-feira de manhã para continuar lutando contra a ideologia dominante ou algo assim. Havia um que recebia um cheque semanal do pai, um milionário de Zurique. Ele me confessou em segredo. Era risível. Não sei onde estão esses desgraçados agora, mas tenho certeza de que nenhum deles está lutando para derrubar o Estado.

Existem várias fases no estilo gráfico de Clifford Harper. Desde a década de 1980, ele adquiriu uma força próxima de George Grosz ou Fernand Leger. Mas, como um todo, sua obra remete a uma tradição de xilogravura, a de Felix Vallotton e Frans Masereel e, também, de William Morris e Walter Crane. Só que as obras de Harper não são gravuras, mas desenhos feitos com caneta e tinta, que ele geralmente dá textura “raspando” o original: com orgulho de ser autodidata, Clifford Harper inventou a própria técnica.

Separadamente, a força de cada um desses desenhos difíceis, limpos de sentimentalismo, captura o olhar como um ímã. Ver vários juntos, por outro lado, adiciona algo misterioso. Sem saber, a mão seguiu um fio inconsciente ao longo de várias décadas e, hoje, todos esses desenhos nos contam uma história.

Uma história bela e desconfortável, ambientada em tempos implacáveis. Reconhecemos muitos dos protagonistas. Oscar Wilde, Kropotkin, Makhno, Emiliano Zapata, Durruti, Emma Goldman, Sacco e Vanzetti… Mas a maioria não tem nome. Lutam na Guerra Civil Espanhola e na Comuna de Paris, levantam as armas em motins, marcham nas ruas, resistem em greves, estão em navios piratas, em fábricas, nos campos, em gráficas, em tavernas, no fogo e barricadas de todas as revoltas.

É uma história de arados e rodovias, de enxadas de fazendeiros e fumaça de metrópoles, de minas de carvão e escritórios cinzentos. Isso acontece em vilarejos antigos de silêncio perigoso e no barulho e fúria das cidades modernas, enquanto gatos escalam paredes cheias de pichações punk nos cantos escuros do século XX. A mesma linha firme percorre perfeitamente tanto o mundo de hoje quanto o de ontem nas muitas obras dessa vasta galeria, porque a história que nos contam é tão antiga e nova quanto a humanidade.

Algumas ilustrações, especialmente as primeiras, são dinâmicas, com linhas diagonais violentas, cheias de movimento. Outras, as mais conhecidas, são sólidas, estáveis, com traços grossos como sulcos na terra, marcando traçado trágico ou momentos vibrantes de força e fraternidade. Outros traços são misteriosos. Na última, geralmente é crepúsculo ou noite. Às vezes, todas as pessoas parecem ter desaparecido e estamos completamente sozinhos no universo profundo e desabitado. Vemos o último casal, em intimidade sagrada, ou em uma comunhão silenciosa com a luz de uma vela. Há uma janela, um caminho que desaparece no horizonte, um pássaro que se afasta, uma saída de emergência impossível, a sombra da liberdade desejada e temida.

Fonte: https://www.abc.com.py/edicion-impresa/suplementos/cultural/2022/11/13/clifford-harper-la-potencia-de-la-grafica-anarquista/

Tradução > CF Puig

agência de notícias anarquistas-ana

Ilhotas boiando.
Sob um céu vasto e sereno
este mar tranqüilo.

Fanny Dupré

[EUA] Lançamento: Anarquia na Big Easy: Uma História de Revolta, Rebelião e Ressurgimento

Anarquia na Big Easy é uma história gráfica anarquista da busca pela liberdade na Nova Orleans radical e revolucionária.

A narrativa começa com as forças anárquicas da natureza criando a terra e as comunidades indígenas cooperativas que floresceram antes da conquista europeia. Em seguida, vemos a revolta contra a dominação por meio da Insurreição dos Povos Escravizados de 1811, o surgimento de comunidades quilombolas (maroons), o trabalho de figuras como o geógrafo anarquista Élisée Reclus e o revolucionário utópico Joseph Déjacque, além da comovente história da militância trabalhista, exemplificada pela Primeira Internacional, a Greve Geral de 1892 e a ascensão dos Industrial Workers of the World (IWW).

