Flecheira Libertária n. 763 | “Não há como “ressignificar” o terror do Estado.”

assimilados e uniformizados

A 28ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, a maior e mais rentável do planeta, convoca o/a/es participantes a trajarem uniforme verde e amarelo. Em comunicado oficial, a entidade que organiza o evento declarou que Madonna e Pabllo Vittar, durante apresentação no show em Copacabana, “ressignificaram” a bandeira nacional, supostamente “apropriada pela ala mais retrógrada da sociedade, aquela que utiliza o amor à pátria como um disfarce para propagar o ódio”. Mesmo dentro do binarismo judaico-cristão, amor x ódio, qual bandeira nacional não celebra o monopólio do uso legítimo da força pelo Estado? Desde essas terras, empunhar a bandeira pela “ordem e o progresso” é aplaudir os mais de 500 anos de massacres, genocídios e etnocídios, e clamar por sua continuidade. Inclusive, é sob o tremular dessa bandeira que incontáveis existências não-heterossexuais são violentadas, torturadas e executadas. A camisa da CBF é campeã “do mundo”, deste mundo que possui ranking dos Estados que mais matam pessoas trans e travestis. Não há como “ressignificar” o terror do Estado. Essa bandeira é de quem apoia todas essas violências. Qual a ala mais “retrógrada da sociedade”: os patriotas sanguinários que coerentemente se embrulham na bandeira do Brasil ou as minorias democráticas que desejam ser o mesmo que toda essa merda.

Deus (ou Cristo), pátria e família LGBTQIA+

Na disputa por protagonismo identitário, na mesma semana da Parada, mercadologicamente chamada de Semana do Orgulho LGBT, ocorrerão dois eventos anteriores: a Marcha Trans e a Caminhada de Lésbicas e Bissexuais de SP. Es organizadorus da Marcha aderiram à convocação patriótica. Arrebanhades, também, pela esquerda, alegam que Madonna e Pabllo Vittar ressignificaram a bandeira ao utilizarem-na em um “contexto de amor e tolerância, distante do autoritarismo e da depredação”. Autoritarismo dos outros, claro, o delus, sob a condução da esquerda e o cada vez mais severo policiamento identitário, não. (Na Marcha do ano passado, teve até pregação de pastor evangélico LGBT). Tal qual a meta da Parada, a Marcha clama por democracia, mais e melhor representação política e mais segurança. Já as organizadoras da Caminhada não aderiram ao coro e consideram as cores verde e amarela vinculadas “à extrema-direita e ao fascismo”. Embora também rezem pela cartilha da segurança e peçam justiça por lésbicas assassinadas. Este ano, relembram a execução de Luana Barbosa por polícias, em 2016, e de Carol Campêlo, brutalmente executada, não se sabe por quem, no final do ano passado. Para elas, fica o recado das anarquistas que agitam as ruas mexicanas: “me cuidan mis amigxs, no la policía”. Aos outres, que algo desafine seu coro de hino nacional e de louvores em meio à música pop.

>> Para ler o Flecheira Libertária na íntegra, clique aqui:

https://www.nu-sol.org/wp-content/uploads/2024/05/flecheira763.pdf

agência de notícias anarquistas-ana

As flores na árvore
Esperam de branco
O fruto

Eugénia Tabosa