Após um 2020 catastrófico para a imprensa anarquista com a trágica morte de Paolo Finzi e o consequente fechamento da “A-Rivista anarchica”, 2021 e este início de 2022 estão nos mostrando uma efervescência editorial encorajadora com o nascimento (ou renascimento) de três periódicos.
EMMA
Em março de 2021, vimos a primeira edição da revista semestral EMMA ser lançada. Culturas e Pensamentos Libertários. O título é uma homenagem declarada à anarquista Emma Goldman. Carlotta Pedrazzini no editorial “Resistindo ao deserto” traça o programa do novo projeto editorial: “abordar, por meio de amplas análises, os problemas de nosso tempo, mantendo elevada atenção crítica ao poder, às derivas autoritárias, às injustiças. Com o objetivo de tentar fornecer ferramentas para a interpretação de um contexto sociopolítico que rejeitamos e que queremos mudar”.
Os gráficos são de altíssimo padrão (nº 2 não falta uma história em quadrinhos), as páginas oscilam entre 82 da primeira edição e 118 da segunda (setembro), o preço – alto – é de 16 euros. Na escolha dos artigos, Carlotta volta a escrever: “é possível ver fios vermelhos percorrendo todas as contribuições. Apesar de sua diversidade, os escritos […] trazem à tona a dinâmica de exploração implementada pelas elites do poder e a vontade perene de governos e igrejas de punir, rejeitar, eliminar aqueles que não são considerados funcionais ou complacentes, bem como a crescente recorrendo ao controle social e ao centralismo para resolver crises e problemas“.
Entre as colunas “fixas” encontramos em cada número um “retrato” de uma mulher anarquista, até agora Louise Michel e Virgilia D’Andrea, mas esperamos ver em breve nomes menos conhecidos na Itália, como Amparo Poch y Gascón ou Teresa Mañé Miravet (mas como as mulheres anarquistas são realmente mimadas!), encontramos então um “glossário“ que analisa um conceito significativo (antimilitarismo e ecologia social), um conto de Paolo Pasi, a resenha de um livro significativo, a apresentação de uma experiência de autogestão (o Gato Preto na área baixa de Modena e o Scighera em Milão), a reconstrução de um evento histórico… Os artigos são curtos (mas não superficiais), em linguagem simples e em geral a revista é certamente útil para favorecer a difusão de ideias libertárias entre um público não militante.
Editora Prospero, assinatura anual de www.emmarivista.org 30,00 Euros (a terceira edição será lançada em breve).
Connections
Neste caso, não é uma novidade, mas um feliz retorno. Link para a Direct Class Organization é publicado (com várias interrupções) desde 1977. Desde 1983 adotou o título de “Wobbly Links”. Gato Soriano e Cosimo Scarinzi em refazendo, no n. 2, a história do periódico (a partir do boletim de mesmo nome que o precedeu de 1973) observa que em suas origens há “um trabalhista […] crítico de todas as formas de organização percebidas como externas à classe, tanto em termos de político que em sindical […] não é por acaso que as raízes desta hipótese são identificadas nos eventos da Primeira Guerra Mundial”, embora sejam “os camaradas que dão vida a esta experiência de liberdade formação em sentido amplo, é uma fundamentalmente diferente daquele típico do movimento anarquista, a ponto de, de certa forma, até ser considerado “estranho” aos mitos fundadores do movimento anarquista daqueles anos […]”. As lutas autônomas dos trabalhadores, o conflito de classes estão, portanto, desde o início no centro da elaboração: “É um ambiente que não se reconhece na oposição canônica marxismo-anarquismo, também porque o Marx referido é o comunista alemão-holandês de esquerda (Korsch, Pannekoek, Gorter, Mattick e a própria Rosa Luxemburgo), portanto o Marx dos concílios“.