Também são explorados os aspectos anárquicos do jazz, incluindo seu local de nascimento, o famoso distrito de luz vermelha de Storyville. Outros episódios reconstituem a história dos Panteras Negras, incluindo o lendário tiroteio no Conjunto Habitacional Desire, e o papel fundamental que anarquistas desempenharam na reconstrução de base após o furacão Katrina. O frequentemente subversivo Carnaval Popular é retratado desde a história dos Mardi Gras Indians até as atuais *krewes* anarquistas que marcham hoje. O livro se encerra com a recente luta pela remoção dos monumentos confederados e o crescimento de um movimento descentralizado, autônomo, de ajuda mútua.

Essas histórias são narradas pelo escritor surregionalista Max Cafard e ganham vida de forma vívida por meio das imagens marcantes do artista de quadrinhos Vulpes.

Elogios

O amor que Max Cafard sente por sua cidade natal, Nova Orleans, é perceptível em cada página. (…) Ele encontra a fonte de toda grande ideia radical nos pântanos, riachos e ruas de seu território escolhido e reconhece a confluência entre a ideologia anarquista e o jazz inicial de Nova Orleans. Vulpes sustenta a narrativa de Cafard com uma arte surpreendentemente delicada. (…) Juntos, eles mostrarão a alguns de vocês um lado de Nova Orleans que nunca conheceram. Ou talvez mostrem uma Nova Orleans que vocês já viram, mas não com a profundidade e a beleza com que é apresentada aqui.”

– Seth Tobocman, autor de War in the Neighborhood, cofundador da World War 3 Illustrated

Sobre os colaboradores

Max Cafard é um habitante vitalício da ilha de Nova Orleans. Foi cofundador e editor das revistas Mesechabe e Psychic Swamp e é autor de The Surregionalist Manifesto and Other Writings, FLOOD BOOK, Surregionalist Explorations, Lightning Storm Mind e Poemics (no prelo).

Vulpes é uma pessoa ilustradora anarquista radicada no Sul do Golfo da Ilha da Tartaruga. Seus quadrinhos publicados pela JP Press incluem Naki, sobre o jogador de futebol curdo Deniz Naki, e Siege Engines, sobre a rota migratória de 2016 pelos Bálcãs. Seu trabalho já apareceu em The Nib, Commune e The Shotgun.

Anarquia na Big Easy: Uma História de Revolta, Rebelião e Ressurgimento

Autor: Max Cafard – Ilustrações: Vulpes

Série: PM Press

ISBN: 9798887441009

Páginas: 96

US$ 15,95

pmpress.org

Tradução > Contrafatual

agência de notícias anarquistas-ana

Sem pedir licença,
ocupamos a cidade
com corpos e danças.

Liberto Herrera

Breve manifesto dos amigos da liberdade e da anarquia

Consideramos como francos inimigos da natureza e da vida,

merecedores do nosso total desprezo e repulsa,

os apologistas da ordem estabelecida,

apoiadores de carrascos e genocidas,

defensores de todas as misérias,

fomes, guerras e exploração capitalista,

os amantes de impérios, metrópoles,

ricos e parasitas.

.

Não nos misturamos jamais com fascistas,

sionistas, racistas, elitistas e militaristas.

Pois, dentro de nós, nascem desde já outros mundos possíveis, novos dias, consagrados a igualdade e a justiça.

.

Somos, radicalmente, anarquistas e socialistas,

amantes da liberdade, da autonomia e da poesia,

francos inimigos do Estado, das ditaduras e patriarcados.

Carlos Pereira Junior

agência de notícias anarquistas-ana

Primavera-me
Borboleta anarca
Flui sem dizer nada

Nanû da Silva

Vrije Bond, a federação anarquista dos Países Baixos e Flanders

Sobre Vrije Bond

O Vrije Bond (União Livre) é um grupo de pessoas em busca de construir uma sociedade diferente: sem hierarquias, sem opressão e sem exploração de humanos, animais ou meio ambiente; uma sociedade anarquista na qual lidamos uns com os outros na base da igualdade. Os membros do Vrije Bond todos trabalham, à sua maneira, na própria cidade, bairro, trabalho ou grupo de ação, na criação dessa sociedade. Fazem isso por meio de ação direta, organizando discussões, escrevendo artigos ou fornecendo informações. O Vrije Bond serve como plataforma para encontros, trocas de experiências, desenvolver teorias e estratégias, bem como para organizar atividades e apoiá-las.

