Um verdadeiro pacifista não abraça policiais nem militares, pelo contrário, um verdadeiro pacifista luta pela abolição de todos os exércitos.

Parte 3 | Sob a Bota da República: O Estado Brasileiro e a continuidade da Ciência do Extermínio (1900-1950)

Se o século XIX terminou com o eco dos canhões em Canudos, o século XX inaugurou-se com o ranger de dentes da República contra seu próprio povo. De 1900 a 1950, a máquina estatal não apenas manteve a lógica do terror — aperfeiçoou-a com a frieza burocrática da modernidade. Sob a máscara do “progresso” e da “ordem pública”, chacinas datadas e documentadas provam: o Estado brasileiro é um carniceiro de fábrica, independente do regime que o vista.

A República Velha já escancarava suas garras. Em 1904, no Rio de Janeiro, o governo transformou a Revolta da Vacina em banho de sangue. Tropas dispararam contra moradores de cortiços que ousaram desafiar a invasão sanitária de suas casas. Centenas caíram nas ruas, sob o argumento cínico de “combater a barbárie”. Dois anos depois, em 1906, o massacre de trabalhadores rurais em São Paulo durante a greve dos colonos do café mostrou o pacto de sangue entre latifúndio e poder: sindicalistas foram metralhados a mando de fazendeiros, com a polícia servindo de escolta ao extermínio.

Nem mesmo a Revolução de 1930 interrompeu a engrenagem. Getúlio Vargas, ao chegar ao poder, logo revelou seu projeto: estatizar a violência. Em 1935, após a “Intentona Comunista”, o Estado desencadeou uma caça às bruxas. Prisões em massa, torturas no DOPS, e o massacre de presos políticos, incluso diversos anarquistas, no Campo de Concentração de Clevelândia (PA) em 1936 — onde dezenas foram executados na floresta — provaram que o “pai dos pobres” estava sedendo em triturar os rebeldes. Mas foi no sertão que a farsa desenvolvimentista mostrou seu rosto mais cruel: entre 1936 e 1937, o Arraial do Caldeirão, comunidade de camponeses cearenses liderada pelo beato José Lourenço, foi varrida do mapa. Aviação militar bombardeou casas de taipa, tanques esmagaram roçados, e 700 homens, mulheres e crianças foram degolados ou queimados vivos sob as ordens do interventor federal.

A Era Vargas aprofundou o terror como política de Estado. Em 1940, a Chacina de Pindaré (MA) executou 100 indígenas Timbiras que resistiam à invasão de seus territórios por madeireiros — uma repetição perversa das “guerras justas” coloniais, agora com certificado do SPI (Serviço de Proteção ao Índio). Até mesmo os trabalhadores urbanos, supostos beneficiários da CLT, sentiram o fio da navalha: em maio de 1945, semanas antes da queda de Vargas, a Chacina de São João do Meriti (RJ) deixou 12 operários têxteis mortos pela polícia durante greve por melhores salários. Sangue como moeda de troca para a “paz social”.

O período fecha com uma sinistra antecipação da ditadura que viria. Em 1950, na Ilha das Flores (RJ), 30 presos foram executados a tiros e facadas por agentes do Estado durante uma “revolta” encenada. O método — eliminação sumária de indesejáveis sob o pretexto da “segurança” — já era um protocolo. Cada década deste meio século teve seu massacre catalogado: 1904, 1906, 1936, 1940, 1945, 1950 (sendo certo que não citamos dezenas de outros…). A sequência não é acidente, é a assinatura do poder.

Esta continuidade histórica (1500-1950) esmaga qualquer ilusão reformista. Do pau-brasil ao aço das metralhadoras, o Estado brasileiro jamais alterou sua função essencial: esmagar corpos para proteger propriedades. Se no século XVI os bandeirantes agiam por alvarás, no XX eram ministros, generais e juízes que assinavam ordens de extermínio. A República, longe de ser ruptura, foi a herdeira direta da senzala e do pelourinho. Enquanto historiadores debatem “transições”, os mortos — de Caldeirão a Canudos, de Pindaré a Palmares — gritam a verdade: o terror é o DNA do Estado brasileiro. Desmantelar essa máquina não é questão política; é imperativo ético para qualquer um que ainda acredite na liberdade. O século XX apenas deu ao monstro colonial novas ferramentas. Cabe a nós, no século XXI, desligar sua fonte de energia.

Liberto Herrera.

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Folha no rio
vai para o mar sem volta –
chorão se renova.

Anibal Beça

[Espanha] Sempre a guerra

Por Rafael Sánchez García

Mais uma vez é preciso voltar ao tema das malditas guerras que o capitalismo e seus vassalos, a partir dos governos, nos impõem.

Neste ano de 2025, há 56 conflitos armados no planeta – a maior quantidade desde a Segunda Guerra Mundial. Da imensa maioria deles, nem se fala na mídia. Às vezes somos informados sobre conflitos na África por causa das fomes e dos deslocamentos massivos de população, mas só isso, pouca coisa, não se aprofunda no assunto.

Dos conflitos mais comentados, o da Ucrânia é o principal, porque está aqui na Europa e porque, para os países ocidentais, a Ucrânia é uma “menina dos olhos” pela quantidade de matérias-primas em seu subsolo – recursos que o patrão americano se preocupou em tomar para si graças à ajuda militar que o autoproclamado “xerife do mundo” forneceu e continua fornecendo. Depois vem a Europa, que, por sua proximidade com a Ucrânia, vê um grande perigo na Rússia de Putin – ainda mais agora que o atual “xerife americano”, aquele lunático infantil do Donald Trump, disse que os europeus precisam aprender a se defender sozinhos. A partir daí, entrou a pressa em se armarem até os dentes, e andam nos dizendo que é preciso aumentar os gastos com defesa – gastos que, em sua maior parte, irão parar nos bolsos do “xerife americano”. E é exatamente isso que Trump e o capitalismo estadunidense querem: um negócio redondo.

