[Itália] Turim. Desertores de todas as guerras!

Uma grande marcha antimilitarista percorreu as ruas de Turim, rompendo a cortina de fumaça que envolve a indústria bélica e o mercado de armas aeroespaciais em nossa cidade.

De 2 a 4 de dezembro acontecerá a décima edição do “Aerospace and defence meetings”, onde os maiores players a nível mundial assinarão acordos comerciais para as armas que destroem cidades inteiras, massacram civis, envenenam terras e rios. Produtores, governos e organizações internacionais, representantes das forças armadas, empresas de contratantes se encontrarão e farão negócios no Oval.

A indústria aeroespacial produz caças-bombardeiros, mísseis balísticos, sistemas de controle por satélite, helicópteros de combate, drones armados para ações à distância.

No “Aerospace and defence meetings” se jogam partidas mortais para milhões de pessoas em todos os lugares: as armas italianas, na primeira linha o gigante público Leonard, estão presentes em todos os teatros de guerra. Turim se candidata a se tornar um dos principais centros da indústria bélica de nosso país.

Há quem diga não, há quem se coloque no meio.

A do sábado, 29 de novembro, foi um importante dia de luta contra o militarismo e a guerra.

Na manifestação, convocada pela Assembleia Antimilitarista, participaram o “Coordenamento Turim contra a guerra e quem a arma” e delegações das muitas lutas contra bases militares, campos de tiro, quartéis, fábricas da morte. Estavam presentes coordenações e assembleias territoriais de Asti, Novara, Livorno, Carrara, Reggio Emilia, Palermo, Trieste, Milão, Roma, Ragusa.

O cortejo partiu de Porta Palazzo, o coração popular da cidade, precedido pela Murga e pelo Exército de Palhaços com ações performáticas que catalisaram a atenção das muitas pessoas que na tarde de sábado atravessam a Porta Palazzo.

A manifestação seguiu então para a Prefeitura, onde se permaneceu por muito tempo. A administração “pacifista” da cidade está entre os patrocinadores políticos da indústria armamentista e do “Aerospace and defence meetings”. O exército de palhaços se posicionou em frente à entrada e deu vida a uma ação antimilitarista.

Ao longo de todo o percurso houveram intervenções dos coletivos antimilitaristas que participaram do cortejo.

Inúmeros foram os temas abordados. Na Porta Palazzo se falou da economia de guerra que atinge os pobres de nosso país: os cortes na saúde matam quem não pode pagar por prevenção e tratamento. Um foco foi dedicado ao genocídio migrante na guerra feroz no Mediterrâneo e nas passagens alpinas, desmontando toda retórica nacionalista em um contexto de solidariedade entre os oprimidos e explorados de todos os lugares.

Em seguida, sucederam-se intervenções sobre as campanhas de recrutamento e a propaganda patriótica nas escolas, a economia de guerra e os gastos militares, contra as missões de guerra no exterior e a militarização de nossas cidades. Amplo espaço foi dedicado à colaboração entre o Politécnico de Turim e a Leonard, no projeto da Cidade do Aeroespacial, novo centro de pesquisa bélica no centro de Turim.

A Turim antimilitarista deu um sinal forte e claro: opor-se a um futuro para a cidade ligado à pesquisa, produção e comércio bélicos é uma forma concreta de opor-se à guerra e a quem a(r)ma. Jogar areia nas engrenagens do militarismo é possível. Depende de cada um de nós.

As lutas antimilitaristas estão desacelerando a expansão da máquina bélica, travando suas articulações em nossos territórios.

Mas não basta.

Dezenas de guerras ensanguentam o planeta: a maioria se consome no silêncio e na indiferença da maioria. Da Ucrânia ao Oriente Médio estão em curso conflitos violentíssimos, que poderiam deflagrar muito além dos âmbitos regionais envolvidos.

Em todos os lugares meninas e meninos, mulheres e homens são massacrad*s por armas produzidas a dois passos de nossas casas.

As guerras têm bases e interesses concretos em nossos territórios, onde podemos agir diretamente, para jogar areia nas engrenagens do militarismo.

As guerras hoje como ontem, são travadas em nome de uma nação, de um povo, de um deus.

Antimilitaristas e sem pátria sabemos que não há guerras justas ou santas.

Somente uma humanidade internacional poderá lançar as bases daquele mundo de livres e iguais que pode pôr fim às guerras, quebrando suas raízes, que se alimentam da fonte envenenada dos nacionalismos, das identidades excludentes, da negação de toda dinâmica de convivência que se desdobre do protagonismo de quem luta contra fronteiras, Estados, religiões, exploração.

Forte por todo o cortejo, no qual slogans, intervenções, “tactical frivolity” uniram comunicação, deboche do militarismo a um grande compromisso com a luta e a deserção.

O cortejo se concluiu na praça Vittorio com uma arrebatadora ação performática da Murga.

Nós não nos alistamos ao lado deste ou daquele Estado. Rejeitamos a retórica patriótica como elemento de legitimação dos Estados e de suas pretensões expansionistas.

Não há nacionalismos bons.

Nós estamos ao lado de quem, em cada canto da terra, deserta da guerra.

Terça-feira, 2 de dezembro, será inaugurado o mercado de armas em Turim. Lá estarão também os antimilitaristas.

Fora os mercadores de armas!

Terça-feira, 2 de dezembro

às 11h30

No Oval, via Matté Trucco 70

Não ao “Aerospace and defence meetings”!

Assembleia Antimilitarista

antimilitarista.to@gmailcom

>> Mais fotoshttps://www.anarresinfo.org/torino-disertori-di-tutte-le-guerre/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

O casulo feito
bicho dentro dele dorme
vestido de seda.

Urhacy Faustino

Justiça climática REAL é… uma moratória na produção de automóveis!

Reduzir a produção e o consumo de uma indústria altamente intensiva em energia e recursos naturais. O uso de automóveis é um grande contribuidor para as emissões de gases de efeito estufa, poluição do ar e congestionamento urbano.

• Redução da frota: Políticas para diminuir o número absoluto de veículos em circulação.

• Fim da produção de certos modelos: Eliminação progressiva de veículos como SUVs.

• Transição para mobilidade coletiva: Incentivo maciço ao transporte público, partilha de veículos e opções de mobilidade ativa (caminhada e bicicleta).

