A seguir compartilhamos um escrito elaborado e apresentado pela Revista Arpillera durante a Jornada pela Terra e Contra a IIRSA [Iniciativa de Integração da Infra-estrutura Regional Sul-americana], realizada no domingo dia 6 de novembro de 2016 em Santiago do Chile.
Há dois dias que se cumpriram três anos e oito meses do assassinato, por parte de máfias pecuaristas e do Estado venezuelano, do cacique yukpa Sabino Romero Izarra. Desde que cheguei ao Chile me impressionou notar o interesse da esquerda e mesmo de um setor do movimento libertário – quando se trata da Venezuela – de se limitar a assuntos de mera governabilidade naquela região e passarem por alto qualquer atenção sobre os movimentos populares ou comunidades indígenas que resistem a aquelas políticas de governo emoldurada s no mais selvagem capitalismo.
Não é casual que aconteça deste modo, pois dentro das estratégias políticas que mantém um projeto macroeconômico como a IIRSA se encontra o invisibilizar e incomunicar às pessoas que constituímos territórios, para sobrepor a eles todo o despojo planificado. Se sobrepõe também um discurso latinoamericanista que enfoca sua atenção não na integração das lutas, mas sim na confluência de políticas de governo. E assim, vimos se elevar e se tornar opaca toda uma co rrida de governos progressistas que foram os encarregados de hipnotizar as massas, empenhar os territórios nesse acordo firmado no ano 2000 e servir a mesa a governos abertamente neoliberais.
Deste modo, na região argentina ou chilena sempre soubemos quem era Chávez e quantas canções podia cantar em uma alocução de duas horas, mas jamais nos inteiramos de que existia uma comunidade indígena na geografia venezuelana que exigia autodemarcação territorial ao governo daquele militar e que só pelo fato de exercer a ação direta e se atrever a recuperar parte de seu território, estava sendo criminalizada e aniquilada. Me refiro, claro, à comunidade yukpa que hoje agoniza na Sierra de P erijá e que foi uma das primeiras vítimas notáveis da IIRSA na Venezuela, pois o território que ocupam é a maior fonte de carvão naquela geografia.
Assumindo o chamado “Socialismo do século XXI”, o governo venezuelano firmou, junto aos governos do resto da América do Sul, este macroprojeto para o novo modelo de acumulação capitalista que favorece às burguesias nacionais e transnacionais. Tal determinação foi, por sua vez, respaldada nos planos nacionais e assim o mais concreto “legado de Chávez”, o Plano Pátria, supôs em seu terceiro objetivo histórico “converter a Venezuela em Potência” graças ao desdobramen to de planos integralmente extrativistas que desde nenhum ponto de vista poderiam suportar-se sob o termo lastimeiro da mineração ecossocialista. Na cabeça de quem cabe que possa ser ecológica a extração de ouro com base no uso de cianureto?
Hoje, os movimentos populares, golpeados por uma sensação de derrota histórica e uma crise econômica aguda, tentam fazer frente ao Arco Mineiro do Orinoco, um projeto igualmente irmanado aos planos de extração de recursos que contempla a IIRSA e o Plano Pátria da Venezuela chavista.
O Arco Mineiro do Orinoco compromete 12% do território nacional, uns 11.843,70 quilômetros (isto implica um projeto quase 36 vezes maior que Pascualama) para o usufruto de diamantes, ouro, coltan, bauxita e outros minerais, durante 40 anos e para o benefício de umas 150 empresas mineiras entre as quais se destaca Barrick Gold. E ante a queda dos preços do petróleo, o governo venezuelano promete que este megaprojeto contribuirá para elevar a entrada de capital na nação. No entanto, o que de fato acontece é que para ir adiante com esse projeto, as empresas mistas – esse trambolho criado pelo governo e nas quais confluem capitais públicos, privados e transnacionais – deveriam solicitar créditos e se endividar.
A exploração dos territórios do Arco Mineiro incidirá de maneira direta nos territórios indígenas dos povos yekuanas, piaroas, pemón, arawak, piapoco, entre outros. Muitos deles já se manifestaram contra o projeto aprovado via decreto presidencial, por considerar que estas explorações devastariam seus territórios. Se a mineração artesanal traz consequências catastróficas para estas comunidades, a ameaça da mega-mineração se impõe como uma sentença de morte.
Frente a todo este panorama, corresponde fortalecer organizações dispostas à defesa territorial sobre a base de princípios como a autonomia, a ação direta, a horizontalidade e o apoio mútuo. Uma das muitas debilidades que hoje caracteriza a muitos movimentos populares pela defesa dos territórios é que costumam ceder ante lideranças, se tornam suscetíveis ao financiamento de instituições não governamentais que por sua vez respondem aos mesmos interesses das grandes empresas extrativistas. Is to se traduz não apenas em discursos embaçados de ideologia cidadanista que apela a um extrativismo cuidadoso, responsável, ecológico, de benefício social, etc. Senão mais concretamente ao enfraquecimento das lutas e mais dramaticamente ao assassinato de muitos ativistas.
Se Sabino Romero não vive, foi também graças à quebra de sua determinação pela organização autônoma, porque foi convencido pelo discurso do cidadão chavista, de que devia fazer parte de mecanismos estruturais dispostos pelo governo para poder ganhar espaço e projeção de sua voz. Quando Sabino se dirigia para entregar seus princípios de autonomia, foi cercado pelos disparos. A lição tem sido contundente para os que conhecem de perto a luta yukpa.
E é assim, como atendendo à necessidade de nos informar e resistir contra o Arco Mineiro do Orinoco, podemos sugerir um documentário como “Extrativismos na Venezuela: As veias continuam abertas” sob a férrea advertência de que Provea – que financiou o documentário – é uma ONG que recebe, por sua vez, financiamento de Open Society, fundação encabeçada por George Soros, um dos principais acionistas da Barrick Gold.
Quis oferecer aqui uma breve perspectiva em relação com este tema que hoje nos convoca. E apenas me resta lhes convidar a romper o cerco comunicacional que nos impõem e buscar fontes de informação não comprometidas com interesses governamentais e/ou empresariais. Os companheiros de Gargantas Libertárias, com todas as suas limitações materiais, fazem um esforço desde as populações mais pobres da região mirandina, capital venezuelana, por difundir a necessidade de uma organização verdadeiramente autônoma e libertária que faça frente a estas pol&iacut e;ticas de mineração que estão na Venezuela.
Revista Arpillera
Fonte: https://noticiasyanarquia.blogspot.com.br/2016/11/las-implicaciones-de-iirsa-en-venezuela.html
Tradução > KaliMar
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