Os editores, em sua maioria ativamente engajados nas diversas instâncias do sindicalismo de base, decidiram dar vida a uma nova série da revista pela “necessidade de uma reflexão mais profunda e sistemática do que a militância cotidiana”. Nesse caso, optamos por cortar custos focando em uma edição pdf que pode ser solicitada gratuitamente em connectionswobbly@gmail.com ou lida diretamente online [1]. Um número limitado de cópias é impresso, podendo ser obtido por pouco mais do que o custo de impressão.
Connections é semestral e em 2021 foram duas edições (além de um caderno especial sobre o México de Claudio Albertani e Fabiana Medina, a terceira edição está para breve) [2]. Os artigos são encorpados e explicitamente destinados a servir de ferramenta nas lutas cotidianas, aparecendo assim voltados para um público de militantes. Em cada número encontramos análises (o estado do conflito de classes, a destruição da liberdade sindical, o PNRR…), insights sobre as várias situações de luta italianas e estrangeiras (Alitalia, GKN, as cooperativas Nichelino, os cavaleiros, Amazon no Alabama, os mineiros na Ucrânia, a rebelião no Cazaquistão…), artigos históricos (Carlotta Orientale, a Câmara do Sindicato do Trabalho de Livorno 1920-22…), resenhas de livros e revistas.
SEMI SOTTO LA NEVE
Recém-saída da imprensa é a primeira edição da Semi Sotto la Neve (Sementes Sob a Neve), revista Libertária. Quadrimestral, formato livro, 106 páginas, um grafismo “branco” e limpo que lembra a neve do título, imagens lindas e essenciais. A redação escreveu: “com a expressão “sementes sob a neve” (cunhada por Ignazio Silone e retomada conceitualmente por Colin Ward) pretendemos oferecer aos nossos leitores uma renovada interpretação do pensamento anarquista, experiências libertárias e práticas mutualistas”; o objetivo é, portanto, “reforçar a dimensão construtiva, positiva e experimental de uma tradição social, política e cultural que reconhecemos como antiautoritária e solidária”, apresentando experiências práticas de organização libertária que, sem triunfalismo, podem prefigurar um modelo diferente de sociedade. O pensamento anarquista é, portanto, relido de forma crítica e autocrítica, comparando-o e contaminando-o “com outras expressões culturais que guardam um impulso propulsor na direção de uma efetiva emancipação social e humana”.
O primeiro número apresenta três dessas “sementes sob a neve”: uma experiência no ambiente escolar (Saltafossi, Bolonha), uma aldeia ecológica (Granara, Parma) e a Edícula 518 (Perugia). A estrutura da revista inclui então seções fixas de “Insights” (um espaço mais teórico mas sempre com uma vertente proativa, neste número lemos reflexões sobre liberdade e problemas de gênero agravados pela pandemia), “Internacional” (a tradução de artigos e ensaios, neste caso “Sobre o conceito de prefiguração no campo anarquista” de Tomás Ibáñez), “Conversas” (diálogos com pessoas ou grupos considerados relevante, neste número Paolo Cognetti, escritor e viajante), “Raízes” (perfis de pensadores, neste caso Kropotkin e Bookchin) e “Resenhas”.
Uma cópia custa 6 euros, a assinatura mínima é de 15,00 euros (30,00 ou mais recomendado), semisottolaneve@riseup.net cada número estará disponível online gratuitamente após a publicação do próximo.
Neste contexto trágico, em que passamos sem problemas das políticas de segurança geradas pela gestão da pandemia para a guerra, são muito úteis e necessárias novas ferramentas de reflexão em diferentes frentes, pelo que desejamos o maior sucesso às novas revistas.
Mauro De Agostini
NOTA
[1] https://issuu.com/collegamentiwobbly
[2] Ver Mauro De Agostini, “Notas sobre o México. Quando e por que um país foi ferrado”, https://umanitanova.org/note-sul-messico-quando-e-perche-si-e-fottuto-un-paese/
Tradução > GTR@Leibowitz__
agência de notícias anarquistas-ana
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Sabiá-laranjeira
Neiva Pavesi
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!