A pequena sabotagem que realizamos nesta madrugada de 11 de dezembro tem sua origem em uma pessoa: Sebastián Oversluij Seguel, Angry como carinhosamente o chamávamos em nossa intimidade subversiva, foi um companheiro insurrecionalista e membro ativo desta organização.
Angry contribuiu em inumeráveis projetos revolucionários, levantando instâncias de discussão, bibliotecas de bairro (onde o conhecimento é disponibilizado a qualquer pessoa interessada), optou por uma dieta vegana (livre de tortura animal), apoiou tocadas onde reuniam fundos em solidariedade com xs presxs políticxs e xs perseguidxs, propagou ideias libertárias e antiespecistas em muitos lugares por onde andou. Colaborou em jornadas de agitação, espalhando propaganda, armando barricadas, colando cartazes, presente em marchas, levantando hortas, criando canções, pintando, desenhando, e, claro, sabotando o normal funcionamento de uma ou outra instituição repressiva. Esse era nosso irmão.
Hoje atacamos uma agência bancária da imunda instituição que o viu morrer. Fizemos com pólvora negra comprimida e ANFO [explosivo produzido pela mistura de hidrocarbonetos líquidos, com nitrato de amônio], era o que tínhamos em mãos. Fizemos em sua honra. É um gesto genuíno de lealdade à sua memória guerreira. Colocamos nossa carga explosiva na Av. Apoquindo #4660, na agência do BancoEstado que fica lá, mais do que pelas condições que o lugar apresenta, pelo conteúdo político da região que o rodeia.
E é precisamente, a menos de um quarteirão do nosso objetivo, se encontra a Escola Militar, lugar destinado a fabricar a elite dxs sicárixs de tempo integral, verdadeirxs pelegxs do Capital e potenciais genocidas como o cão bem morto de Manuel Contreras Sepúlveda [ex-chefe da DINA, polícia secreta do Chile durante a ditadura de Augusto Pinochet, foi condenado a 25 penas consecutivas, totalizando 289 anos de prisão por sequestros, desaparecimentos forçados e assassinatos]. Neste lugar se escondem alguns dos comandos que, por ordem hierárquica, seriam os chefes do assassino do nosso irmão.
Devemos recordar que William Vera, que foi o executor da morte de nosso querido companheiro, é um reservista do Exército, e foi esta instituição que lhe capacitou na arte de matar (se é que podemos chamar assim) – já que não aprendeu este “ofício” por conta própria -, dando-lhe todo o apoio logístico, material, intelectual e econômico para fazer do desclassificado sem cérebro, um efetivo soldado à ordem da burguesia.
Assim, nosso soldadinho de chumbo, amparado por toda a mega-estrutura do Exército, foi aperfeiçoado até tornar-se um verdadeiro rambo ao serviço dxs ricxs. No entanto, sendo esta instituição financiada pelo Estado, e tendo um forte laço entre a Defesa Nacional e a Economia, os mandos desse inseto não têm nada melhor do que colocar nele, um fantoche fora da sua carreira militar, para cuidar dos interesses da banca.
É assim que a bactéria de William Vera chega a seu patético posto de vigilante de bancos (especificamente como guarda do Banco Central). Enquanto nosso irmão viveu a vida lutando contra as injustiças deste mundo, este imbecil lambe botas tentava ser um bom menino.
Em 11 de dezembro de 2013, os caminhos de ambos se cruzam. Um, fazendo uma substituição de circunstâncias estranhas numa pequena agência de Pudahuel, o outro, tentando golpear os interesses do Estado através de uma expropriação bancária. Naquela manhã, nosso irmão morre no meio de um enfrentamento armado contra o vigilante privado da agência do BancoEstado. O guarda o assassina com 6 tiros quando nosso irmão se encontrava ferido e no chão. Foi um assassinato onde você olha para ele. Lá encontrou a morte, tentando roubar xs ricxs e poderosxs deste país.
Lembrar daquela manhã nos destroça a alma. E é que nós não somos soldadxs incapazes de sentir, somos revolucionárixs, e perder umx dxs nossxs nessas circunstâncias nos afeta profundamente, até hoje. Especialmente porque sabemos que companheirxs como Angry são poucxs. Por isso nos dói, porque sabemos que a perda foi imensurável.