E o outro grande conflito é o GENOCÍDIO NAZISTA-SIONISTA do governo israelense contra o povo palestino. Um genocídio contra o qual nenhuma “democracia burguesa” do planeta faz nada. E não fazem porque o povo palestino é pobre e não há o que extrair dele. Apenas possuem uma grande reserva de gás em sua costa, e é justamente essa que o governo nazista-sionista de Netanyahu quer tomar para si. O assassinato sistemático, dia após dia – seja por bombas, seja pela fome – da população palestina não comove verdadeiramente os cidadãos do restante do mundo. E quando digo comover, não me refiro a fazer uma manifestação de vez em quando, mas a se envolver de fato, a tomar as ruas de todas as grandes cidades do planeta para obrigar seus respectivos governos a intervir e parar com esses massacres humanos. As imagens que os meios de comunicação nos mostram diariamente deveriam ofender profundamente qualquer ser humano com um mínimo de consciência e dignidade. O que acontece na Palestina desde 1948 é um ataque brutal à dignidade de um povo. E a história mostra que isso pode acontecer a qualquer momento e em qualquer lugar, porque não será o povo que decidirá, mas sim o político sem vergonha de plantão ou o exército “salvador da pátria” da vez. Um exemplo é o que está acontecendo nos Estados Unidos, onde o sem vergonha do Trump enviou o exército a Los Angeles para silenciar e reprimir os protestos contra as deportações de trabalhadores estrangeiros – embora as coisas estejam se complicando para ele, já que muitas cidades estão aderindo aos protestos. Mas do que o governo Trump ainda é capaz contra o próprio povo… veremos.

Dias atrás, fiquei chocado ao ver como os meios de comunicação fazem o jogo do Sistema. Explico: estava assistindo ao noticiário e, em certo momento, informam sobre o GENOCÍDIO NAZISTA-SIONISTA do governo Netanyahu e, em seguida, falam sobre a feira de armamentos que acontecia naquele momento em Madri. Alguns representantes dessas indústrias apareceram elogiando as “virtudes” de seus “brinquedinhos” de morte – o que já deveria ser motivo de vergonha na cara –, mas está claro que não têm nenhuma. E ainda por cima, o repórter da emissora de TV disse: “o setor da indústria militar vive um momento doce”. É preciso ter muito pouca consciência para dizer uma frase dessas. Mas, friamente falando, ele estava certo: principalmente com a invasão da Ucrânia, o GENOCÍDIO NAZISTA-SIONISTA contra o povo palestino, e mais de 50 outros conflitos armados no planeta, a indústria da morte está com suas contas bancárias transbordando.

E a cereja do bolo veio com Netanyahu e seu ataque ao Irã – que, como se esperava, buscava a intervenção de seu amigo, o “xerife americano”, agora com outro lunático na presidência. Netanyahu justifica o ataque ao Irã dizendo que é para evitar que desenvolvam a bomba atômica. Ele quer que apenas Israel tenha esse poder na região – o que dá ao governo genocida de Israel carta branca para fazer o que quiser. Veremos as consequências disso.

O que sempre me chamou atenção é a vassalagem da maioria dos Estados e governos perante o Capitalismo e o governo dos Estados Unidos da América. Essa submissão faz com que certos atos não sejam considerados terroristas – desde que você seja amigo do patrão americano. Os Estados Unidos da América são a maior organização criminosa e terrorista do planeta. Prova disso é que, desde a Segunda Guerra Mundial, bombardearam cerca de 30 países, derrubaram governos e assassinaram todos aqueles que se opuseram aos seus interesses. Um exemplo são todas as ditaduras criminosas da América Latina.

Nós, anarquistas, dizemos – como sempre dissemos – NÃO À GUERRA. E ela estará sempre presente, como uma espada de Dâmocles, enquanto existirem o Capitalismo, seus governos, seus exércitos, suas polícias e suas indústrias armamentistas.

A única forma de acabar com toda essa podridão que são o Capitalismo e seus governos fantoches é por meio da consciência dos povos e da realização da REVOLUÇÃO SOCIAL ANARQUISTA, que estabelecerá as bases de uma sociedade cujos pilares serão a LIBERDADE, a SOLIDARIEDADE e o APOIO MÚTUO. Essa Revolução não será um fim em si mesma, mas sim o começo – o ponto de partida para continuamente aperfeiçoar essa nova realidade.

Fonte: revistaorto.net

Tradução > Liberto

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Estrada de pó
A casa pobre
Desabrocha em flores

Camila Jabur

[República Tcheca] Revista Organise 101

_Revista Organise_

_Vários autores_

_Editora: Federação Anarquista_

A Revista Organise é uma das publicações periódicas da Federação Anarquista e está em circulação desde 1984. Ela traz uma visão anarquista precisa sobre questões atuais com o objetivo de estimular o debate sobre ideias que normalmente não são abordadas em jornais de agitação.

Esta edição inclui contribuições de Vero, László Molnárfi, Katja, Juan Tramontina, Calmac, Nadia de NamNam, Lesnes Occupiers, Gaffen, Têkoşîna Anarşîst, Alexis Daloumis, Yavor Tarinski, David Nicholl, Glenn Hustler, Tiny, stasia rice e vários camaradas anônimos.

