[Chile] Palavras dos prisioneiros anarquistas e subversivos em luta nos cárceres chilenos, Julho 2023.

Falam Mónica, Francisco, Joaquín, Juan e Marcelo.

– Nossas ênfases, desafios e urgências.

– Há 50 anos do golpe cívico militar de Pinochet sua herança jurídica permanece de modo vergonhoso nas grandes condenações da justiça militar para o companheiro Marcelo Villarroel.

– Frente ao começo do julgamento do poder contra dois companheiros, Mónica Caballero e Francisco Solar, a vingança do domínio não se detém contra os que passam à ofensiva atacando sua intocável impunidade.

Desde que nos constituímos como espaço de afinidade coletiva, faz 3 anos já, entre companheiros prisioneiros da guerra social em luta e resistência no interior dos cárceres do Estado chileno, definimos que nossa prioridade estava, e está, em buscar a rua como ponto de ruptura com a cotidiana normalidade do existente e sua sociedade carcerária, que nos encerra como castigo a nossa irrenunciável decisão de combate pela liberação total.

Neste caminhar e encontro indissolúvel de anarquistas e subversivos antiautoritários, que são o reflexo vivo da luta revolucionária através de práticas de violência minoritária no Chile das últimas décadas, assumimos com integridade e convicção nossa longa estadia atrás das grades nos diferentes momentos e lugares por onde nos coube transitar. É por isso que com a necessária clareza que nos exige nosso posicionamento de vida em luta hoje queremos compartilhar nossas ineludíveis urgências, e desde aqui o chamado à mobilização permanente, à solidariedade ativa, à cumplicidade Insurreta.

1- Sobre a situação do companheiro Marcelo Villarroel Sepúlveda detido na Argentina em março de 2008 que já está há quase 16 anos, completando 29 anos de prisão em 3 diferentes períodos temos sido claros e insistentes: hoje é um refém da razão de Estado e não um prisioneiro do estado de direito que o próprio poder diz defender.

Lhe aplicam enormes condenações, que ascendem a mais de 46 anos, emanadas desde a justiça militar de Pinochet do Chile transicional de princípios dos anos 90 por diversas ações armadas como ataques e perseguições à polícia torturadora da época, ataque explosivo à embaixada da Espanha no contexto dos 500 anos da invasão colonial europeia, recuperação e distribuição de caminhões de alimentos a populações e assaltos bancários no contexto de sua antiga militância no extinto grupo de guerrilha urbana Mapu-Lautaro.

A validade atual destas condenações só é possível como resultado da manutenção do aparato jurídico da ditadura e da silenciosa modificação, em princípios de 2019, do decreto-lei 321 de liberdades condicionais que mudou seus tempos de cumprimento e que permitiu que a Gendarmeria tivesse carta branca desde o Ministério da Justiça do governo de Piñera para implementar esta aberração jurídica, já que o Estado chileno aplica ilegalmente esta modificação de modo retroativo contrariando o direito penal internacional que dizem defender e igualmente, com posterioridade e sob a atual administração do governo de Boric, as Cortes de Apelações e Suprema e o Ministério Público através de seus democráticos juízes e promotores defenderam explícita e abertamente, e sem nenhuma vergonha, através de decisões recentes, a justiça militar de Pinochet evidenciando o verdadeiro caráter socialfascista do Estado chileno e dos que o defendem, sustentam e justificam.

2- Por outro lado hoje nossos companheiros anarquistas Mónica Caballero Sepúlveda e Francisco Solar Domínguez, detidos em julho de 2020, são acusados do ataque explosivo simultâneo à 54ª delegacia da zona norte de Santiago e ao ex Ministro do Interior do primeiro governo de Piñera Rodrigo Hizpeter e o atentado com bombas ao bairro endinheirado de Santa María de Manquehue na zona oriente de Santiago em pleno período de Revolta.

Em dezembro de 2021 Francisco assume a direta responsabilidade de todos os ataques, reivindicando politicamente cada uma das ações.

No próximo 18 de julho enfrentam o começo do julgamento onde o poder busca sepultá-los por décadas de prisão. A petição de condenações por parte do Ministério Público correspondem a 129 anos para Francisco e 30 anos para Mónica.

A decisão de luta dos companheiros foi devolver os golpes acabando com a impunidade dos repressores, situando-se na clara e antiga tradição revolucionária e particularmente anárquica que buscou pelas próprias mãos destruir o monopólio da violência do Estado e a tranquilidade daqueles que desde seus postos de poder comandaram as mais brutais e sistemáticas incursões repressivas.

3- Também é preciso atualizar a situação dos companheiros Joaquín García Chancks e Juan Aliste Vega.

Joaquín, prisioneiro anarquista, está há quase 8 anos encarcerado, condenado pela colocação de um artefato explosivo na 12ª delegacia de San Miguel, Santiago, junto com Kevin Garrido (companheiro assassinado na prisão em novembro de 2018) e porte ilegal de arma de fogo enquanto rompia a prisão domiciliar imposta pelo Poder. O companheiro se encontra já no tempo mínimo para aceder à Liberdade Condicional, de fato, já foi postulado, mas esta lhe foi negada, pela nefasta Área Técnica da Gendarmeria que, vale enfatizar, teve um papel determinante no acesso dos diversos benefícios depois da já assinalada aplicação da modificação ao DL 321 em janeiro de 2019, somando-se a isto o fato de que tecnicamente resulta impossível aceder a este ou outros “benefícios” intrapenitenciários enquanto se habita em um módulo de alta ou máxima segurança, o que põe a cada preso que se predisponha a buscar sua saída legal fora dos muros em um beco sem saída.