• Reestruturação da indústria: Redirecionamento de investimentos da produção de carros individuais para tecnologias de transporte mais sustentáveis e socialmente benéficas.

Em resumo, a moratória de automóveis é uma ideia radical de decrescimento que faz parte de uma visão de transformação socioecológica, buscando mudar fundamentalmente a forma como a sociedade se move e consome, em vez de apenas tornar a indústria automobilística existente mais “verde”.

CONTRA O MUNDO DO PETRÓLEO!

Conteúdo relacionado:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/11/26/justica-climatica-real-e-acabar-com-todos-os-exercitos-e-a-industria-belica/

agência de notícias anarquistas-ana

Saltando da mesa
a tulipa
foi passear

Eugénia Tabosa

[EUA] Homem do Texas pode pegar até 40 anos de prisão por transportar panfletos protegidos pela Constituição

O governo trata zines anarquistas como evidência de terrorismo.

Por Autumn Billings | 26/11/2025

Os processos federais contra nove membros do que o Departamento de Justiça chama de “Célula Antifa do Norte do Texas”, supostamente responsável por uma manifestação contra a aplicação da lei de imigração que se tornou violenta em julho, devem avançar para a fase de acusação na próxima semana. Os supostos membros enfrentam acusações que vão desde tentativa de homicídio até fornecimento de materiais para apoiar terroristas. Contudo, é o caso de um dos réus, baseado no transporte de “documentos contra a aplicação da lei, contra o governo e contra a aplicação da lei de imigração”, que levanta sérias preocupações em relação à Primeira Emenda da constituição americana.

Na noite de 4 de julho, manifestantes contra a aplicação da lei de imigração chegaram ao centro de detenção da Prairieland Immigration and Customs Enforcement (ICE) em Alvarado, Texas, Estados Unidos. Conforme a promotoria, “começaram a atirar e jogar fogos de artifício… e vandalizar veículos e um posto de guarda”. Em resposta, um oficial do Departamento de Segurança Interna chamou a polícia local. Pouco depois da chegada de um policial do Departamento de Polícia de Alvarado, tiros teriam sido disparados pelos manifestantes, e o policial foi atingido no pescoço, sem ferimentos graves.

A ocorrência acabou levando à prisão de 16 pessoas, algumas nem estavam presentes no tiroteio nas instalações da Prairieland ICE.

Embora Daniel Rolando Sanchez não estivesse lá quando os tiros foram disparados, a sua esposa, Maricela Reuda, estava e foi posteriormente presa. Conforme a denúncia criminal apresentada contra Sanchez, Reuda ligou ao marido da prisão do condado de Johnston e pediu para fazer “o que fosse necessário, mover o que fosse necessário na casa”.

Mais tarde, os policiais viram Sanchez levar uma caixa da sua casa para a caminhonete e depois deixá-la em outra residência. Sanchez foi parado pouco depois e preso por infrações de trânsito estaduais. Após a prisão, as autoridades cumpriram um mandado de busca na segunda residência e “encontraram, no que parece ser a mesma caixa que [Sanchez] foi visto carregando, um documento manuscrito de treinamento, táticas e planejamento para distúrbios civis com sentimentos antissegurança pública, antigovernamentais e antitrumpistas”. Os documentos da caixa incluíam zines e panfletos que o ICE chamou de “propaganda insurrecional literal”.

Com base nisso, Sanchez pode pegar até 40 anos de prisão por conspirar e “transportar uma caixa que continha vários materiais da Antifa… com a intenção de ocultar o conteúdo da caixa e impedir a sua disponibilidade para uso em um grande júri federal e em um processo criminal federal”, conforme a acusação mais recente.

Porém, esses materiais, embora controversos na sua defesa da insurreição, ocupação ilegal e anarquia, são todos protegidos pela Constituição americana como liberdade de expressão. O governo não pode infringir o direito da Primeira Emenda de ler, possuir ou escrever, a menos que o autor esteja incitando ações ilegais iminentes, literatura antigovernamental ou pró-revolução. Embora alguns possam considerar as ideias contidas na caixa de Sanchez perigosas, os zines e panfletos antigovernamentais são muito mais semelhantes à literatura da era revolucionária popular quando a Primeira Emenda foi aprovada do que o panorama atual das redes sociais, como aponta Seth Stern, do The Intercept.

No entanto, depois que o presidente Donald Trump assinou uma ordem executiva em setembro designando a “antifa” como “grande organização terrorista”, promotores, como os do caso Sanchez, tentam usar materiais que “explicitamente [clamam] pela derrubada do governo dos Estados Unidos, das autoridades policiais e do nosso sistema jurídico” como prova de criminalidade, apesar da proteção constitucional.

O caso de Sanchez mostra por que dar ao governo o poder de designar e processar “organizações terroristas domésticas” é tão perigoso. Seja escrevendo um artigo de opinião ou sendo incluído no vago movimento antifascista, os amplos poderes do governo sempre levam ao mesmo resultado: violações dos direitos constitucionais e silenciamento da dissidência.

Fonte: https://reason.com/2025/11/26/texas-man-faces-up-to-40-years-in-prison-for-transporting-constitutionally-protected-pamphlets/

Tradução > CF Puig

agência de notícias anarquistas-ana

Apito de fábrica
A poluição é o tempero
da marmita fria.

Teruko Oda

[México] Ato político-cultural pela liberdade de Mumia Abu Jamal e pela organização da homenagem a Carolina Saldaña

9 de dezembro de 2.025

12 horas – Embaixada dos Estados Unidos. Av. Reforma, Cidade do México

Vamos pela vida e a liberdade!

Ato político-cultural pela liberdade de Mumia Abu-Jamal e pela organização da homenagem a Carolina Saldaña, jornalista, companheira e lutadora incansável.

Em 9 de dezembro de 1.981 nos Estados Unidos foi detido e encarcerado Mumia Abu-Jamal, jornalista afro-americano, falsamente acusado de assassinar um policial, esta situação indignou o mundo e as vozes contra o racismo se levantaram. Após 44 anos de confinamento, a maioria no corredor da morte, a luta por sua liberdade segue vigente. Pelo que queremos propor-lhes continuar com o legado de nossa companheira Caro e realizar o ato político-cultural em frente à Embaixada dos Estados Unidos na Cidade do México; esta atividade nos une aos que tomam as ruas em diferentes geografias do mundo para exigir a liberdade de Mumia Abu-Jamal.