Anarquismo

Um mundo melhor, é isso que o anarquismo representa: um mundo sem dominação nem exploração, baseado na cooperação e na solidariedade. Um mundo em que todos possam decidir por si mesmos como moldar suas vidas, com base no princípio da igualdade e na liberdade de expressão e ação. Essa é uma ideia fantástica, mas não é fácil construir um mundo assim. No caso dessas mudanças, não podemos confiar na democracia representativa. A revolução necessária para tal mundo só pode ser atingida por meio da cooperação e da organização de baixo para cima. É por isso que, para nós, anarquistas, a organização é importante, porque juntos nos mantemos fortes.

Auto-organização

A Vrije Bond luta por uma sociedade em que todo o poder político e econômico de cima é substituído por estruturas de formas livres de cooperação. Nessas relações, a vida política e econômica será organizada coletivamente e todas as decisões serão tomadas coletivamente.

A Vrije Bond é uma dessas formas de cooperação: uma auto-organização anarquista. Isso significa que trabalhamos juntos quando necessário, mas que grupos e indivíduos afiliados mantêm a autonomia. Ao ter reuniões regulares (abertas), ações diretas e campanhas, um fundo de solidariedade, um site e a revista ‘Buiten de Orde’, a Vrije Bond, como estrutura organizacional, busca apoiar e fortalecer o movimento anarquista.

‘Buiten de Orde’

A Vrije Bond publica a revista trimestral ‘Buiten de Orde’ (Fora da Ordem). Repleto de informações, entrevistas e discussões sobre anarquismo, autogestão, lutas dos trabalhadores, direitos humanos, antifascismo, antimilitarismo, ações ambientais, resistência e cultura independente, entre outros. A revista é gratuita para membros do Vrije Bond e fica disponível à venda aos outros.

Fundo solidário

Outra atividade importante da Vrije Bond é o Fundo de Solidariedade. Por meio desse fundo, os membros da Vrije Bond apoiam as ações e atividades uns dos outros, como ações (diretas) de grupos da Vrije Bond, como piquetes, inspeções civis e campos de ação. Iniciativas como uma biblioteca anarquista ou uma loja de informações também são apoiadas. Organizações irmãs no exterior ou não membros também podem fazer uso do fundo.

Seja membro de Vrije Bond!

A Vrije Bond, Livre União, está crescendo, então junte-se agora! Inscreva-se e ajude a construir movimento anarquista forte nos Países Baixos e na Bélgica.

Vrije Bond

Postbus 16521

1001 RA Amsterdam

Países Baixos

E: secretariaat@vrijebond.nl

I: www.vrijebond.org

Tradução > CF Puig

agência de notícias anarquistas-ana

Limpo o rosto na camisa –
O vento começa a trazer
As primeiras gotas de chuva

Paulo Franchetti

[Espanha] Homenagem e entrega dos restos mortais de quatro novas vítimas do fascismo identificadas no Barranco de Víznar (Granada)

Os restos mortais de Carmen Rodríguez Parra, José Raya Hurtado, Francisco Soriano López e José García, as últimas quatro pessoas identificadas no Barranco de Víznar, foram entregues aos seus familiares no passado dia 19 de dezembro no Albergue Municipal de Víznar, numa cerimónia aberta ao público. Esta atividade encerra a quinta campanha do projeto “Barranco de Víznar, lugar de memória”. Durante a reta final da mesma, foi exumada a maior fosa comum encontrada até à data nesse local. Desde o início dos trabalhos no barranco em 2021, foram recuperadas 194 vítimas assassinadas.

Espera-se que, no início de 2026, a Universidade de Granada realize uma nova campanha de trabalhos em Víznar.

