A seguir, carta de Facundo Jones Huala de Esquel, na Patagônia, lida durante o ato autônomo “Santiago Presente! – 1º de agosto de 2018”, realizado na Praça São Martinho, em Rosario.
Irmãos e irmãs mapuches e todas as pessoas que possam estar escutando, os companheiros solidários, os amigos não mapuches e especialmente para o nosso povo, um abraço, um forte cumprimento, grande, fraternal.
Tenham muita força para continuar lutando nesta vereda que nós herdamos de nossos ancestrais com o exemplo de todos aqueles que caíram nessa luta e, infelizmente, certamente ainda haverão baixas até que nós nos libertemos. Mas essas perdas não têm que nos enfraquecer, temos que procurar forças para continuar lutando. Como, tanto o companheiro Santiago, como o nosso peñi [irmão] Rafa, como outros peñis que caíram na luta: Matias Catrileo, Mendoza Collio, Alex Lemún. Incluso em outras lutas eles sempre caem. Eles queriam continuar nessa luta, neste caso, a Libertação Nacional Mapuche, para reconstruir o nosso mundo. Um processo anticapitalista, antioligárquico, anti-imperialista com base nesta cultura antiga que temos, defendendo nosso território à custa de qualquer outra coisa. O lugar onde moramos, onde nossos ancestrais viveram e onde queremos que nossos filhos e netos continuem vivendo. Na nossa terra. Ser capazes de expulsar desta terra, as empresas, os empresários, aqueles proprietários, aqueles burgueses, os ricos que nos têm na miséria, que nos tem em uma vida de violência irracional que eles construíram. Que nos tem na fome.
Então, para reverter tudo isso temos que lutar, como o camarada Santiago lutou, como caiu combatendo o peñi Rafa. E depende de nós a memória de cada um deles e como nos lembramos disso. Se vamos nos lembrar dele chorando ou se nos lembraremos dele lutando. Se vamos nos lembrar deles rasgando nossas roupas, ou nos lembraremos deles no mesmo caminho que eles transitaram, dignamente. Isso é o que tenho a dizer-lhe, peñi pu, pu lamien, wenüy [irmãos, irmãs, amigos]. Não se deixem derrotar, não se deixem cair.
Nestas datas tão emblemáticas temos que continuar elevando a figura de cada um daqueles que lutaram pela libertação de nossos povos. E esse é o caminho. Libertar nosso povo do jugo da opressão. Libertar o nosso povo da pobreza e da miséria, do conformismo, da alienação, do que eles querem que sejamos. Libertar a nossa juventude dos vícios que alienam e destroem nosso cérebro, deixando as pessoas sem pensar. Liberar-nos de tudo o que significa ser dominado por outro mais poderoso. Essa é a mensagem nesta data.
Lembre-se porque Santiago caiu, onde ele se aproximou, com quem compartilhou. Isso é muito importante. Em momentos que tergiversam não apenas a sua imagem, sua memória, sua recordação, mas também a causa que ele chegou a apoiar, o contexto distorcido pela grande mídia hegemônica, especialmente pelos meios de direita do governo, mas infelizmente muitas vezes também por meios que se dizem companheiros.
Não deixemos que deturpem nossos objetivos reais, nem a nossos companheiros nem a nossos irmãos. Não permitamos que falem mal do nosso povo. Uma coisa é as diferenças políticas que podem existir e outra a injusta calúnia, desnecessária, que só favorece os ricos. Então calúnia não é apenas falar mal, com impropérios, mas também mentir sobre as pessoas. Transformar sua imagem em algo que não é. Isso também faz parte da calúnia. Querer inventar como a mídia diz, “Um hippie artesão sujo”. Como eles também fizeram com o peñi Rafa, que era um simples “trabalhador de uma cooperativa”.
E há muito mais por trás desses peñis, desses companheiros, dessas pessoas. Existem outras histórias de vida. Coisas muito mais profundas. Existem ideias. Existem pensamentos. Existem maneiras de ser. Existem objetivos na vida. É isso que vale a pena lembrar.
Então, a partir daqui, da prisão domiciliar agora, todos sabem que se estivesse no lugar, o que ele estaria fazendo. Eu não posso estar nesses momentos. E essas são as desculpas que eu deveria pedir para não estar juntos de vocês com outro capuz, lutando por nossos direitos, lutando por nossos irmãos, lutando pela liberdade de meu povo, do nosso povo, da nação Mapuche e pela liberdade de todos os povos oprimidos. Contra este regime capitalista, tirânico, opressor, colonial nestes lugares, latifundista, transnacional. E a melhor maneira de lembrar aqueles que caíram lutando é continuar lutando. Nem um minuto de silêncio por nossos caídos, toda uma vida de combate.
Temos que expulsá-los. A mineração deve ser expulsa. As companhias petrolíferas devem ser expulsas. Temos que expulsar as usinas hidrelétricas, os proprietários de terras, o que for. Como seja. Com todas as formas de luta. E não por desmerecer as manifestações pacíficas, mas sem menosprezá-las, isso não é suficiente. Nós devemos ir além sempre. Nós temos que ir mais longe. Porque senão vamos permanecer apenas na palavra. Não passarão! E então eles passam. Não passarão! E eles já estão dentro. E nós vamos e fazemos panfletos e um grafite, e com isso não ganhamos nada. Temos que expulsá-los realmente. Temos que fazer o que precisa ser feito. Porque caso contrário as mortes de nossos peñis, de nossos companheiros serão em vão. Não precisa ser em vão. Nenhum dos que vão lutar e podem morrer, nossas mortes e de qualquer um não pode ser em vão. Nem a entrega, nem a prisão devem ser em vão. Não se podem entregar as lutas assim. Temos que continuar lutando até alcançarmos esse mundo que todos ansiamos.
Desta forma, muita força para todos os peñis, as lamien [companheiras], os companheiros como eu disse. Pela memória rebelde de Santiago com capuz. Pela memória rebelde do peñi Rafa. Pela memória de Lemún, Catrileo, de Mendoza Collío. Dos mortos pelo gatilho fácil, nos bairros. Pelos mortos do gatilho fácil do latifúndio nos campos. Por todos os nossos desaparecidos, por todos os nossos torturados. Por todos os nossos filhos que passam fome. Por todas as prisões que tivemos que viver desde que nós mesmos éramos pequenos. Por todas essas humilhações, por todas as crueldades desse sistema opressivo. Marichi We [venceremos]!
Tradução > Liberto
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