Também os convidamos a recordar e honrar a vida de Carolina Saldaña, com presença nessa data que foi tão importante para ela e nesse mesmo lugar no qual se realiza atos há mais de 25 anos. Ela de maneira simbólica estará presente através de suas cinzas.

Convocamos aos que queiram ser parte desta atividade a escrever suas propostas à Fb Amigos de Mumia Abu-Jamal antes de 5 de dezembro.

Dentro desta mesma atividade tomaremos um espaço para os que queiram participar na organização de uma homenagem para nossa querida Carolina.

Com Amor, Sem medo.

amigosdemumiamx.wordpress.com

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Ao sol da manhã,
Imóvel como se dormisse,
A coruja no fio.

Paulo Franchetti

[EUA] Ashanti Alston: Um Pantera Anarquista – Parte 2

Nesta conversa aprofundada com Ashanti Alston (ex-Pantera Negra, prisioneiro político e eterno aprendiz) exploramos o significado radical de vida, morte e libertação. Ashanti reflete sobre os sacrifícios pessoais e coletivos exigidos pela luta, o peso da “morte social” e o alicerce espiritual encontrado na honra aos ancestrais.

Partindo de seus anos no Partido dos Panteras Negras e no Exército de Libertação Negra, Ashanti discute os desafios da vida clandestina, as lições dos movimentos de resistência do passado e a necessidade contínua de diversidade ideológica dentro dos espaços revolucionários. Ele compartilha reflexões sobre abraçar o anarquismo através de uma lente indígena e comunitária, fazer o trabalho interno necessário para a cura e construir movimentos enraizados no amor, na responsabilidade e na inclusão.

Este episódio oferece tanto profundidade histórica quanto sabedoria prática. Uma reflexão sobre o que significa viver, resistir e construir liberdade juntos diante do império.

>> Ouça aquihttps://tdugout.substack.com/p/ashanti-alston-an-anarchist-panther-d29?triedRedirect=true

Tradução > Contrafatual

Conteúdo relacionado:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/10/22/eua-ashanti-alston-uma-entrevista-com-o-pantera-anarquista-parte-1/

agência de notícias anarquistas-ana

fino fio de fumaça
fere o espaço
com seu perfume

Eliakin Rufino

[País Basco] Feira Autogestionada de Durango 2025

A Feira Autogestionada de Durango será realizada novamente em Durango este ano, nos dias 5, 6, 7 e 8 de dezembro de 2025. A iniciativa acontecerá na Zeharkalea 11, com acesso pela Kalebarria, e se apresenta como uma alternativa autogerida à feira tradicional.

Esta feira não é apenas um ponto de encontro cultural; o valor da autogestão e da organização de base são os seus principais eixos. Participantes e organizadores criam o espaço por conta própria, sem instituições intermediando: a colaboração, a liberdade e a criatividade coletiva são os alicerces.

Os horários serão os seguintes:

5, 6 e 7 de dezembro: das 11h às 20h30

8 de dezembro: das 11h às 17h.

Diversos grupos estarão envolvidos na organização da iniciativa, como KataKrak, Sare Antifasista, Txarraska Gaztetxea e DDT Banaketa, entre outros. Juntos, eles alimentam a atmosfera autogerida e libertadora que está surgindo em Durango, comprometida com uma cultura diferente.

A Feira Autogestionada de Durango não é apenas um mercado: é uma expressão coletiva da cultura política e social, e a cada ano atrai mais e mais pessoas, proclamando a necessidade de outros modelos culturais.

agência de notícias anarquistas-ana

Acabou-se a festa.
Resta, no silêncio,
o rumor da floresta.

Ledo Ivo

[Reino Unido] Natal Anarquista em Bristol

Nós chamamos o evento de “Natal Anarquista”. Não é por causa da pompa, nem da pilha de presentes que você leva pra casa, nem mesmo por causa do bolo.

Vivemos num mundo dividido, caindo no protecionismo reacionário e políticas hostis incentivadas por populistas cheios de ódio. Ninguém tá encontrando inspiração no doomscrolling. Os autoritários e capitalistas, que buscam nos reduzir a consumidores inertes e conformados, prosperam quando as nossas comunidades estão atomizadas e desconectadas. Quando nós estamos apenas empurrando a vida adiante, olhando pra uma tela e desesperadamente tentando encontrar um momento de esperança, estamos presos em um ciclo de decadência.

Mesmo que alguma thread nos dê um escape temporário do enorme peso do mundo, dos horrores cometidos contra povos inocentes em terras distantes, das correntes políticas que roubam as nossas liberdades, e do puro fardo impiedoso de sobreviver ao capitalismo, depois de um turbilhão sufocante de coisas… aí você precisa acordar pra ir pro trabalho depois de algumas horas.

A gente caiu numa dependência profunda de fronteiras eletrônicas e as falsas promessas de plataformas de redes sociais em que, teoricamente, elas nos conectam, mas na verdade nos deixam sozinhos, divididos, e sem propósito. Estamos num oceano esmagador de pessoas, todas tentando se conectar desesperadamente, mas, em última análise, isoladas. Cada uma sozinha no seu quarto, fazendo doomscrolling, se sentindo desamparada diante do domínio terrível dos detentores do poder. Em outros lugares, a extrema-direita oferece um senso de pertencimento pela exclusão, unidade pelo ódio, propósito pela submissão, com mensagens de ódio profundamente enraizadas em desfiles enganosos – usando o amor de pessoas da classe trabalhadora e seu desejo natural por comunidade, espaço e lugar, para jogá-las umas contra as outras.

Contra isso, espaços anarquistas insistem numa forma diferente de pertencimento: um pertencimento construído com ajuda mútua, solidariedade, e a liberdade de pensar e agir junto. Nós chamamos o evento de “Natal Anarquista” porque a feira do livro anarquista local é a cura pra toda essa melancolia. É quando a família se junta, velhas amizades que você não vê há anos, aquela moça que você viu pela última vez em cima de uma árvore dois anos atrás, seu velho camarada daquela ocupação que você costumava visitar, e aquele cara que te mostrou Kōtoku Shūsui.

Então o que É uma feira do livro Anarquista?