Carmen Rodríguez Parra, Madre Carmela

Natural e residente de Granada, nasceu em 13 de maio de 1884. Morava na rua Elvira, 40, era casada com Antonio López Capel e tinha duas filhas, chamadas Nieves e Carmen López Rodríguez. Junto com o marido, administrava a Taberna Carmela, um estabelecimento no térreo do prédio onde moravam. Mulher politizada e ativa, era membro da CNT-AIT de Granada. Sua taberna seria um local de encontro e reunião para os movimentos de esquerda da cidade, especialmente dos grupos anarquistas granadinos.

Profundamente comprometida contra as injustiças, era conhecida por ajudar os desamparados e perseguidos politicamente. A partir de sua taberna, apoiava economicamente um grande número de causas, como a arrecadação de dinheiro para a filha do militante da CNT-AIT Miguel Illescas, assassinado pela polícia na rua Elvira quando colava cartazes para convocar uma greve geral em julho de 1931, ou o apoio às famílias dos presos e mortos após a tentativa de golpe militar de Sanjurjo no verão de 1932.

Após a sanjurjada, a taberna foi fechada, permanecendo assim até novembro de 1932, quando o movimento operário da cidade conseguiu sua reabertura, em um contexto de agitações e greves convocadas pela CNT-AIT. Mas, a partir desse momento, a taberna sofrerá um assédio policial constante, com vigilância, batidas e detenções. Nas eleições de fevereiro de 1936, em que a CNT-AIT não propôs uma abstenção ativa, a taberna se tornou o escritório eleitoral da Frente Popular e, com a repetição das eleições em Granada, Carmen atuará como interventora em maio de 1936.

Após o início da revolta militar, Carmen foi detida e encarcerada. A 15 de agosto de 1936, foi transferida para Víznar, onde será fuzilada no barranco de Víznar num grupo formado por quatro mulheres. Tinha 52 anos. 

Que estas palavras sobre Carmen Rodríguez Parra, publicadas em abril de 1933 no jornal La Tierra, sirvam como homenagem à sua figura: “Receba, Madre Carmela, a homenagem da minha profunda admiração, pois vejo em você um dos maiores focos de bondade e luz, necessários para nos iluminar nestes tempos de trevas e maldade”.

A família da Madre Carmela pediu à CNT-AIT de Granada que estivesse presente no ato, que terminou com o canto de “A las barricadas”, deixando a família muito emocionada com a homenagem à Madre Carmela tantos anos depois.

Fonte: https://www.cntait.org/homenaje-y-entrega-de-los-restos-de-cuatro-nuevas-victimas-del-fascismo-identificadas-en-el-barranco-de-viznar-granada/

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tão longa a jornada!
e a gente cai, de repente,
no abismo do nada

Helena Kolody

[Espanha] Ursula K. Le Guin, realista de outra realidade

Artigo publicado em Rojo y Negro nº 397, fevereiro de 2025

Hoje, 22 de janeiro de 2025, data em que escrevo isto, completam-se exatamente sete anos da ocultação – para dizê-lo à maneira dos patafísicos – da escritora estadunidense Ursula K. Le Guin. Três anos antes, quando já se encontrava no último trecho de sua vida, Le Guin havia sido agraciada com a Medalha da Fundação Nacional do Livro por sua Destacada Contribuição às Letras Norte-americanas. No dia 19 de novembro de 2014, ela proferiu o discurso de aceitação do prêmio, que durou apenas uns cinco minutos, mas que, como reconheceu mais tarde, lhe custou um par de meses para redigir, tudo com o único objetivo de torná-lo o mais conciso possível. O resultado é uma pequena obra-prima, um alegato claro e incisivo em favor do poder transformador da escrita.

Le Guin começou reivindicando o lugar de seus colegas escritores de fantasia e ficção científica. “Escritores da imaginação – disse –, que durante cinquenta anos viram esses belos prêmios irem parar nas mãos dos chamados realistas”. Depois, alertou sobre os tempos difíceis que estavam por vir e lançou um desafio às novas gerações de literatos: precisamos de escritores – acrescentou – dotados de imaginação e memória, cujas vozes sejam capazes de encontrar alternativas à forma como vivemos hoje e, ao mesmo tempo, possam recordar o que é, o que era, a liberdade. “Poetas, visionários, realistas de uma realidade mais vasta”, os chamou.