Acesse o conteúdo digital aqui: organisemagazine.org.uk

Assine a Organise e receba itens adicionais, como um pôster e zines aqui: patreon.com/c/Organise

128 páginas

Impressão digital

Preço sugerido: £3,50

Tradução > Lagarto Azul/acervo trans-anarquista

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Muitos ventos sopram.
Dentro e fora de mim uivam
lobos que não sou.

Urhacy Faustino

[Porto Alegre-RS] 21 e 22 de agosto – Lançamento e discussão do livro “Casa Encantada – Retrato da Luta por Moradia em Belo Horizonte

O Esp(a)ço convida a todys para o lançamento do livro Casa Encantada, Retrato da Luta por Moradia em Belo Horizonte, de Baruq, seguido de debate com participantes da ocupação Kasa Invísível sobre a luta por moradia e espaços ocupados na capital mineira.

Serão dois eventos. No dia 21 de agosto às 19h no Quilombo das Artes (Av. Borges de Medeiros, 719) e no dia 22 de agosto a atividade será no Clube de Cultura (R. Ramiro Barcelos, 1853).

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velho haicai
séculos depois
o mesmo frescor

Alexandre Brito

Chamada para a Semana Internacional de Solidariedade com Prisioneiros Anarquistas 2025

Convidamos você a realizar ações durante a Semana Internacional de Solidariedade com Prisioneiros Anarquistas, de 23 a 30 de agosto de 2025!
 
Contra a sociedade carcerária, rumo à conexão

Ao nos colocarmos diante do exterior de uma prisão, somos confrontados com a realidade crua da alienação e da separação. Um muro, uma cerca, torres de vigilância, câmeras de segurança, caixas de concreto e gaiolas de aço, tudo voltado a manter os acusados e os “culpados” separados do resto da sociedade. Conceitos de reabilitação e arrependimento, construídos a partir das ideologias dos Estados, servem para preservar e reforçar seu poder, congelar territórios em identidades nacionais fixas e punir tudo o que esteja fora de suas noções de legalidade, progresso, moralidade e valor capitalista.

A questão é que, quando estamos do lado de fora das paredes da prisão, percebemos que ela é uma construção tangível. É um muro, é concreto, é material. Aqueles que a mantêm funcionando são seres vivos… Sim, as prisões nos isolam, mas o fazem tanto quanto permitimos, tanto quanto as aceitamos. As paredes tornam-se fixas e permanentes para nós, aqui fora, no momento em que esquecemos e aceitamos a separação que elas impõem. Já aqueles dentro das caixas não podem esquecer, pois enfrentam diariamente a dura realidade da vida no interior. Enquanto existirem Estados, existirão prisões, e nos encontraremos dentro de seus muros.

É na preservação da memória que damos continuidade à luta e à vida de companheiros que morreram antes de nós; carregamos as ideias e ações daqueles separados por grades e concreto, criando continuidade e conexão nos atos incessantes de resistência que compõem uma vida em busca de liberdade. As prisões e as lutas que ocorrem dentro delas são uma contribuição constante para essa memória coletiva de resistência.

Seja nas entranhas de ditaduras totalitárias ou no coração da chamada “democracia social”, onde a violência estatal assume outro sabor, os Estados não medem esforços para apagar os focos de insubmissão e resistência. Até mesmo ter ideias que perfurem suas construções pode colocar alguém em sua mira, sob seu olhar, por vezes, aparentemente onipresente.

Reconhecemos a solidariedade em suas muitas formas, desde conexões e amizades até trocas de ideias e diálogo, passando por momentos compartilhados de ataque. Nossos companheiros permanecem não isolados, mas partes vivas e pulsantes de nossas lutas.

Em solidariedade com aqueles que atravessam clandestinamente os muros das fronteiras, os que estão fugindo, no exílio, nas câmaras de isolamento mais profundas, os que morreram em ação, os criminalizados.

Contra todas as prisões.
Escolhemos uma vida de tensão e insubordinação na busca por conexão.
Você não pode enterrar a força da vida!

solidarity.international

Tradução > Contrafatual

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Semente livre,
O solo é de quem partilha—
Floresta cresce

Pedalante

[Itália] Pietro Gori, em defesa de Sante Caserio

Em 14 de agosto de 1865 nascia Pietro Gori. O que segue é extraído do escrito de Gori em defesa de Sante Caserio, guilhotinado em 16 de agosto de 1894.
 
Nasceu em Motta Visconti, alegre vilarejo da Lombardia, de uma boa família de trabalhadores. Muito cedo teve que enfrentar a luta pelo trabalho e pelo pão de cada dia. Por isso, resolveu abandonar a mãe que adorava e por quem era adorado, e lançar-se no mar tempestuoso da vida, no qual cada trabalhador se vê forçado a navegar continuamente. Deixou então Motta Visconti e abandonou também as ilusões místicas da infância, logo destruídas pelas duras realidades da vida. Em Milão, trabalhou como padeiro na padaria Tre Marie, onde trabalhou com zelo e incansavelmente; e ali se deparou mais diretamente com o terrível e legalizado sistema de exploração do trabalho pelos parasitas do capitalismo; constatou as injustiças sociais e a violência de uma classe que nada produz contra outra que, com seu sangue e suor, cria a riqueza de seus patrões e, como única recompensa por seus esforços, colhe miséria e desprezo.
 
Foi por isso que Sante Caserio se tornou anarquista.
 
Quando estive pela primeira vez em Milão, Sante Caserio já era um anarquista entusiasta, e ainda me recordo da profunda impressão que tive quando fomos apresentados. Estávamos em um comício de trabalhadores, e ele circulava distribuindo panfletos e jornais revolucionários.
 