Uma boa feira do livro parece uma feira misturada com a sensação de estar com amigos em um festival. É pura energia positiva e um sopro de ar fresco. Em qualquer uma delas você pode encontrar uma variedade de banquinhas interessantes com tudo, desde organizações ambientais até projetos de redistribuição de riqueza, desde ativistas locais de proteção animal até coletivos de arte, editoras radicais, e campanhas de solidariedade com camaradas que estão em terras distantes. As banquinhas são quase sempre complementadas por oficinas sobre diversos assuntos e uma variedade de atividades, sessões de reparo de objetos, comida vegana deliciosa – e bolo, claro.

Atualmente, estamos testemunhando um renascimento no Reino Unido e em todo o mundo, com novos encontros presenciais surgindo aos montes, e eventos já estabelecidos se tornando eventos de vários locais e de vários dias. Mais do que nunca, as pessoas estão saindo do scrolling infinito e se encontrando pessoalmente. Fazer isso, especialmente fora dos bares e cafés corporativos que tentam te explorar, é um ato de rebeldia. Pra ilustrar o ressurgimento da organização cara-a-cara, nós somos apenas um de uma dúzia de eventos que aconteceram nos últimos dois meses; no mesmo dia em Newport, há uma Feira do Livro Radical no Riverfront, na próxima semana a Feira do Livro Anarquista de Manchester vai acontecer no Museu da História do Povo, a Feira do Livro Radical de Edimburgo volta pro Assembly Roxy de 5 a 9 de Novembro, e Swansea sediará mais um Festival Comunitário Radical no dia 22.

Cada um destes eventos será uma variedade vibrante e empolgante de organização anarquista e socialista, educação radical, publicações populares. Cada uma é uma reafirmação de que ainda acreditamos em comunidade, curiosidade, e imaginação coletiva. Quer você tenha vindo com nada, ou com bastante dinheiro pra gastar, você voltará pra casa com uma pilha de coisas, terá compartilhado uma refeição com alguns novos amigos, terá rido, participado de debates, descoberto coisas novas, novas fronteiras na luta, e a tua mente estará fervilhando de novas ideias de projetos.

São eventos mágicos e potentes, e esse é o motivo pelo qual, de novo e de novo, anarquistas, socialistas, defensores da terra, lutadores sociais queer: ativistas de todo o espectro, comparecem. Mas mais do que isso, são as pessoas de fora que são as mais importantes pra mim. As pessoas que olham pro estado do mundo e sabem que o inimigo chega não de barco, mas de limusine; que veem a polícia agredir os jovens, que assistem o ódio maligno sendo disseminado e querem fazer algo a respeito.

Cada pessoa participa na organização de um evento como este a partir de um ponto de vista diferente. Essa multipolaridade de tendências políticas, interesses específicos e inclinações é benéfica e certamente faz com que o evento seja diverso e enriquecedor. Esta é a quinta Feira do Livro que ajudei a coordenar, e, pra mim, o mais importante são as banquinhas e unir as equipes, é sobre arte e tornar o anarquismo atraente, e, bom, principalmente, são as pessoas que nunca haviam ido a uma feira do livro que fazem todo o esforço valer a pena. Cada uma delas, em algum momento do dia, sentindo aquela chama de esperança, às vezes pela primeira vez. Eu me lembro de vários momentos da minha vida que foram como uma luz brilhante na escuridão: as conversas, zines, e pessoas que me fizeram acreditar que podemos fazer isso, podemos construir um mundo melhor. Junto.

Uma pequena recapitulação da Feira do Livro Anarquista de Bristol.

A feira do livro em Bristol percorreu um caminho meio instável. A edição recente começou em 2008; 26 banquinhas e 25 oficinas no Centro Comunitário de St. Werburgh com tudo, desde Princípios Anarquistas 101 até uma aula de Tai Chi. O sucesso consolidou o evento, que foi crescendo a cada ano. Em 2011, a Feira do Livro aconteceu logo após os protestos de Stokes Croft. Houve eventos durante toda a semana que antecedeu a feira, a polícia chegou a ameaçar fechá-la, e mesmo assim cerca de 1.500 pessoas compareceram pra aproveitar os 60 estandes e 34 eventos distribuídos em seis espaços, e algumas pessoas sortudas ainda conseguiram adquirir uma gravura de Banksy que se tornaria imediatamente lendária.

A feira do livro continuou. Ela teve seus altos e baixos; em setembro de 2017, o evento foi organizado por algumas pessoas novas, incluindo Anna Campbell. Depois de alguns anos no centro Trinity, ela voltou ao Centro Comunitário de St. Werburgh, e contou com mais de 30 banquinhas e 19 oficinas, e foi, segundo todos os relatos, um evento excelente. No mês de março seguinte, Anna seria assassinada pela Força Aérea Turca enquanto ajudava civis deslocados a fugir de Afrin.

Em maio de 2018, após uma mudança de local de última hora, a Feira do Livro aconteceu entre o Black Swan e o centro social BASE. Infelizmente, o evento entrou num hiato nesse ponto, embora tenha sido parcialmente substituído pelo fantástico Festival de História Radical de Bristol, que, com seu tom mais amplo e sua vibe meio diferente, se tornou um anfitrião acolhedor pra comunidade de organizadores de Bristol.

Aí, a Pandemia chegou, e o mundo inteiro entrou num hiato.

Nós todos nos deparamos com as realidades agridoces de buscar ajuda mútua vasta, linda e a nível de comunidade, em confronto com uma extrema-direita fortalecida e um governo indiferente, propenso a impulsionar a economia à custa da classe trabalhadora.

A Active Distribution foi a primeira a retomar as atividades após o lockdown com uma série de pequenas Feiras do Livro Radicais no Exchange. Assim, as pequenas faíscas de revolta e ousadia começaram a se espalhar. O círculo de tricô anarquista fez sua parte, e, no início de 2024, a Feira do Livro Anarquista de Bristol começou a reunir a turma, com uma mistura de rostos antigos e novos. Fizemos uma “mini Feira do Livro Anarquista” no fim do ano, e as pessoas ficaram entusiasmadas.