Juan, prisioneiro subversivo, também foi condenado, pela nefasta justiça militar de Pinochet no mesmo contexto de sua antiga militância no Mapu Lautaro na qual também purgou 12 anos de prisão, entre 1991 e 2003 da condenação de 18 anos de prisão por “maltrato de obra a carabineiro com resultado de morte”, fato nunca reconhecido, e que se dá em um cenário político social próprio da ditadura, causa pela qual ainda deve só uns meses.

Na atualidade cumpre condenação de 42 anos, dos quais cumpriu 13 anos e ainda não tem possibilidade concreta de postular a alguma saída e assim como Marcelo, Francisco e Joaquín a maior parte do tempo de cativeiro os viveu em regimes de alta e máxima segurança.

Claramente nunca tivemos confiança nos critérios de alguma instituição, menos a carcerária, o que não significa que, como ferramenta prática, estejamos dispostos a queimar todas as instâncias jurídicas que sejam necessárias na busca da saída da prisão de cada um de nós já que para isso sempre poremos nossa moral antagônica primeiro na balança rechaçando claramente qualquer manobra obscura que venha do domínio. Nunca mendigamos nada a ninguém, ainda menos ao Poder, sempre conscientes que o caminho tomado nos enche de são orgulho, damos cara à existência sem dar um passo atrás.

O chamado é a levantar iniciativas de solidariedade revolucionária tendo sempre presente que nossos companheiros se encontram presos por ações concretas contra a ordem estabelecida e seus defensores. E que a melhor maneira de solidarizar é continuar pelo caminho do conflito desde a autonomia e a livre vontade de grupos, individualidades e comunidades em luta contra o existente.

Redobrar os esforços desde o Internacionalismo Anticarcerário implica convocar também a todos os nossos companheiros e irmãos de luta distribuídos nos diferentes territórios e continentes do planeta, rompendo os sectarismos próprios dos que não viveram as experiências extremas do combate como a prisão, a clandestinidade ou a morte; aportando com generosidade desde as diversas capacidades e possibilidades e convocando do modo mais amplo possível a mobilização específica de solidariedade direta.

De imediato estamos às portas do julgamento contra Mónica e Francisco e é aqui onde a inquisição democrática do capital deve ter claro que não julga tão somente dois companheiros anarquistas de ação, senão a todos os afins que caminham no mesmo pulso do conflito.

Igualmente se aproxima setembro e no Chile completam 50 anos da insurreição burguesa que Pinochet encabeçou e é realmente repugnante o silêncio cúmplice de muitos que permite que ainda sobreviva a estrutura jurídico política da ditadura cristalizada nas condenações de Marcelo que caminhando pela senda da subversão autônoma e antiautoritária deixou mais da metade de sua vida atrás das grades.

Que o Estado chileno saiba que não há cárcere nem castigo capaz de acabar com histórias de vida em luta que de modo irredutível matem o punho erguido mais além dos vaivéns próprios da história e das renúncias, medos e comodismos dos que fogem do conflito.

Abraçamos com amor e cumplicidade a todos os prisioneiros anarquistas e subversivos antiautoritários nos cárceres do mundo que enfrentam com dignidade o confinamento, colaborando com as lutas reais com práticas concretas longe do nefasto vitimismo assistencialista e sempre próximo do posicionamento revolucionário.

Alfredo Cóspito, Anna Beniamino, Juan Sorroche, Poula Roupa, Nikos Maziotti, Thanos Xatziangelou, Claudio Lavazza, Gabriel Pombo da Silva, Tomas Meyer Falk para vocês todos nossos respeitos e proximidade real mais além dos quilômetros e grades que nos separam.

Nos enche de alegria a recente saída de Gabriel Pombo da Silva a quem saudamos com fraterna irmandade.

Aos companheiros presos no Chile do “Caso Gendarmeria” e “Caso Susaron”, aos peñi de luta, presos políticos mapuche.

Com todos os nossos companheiros mortos na memória e na ação retratamos em nossa eterna e amada companheira Luisa Toledo Sepúlveda toda a paixão por viver e o newen infinito por lutar.

Por Mónica e Francisco: solidariedade e cumplicidade com os que atacam os poderosos e repressores!

Por Marcelo e há 50 anos do golpe cívico militar de Pinochet: Anulação das condenações da justiça militar de Pinochet ainda vergonhosamente vigentes!!

Por Juan e Joaquín e todos os presos anarquistas e subversivos à rua!!

Morte ao Estado e viva a anarquia!!

Enquanto exista miséria haverá rebelião!!

Mónica Caballero Sepúlveda

Francisco Solar Domínguez

Joaquín García Chancks

Juan Aliste Vega

Marcelo Villarroel Sepúlveda

– Cárcere de mulheres de San Miguel Santiago.

– Cárcere empresa la gonzalina Rancagua.

Território ocupado pelo Estado chileno.

Julho 2023.

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Aconchegantes,
Os raios do sol de inverno —
Mas que frio!

Onitsura