A vida curtíssima deste jovem – tinha apenas 21 anos quando foi guilhotinado – foi repetidamente examinada através das lentes do despeito e do ódio, primeiro pelas polícias italiana e francesa, unidas, depois por uma multidão de impostores mentirosos: os jornalistas burgueses, pagos pelos conservadores da chamada “ordem” pública. Apesar disso, esses infelizes não puderam evitar chegar a uma conclusão: a certeza de que Sante Caserio era um trabalhador de caráter excelente. E até mesmo a Escola Criminal, tão contrária aos anarquistas, foi obrigada a reconhecer e afirmar que o jovem padeiro era um homem honesto por natureza.
 
Caserio, nos poucos momentos de lazer que tinha, ia distribuir entre os operários, perto da Câmara do Trabalho, panfletos e folhetos de literatura anarquista, junto com pãezinhos que comprava com suas economias na padaria onde trabalhava, “porque” – dizia – “seria um insulto dar a pessoas emagrecidas pela fome apenas papel impresso, sem nada com que saciar o estômago antes de ler; e porque assim elas eram mais capazes de compreender um pouco melhor o que liam”.
 
Quando a polícia percebeu que Sante era um propagandista entusiasta – embora fosse extremamente tímido e modesto em sua forma de propaganda – começou a persegui-lo. Caserio começou dedicando-se à propaganda teórica, acreditando firmemente que o anarquismo fosse considerado como qualquer outro partido, forte e respeitado. Em vez disso, viu-se perseguido por suas ideias, condenado e aprisionado.
 
Trabalhava incansavelmente, para reservar-se o direito de criticar os burgueses por sua ociosidade, para chamá-los de parasitas – o que realmente são. A covarde implicância policial o expulsou do trabalho; e ele se convenceu ainda mais de que os poderosos e os ricos esperam tudo da submissão e da paciência do povo, a quem recompensam descaradamente dobrando contra ele a obra de espoliação e violência.
 
…Enquanto tanta sede de vingança e sangue inspirava a ação da burguesia – resultando na mais perigosa das provocações – um jovem, expulso de seu país por uma condenação estúpida e injusta, perseguido por todos os lados pela polícia, caminhava a pé pela estrada que vai de Cette a Lyon, meditativo, pensando nas injustiças de que fora vítima e, sobretudo, no sofrimento alheio…
 
Ele não tinha nenhum ressentimento pessoal contra Sadi Carnot; mas Carnot era o representante político da burguesia francesa, em nome da qual assinou o decreto de morte dos guilhotinados de Paris.
 
(Pietro Gori – “Em defesa de Sante Caserio”)
 
Fonte: https://collettivoanarchico.noblogs.org/post/2025/08/15/pietro-gori-in-difesa-di-sante-caserio/
 
Tradução > Liberto
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
Placa de “Proibido”…
No imponente poste de luz
xixi de cachorro.
 
Rogério Togashi

[Rússia] Putin proíbe ONG Repórteres Sem Fronteiras, declarada ‘indesejável’

O Ministério da Justiça russo declarou “indesejável” a presença da ONG de defesa da imprensa, Repórteres Sem Fronteiras (RSF), na Rússia – o que equivale, de fato, à sua proibição – em plena repressão de toda dissidência no país.

De acordo com uma lista oficial publicada no site deste ministério e consultada nesta quinta-feira (14/08) pela AFP, a RSF passa agora a fazer parte das organizações “estrangeiras cujas atividades são consideradas indesejáveis” em território russo.

Na Rússia, declarar uma organização como “indesejável” equivale, na prática, a proibir suas atividades, uma vez que expõe as pessoas que trabalham para ela ou a financiam a graves processos judiciais, incluindo penas de prisão.

Desde a ofensiva em grande escala contra a Ucrânia em fevereiro de 2022, as autoridades russas intensificaram consideravelmente a repressão às vozes dissidentes, prendendo centenas de pessoas e proibindo dezenas de ONGs e veículos de comunicação.

RSF, com sede na França, denuncia regularmente essas violações à liberdade de expressão e presta assistência a jornalistas perseguidos na Rússia.

Em seu site, a ONG lamenta que “quase todos os meios de comunicação independentes” tenham sido proibidos na Rússia, bloqueados e/ou declarados “agentes estrangeiros ou organizações indesejáveis”.

Moscou elaborou pela primeira vez uma lista de organizações “indesejáveis” em 2015. Atualmente, ela inclui mais de 250 organismos, entre eles as ONGs Anistia Internacional, Greenpeace, além de vários veículos de comunicação.

Fonte: agências de notícias

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dobrada mil vezes,
a acracia – entre folhas secas,
voa sem partir

Pedalante

Parte 2 | A Máquina de Moer Gente: O Terror de Estado no Brasil Império (1700-1900)

Se o sangue colonial, como citado em nosso artigo anterior, secou como cimento, o Império e a República Nascente fizeram dele tinta para escrever novas leis de extermínio. De 1700 a 1900, o Estado brasileiro — agora travestido de monarquia “civilizada” — não abandonou o terror: refinou-o. Cada massacre datado nesta era é um elo na corrente de um projeto genocida que atravessa reinados, impérios e repúblicas. A violência não é acidente: é o motor da dominação.
 
Recordamos, por exemplo, o massacre dos Botocudos (1808-1830), que fora ordenado pelo próprio Príncipe Regente D. João VI, o extermínio em Minas Gerais e Espírito Santo usou fome, varíola e fuzis para “limpar” terras para o café. Tribos inteiras viram seus filhos trucidados sob o decreto imperial que pagava por cabeça indígena cortada.
 
Já em 25 de outubro de 1820 ocorre o massacre do Rodeador: 91 camponeses sebastianistas degolados em Pernambuco por tropas do governo. Seu crime? Sonhar com um reino sem reis.
 