Então, aqui estamos…

Agora estamos propriamente de volta. As portas se abrem das 10:30 da manhã no Elmgrove Centre e fecharemos às 5 da tarde. Temos mais de 50 banquinhas de toda Bristol, do Sudeste da Inglaterra, do País de Gales e de todo o Reino Unido. Junto disso, há mais de 20 oficinas gratuitas com uma grande variedade de estilos e assuntos. Haverá atividades práticas sobre tudo, desde como lidar com oficiais de imigração, como consertar bicicletas, até como interagir com escudos antimotim de forma segura. Vamos explorar o político no pessoal com o debate “É Preciso Uma Aldeia Para Cuidar de Uma Criança”, TRH faça-você-mesma para pessoas trans, e escrita de testamento para radicais. Orientação especializada sobre o que tá acontecendo com o uso da lei do Terrorismo com protestos, e formas fáceis de lidar com a sua segurança digital. Ficar em dia com os trabalhos mais recentes sobre a Libertação da Pessoa com Deficiência ou as análises sobre Direito Fundiário, ou se juntar à plenária sobre luta eficaz no ambiente de trabalho com o sindicato de trabalhadoras do sexo e funcionários de hospital. Ouvir as pessoas da maioria global que estão se organizando na linha de frente contra o racismo encorajado, e os ativistas por trás da campanha que derrubou a estátua de Edward Colston. Ou talvez você apenas precise sentir a inspiração da Plenária de Motivos para Ser Otimista, que vai apresentar vitórias de campanhas regionais nos últimos cinco anos, com uma análise das táticas que nos levou a chegar onde chegamos.

Entre as atividades, você vai comer junto, compartilhar histórias, fazer planos. Espere por debates vibrantes sobre justiça habitacional, organização de bairro, e ecologia. Você vai bater um papo bebendo cerveja com camaradas mais velhos e veteranos do movimento, enquanto crianças folheiam fanzines ilustrados e correm umas atrás das outras por perto. Nesse murmúrio cheio de vida, você vai ouvir o eco das lutas de Bristol. Essa garota de Lawrence Weston falando sobre como ela não consegue encontrar trabalho, um organizador comunitário falando sobre o abismo de expectativa de vida de aproximadamente dez anos entre bairros mais ricos e bairros mais pobres, e um fervoroso morador de ocupação de Stokes Croft empolgado em contar desventuras da Fábrica Vermelha na época dos protestos.

Esses eventos são de família (em Bristol nós temos uma creche supervisionada e um espaço para crianças em uma brinquedoteca com brinquedos macios), e todo mundo é bem vindo, mesmo que seja só pra uma visitinha rápida. Venha dar uma espiada pela porta e faça a última coisa que o estado quer que você faça: começar a falar com seus vizinhos trabalhadores sobre os seus problemas, esperanças, sonhos, e como você acha que podemos chegar a um mundo melhor.

Leve as suas perguntas. Leve suas ideias. Leve a sua fome por mudança. Juntos nós vamos reafirmar que aqui, em Bristol, em carne e osso, ainda acreditamos que um mundo melhor é possível.

A gente se vê no Natal Anarquista.

Em solidariedade

Um Membro da equipe da Feira do Livro Anarquista de Bristol.

Fonte: https://organisemagazine.org.uk/2025/10/31/anarchist-christmas-in-bristol/ 

Tradução > Caio Forne

agência de notícias anarquistas-ana

Sol de primavera —
O despertar das flores
É quase um sussurro.

Paulo Ciriaco

[EUA] Marchando por Mumia: uma jornada de 12 dias por justiça

Ativistas iniciarão uma marcha de 12 dias pela libertação de Mumia Abu-Jamal em 28 de novembro, caminhando da Filadélfia até a prisão SCI Mahanoy em Frackville, Pensilvânia. Seu objetivo é urgente: exigir cuidados médicos, dignidade e liberdade para o prisioneiro político mundialmente conhecido.

Mumia Abu-Jamal, ex-membro do Black Panther e jornalista premiado, foi incriminado pelo assassinato de um policial da Filadélfia em 1981, após um julgamento racista marcado por provas falsificadas, testemunhas coagidas e parcialidade judicial. Por mais de 40 anos, ele expôs a injustiça do encarceramento em massa de trás das grades, tornando-se uma das vozes políticas mais importantes de sua geração.

Organizações internacionais de direitos humanos, incluindo a Anistia Internacional, há muito apenam sua condenação como uma farsa da justiça. Ele já foi condenado à morte, mas sua sentença foi posteriormente reduzida a prisão perpétua sem direito à liberdade condicional — uma morte em vida atrás das grades.

Agora com 71 anos, Mumia enfrenta sérios problemas de saúde. Após meses de pressão pública, ele foi submetido a uma cirurgia de catarata no olho esquerdo em setembro. Mas ele ainda precisa de cirurgia no olho direito e tratamento para retinopatia diabética, uma condição que pode causar cegueira se não for tratada. Os apoiadores chamam o atraso deliberado de abuso de idosos — outra forma de violência estatal contra um prisioneiro político.

Os gritos de guerra da marcha — Libertem Mumia Abu-Jamal, Acabem com a Negligência Médica, Acabem com o Abuso de Idosos — conectam a luta de um homem à crise mais ampla de negligência médica e abuso de idosos prisioneiros em todo os Estados Unidos.

A organização da rota de 12 dias requer alimentação, alojamento, transporte, assistência médica e apoio jurídico, de segurança e da mídia. Uma reunião híbrida de organização no início deste mês na Ethical Society da Filadélfia reuniu ativistas veteranos do Liberte Mumia e novos participantes, determinados a levar adiante a luta.

“Nunca vamos parar de lutar por Mumia porque ele nunca parou de lutar por nós”, disse Mama Pam, falando em um comício de 2023 na Filadélfia.

Quando os manifestantes chegarem aos portões da SCI Mahanoy em 9 de dezembro, eles estarão carregando mais do que a causa de um homem. Eles estarão marchando contra um sistema que prende os pobres, silencia a dissidência e trata a vida humana como descartável — e pelo direito à justiça e à liberdade.

Como apoiar a marcha pela libertação de Mumia

Você não precisa caminhar os 12 dias inteiros para fazer parte dessa luta. Os organizadores estão convocando uma ampla solidariedade para tornar a marcha possível.

Formas de ajudar incluem:

• Seja voluntário na logística — incluindo equipes de motoristas, preparação de alimentos, coordenação de alojamento, segurança, assistência médica e mídia.

