Maria Lacerda de Moura, filha de pais espíritas e anticlericais, nasceu em Manhuaçu, no interior de Minas Gerais, em 1887, mas cresceu na cidade de Barbacena. Lá, formou-se professora pela Escola Normal Municipal de Barbacena e iniciou sua trajetória em defesa da alfabetização no país, principalmente através de reformas educacionais.
Logo depois começou a publicar crônicas em um jornal local. Tendo em vista que, no período, as mulheres eram destinadas ao espaço doméstico, Maria Lacerda foi criticada por sua família e pessoas próximas por estar exercendo um papel público fora da realidade feminina. De acordo com Míriam Leite, na biografia Outra Face do Feminismo: Maria Lacerda de Moura, seus familiares constantemente pediam a ela “mais moderação”.
Maria Lacerda se identificava com movimentos pela educação, que miravam um processo de modificação na sociedade. Era adepta da doutrina da não violência e converteu a educação em seu processo de luta social. Adotou o discurso e prática pedagógica dos anarquistas, sendo contra a ideologia dominante da época.
Em 1918, essa percepção ficou ainda mais evidente. Sua preocupação era com a condição feminina e com as maneiras de transformá-la. Procurou resolver o problema dos menores abandonados em Barbacena, despertando o interesse das alunas para a população carente.
Lacerda considerava a escola da época como um “instrumento reacionário do passado conservador e rotineiro”, “inimiga da civilização de liberdade e continuadora da escravidão feminina”. Ela acreditava que a educação feminina estimularia as mulheres à participação social, rompendo sua reclusão.
Depois divulgou as iniciativas associativas de alguns movimentos feministas de que tinha notícia pelos periódicos das cidades maiores. Em 1919, em uma viagem ao Rio de Janeiro, ela conheceu a bióloga Bertha Lutz, que chegara de um temporada de estudos em Paris e pregava o direito ao voto feminino. Lutz iniciou um movimento com as ideias sufragistas e, junto com Maria Lacerda de Moura, fundou a Liga pela Emancipação Intelectual da Mulher.
Mas por notar o caráter demasiadamente burguês e excludente das pautas defendidas pela Liga – como a inserção do estudo da História da Mulher no currículo básico escolar -, afastou-se do movimento sufragista e também do feminismo, que já considerava esvaziado de seu sentido original.
“A palavra ‘feminismo’, de significação elástica, deturpada, corrompida, mal interpretada, já não diz nada das reivindicações feministas. Resvalou para o ridículo, numa concepção vaga, adaptada incondicionalmente a tudo quanto se refere à mulher. Em qualquer gazela, a cada passo, vemos a expressão ‘vitórias do feminismo’ – referente, às vezes, a uma simples questão de modas”, elaborou, em 1928.
A consciência se intensificou a partir de 1921, quando foi viver em São Paulo e viu de perto as condições de trabalho e de vida do proletariado. Do espanto, veio o envolvimento mais intenso com ideologias de esquerda, em especial o anarquismo. Dentro da imprensa operária, escreveu em publicações anarquistas importantes como o jornal A Plebe e a revista Renascença, além de outros jornais independentes e progressistas como O Combate e O Ceará. Nestes textos, Lacerda falava principalmente de pedagogia e educação, mas não deixava de denunciar a opressão sofrida por mulheres e crianças.
Por suas ideias, foi amplamente criticada principalmente em publicações pró-fascismo, mas também defendida por estudantes de esquerda e até por grandes nomes, como a romancista Rachel de Queiroz. Mesmo após a sua morte, em 1945, Lacerda não entrou para a história oficial. E mesmo em outras esferas, como no feminismo, pouco se fala sobre ela. Entretanto, é inegável sua importância para a educação e o feminismo no Brasil.
agência de notícias anarquistas-ana
Sem ter companhia,
E abandonada no campo,
A lua de inverno.
Roseki
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!