Em sua última entrevista, realizada em várias sessões ao longo de três anos com o jornalista David Streitfeld, ela esclareceria que, é claro, não estava prevendo o fenômeno Trump – “os escritores de ficção científica não somos bons em fazer previsões”. E, no entanto… “Por todos os santos, eu vinha dizendo há trinta anos que estamos tornando o mundo um lugar inabitável! Quarenta anos!”. Shelley estava certo ao afirmar que os poetas são os legisladores não reconhecidos do mundo, havia dito Le Guin algum tempo antes, mesmo que raramente vejam suas leis promulgadas e aceitas pela comunidade.

No momento atual, continuou dizendo em seu discurso, precisamos de escritores que conheçam a diferença entre a produção de uma mercadoria e a prática de uma arte. Os livros não são, ou não deveriam ser, simples mercadorias, e a arte não deveria se submeter sem mais à lógica do lucro. Vivemos no capitalismo – constatou –, e seu poder parece inexorável. “Mas também parecia o direito divino dos reis. Qualquer poder humano pode ser enfrentado e mudado pelos seres humanos. A resistência e a mudança frequentemente começam na arte. Muitas vezes em nossa arte, a arte das palavras”. Os escritores devem exigir o que lhes corresponde – concluiu –, mas o nome de “nossa bela recompensa não é lucro. Seu nome é liberdade”.

Quarenta anos atrás, em 1974, quando a literatura de gênero ainda não era considerada verdadeira literatura, Le Guin havia ganhado os prêmios Hugo e Nebula de ficção científica com um mesmo romance: “Os Despossuídos”. Antes – reconheceria em outra entrevista em 2015 –, ela havia passado um par de anos pesquisando sobre o anarquismo pacifista. Começou lendo os teóricos da não-violência, como Gandhi ou Luther King, e isso a levou a Kropotkin e companhia, “e fiquei fascinada”. Naquela época, em Portland, a cidade onde vivia, havia uma centena de livrarias independentes. Em uma delas, “bastante política”, se você conhecesse o livreiro, podia passar para o fundo da loja, onde havia material anarquista, “maravilhoso e muito difícil de encontrar naquela época”. Le Guin combinou a leitura dos clássicos anarquistas com a leitura de literatura utópica e descobriu que havia uma utopia para qualquer orientação política que se pudesse pensar, exceto para o anarquismo. “Bem, talvez eu devesse escrever uma – pensou –. Então, tive que reler e ler algumas coisas para planejar como diabos uma sociedade anarquista se organizaria, o que era muito divertido, mas também muito complicado”.

Em “Os Despossuídos”, Le Guin apresentava um pequeno planeta chamado Anarres, onde a utopia libertária finalmente se tornara realidade, onde o dinheiro e as leis haviam sido abolidos, onde não existiam mais prisões nem pronomes possessivos e onde a propriedade individual havia sido reduzida ao mínimo necessário. Seu oposto exato era o planeta Urras, a própria representação do Estado capitalista. No breve prólogo do conto “O Dia Antes da Revolução”, uma espécie de prequel do romance publicado no mesmo ano, Le Guin esclarecia: “Meu romance “Os Despossuídos” trata de um pequeno mundo povoado por pessoas que se chamam de odonianos. […] O odonianismo é o anarquismo. Não aquilo das bombas nos bolsos, que é terrorismo, independentemente do nome com que se tente dignificá-lo; tampouco o darwinismo social do ‘libertarianismo’ econômico da extrema direita; mas o anarquismo tal como aparece prefigurado na filosofia taoísta primitiva e exposto por Shelley e Kropotkin, Goldman e Goodman. O principal alvo do anarquismo é o Estado autoritário (capitalista ou socialista); seu objetivo prático-moral principal é a cooperação (solidariedade, ajuda mútua). É a mais idealista e, para mim, a mais interessante de todas as teorias políticas”.