• Faça doações para ajudar a cobrir os custos de suprimentos, hospedagem e outros custos logísticos dos manifestantes.

• Compartilhe atualizações nas redes sociais e ajude a divulgar o apelo pela libertação de Mumia.

• Organize eventos locais de solidariedade e palestras sobre o caso de Mumia e a luta contra a encarceramento em massa.

A marcha é coordenada por ativistas e aliados da campanha Liberte Mumia Abu-Jamal de todo o país.

Uma reunião organizacional foi realizada em 3 de novembro na Ethical Society, 1906 South Rittenhouse Square, Filadélfia, com coordenação contínua online.

Para atualizações, inscrições de voluntários e doações, visite marchformumia.org ou siga @BringMumiaHome nas redes sociais.

Até que Mumia seja libertado, nenhum de nós será livre.”

agência de notícias anarquistas-ana

Beija-flor travesso —
Pula de galho em galho
na manhã azul…

Marco Antonio Fontolan

[Itália] Dois encontros diferentes, uma única perspectiva: resistir ao domínio e construir liberdade.

O Grupo Anarquista “Mikhail Bakunin” – FAI Roma & Lazio adere e participa das iniciativas de 29 e 30 de novembro de 2025, respectivamente ao cortejo antimilitarista de Turim e ao dia “Montanha Libertária” em Colloro (Premosello Chiovenda, VB).

Dois encontros diferentes, uma única perspectiva: resistir ao domínio e construir liberdade.

Em Turim, contra a guerra e quem a arma; em Colloro, por uma vida autogestionada, solidária e livre das lógicas do lucro.

O sistema que devasta povos e territórios é o mesmo que arma os exércitos e empurra para a obediência.

As fábricas de armas, os governos, as fronteiras e os mercados são engrenagens da mesma máquina de morte e exploração.

Ser antimilitarista significa sabotar essa máquina, rejeitar todo alistamento, todo patriotismo, toda cumplicidade.

As guerras se interrompem desertando, opondo-se, agindo nos territórios contra quem lucra com a destruição.

Nas montanhas abandonadas ou mercantilizadas pelo turismo, abrem-se ao contrário espaços de resistência e autogestão.

“Montanha Libertária” é uma oportunidade para construir redes de mutualismo, economia vernacular e comunidades solidárias: formas de vida que negam o Estado e o mercado na prática cotidiana.

Rehabitar a montanha em perspectiva libertária significa opor-se ao capitalismo predatório e reconstruir relações livres, igualitárias e sustentáveis.

A luta contra a guerra e a busca por uma vida autogestionada fazem parte da mesma tensão anárquica: destruir o domínio, construir liberdade.

Porque não basta dizer não à guerra: é preciso criar um mundo que a torne impossível.

Contra todas as guerras, contra todos os Estados, contra todos os patrões.

Pela liberdade, a autogestão e a solidariedade entre os oprimidos.

Grupo Anarquista “Mikhail Bakunin” – FAI Roma & Lazio

gruppobakunin@federazioneanarchica.org

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

O céu, no jardim
amanhece encoberto…
Mas o ipê floresce!

Guin Ga Eden

[Espanha] Lançamento: “La Rebelión de los Siervos”, de Federica Montseny

“La Rebelión de los Siervos” é muito mais que uma novela curta: é um grito de denúncia, uma proclamação libertária e um manifesto narrativo contra a injustiça social. O texto encarna a convicção de que a literatura pode ser uma arma para organizar a raiva e forjar a utopia. Ambientada em uma casa rural andaluza, a história retrata Manuel, um camponês autodidata que armado com livros e dignidade, se levanta contra a exploração dos grandes proprietários de terras. Junto a personagens memoráveis como Carmencilla, símbolo trágico da resistência feminina, Montseny traça uma potente alegoria da luta obreira, da emancipação da mulher e da revolução social.

Com um estilo direto e apaixonado, esta novela se inscreve na tradição da literatura proletária e se irmana com relatos como “El Mexicano” de Jack London. Sua mensagem segue interpelando o leitor a partir da ética da resistência.

Ano de publicação: 2025

Autora: Federica Montseny

Editora: Calumnia Edicions & Piedra Papel Libros

ISBN: 978-84-129699-8-6

Páginas: 95

Tamanho do livro: 110 mm. x 160 mm.

Preço: 8,00 €

Web: piedrapapellibros.com

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

neve profunda –
as pegadas do gato
cada vez maiores

Ion Codrescu

[Chile] Valparaíso: I Jornada Anárquica pela prática e propaganda ácrata

Que a propaganda ácrata se espalhe na forma de livros, gráficos, música e reflexões para fortalecer a prática.

Criamos este espaço no morro para encontros e conversas. Que as redes se entrelacem neste território rebelde, aguçando a mente, o corpo, a palavra e a ação contra a autoridade.

Sabemos que o caminho para as transformações não é nem será dado pelas instituições, por isso continuamos com convicções firmes, procurando materializar as ideias anarquistas, em solidariedade com nossos companheirxs na prisão e pela destruição de todas as jaulas.

Não apenas negamos a prisão para nossxs companheirxs, mas repudiamos a prisão como conceito, porque entendemos que a prisão é o resultado de um pacto social ao qual nunca aderimos e que tem como objetivo a perpetuação de um sistema que desprezamos.

Em memória dos 81 presxs que morreram queimados na prisão em 8 de dezembro, aquele lugar maldito onde reina a tristeza.

Nos vemos no dia 13/12 no morro

(Mais perto da data divulgaremos o endereço)

>> Programação e atualizações: bibliotecaantiautoritarialecheros.wordpress.com

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paciência de tartaruga
cem anos
em cada ruga

Alexandre Brito

[Grécia] Adeus ao nosso Ignatius

3 de novembro de 2025

Após muitos meses (desde junho) em coma no hospital da Cruz Vermelha, Ignatius abriu os olhos pela primeira vez há alguns dias, durante uma visita de seus companheiros, aparentemente para se despedir de nós, pois hoje, domingo, 2 de novembro de 2025, ele faleceu. Repetidos derrames e cirurgias cranianas difíceis, apesar dos esforços da equipe médica e de enfermagem, levaram ao seu fim irreversível. Ignatios era um camarada anarquista conhecido em todo o movimento por sua participação plural em todas as suas ações e resistências, fossem elas lutas contra a repressão, projetos alternativos autogerenciados ou eventos culturais.

