Um dia escuro para todo o movimento anarquista e para nossa organização em particular.
19 de abril de 2023, perto de Bakhmut na Ucrânia, nosso amigo, um dos fundadores e participante ativo da Organização de Combate dos Anarco-Comunistas (BOAK), Dmitry (Dima) Petrov, foi martirizado lutando pela liberdade.
Díma é um anarquista de longa data e consistente. No movimento era conhecido como “Ecolog” mas sua atividade não se limitava à defesa do meio ambiente.
Ele participou da defesa do Bitsa Park em Moscou, no “Food not bombs”, lutou contra a criação de aterros e contra a construção de incineradores, pelos direitos dos trabalhadores nas fileiras do sindicato anarquista MPST e contra a brutalidade policial.
Ele participou do movimento antifascista e lutou contra os nazistas nas ruas de Moscou e outros lugares. Participou dos protestos na Praça Bolotnaya em Moscou 2011, em Maidan no Kiev em 2014, na Bielorrússia em 2020.
Ele publicou e traduziu literatura ativista.
Participou em expedições etnográficas e doutorou-se em História.
Isso daria para dez ativistas, mas Dima não se limitou aqui.
Dima esteve na base do movimento partisan anarquista no final dos anos 2000. E continuou participando todos os dias desde então. “Vingança do povo”, “ForNurgaliev”, “Ação AntiNashi*” – todos esses grupos não operavam sem a sua participação. E sim, claro, Dima foi um dos fundadores do famoso Black Blocg** e participante ativo de todas as suas ações. Incluindo a explosão do posto da polícia de trânsito no km 22 do anel viário de Moscou em 2011.
Ao mesmo tempo, Dima não se dedicou apenas à prática revolucionária. Ele também desenvolveu a teoria anarquista. Parte significativa da programação e dos textos teóricos do Black Blog e do BOAK foram escritos por ele ou com sua participação.
Como revolucionário, Dima era internacionalista. Ele lutou contra a atrocidade da opressão em todos os lugares, as fronteiras não o impediram. Além das atividades na Rússia, Ucrânia e Bielorrússia, ele foi para Rojava e lá treinou, participou da luta de libertação do povo curdo.
Em resposta à invasão de Putin na Ucrânia, ele se juntou ao Comitê de Resistência para lutar contra a agressão com armas nas mãos. Mais tarde, ele participou da batalha da linha Svatove–Kreminna.
Em tudo o que fez, agiu com total dedicação. Ele não viveu, mas queimou.
Sua façanha é imortal. Seu caso é eterno.
Ainda não compreendemos completamente essa perda. Não conseguimos encontrar as palavras certas para perceber que pessoa ele era. Todos devem se esforçar para ser esse tipo de pessoa. Mas vamos tentar encontrar e trazer essas palavras. Enquanto isso, publicamos a mensagem de Dima que ele deixou quando foi para o front:
Meu nome é Dmitry Petrov e, se você está lendo estas linhas, provavelmente morri lutando contra a invasão de Putin na Ucrânia.
Sou membro da Organização de Combate dos Anarco-Comunistas (BOAK) e continuarei assim após minha morte. O BOAK é uma criação nossa, nascida de nossa crença em uma luta organizada. Conseguimos carregá-lo em diferentes lados das fronteiras do estado.
Dei o meu melhor para contribuir para a vitória sobre a ditadura e para aproximar a revolução social. E estou orgulhoso de meus camaradas que lutaram e lutam na Rússia e além.
Como anarquista, revolucionário e russo, achei necessário participar da resistência armada do povo ucraniano contra os ocupantes de Putin. Fiz isso pela justiça, pela defesa da sociedade ucraniana e pela libertação do meu país, a Rússia, da opressão. Pelo bem de todas as pessoas que são privadas de sua dignidade e da oportunidade de respirar livremente pelo vil sistema totalitário criado na Rússia e na Bielorrússia.
Outro sentido importante para participar desta guerra é aprovar o internacionalismo pelo exemplo. Nos dias em que o imperialismo mortal desperta, como resposta, uma onda de nacionalismo e desprezo pelos russos, defendo por palavras e atos: não existem “povos maus”. Todos os povos têm a mesma dor – governantes gananciosos e sedentos de poder.
Não foi apenas minha decisão e passo individual. Foi uma continuação de nossa estratégia coletiva voltada para a criação de estruturas sustentáveis e combate de guerrilha no confronto com os regimes tirânicos de nossa região.
Meus queridos amigos, camaradas e parentes, peço desculpas a todos aqueles que magoei com minha partida. Eu aprecio muito o seu calor. No entanto, acredito firmemente que a luta pela justiça, contra a opressão e a injustiça é um dos significados mais valiosos com que o ser humano pode preencher sua vida. E esta luta requer sacrifícios, até o completo auto-sacrifício.
O melhor memorial para mim é se você continuar lutando ativamente, superando ambições pessoais e conflitos prejudiciais desnecessários. Se continuar a lutar ativamente para alcançar uma sociedade livre, baseada na igualdade e na solidariedade. Para você e para mim e para todos os nossos companheiros. Risco, privação e sacrifício neste caminho são nossos companheiros constantes. Mas tenha certeza – eles não são em vão.
Eu abraço todos vocês.
Seu Ilya Leshy, “Seva”, “Lev”, Fil Kuznetsov,
Dmitry Petrov
*Nashi (“Nosso”) foi um movimento juvenil pró-Putin na Rússia, fundado em 2005.
**Black Blocg era uma plataforma de mídia e rede que conectava militantes anarquistas no espaço pós-soviético.
Fonte: https://boakeng.noblogs.org/post/2023/04/27/our-comrade-dmitry-petrov-died-fighting-for-freedom-in-ukraine/
Tradução > Contrafatual
agência de notícias anarquistas-ana
silêncio
o passeio das nuvens
e mais nenhum pio
Alonso Alvarez
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!