“Os Despossuídos” logo se tornou uma obra de referência para o movimento libertário. No entanto, Le Guin sempre achou um pouco embaraçoso que os anarquistas a reconhecessem como uma deles. “Porque – desde que sejam dos meus, pacifistas – eu os amo, mas sou uma dona de casa burguesa, não pratico o anarquismo”. Parecia-lhe falso ou fácil demais descrever-se como anarquista porque lhe faltava o componente ativista. É como aquelas pessoas – observava – que dizem ser parte cherokee. Mas o que é um anarquista? A protagonista de “O Dia Antes da Revolução” oferecia a chave: “Alguém que, ao escolher, aceita a responsabilidade de sua escolha”.

Diego Luis Sanromán

Fonte: Rojo y Negro

Tradução > Liberto

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sonho colorido
o sol dança com a lua
você comigo

Carlos Seabra

[EUA] Nova Zine: Anarquia e a Arte de Viajar de Carona

Introdução: Por Que Eu Amo Viajar de Carona

Os povos nômades têm historicamente representado as maiores ameaças e sido os mais difamados pelos poderes estatais. Piratas, bárbaros, ciganos e beduínos, entre outros grupos transitórios, têm estado historicamente em conflito com as forças civilizadoras e os sistemas de poder devido à sua ilegibilidade e à dificuldade em controlar essas populações. Viajar de carona não é apenas divertido, mas também uma estratégia para escapar das restrições do poder estatal e da repressão que é um componente intrínseco da sedentarização forçada. Quando aprendi a pedir carona, um mundo de possibilidades se abriu para mim. Aprender e abraçar essa modalidade me ajudou a ver que nenhum dos caminhos traçados para nós, que ditam como devemos navegar pelo mundo, é inevitável. Eu poderia transformar a vida em uma história do tipo “escolha sua própria aventura” ou RPG, em vez de ficar profundamente deprimido por estar confinado às trajetórias normativas que me foram impostas. No mundo das viagens, se viajar em trens de carga é uma ciência, então pegar carona pode ser considerado uma arte. Viajar de trem requer muita precisão e cálculos cuidadosos, enquanto pegar carona é profundamente complexo, inter-relacional e imprevisível. Também não há uma maneira objetivamente boa ou ruim de fazer isso. Assim como na arte, pedir carona tem muito a ver com estilo e preferência pessoais.

As pessoas costumam temer pela minha vida quando me veem pedindo carona na estrada, pois acham que minha morfologia e aparência me colocam em grande risco. Eu escolho pedir carona mesmo assim, por me recusar a desempenhar o papel de vítima, por meu compromisso em me defender e por um sentimento de rebeldia contra a ideia de que devo deixar o medo ditar como me movo no mundo. Acontece que a grande maioria das pessoas dispostas a correr o risco de dar carona a um pedestre está entre as pessoas mais gentis que já conheci. São quase sempre pessoas dispostas a correr um risco pessoal por um estranho. São pessoas com quem eu nunca teria interagido de outra forma, e aprendo muito com as pessoas que decidem me dar carona. Viajar dessa forma me ensinou muito mais do que qualquer aula jamais poderia ensinar. Pedir carona também teve alguns efeitos positivos inesperados, mas profundos, na minha vida, como superar um desejo intenso e duradouro de restringir a alimentação e perder peso.

O mundo da recuperação de distúrbios alimentares frequentemente afirma que esses diagnósticos têm a ver com controle, e não com estética. Por muito tempo, achei que havia algo errado com essa narrativa de controle e tinha um grande problema com a forma como o tratamento parecia se concentrar em dessensibilizar as pessoas para a realidade de não terem nenhum controle sobre suas próprias vidas. A maioria desses programas parece tratar mais da obediência à autoridade do que do cultivo da libertação corporal ou da alegria. Não era controle que eu desejava, era autodeterminação. Nenhuma quantidade de positividade corporal, amor próprio ou terapia aliviava as obsessões que me consumiam. Em vez disso, a primeira vez na vida em que não senti uma sensação perpétua de estresse e hipervigilância em relação ao meu corpo foi quando comecei a viajar de carona. Viver de forma nômade e de uma maneira que se desvia radicalmente dos roteiros sociais prescritos me permitiu relaxar e me sentir verdadeiramente livre. Aprender a transcender as regras sociais e quebrar ativamente a quarta parede da civilização me ajudou a exercitar o músculo mental que me permitiria quebrar minhas próprias regras também. Pedir carona e viver com uma mochila abriu portas que levaram a possibilidades completamente transformadoras. Pedir carona evoca uma sensação de ruptura em relação aos modelos normativos da dinâmica interpessoal. Permite conexões fugazes que muitas vezes inspiram uma maior sensação de autenticidade e abertura, devido à percepção de que será uma interação passageira (mas, de alguma forma, inerentemente íntima). O texto a seguir é um breve guia para encontrar formas anárquicas de liberdade e conexão através das caronas.