Ele se iniciou na ocupação Karyatidos, em Peristeri, e depois participou de coletivos que administravam o café Zapatista. Nos últimos anos, ele também participou de outros coletivos políticos e sociais, às vezes no Movimento Antiautoritário e no Empros [teatro autogestionado], mantendo uma presença constante no coletivo MEKAREVERSE e, é claro, participando de todos os eventos do movimento. No entanto, foi sua participação de longa data e multifacetada na ocupação do Jardim Botânico de Petroupolis que o marcou. Lá, ele desempenhou um papel de liderança em todas as ações individuais da ocupação, que diziam respeito à rua, ao acolhimento de refugiados e ao grupo de teatro, participando de inúmeras apresentações. Mas o que ajudou a criar o espaço foi o autoestabelecimento de coletivos, especialmente a mercearia, que desempenhou um papel decisivo. Um de seus grandes sonhos que não foi realizado foi a viagem planejada a Chiapas e às comunidades zapatistas para o Encontro Internacional de Resistência e Levante, realizado em agosto no Acampamento Comandanta Ramona, visitando as comunidades zapatistas pela segunda vez. Deixamos a última frase para o que ele mais amava, que era dançar e a respectiva aprendizagem que recebeu nessa área desde a infância. Desejamos que agora, sem restrições estatais, regulatórias e físicas, ele se divirta fazendo círculos e figuras de planeta em planeta e de estrela em estrela, e prometemos que nunca o esqueceremos.

Espaço social gratuito do Jardim Botânico de Petroupolis

Fonte: https://athens.indymedia.org/post/1638271/

Tradução > transanark / acervo trans-anarquista

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Fugiu-me da mão
no vento com folhas secas
a carta esperada.

Anibal Beça

Greves na Espanha!

Nossa seção espanhola, a CNT, convocou recentemente várias greves relacionadas com diversos conflitos laborais. Não só se somou à convocatória de greve geral de 24 horas em todo o país, em solidariedade com o povo palestino, mas que segue organizando-se nos locais de trabalho. Assim, seus membros se declararam em greve em Sevilha e Granollers (perto de Barcelona). Extremos opostos da geografia ibérica e setores econômicos muito diferentes, mas uma mesma luta: a da classe obreira.

Aixa Can Mansana é uma empresa com sede na Catalunha que proporciona serviços de arqueologia para as escavações iniciais exigidas pela lei espanhola em muitas construções ou movimentos de terra. Recentemente, a empresa despediu uma parte importante de sua planta fixa e a substituiu por pessoal temporário, substituindo assim os contratos estáveis de longa duração por outros de fixos descontínuos. Ao mesmo tempo, se negou durante os últimos 13 anos a revisar os salários para ter em conta a inflação, não proporciona a equipe de segurança necessária e se negou a discutir outros detalhes dos contratos.

Após um longo período de negociações infrutíferas, os trabalhadores e as trabalhadoras se cansaram e se declararam em greve, a partir de 13 de agosto. Isto significa que estão a mais de dois meses em luta. Uma entrevista completa pode se encontrar aqui¹: “Com a Caixa de Resistência Confederal podemos nos centrar na greve, nos piquetes, sem medo” – Confederação Nacional do Trabalho e uma declaração e uma atualização (em catalão) pode se encontrar aqui²: La vaga d’arqueòlegs de Can Mansana s’apropa als 60 dies mentre l’empresa vulnera el dret de vaga | CNT

Do outro lado do país, GAZC é uma empresa metalúrgica com sede em Sevilha que manufatura peças para fabricantes de aviões a nível internacional. Durante muito tempo, ignorou muitas disposições do convênio coletivo e impôs um clima de terror e repressão sindical, que culminou em várias demissões durante o último verão. A planta, cansada desta situação, se declarou em greve indefinida a partir de 6 de outubro. Há mais informação em³: CNT inicia uma greve indefinida em GAZC Sevilha. Uma de suas principais reivindicações, claro, é a readmissão de seus companheiros demitidos.

Segundo a legislação espanhola, durante as greves não se pagam salários, o que significa que os trabalhadores e as trabalhadoras não receberam (ou não receberão) pagamento algum durante meses. No entanto, o último congresso da CNT aprovou a criação de uma caixa de resistência, de modo que as pessoas que façam a greve receberão dinheiro deste fundo. Esta é a razão principal pela qual os conflitos podem prolongar-se tanto tempo ou continuar indefinidamente (outros motivos são o ânimo combativo e a determinação). Isto significa também que a CNT pode abordar lutas mais duras e ser mais ambiciosa em suas reivindicações, já que está preparada de antemão. Em CIT nos alegra ver que nossa seção espanhola cresce cada dia em número e capacidades! Ânimo!

Fonte: https://www.iclcit.org/es/Greves-en-espana/

[1] https://www.cnt.es/noticias/con-la-caja-de-resistencia-confederal-podemos-centrarnos-en-la-huelga-en-los-piquetes-sin-miedo/

[2] https://granollers.cnt.es/2025/10/06/la-vaga-darqueolegs-de-can-mansana-sapropa-als-60-dies-mentre-lempresa-vulnera-el-dret-de-vaga/

[3] https://sevilla.cnt.es/2025/10/cnt-inicia-una-huelga-indefinida-en-gazc-sevilla/

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Rosa branca se diverte
Pétalas no vento
Imitam a neve.

Vinícius C. Rodrigues

[Belém-PA] Encerramento da COP30: avaliação do CCLA

Há poucos dias, a cúpula da ONU sobre as mudanças climáticas e as soluções para enfrentar os problemas gerados pela aceleração dessas mudanças foi encerrada com um “acordo mínimo” muito aquém das expectativas dos observadores mais pessimistas.

De fato, enquanto anarquistas e libertáries, não podíamos, até antes de ela começar, esperar muito de um encontro que ao longo dos anos não soube frear minimamente a ganância capitalista e só trouxe como única “solução” concreta ao desregulamento climático a mercantilização de um suposto direito a poluir: o tal de mercado de carbono.

Portanto, havíamos cuidadosamente preparado nosso Centro de Cultura para acolher as mais variadas formas de protesto vindo da Amazônia brasileira (começando por Belém e sua metrópole), da América do Sul e do resto do mundo. Todos os dias, durante aquele circo de vai e vem de delegações oficiais gangrenadas por lobistas do petróleo, propomos atividades culturais, debates e rodas de conversa, refeições solidárias, preparação das marchas populares de protesto, etc.