Em 25 de janeiro de 1835 se dá a sangrenta repressão dos Malês: Após a revolta negra em Salvador, o Estado fuzilou 70 africanos e deportou 500. Corpos foram arrastados por cavalos nas ruas — espetáculo de terror para as senzalas.
 
O mito da “transição pacífica” da colônia ao império é uma mentira ensopada em sangue. Na Cabanagem (1835-1840), no Pará, 30 mil caboclos, indígenas e negros foram caçados como animais por tropas do Império. Mataram 30% da população regional. Oficiais do governo registravam: “É preciso varrer esta raça“. Não houve independência para os de baixo: só trocaram o chicote de Lisboa pelo do Rio de Janeiro.
 
E quando a República chegou, em 1889, trouxe consigo o mesmo veneno. O Massacre de Canudos (1893-1897) já fermentava nos campos da Bahia: 25 mil sertanejos exterminados pelo Exército “moderno”. Mas isso é história para outro capítulo — fiquemos com os números até 1900: cada década deste século teve seu genocídio catalogado. A máquina de moer gente não parou; acelerou com novas tecnologias de morte e a mesma velha desculpa: “progresso“, “ordem“, “civilização“.
 
Este registro histórico (1700-1900) desmonta a farsa da evolução política brasileira. O terror não mudou de dono — mudou de farda. Se no século XVI os bandeirantes agiam por contratos reais, no XIX eram as Forças Armadas do Império que assinavam ordens de extermínio. O Estado no Brasil, seja monárquico ou republicano, mantém a mesma função: patrocinar o massacre para proteger a propriedade, o latifúndio e o poder branco. Enquanto houver um único alicerce erguido sobre ossadas, nossa memória será arma. Aos anarquistas cabe lembrar: só se destrói o monstro conhecendo suas entranhas. E elas continuam expostas, de 1500 a 1900 — e além.
 
Liberto Herrera.
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
As folhas secas
caem com a ventania
sobre o riacho
 
Antonio Malta Mitori

[Reino Unido] Feira Anarquista de Londres, Dia 20 de Setembro

Estamos muito animados em anunciar que a Feira Anarquista de Londres deste ano será no The Graffiti Tunnel abaixo da estação Waterloo!!

Um apoiador anônimo arranjou esse espaço incrível para nós.

Vocês podem esperar encontrar todos os principais autores, campanhas, workshops, debates, comidas e músicas dos últimos anos, mas desta vez ainda melhor e maior.

Nosso objetivo é espalhar uma conscientização sobre o anarquismo de maneira mais ampla. Em tempos tão sombrios e perigosos, o anarquismo se mostra mais poderoso e importante do que nunca.

Anarquismo?

Um dos fatos mais legais sobre o anarquismo, que também o torna difícil de definir, é que é uma ideologia com diferentes tipos de interpretações e possui certa fluidez. No entanto, é um consenso que a prática da anarquia é sobre tentar minimizar a coerção, a dominação e a hierarquia no mundo. O capitalismo e o estado (formados por governos, tribunais, polícias, etc.) são sistemas que fundamentam a manutenção dessa dominação, instituições que anarquistas odeiam. Os anarquistas também lutam contra toda forma de desigualdade e opressão social, como o sexismo, o racismo, o capacitismo e a homofobia.

Muitos anarquistas gostam de falar sobre a anarquia como um movimento de evolução constante, sem uma finalidade cravada, mas sim como um esforço contínuo por emancipação. Uma jornada sem um destino determinado.

História

A primeira Feira de Londres aconteceu em um centro autônomo no bairro de Wapping em dezembro de 1981. Meia dúzia de anarquistas espalharam suas mercadorias pelo local e como quase ninguém apareceu, eles começaram um torneio de sinuca que deu tão certo que todos saíram do local dizendo “precisamos repetir ano que vem”, e eles repetiram.

Se tornou então um evento regular que crescia a cada ano e inspirou outras feiras do livro por todo Reino Unido e pelo mundo. A Feira Anarquista de Londres atrai milhares de participantes com centenas de ouvintes, workshops e debates com incontáveis possibilidades para trocar entre si e estabelecer conexões.

Nos últimos anos a Feira Anarquista de Londres aconteceu em:

2023 – Richmix – Freedom – LARC – 41º feira anarquista de Whitechapel.  ARQUIVO

2022 – Instituto Bishopsgate – Freedom – Galeria de Whitechapel – Toynbee Hall

2021 – Conway Hall e Red Lion Square Gardens

2020 – Online (Em razão da pandemia da Covid-19. Essa foi a maior feira do livro digital do mundo.)

Creche

A feira anarquista vai mais uma vez oferecer serviços de creche durante o dia com profissionais qualificados e um cronograma de eventos para as crianças.

Este é um serviço gratuito.

Fale conosco.

Nosso email é o anarchistbookfairlodon no riseup.net para quaisquer dúvidas. Por favor, entendam que somos todos voluntários e o email não é verificado diariamente.

anarchistbookfair.london

Tradução > Orlando/acervo trans-anarquista

agência de notícias anarquistas-ana

A ética anarquista:
não pisar na sombra
do próximo.

Liberto Herrera

[Alemanha] Chamada para defender Sündi e Hambi

A Megamáquina estende seus espetos devastadores em todas as direções: para o fundo do oceano, outros planetas e as últimas áreas selvagens remanescentes na Terra. Há muitos lugares onde é possível resistir a uma cultura suicida que, se não for impedida, não cessará até que todas as formas de vida conhecidas sejam consumidas por uma expansão tecnológica desenfreada. Um desses lugares é a Renânia, na chamada Alemanha, coração industrial e extrativista da Europa.