Faça o download da zine completa aqui: https://warzonedistro.noblogs.org/files/2025/12/Anarchy-the-Art-of-Hitchhiking.pdf

Tradução > transanark / acervo digital trans-anarquista

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Ainda que morrendo
o canto das cigarras
nada revela!

Matsuo Bashô

[Grécia] Cartaz | 10 anos de Organização Política Anarquista – Federação de Coletividades

10 anos de Organização Política Anarquista – Federação de Coletividades

Diante do ataque total e organizado do mundo podre do Estado e do capital, que local e internacionalmente não tem mais nada a prometer além de guerra e fascismo, a única esperança para as sociedades reside nas barricadas dos explorados e oprimidos e na organização política, social e de classe da luta na direção da revolução social e da emancipação.

A Organização Política Anarquista, desde a sua formação há 10 anos, continua a ser um apelo aberto aos anarquistas que se referem à luta organizada e coletiva e à revolução social, uma proposta constante para a formação ideológica, política e organizacional do movimento anarquista, uma posição de combate e coesão firme nas ruas ao lado daqueles que questionam a barbárie do poder. Com consistência e continuidade nas frentes de luta de classe e sociais que colocam barreiras à degradação contínua de nossas vidas no presente e tendo como perspectiva a conquista da única vida que vale a pena ser vivida: a vida nos conselhos populares da revolução social.

Organização e luta pela revolução social, anarquia e comunismo libertário

apo.squathost.com

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Sem rei, sem profeta,
a seara balança ao vento—
livre e desgrenhada.

Liberto Herrera

[Espanha] Lançamento: “Hilaria. Relatos íntimos para un feminismo revolucionario en el siglo XXI”, de Irene.

Desde suas origens, o feminismo insistiu na importância do relato íntimo ou, mais concretamente, na necessidade de conceber novos relatos onde o pessoal e o político, o cotidiano e o histórico se religuem e mudem nossa visão da sociedade e da luta necessária para sua transformação. Partindo desta premissa, Irene articula a escritura deste livro lúcido e valente a partir da vida de sua tataravó Hilaria, de modo que o que poderia parecer um exercício de recuperação da memória familiar se desdobra e, já desde as primeiras páginas, se converte, também, em um manifesto, uma reflexão e uma invocação para pensar e armar os movimentos feministas contemporâneos. Assim, descobrimos que Hilaria foi uma proletária basca, uma mulher forte que ficou viúva muito cedo e criou só seus filhos. Teve que confrontar a tragédia política e o caos social da Espanha dos anos trinta, mas nada de todo o vivido (incluído seu atroz encarceramento) minou seu entusiasmo ilimitado pela vida e seu desejo indomável de construir um mundo melhor.

Claro, o exemplo de Hilaria é uma inspiração necessária para nosso tempo, pois cada dia é mais urgente chamar as coisas por seu nome: o feminismo liberal daquelas que se contentam com ter uma chefe, uma presidenta do Governo e uma extensa coleção de brinquedos sexuais não és mais que uma manobra de distração. Neste sentido, todo feminismo que defende o capital é um feminismo contra as mulheres, pois o capitalismo é o responsável último de sua opressão. Portanto, devemos perder o medo de criticá-lo, pois a sororidade não pode ser incondicional. Não queremos um feminismo que reivindique a igualdade no seio de um sistema baseado na exploração. Hoje mais do que nunca, com o auge geral de todo tipo de autoritarismos, necessitamos voltar ao feminismo de Hilaria: um feminismo popular e radical, ao mesmo tempo antifascista e anticapitalista.

