Por J. Caro
Existe uma página arrancada da história, uma página que não aparece nos manuais e textos oficiais, e que, portanto, permanece ignorada e desconhecida pela maioria das pessoas. Essa página foi deliberadamente apagada dos livros de história para tentar condenar ao esquecimento uma série de feitos e acontecimentos que o poder, passado e presente, prefere manter ocultos. E essa página suprimida da história se chama anarquismo.
É possível comparar oficialmente: tanto no cinema quanto na TV raramente é mencionado; já nos livros de estudos, salvo que busques e indagues por sua própria conta as fontes alternativas, a versão mostrada frequentemente é tendenciosa e falsa. Seja em uns ou outros meios, o anarquismo é sinteticamente injuriado, tergiversado e falseado para retorcê-lo e convertê-lo no contrário do que realmente é.
Mais além de programas ideológicos, que, hei de ser sincero, me interessam bem pouco, para mim o anarquismo é um ideal de liberdade e justiça social. As ideias libertárias são indestrutíveis por uma simples razão: porque forma parte da melhor essência do ser humano, aquela que lhe proporciona um sentido de dignidade e integridade como pessoa e alenta a lutar por seus direitos. E essas ideias vivem animando a humanidade desde seus albores. Esse ideal fez com que se conseguissem grandes vitórias e avanços sociais, como foram a abolição da escravatura, a libertação da mulher e o reconhecimento dos direitos humanos em nível universal, entre outros, melhorando o nível de vida das pessoas, ao menos em certas partes do mundo. Ainda, no entanto, restam muitas carências a resolver, o progresso em muitos aspectos da vida é mais que evidente, apesar daqueles que preferem afirmar que as coisas nunca mudam e que jamais se consegue nada, como são esses propagadores do fracasso e da derrota das lutas populares.
O anarquismo é frequentemente acusado de utópico, de pretender alcançar algo impossível, mas já sabemos que a utopia serve para caminhar e o impossível por vezes se torna possível, como já demonstrou o espírito humano várias vezes. Não obstante, é preciso reconhecer, em honra à verdade, que em uma sociedade dominada pelos meios de comunicação e na qual impera a cultura do consumo, a competitividade e o conformismo, os ideais libertários parecem estranhos e insignificantes.
A elite capitalista que domina o mundo, os donos de bancos e indústrias, com os políticos a seu serviço para garantir o domínio das instituições do Estado, pode permitir o luxo de manter uma ilusória aparência democrática. Ante tão colossal oponente, o anarquismo apresenta a ameaça de um mosquito. Mas não esqueçamos que existem insetos pequeninos que são capazes de inocular o vírus de uma enfermidade mortal em organismos infinitamente superiores, como o ser humano.
E isso é exatamente o anarquismo para o sistema capitalista. Uma ameaça para sua organização social fundada no dinheiro e na hierarquia de classes. Talvez possa parecer que os resultados foram poucos, que as conquistas foram escassas e que ainda lutamos uma luta sem futuro.
Sem embargo, é preciso eliminar essa falsa crença da inutilidade do esforço e da luta. A história nos demonstra que as conquistas sociais foram muitas, e profundas, como podem prestar testemunho vários homens e mulheres ao redor do mundo. Bem, é certo que ainda exista um largo e árduo caminho a percorrer até que todos possam desfrutar de uma vida livre, digna e plena.
Muitos feitos foram atingidos ao largo da história, mas o mais significativo de todos foi fazer com que as pessoas sejam conscientes de seus direitos humanos. As reivindicações reverberaram entre aqueles que realmente desejam viver em liberdade.
Com frequência nos dizem para que tenhamos paciência. Dizem-nos que os cortes em matérias sociais são necessários, ainda que afetem a vida de milhões de pessoas. Dizem-nos que nesse momento o mais importante é consolidar a economia. Dizem-nos muitas coisas há muito tempo. Durante os milhares de anos que levamos a esperar, sempre se antepuseram os interesses dos mais ricos à imensa maioria, das pessoas comuns. Sempre existem coisas importantes do que se ocupar de melhorar as condições de vida da classe trabalhadora, que realmente é quem sustenta o país. Mas também aprendemos que não é apenas tendo paciência que se conseguem as coisas, mas, em verdade, a base de pressões e mobilizações coletivas. É hora de deixar registrados nossos protestos.
