O poema de Eliana Cossy acompanhado por uma ilustração do artista Nico, pede a aparição com vida do jovem que desapareceu em uma repressão à comunidade mapuche.
Santiago Maldonado está desaparecido desde a segunda-feira 1º de agosto, após a repressão da gendarmeria [polícia nacional] contra a comunidade mapuche Lof Cushamen, em Chubut, um território muito disputado pela multinacional Benetton.
Seus amigos e familiares pedem sua aparição com vida, e uma mensagem muito particular que se viralizou nas redes sociais é o poema de uma amiga do jovem artesão, Eliana Cossy.
A jovem escreveu um poema intitulado “Um poema para que apareça” e o ilustrador Nico cuidou de fazer uma bela imagem para compartilhá-lo. A mensagem comoveu centenas de usuários e foi compartilhada mais de mil vezes em poucas horas. Leia o poema completo aqui:
Um poema para que apareça
Onde está o Bruxo?
Está dormindo entre os pinhos que rodeiam o bosque?
Juntando fungos no terreno atrás da casa de Amélia?
Não tínhamos janelas nesse lugar
havia fogão
e estávamos um pouco de favor
/para mim.
Para ele tudo era nosso
ou de ninguém.
Eu caminho como que pedindo permissão,
ele caminha como se o dono nos devesse algo.
Eu não creio em magia ou astros.
Quase não acreditamos em nada
Mas cada um a seu modo.
Quase somos planos anômalos para os entendimentos cotidianos,
quase que disse te amo sem querer
/porque conheço as diferenças,
e te vejo entrar;
e me aconchego em teus braços com um mapa,
funcionou de desculpa uma vez, seguramente funcionará outra,
e outra.
Pego o mapa para lhe buscar, bruxo,
em que caminho andarás cortando maças para mim,
que tenho medo a noite quando cai sem luzes permitidas,
e me apresso por medo ao tempo que se perde, e você se detém para ver a lua.
Agora fecho os olhos e te vejo descendo a colina às escuras,
olhando com tranquilidade minha impaciência, contemplando com ternura meu medo pelo escuro.
Falaram muito sobre você,
Mas não falaram de sua ternura.
Quero sua voz para que não seja verdade, para poder seguir acreditando,
porque se não voltas,
se não voltas perdi e tinhas razão,
se não voltas e eu volto,
já não poderei acreditar em nada.
A academia e meus deuses, as ciências e seus aparatos, os congressos com seus certificados,
Os proclamas e os santos,
tornar-se-ão úmidos,
as paredes perderão a cor
os rostos serão iguais/repetidos/mentirosos/de crepe e de cola.
Se você não voltar terei que acreditar
nas pichações anônimas e na poesia.
Porque se a poesia não serve para gritar que apareça,
a essa poesia a quebramos com golpes
e fazemos uma nova que te encontre,
e construa pontes para teu abraço tíbio.
Se não voltas,
e não pisca teus olhos,
e seus conselhos sobre as plantas ao longo da estrada,
terei que acreditar em fadas e bruxos de contos libertários.
Tradução > Liberto
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