Localizada entre Aachen e Colônia, a mina de carvão de Hambach é a maior da Europa, e cresce a cada dia. Operada pela mega-corporação RWE, essa cratera tóxica fornece eletricidade para fábricas de armas próximas, emite quantidades incalculáveis de dióxido de carbono e engole florestas e vilarejos inteiros. Dificilmente se encontra uma imagem mais clara da expansão da civilização.

Barrando o crescimento da mina está a “Sündi”, uma pequena área florestal ocupada no outono de 2024, desde então uma zona de resistência contra o capitalismo e o Estado. A RWE devastou a Sündi no último inverno, derrubando a maioria de suas árvores, embora a ocupação em si ainda não tenha sido desalojada.

O deserto não conseguiu se expandir como esperado desde então, mas agora não pode mais esperar. Uma tentativa de desocupação da Sündi parece provável neste outono. A temporada de cortes começa em 1º de outubro.

Saiba que nossos sinais já foram acesos. Você está convidado a vir de longe para a Sündi em setembro e outubro, e juntar-se à resistência aqui. Ou à Floresta de Hambach, nas proximidades, ocupada desde 2012 e ainda hoje uma zona autônoma. Esta região já foi um foco de lutas contra o poder em todas as suas formas. Que volte a ser assim, e que respondamos com fogo e sedição àqueles que desejam ver esses habitats obliterados.

Sem concessões à expansão industrial!

Por anarquia e alta traição!

hambacherforst.org

Tradução > Contrafatual

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agência de notícias anarquistas-ana

canta bem-te-vi
sol por todo o lado
natureza sorri

Carlos Seabra

[Rio de Janeiro-RJ] Simpósio “Anarquismo e Educação: Experiências históricas e desafios atuais”

É com grande satisfação que anunciamos o Simpósio “Anarquismo e Educação: Experiências históricas e desafios atuais”, promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da UERJ (PROPED/UERJ), que acontecerá nos dias 13 e 14 de outubro de 2025, segunda e terça-feira, respectivamente, das 14h30 às 18h.

O evento busca promover um espaço de reflexão crítica e troca de experiências em torno da relação entre anarquismo e educação, destacando suas múltiplas expressões históricas e os desafios atuais que atravessam práticas pedagógicas, movimentos sociais e lutas por emancipação.

A escolha da data de encerramento – 14 de outubro – marca, simbolicamente, os 116 anos da execução de Francisco Ferrer y Guardia, educador catalão e fundador da Escola Moderna, figura central no pensamento libertário sobre a educação. Longe de ser um assunto distante para os socialistas libertários do Brasil, a sua morte foi sentida e mobilizações foram realizadas em contestação ao acontecido. O legado e as postulações formuladas por Ferrer y Guardia não cessam de inspirar e provocar reflexões em torno de uma pedagogia e de uma sociedade ancorada em princípios libertários.

Contamos com a sua presença!

>> Mais infoshttps://www.instagram.com/anarquismo_e_educacao/

Agência de notícias anarquistas-ana

Manhã de inverno,
ouço calado
o vento gelado.

Fabiano Vidal

[Chile] Santiago: Quase um ano desde que a vida nos golpeou. Texto em memória de nossxs companheirxs e no marco do Agosto Negro

Quase um ano já se passou desde que a vida nos atingiu onde mais dói. Perdemos nosso queridíssimo amigo e companheiro Luciano Balboa, também conhecido como o Lupi. O irmão deixou este mundo em um acidente de trânsito, pouco depois de que os esbirros lhe devolvessem a liberdade noturna. A notícia chegou rapidamente àqueles que amaram o Lupi, dilacerando nossos corações. Custava acreditar que uma notícia tão horrível fosse real. Mas era. Nosso companheiro havia partido rumo à memória eterna, onde descansam nossxs companheirxs que dedicaram sua vida ao enfrentamento.
 
Lembranças que carregaremos para sempre: a motivação de fazer as coisas bem, a constante disposição para o aprendizado e novos métodos de sabotagem — fosse em ações diretas ou na expropriação.
 
Poucos dias depois, também nos deixou o companheiro anarquista Luciano Pitronello, que nos ensinou o verdadeiro significado da palavra convicção. A tristeza parecia ter vindo para ficar — e como não? Apenas 13 dias após a partida do Lupi, nos deixou a companheira e amiga Belén, que desde muito jovem se posicionou como anarquista antiautoritária. Sempre com mãos solidárias e dispostas, ela apoiou diversas instâncias da luta anárquica. Muitas são as lembranças que vêm à nossa mente — dúvidas, arrependimentos, emoções diversas que nos atormentaram a nós que conhecemos de perto essxs companheirxs.
 
Alguns dxs companheirxs chegaram a se conhecer entre si, como a Belén com o Tortu, e o Lupi com a Belén. Porque a confrontação uniu nossxs caídxs. Não os esqueceremos e eles viverão para sempre na luta contra a autoridade e pela libertação total. Porque agosto é negro como nosso coração e como a pólvora.
 
Não esquecemos tampouco de Alonso Verdejo, que foi covardemente assassinado na romaria em 8 de setembro — exatamente um mês após o irmão Lupi.
 
Abraçamos a cada uma das individualidades que hoje sentem a dor e as lembranças vividas com cada um dxs nossxs irmãs que já partiram — nossxs irmãs, pessoas de coração nobre, solidárixs, que se foram sem pedir nada em troca, mas continuam vivxs em todos os corações antiautoritários, espalhando suas ideias como o fogo que atenta contra o progresso.
 
Companheirxs caídxs presentes, agora e sempre no fogo da revolta.
 