Angry não morreu roubando qualquer lugar. Não era um simples criminoso como tentaram chamar em seu minuto. O Capital, através de todo seu aparato midiático, tentou por todos os meios possíveis esvaziar suas ações. No entanto, há algo inegável: O companheiro morreu com seu olhar fixado no inimigo histórico dxs pobres e marginalizadxs da sociedade, e isso deve sacudir a tristeza e a dor que possa acarretar sua morte.
Porque se pensa que a relação entre o BancoEstado e milicxs eufóricxs começa e termina em vigilantes de bancos e tiroteios, é que se desconhece a profunda simbiose que há entre ambas podres instituições.
Para começar, deve-se saber que o Exército do Chile é financiado, precisamente, através do BancoEstado, por meio de quatro contas correntes identificadas com os números 9017674, 9023771, 12973 e 108024500, as que recebem 10% das vendas totais da Codelco [empresa estatal de mineração de cobre], justificando este privilégio na famosa Lei Reservada do Cobre, que tem sua origem sob a ditadura do gambé Carlos Ibáñez del Campo, que apenas 5 anos depois de fundar o “banco de todos os chilenos” (1953) promulga esta lei, com a qual injetam somas importantes de dinheiro para a família militar.
A partir daí, fica evidente sua relação.
De fato, é sabido que as forças armadas ostentam importantes privilégios em busca da defesa do Capital. Começando porque seu sistema de seguridade social é completamente diferente do resto da população civil, que é cotado sob o regime da AFP [Administradora de Fondos de Pensiones, instituição privada que funciona desde a década 80]; esses lixos recebem suas aposentadorias da Dipres [Dirección de Presupuestos é um organismo estatal chileno], o que aumenta consideravelmente seus valores. Embora a maioria dxs trabalhadorxs deva acumular grandes somas de dinheiro para a velhice (que, a propósito –e através de diversos mecanismos- são roubadxs, deixando pensões miseráveis), xs ex-uniformizadxs recebem uma contribuição fiscal de 90%, enquanto apenas 10% são retirados de suas próprias contribuições. Esses 90% saem de uma das contas do BancoEstado.
Traduzindo esses dados para números reais, por exemplo, para um oficial aposentado, sua pensão seria em média de 866 mil pesos [por volta de 4.330 reais], enquanto a de um trabalhador em igualdade de condições seria em média de apenas 190 mil pesos [por volta de 950 reais]. Uma desigualdade que não se encaixa em nenhuma lógica.
Outro benefício que essxs bastardxs têm é o da Montepío, que permite que filhas solteiras de aposentadxs dos três braços das Forças Armadas, dxs Carabinerxs e da Gendarmería, herdam pensões por toda a vida quando morrem seus pais. Uma loucura, certo? Se isso não é o Patriarcado em sua mais podre manifestação, então o que é?
E ainda não mencionamos outros luxos destinados axs “valentes soldadxs”. Campos de futebol, tênis, piscinas, casas para recreação e veraneio, hospitais com a mais alta tecnologia, veículos, helicópteros, condomínios para elxs e suas famílias, créditos de consumo com baixa taxa de juros, treinamentos gratuitos, viagens, roupas, segurança, sistemas de comunicação, etc, etc, etc.
Todos esses privilégios (e muitos mais) são financiados através das contas secretas mantidas pelo Exército no BancoEstado. Além do mais, uma das particularidades mais chamativas deste fundo econômico oculto é que são poucxs xs que sabem quantos bilhões de dólares ele contém, onde é investido ou exatamente no que é gasto.
Tanto que, mesmo para outras instituições estatais como o Tesouro Geral da República ou o próprio Congresso, essas informações são mantidas vetadas, impossibilitadas de acessar a revisão de seus gastos nem as faturas geradas pelos conceitos de aquisição.
O que se sabe com certeza é que, a partir daí o dinheiro é depositado em contas correntes ou em títulos, conforme apropriado. O gasto desses recursos não teria valores máximos ou mínimos, e sua supervisão seria exclusivamente destinada ao departamento financeiro da instituição (que é administrada pelos próprios elementos do Exército).
Com uma política dessa natureza, há pouco margem para a transparência e, com isso, uma inspeção mais completa, dando espaço a cenários tremendamente corruptos, dos quais nosso glorioso Exército do Chile tem um conhecido prontuário.