As melhorias obtidas não caíram do céu, não é uma dívida que temos para com filantropos humanitários ou dirigentes magnânimos, nem foi o devir da sociedade que nos conduziu de forma natural até onde estamos. É bem o contrário. O poder nunca dá nada. Para alcançar qualquer progresso foi necessário lutar e exercer uma forte oposição. E reclamar o caráter mobilizador desse processo e o papel jogado pelas lutas populares não é apenas uma questão de justiça, mas um dever imprescindível para conservar nossa memória coletiva.
As ideias de liberdade e justiça social constituem, no meu entender, a base do anarquismo, e estão no sentimento e na razão que animam os oprimidos desde o início dos tempos. Eram revolucionários em sua busca de liberdade aqueles escravos que enfrentaram o Império Romano. Espártaco e seus gladiadores venceram também as temíveis legiões romanas durante vários anos, criando ao mesmo tempo um enorme exército de escravos libertos, que colocaram em xeque a poderosa Roma, dona de meio mundo. Fracassaram ao final, é verdade, mas por diversas razões, e sua recordação se pretendeu eliminar dos livros de história para que não servisse de exemplo às gerações futuras. Mas seu gesto heroico era de tal magnitude que não pode ser destruído por completo, e a rebelião dos escravos permaneceu na memória de todos aqueles que lutaram contra o poder posteriormente.
Desde as revoltas de comunidades campesinas contra o senhor feudal durante a Idade Média, às sucessivas revoluções que sacudiram as bases de nações inteiras, toda luta por liberdade e justiça social foram ao largo da história pavimentando as bases que sustentam o anarquismo, posto que em todo levantamento popular estava a ideia ácrata servindo de gatilho para as ações de rebelião.
Onde o povo se levantava e gritava por seus direitos, ali estava o anarquismo. Estava na revolução mexicana lutando ao lado de Zapata e dos camponeses indígenas que exigiam Terra e Liberdade, estava com os franceses que apoiaram o poder popular da Comuna, e estava com os anarquistas espanhóis que combateram o fascismo durante a Guerra Civil.
É inevitável que onde exista opressão exista também o apelo à liberdade. Onde as pessoas enfrentam pobreza e necessidade, tomaram pela força o que necessitam. É um fato evidente que se repete sempre na história: o único resultado da repressão é a união e fortalecimento dos oprimidos. Mas o poder somente considera adequados os meios para manter as pessoas sujeitadas e obedientes, vinculadas a convenientes doutrinas religiosas, patrióticas ou simplesmente monetárias, com o fim de impedir a revolta, enquanto persistem as causas da mesma.
O anarquismo perpetua uma grande herança de luta contra o poder estabelecido, com um ideal como meta individual e coletiva: a dignidade e a liberdade do ser humano. O anarquismo aspira um mundo mais justo e solidário, mais livre e humano, onde o respeito aos demais construa o limite da liberdade pessoal, um planeta onde todos, humanos, animais, plantas, árvores, possamos nos desenvolver e ser nós mesmos em harmonia com a natureza. Tudo isso e muito mais é o que o ideal anarquista persegue.
Portanto, estará sempre ali onde alguém se rebele contra a injustiça e a exploração. Estará aonde exista pobreza e ignorância. Estará onde alguém sofra e seja reprimido. Em qualquer lugar onde a gente honesta e decente seja submetida, ali estará. O anarquismo estará em todas as partes, onde se lute pela liberdade e justiça social.
De igual modo, estará onde as pessoas tenham uma mão amiga, onde alguém trate de fazer um mundo melhor para todos, onde se possa viver dignamente do próprio trabalho sem ninguém que se aproveite, onde os famintos possam comer, onde os oprimidos possam se levantar, ali estarão as ideias libertárias.
Em todos e em cada um desses lugares ali estará o anarquismo, um ideal de liberdade e justiça social que não pode morrer nem ser eliminado porque forma parte inata e essencial do espírito humano.
Fonte: http://www.jcaro.es/el-anarquismo-una-pagina-arrancada-de-la-historia/
Tradução > Liberto
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