LBDL
 
Fonte: https://es-contrainfo.espiv.net/2025/08/04/santiago-chile-a-casi-un-ano-que-nos-golpeo-la-vida-texto-en-memoria-de-nuestrxs-companerxs-y-en-el-marco-del-agosto-negro/
 
Tradução > Liberto
 
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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/07/15/chile-chamado-para-um-agosto-negro-em-memoria-dxs-companheirxs-lupi-tortuga-e-belen/
 
agência de notícias anarquistas-ana
 
Sertão nordestino —
mandacaru solitário
enfeita a paisagem.
 
Renata Paccola

Parte 1 | Sangue como Cimento: O Terror de Estado na Forja do Brasil Colonial

O Brasil não nasceu — foi esquartejado à força. Desde os primeiros golpes do machado colonizador, o Estado revelou sua verdadeira face: um monstro devorador de povos, erguido sobre ossadas. Os massacres que mancharam este solo, e aqui, nesta primeira parte, nos limitaremos até por volta do ano de 1700, não foram “excessos” da colonização, mas seu método fundamental. Cada chacina foi um ato político: o Estado colonial, braço armado da Coroa e da Igreja, demonstrava aos explorados que a resistência seria afogada em sangue. O terror não era falha do sistema; era o sistema funcionando.

Vejam o genocídio indígena! Os Caetés trucidados em 1556 por “vingar” a morte de um bispo canibal — hipocrisia sagrada! — foram apenas o ensaio. A “guerra justa”, doutrina perversa abençoada por teólogos e reis, transformou o extermínio em política de Estado. Tupinambás, Guaianases, milhares de povos livres: caíam sob o fogo cruzado dos canhões e das cruzes. Entre 1500 e 1700, mais de mil povos foram reduzidos a 260. Isto não é tragédia; é projeto. O Estado, com sua máquina de moer corpos, limpou o terreno, como até hoje o faz, para o saque.

E os negros escravizados? Palmares grita a resposta. Quando Zumbi ergueu a liberdade nas serras, o Estado contratou bandidos — os bandeirantes — para esmagar o quilombo em 1694. O massacre foi meticuloso: crianças, velhos, guerreiros, todos convertidos em “lição” para quem ousasse sonhar com autonomia. Nas senzalas, a violência era rotina: revolta no Engenho Santana? 40 corpos pendurados como bandeiras do terror. O Estado não “combatia o crime”; fabricava o medo para manter a engrenagem da exploração.

Até os colonos pobres sentiram o punho de ferro. Cunhaú e Uruaçu (1645) provam: quando camponeses e indígenas se misturavam sob o mesmo teto de resistência, o Estado agiu com ferocidade calculada. 150 mortos em igrejas — degolados como animais — por suspeita de solidariedade aos holandeses. Não importava a bandeira: importava esmagar qualquer núcleo de autonomia popular. O poder, seja português ou flamengo, sempre escolheu o massacre como pedagogia.

Este pequeno recorte histórico lança luz para desnudar a mentira fundacional do Brasil: o Estado nunca foi “protetor”. Foi e é um carcereiro, um algoz, um incendiário de esperanças. Sua “ordem” nasceu do genocídio indígena, da tortura africana, do terror aplicado como agente de amálgama social. Enquanto os poderosos erguiam igrejas com o ouro roubado, o sangue dos massacres secava no chão como cimento. Reconhecer esta história não é nostalgia — é armar o espírito. A única resposta à violência de Estado, ontem e hoje, é a organização horizontal, a desobediência radical e a luta por um território sem amos, sem massacres, sem o espectro do Leviatã colonial que ainda nos assombra.

Liberto Herrera.

agência de notícias anarquistas-ana

O vaga-lume à noite
acende sua luz.
Pisca-pisca.

Aprendiz

[Rússia] Arrecadação de Fundos para o Trabalho Jurídico do Caso Tyumen contra anarquistas e antifascistas em setembro

Por mais de um ano, o julgamento do caso Tyumen vem sendo conduzido pelo Tribunal Militar do Distrito Central em Yekaterinburg. Os réus — anarquistas e antifascistas — foram detidos em 2022 e submetidos a torturas brutais. Desde então, houve 30 audiências judiciais. Cada uma delas é um passo numa longa batalha para proteger as vidas e os futuros das pessoas que ousaram resistir.

Em junho, conseguimos arrecadar 48.000 rublos (cerca de 500 euros). Agradecemos a todos que contribuíram — sua solidariedade mantém isso funcionando.

Por que Estamos Pedindo Ajuda Agora

Neste momento, nossas fontes de arrecadação de fundos estão vazias. Não temos como pagar os advogados em setembro ou nos meses seguintes.

Precisamos arrecadar 450.000 rublos (cerca de 4.700 euros) até o final de agosto. Esse valor cobrirá o trabalho de cinco advogados durante um mês — comparecimentos ao tribunal, viagens a centros de detenção, hospedagem e tudo o mais que envolve a defesa de pessoas em um caso tão sério.

O dinheiro será destinado diretamente à defesa de Danil Chertykov, Nikita Oleynik, Deniz Aydin, Yuri Neznamov e Roman Paklin. Sem advogados, eles ficam sozinhos para enfrentar um dos sistemas judiciais mais severos da Europa.

O Que Aconteceu

Entre 30 de agosto e 1º de setembro de 2022, seis pessoas foram presas em Surgut, Yekaterinburg e Tyumen. Durante a detenção, elas foram torturadas com choques elétricos, afogamento simulado, espancamentos e ameaças de violência sexual.

Confissões foram obtidas sob tortura e usadas como base para acusações de terrorismo. Depois, as penas ficaram ainda mais severas.

Apesar da documentação médica comprovando a tortura, nenhuma investigação foi aberta. Um dos réus, Kirill Brik, concordou em cooperar com os investigadores e foi condenado a oito anos de prisão. Os outros continuam a sustentar sua inocência.