Ilustrativo é o caso dos Pinocheques, quando em 1989 o ditador Augusto Pinochet assinou três cheques de cerca de três milhões de dólares (provenientes dos fundos do Exército) para comprar uma empresa pertencente a seu próprio filho. Enquanto o caso foi “investigado”, as pressões do Exército -que incluíram uma série de bonanças a Patricio Aylwin e piqueniques em frente da Punta Peuco [presídio localizado na Região Metropolitana de Santiago onde estão presos militares aposentados e ex-agentes do Estado condenados por casos de violações dos Direitos Humanos durante a ditadura]- conseguiram que em 1995 durante o governo de Eduardo Frei Ruiz-Tagleel caso fosse encerrado por “razões de Estado”, como argumentou o ex-mandatário democrata-cristão na época.
Mas tem mais. Há também o Caso Leopard, quando alguns oficiais inflaram os valores de cada um dos 200 tanques Leopard I-V que o Exército compraria, subtraindo mais de 298 mil dólares em julho de 1998.
E como esquecer o Caso Fragatas, que envolveu a venda irregular de armas e suprimentos à Marinha e ao Exército, respectivamente.
Mas definitivamente a cereja do bolo é o Milicogate, onde a fraude consistia no uso de boletos e faturas falsas para extrair o dinheiro, mediante a compra de material bélico inexistente. O dinheiro pertencia a saldos excedentes de, por exemplo, variações do peso chileno para o dólar estadunidense, onde eram emitidas faturas por serviços não prestados por fornecedores do Exército. Finalmente, o montante do desfalque ascendia a mais de 5,4 bilhões de pesos [por volta de 27 milhões em reais], nas palavras de um dos envolvidos “Gastaram em cassinos, propriedades, cavalos e festas” (desconsiderando a sua responsabilidade e culpando um subordinado –nada estranho vindo dxs “valentes soldadxs”-).
Estes são apenas alguns exemplos (já que há muitos mais), da corrupção que, amparada na horda de assassinxs de aluguel, coabita com o banco de “todos os chilenos”.
Assim, atacando o BancoEstado, estamos atacando diretamente um dos principais canais de financiamento usados pelo Exército e a horda de assassinxs, corruptxs e privilegiadxs que há em seu interior. Portanto, mais do que justificado, o ataque a esse antro se faz estritamente necessário!
Por todos esses motivos que os atacamos.
No entanto, e apesar do fato de as principais razões do nosso ataque estarem explicadas nos parágrafos anteriores, não poderíamos deixar de brindar ao saber que, apesar de ter tentado, nosso artefato explosivo também atingiu (mesmo que levemente) o edifício corporativo da Copesa, cúmplices e encobridores não só da mentira que instalaram como verdade sobre a morte de nossxs irmãxs através de seu principal jornal, mas também a infinidade de calúnias que foram levantadas contra nossxs companheirxs, seus entornos e projetos, sendo xs jornalistas que trabalham neste lugar simples fantoches dos interesses de Álvaro Saieh e companhia.
Não queremos terminar estas palavras sem antes enviar saudações cheias de vitalidade insurrecional a dois valiosos companheiros que, em seu passado recente, também souberam confrontar milicxs insanxs. Nos referimos a Juan Aliste Vega e Marcelo Villarroel Sepúlveda, presos subversivos e revolucionários condenados após o midiático Caso Security, com provas nascidas e manipuladas sob rigorosa suspeita da jurisprudência militar após o assalto a um centro de acumulação de riquezas (Banco Security) em 2007. Tanto no passado como na atualidade, enfrentaram dignamente a vingança do aparato econômico e militar do Estado do Chile. Força companheirxs: são exemplo de luta tanto dentro como fora dos muros das prisões!
A sabotar o aparato financeiro e militar do Capital!!
A multiplicar os ataques aos Centros de Poder!!
Presxs Políticxs em Guerra nas Ruas!!
Enquanto houver Miséria, haverá Rebelião!!
Sebastián Oversluij Presente!!
Círculo Iconoclasta Michelle Angiolillo
Núcleos Antagônicos da Nova Guerrilha Urbana
PDF: https://325.nostate.net/wp-content/uploads/2018/12/BE-2.pdf
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Matsue Shigeyori
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!
Um puta exemplo! E que se foda o Estado espanhol e do mundo todo!
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