Hilaria. Relatos íntimos para un feminismo revolucionario en el siglo XXI

Autora: Irene

Tradução: Iballa López Hernández

Número de páginas: 176

19,00€ IVA incluído

erratanaturae.com

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A fúria é semente.
Da rachadura no asfalto,
nasce o novo trigo.

Liberto Herrera

[Espanha] Documentário: “Mi patria es la libertad”. El Cabrero

Comecei fazendo corridas

Por atalhos e veredas muito estreitas para mim, e diziam meus vizinhos que estava no caminho errado longe do rebanho.

Sempre fui essa ovelha negra que soube se esquivar das pedras que lhe atiravam, e quanto mais passam os anos mais me separo do rebanho

Porque não sei aonde vai.

.

Letra de Como o vento oeste (1996)

José Domínguez Muñoz, mais conhecido como El Cabrero (Aznalcóllar, província de Sevilha, 19 de outubro de 1944), cantor flamenco…

“Mi patria es la libertad” é o retrato de um artista que transcendeu sua arte, de um ícone imperecível, de raivosa atualidade. A história de uma das carreiras artísticas mais fulgurantes e atípicas de um cantor flamenco clássico e retumbante em suas convicções. É impossível separar o que canta do que é e vice-versa.

A sua não só era, e é, uma voz necessária porque o que reclama é uma vida justa e humana, mas que, também, sua integridade e honestidade se manteve impoluta, negando-se a servir de alto falante de outros interesses ou rechaçando reconhecimentos com os que pretendiam comprá-lo.

Tão grande era sua figura que não é de estranhar que agora sintam sua falta em milhares de lugares: no prado e na trincheira, no auditório, nas convicções e na alma.

Por isso, ouçamos sua voz porque é o grito do povo.

Fonte: https://loquesomos.org/documental-mi-patria-es-la-libertad-el-cabrero/

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Disseram-me algo
a tarde e a montanha.
Já não lembro mais.

Jorge Luis Borges

[Indonésia] Declaração dos presos anarquistas da FAAF (Associação Livre de Fogos Autônomos)

ACENDENDO UMA CHAMA NA ESCURIDÃO

Nós, anarquistas da Indonésia, enfrentamos uma grande tempestade. Mais de uma dúzia de anarquistas foram presos e torturados, e o Estado tenta nos disciplinar instilando medo. Mas para nós, tudo isso não é nada, porque nós mesmos somos a tempestade, a catástrofe personificada. Aqui estão os companheiros do BlackBloc Zone, Palang Hitam Anarkis Indonesia, Contemplative, Katong Press e outros coletivos.

Nossos companheiros têm a forma de tempestades envoltas em chamas. Alguns consideram este momento o clímax, mas não é nem o começo nem o fim. Estamos reunindo todas as chamas que nos cercam, as chamas que o Estado tentou extinguir.

Quantas vezes precisamos repetir? “Podemos viver sem o Estado!” Dane-se a sociedade! A sociedade é a ferramenta mais preciosa do Estado para preservar sua própria existência. Odiamos a sociedade com todo o nosso coração.

Acreditamos que o amanhecer da fome chegará mais cedo ou mais tarde, e isso marcará o início da era da destruição do Estado.

Para aqueles que estão fora: resistam, reúnam todas as faíscas que puderem. E para aqueles que estão atrás das grades ou se sentem prisioneiros, vocês não estão sozinhos.

Lutem! Lutem! Dane-se a vitória ou a derrota! O importante é que nossos olhos continuem brilhando em cada batalha.

A todos: espalhem a notícia! Morte ao Estado! Viva a anarquia!

FAAF (Associação Livre de Fogos Autônomos)

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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/12/17/indonesia-oito-detidos-anarquistas-do-caso-chaos-star-foram-transferidos-apos-audiencia/

agência de notícias anarquistas-ana

Carro em chamas—o fogo
limpa a peste do luxo
que o povo sustentou.

Liberto Herrera