O caso de Roman Paklin foi separado do grupo principal e reaberto. Ele e os outros enfrentam penas de 15 a 30 anos. Nikita Oleynik, considerado o “organizador” do grupo, pode ser condenado à prisão perpétua.

Pelo Que Estamos Pagando

Nossa equipe jurídica é composta por cinco advogados experientes, todos vindos de diferentes cidades. Seu trabalho é exigente — eles comparecem a todas as audiências, se reúnem com os réus detidos e preparam estratégias jurídicas detalhadas sob pressão constante. Eles estão fazendo todo o possível para proteger nossos amigos. Mas não podem continuar sem apoio.

Como Doar

Online através da plataforma Zaodno (doações em rublos):

https://storage.googleapis.com/kldscp/zaodno.org/r?id=recMU32x6hl3BcS7M

Cartões bancários:

Sberbank: 2202 2053 4798 5951 — Anastasia Tinkoff: 2200 7004 6271 3131 — Matvey Inclua “assistência jurídica” como descrição do pagamento.

Transferências internacionais:

Visa/Mastercard: 4714 2400 6071 9631
Número da conta: 1242080003805236
BIC: 124012
Titular do cartão: Nikita Vorozhko

Dados bancários completos:

Banco intermediário: The Bank of New York Mellon, SWIFT: IRVTUS3N
Banco correspondente: Kookmin Bank, Seul, SWIFT: CZNBKRSE
Banco beneficiário: BAKAI BANK, Bishkek, SWIFT: BAKAKG22
Número da conta no Kookmin Bank: 8B28USD01421:09

Doações em criptomoedas:

BTC: bc1qqdwjqd4umnc74e95hgek85aj55wws3c4wrwa33
ETH: 0xF9EB840b76786C783c515dc8EBe3071Dc937D8f7
USDT (Tether): TRWZm6iBMdD4epTnLquvYmTQeyRXsX8q9R

Compartilhe e Apoie

Agradecemos por estar conosco. Com a sua ajuda, foi possível apoiar essas defesas legais por quase três anos. Ainda acreditamos que é possível mostrar a verdade no tribunal. Mas sem advogados, sem recursos, não podemos fazer isso.

A solidariedade é a nossa arma!

Fonte: https://avtonom.org/en/news/fundraising-lawyers-work-tyumen-case-against-anarchists-and-anti-fascists-september  

Tradução > transanark/acervo trans-anarquista

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agência de notícias anarquistas-ana

Conselho de ervas daninhas –
ninguém as controla,
mas curam o solo.

Liberto Herrera

Indústria da Morte-Repressão | Presidente Lula e presidente da Indonésia, Prabowo Subianto, concordaram em aumentar a cooperação em vários setores, incluindo defesa e indústria de defesa


• Recentemente em visita ao Brasil, o presidente Prabowo Subianto declarou que ele e o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva concordaram que os dois países colaborariam no desenvolvimento de tecnologia relacionada a mísseis e sistemas submarinos.
 
• Em uma reunião bilateral entre os governos indonésio e brasileiro, liderada pelo presidente Prabowo e pelo presidente Lula, os dois países concordaram em aumentar a cooperação em vários setores, incluindo economia, comércio, agricultura, educação, defesa e indústria de defesa.
 
Sistemas de mísseis e submarino
 
“Nossas Forças Armadas têm utilizado extensivamente os equipamentos e produtos de defesa do seu país, e queremos continuar essa cooperação por meio da produção conjunta e da transferência de tecnologia. Também queremos aumentar os exercícios militares conjuntos e a colaboração tecnológica em sistemas de mísseis e submarinos”, disse o presidente Prabowo durante um pronunciamento conjunto com o presidente Lula no Palácio do Planalto, em Brasília, na quarta-feira (9 de julho).
 
A coletiva de imprensa conjunta encerrou a visita de Estado do presidente Prabowo ao Palácio do Planalto, resumindo os resultados do encontro bilateral entre o presidente Prabowo e o presidente Lula.
 
Na declaração conjunta, o presidente Prabowo também enfatizou que a Indonésia implementará imediatamente o Acordo de Cooperação de Defesa (DCA) entre a Indonésia e o Brasil, que foi ratificado em lei em 30 de setembro de 2024.
 
Alguns dos equipamentos de defesa fabricados no Brasil atualmente utilizados pela Indonésia incluem o caça tático EMB-314 Super Tucano e o veículo lançador de foguetes Astros II MK6.
 
Quem é Prabowo Subianto?
 
Prabowo Subianto, 72 anos, assumiu a presidência da Indonésia em outubro de 2024. Ex-general das Forças Armadas, Prabowo é conhecido por seu perfil nacionalista e por adotar uma linha política conservadora. Desde que tomou posse, ele vem defendendo medidas que fortalecem a presença dos militares no governo. Passado sinistro: O ex-general militar foi acusado de abusos de direitos humanos e crimes de guerra durante os dias sombrios do regime de Suharto, general do exército que governou a Indonésia com mão de ferro durante mais de três décadas. Em um dos eventos mais marcantes de sua ditadura, Suharto ordenou a brutal invasão do Timor-Leste, em 1975, na qual morreram, segundo grupos de direitos humanos, cerca de 200 mil timorenses. Na década de 1980, Prabowo participou de várias missões com uma unidade de forças especiais combatendo separatistas em Timor-Leste. Testemunhas o acusam de cometer atrocidades tanto lá quanto em Papua.
 
Fonte: agências de notícias
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
Desobediência civil –
formigas carregam folhas
maiores que seus corpos.
 
Liberto Herrera