Apesar dessa preparação e desse planejamento, tivemos a felicidade de conhecer momentos imprevistos e pessoas desconhecidas e de conviver com outras até então frequentadas apenas por meio da internet: assim pudemos participar da ocupação por parte dos povos indígenas da Zona Azul da COP, receber visitantes vindo de muito longe e dialogar com eles, Dràgàn Macko (França), Mário Rui Pinto (Portugal) ou Peter Gelderloos (EUA)… e isso não é tudo: foram momentos lindíssimos, cheios de aprendizagens em termos de práticas de resistência, de trocas de pontos de vista sobre as crises geradas pelos de cima e de compartilhamento de soluções para a gente sair dessas desde a nossa posição periférica.

Para finalizar essas jornadas anarquistas anti-COP30, queríamos deixar a vocês a nossa avaliação sobre essa farsa que foi esta COP, trigésima ocasião perdida para salvar a nossa Mãe Terra (Mother Earth como a chamava Emma Goldman) e as populações que nela sobrevivem, presas a mazelas e tormentos evitáveis.

Já o sabíamos, a coragem para sair dessa trilha de destruição só será a nossa e, quando conseguirmos reverter essa situação desesperadora pelas nossas lutas, deixaremos apenas às elites as roupas de vergonha de quem podia e não tentou para se vestir e andar sob as vaias da humanidade e de todas as criaturas do planeta, finalmente livrado da exploração capitalista e das desigualdades e opressões.

>> Para ler a Carta das Jornadas Anarquistas Anti-COP na íntegra, clique aquihttps://cclamazonia.noblogs.org/files/2025/11/Carta-das-Jornadas-Anarquistas-Anti-COP-CCLA.pdf

Boa leitura!

Centro de Cultura Libertária da Amazônia – CCLA

Rua Bruno de Menezes (antiga Gen. Gurjão), 301. Campina. Belém, Pará, Brasil.

Site: https://cclamazonia.noblogs.org/

Instagram: @cclabelem

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Se equilibra
nas variações do vento
o bem-te-vi

Harley Meirelles

Lula, líder climático?

[Itália] Sobre a operação Maistrali em Cágliari

NÃO ABAIXE A CABEÇA DIANTE DO ESTADO E DE SEUS SÚDITOS

CONTRA A GUERRA DOS ESTADOS

CONTRA A PAZ SOCIAL

Há muitas maneiras de matar. Pode-se enfiar uma faca na barriga de alguém, tirar-lhe o pão, não curá-lo de uma doença, enfiá-lo numa casa inabitável, massacrá-lo de trabalho, levá-lo ao suicídio, mandá-lo para a guerra, etc. Apenas alguns desses métodos são proibidos no nosso Estado.

B. Brecht “O Livro das Mudanças”

No dia 21 de novembro, mais uma vez a Digos [Divisão de Investigações Gerais e Operações Especiais da polícia italiana] de Cáglieri e o tribunal lançam uma megaoperação, denominada “Maistrali”, na qual 36 companheirxs são investigadxs por vários crimes e 10 delxs também por associação com fins de terrorismo ou subversão da ordem democrática (o infame artigo 270-bis), pelas lutas anticarcerárias, antimilitaristas e antifascistas, incluindo pichações, realizadas desde 2020 até hoje. Fatos que a polícia e o tribunal costuram de forma bizarra para justificar suas interpretações e seus pedidos. Apesar de o Estado acusar de terrorismo quem luta, a única motivação desta operação é, mais uma vez, disseminar o medo para combater o conflito social emergente em grande parte do planeta.

Enquanto a opinião pública está atordoada pelas redes sociais e pelos bombardeios midiáticos sobre segurança, os estados e seus exércitos continuam a se armar, com enormes investimentos sem precedentes, empobrecendo trabalhadorxs e exploradxs. Para justificar esta política, precisam criar um inimigo. De fato, a solução mais fácil é classificar a população em amigos e inimigos, identificando como inimigos aqueles que não querem ou não podem cumprir as prescrições de um sistema capitalista direcionado, com determinação crescente, para o aniquilamento do ser humano. Os novos crimes, as medidas preventivas, a prisão, a tortura são um alerta útil para quem ainda não está convencido a ficar do lado do Estado.

Toda vez que o conflito social ganha força, o Estado emana leis que reforçam normas para controlar qualquer dissidência, seja qual for a forma como se manifesta. Normas escritas de forma a dar aos juízes a possibilidade de interpretá-las, variando arbitrariamente o tipo de crime e atingindo mais duramente todxs aqueles que se opõem e todxs aqueles que são solidárixs.

A imposição desenfreada de medidas preventivas para quem tenta lutar nos locais – sejam praças, prisões ou CPRs (Centros de Permanência para Repatriação) – onde o Estado exerce sua violência racista contra pobres e migrantes, tem o único objetivo de proteger esses lugares que servem para separar o proletariado dos poderosos e dos patrões. A contínua colaboração entre forças policiais e exército é útil ao Estado para proteger os exploradores e seus súditos, espancadores fascistas e militares, todos criminosos assassinos quando surge a oportunidade, tanto em tempos de guerra como em tempos de paz.

Estamos convencidos de que a única maneira de protestar contra as regras é infringi-las; quanto mais o sistema tem medo, mais busca incutir medo em quem se opõe, inclusive normalizando o uso da violência contra quem não se adequa. O desejo de liberdade não pode ser detido pelas concessões do poder; a liberdade se toma. Não damos e não daremos nenhum passo atrás em relação às nossas escolhas e às nossas lutas, reafirmando que não serão seus processos, com sentenças que já gostariam de ter escrito, suas ameaças e suas torturas que nos impedirão de estar sempre do lado dos fracos e dos exploradxs que lutam.

TODXS LIVRES

SEMPRE DO LADO DE QUEM LUTA

FOGO AO ESTADO E ÀS PRISÕES

Anarquistas contra a prisão e a repressão

Fonte: https://brughiere.noblogs.org/post/2025/11/25/sulloperazione-maistrali-a-cagliari/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

na rua deserta
brincadeira de roda
vento se sujando de terra

Alonso Alvarez