Sábado 9 de novembro:
Mantendo viva esta fogueira que procura expandir a agitação anarquista na cidade, fomentando o encontro entre pessoas antiautoritárias e inquietas, difundindo livros e publicações, nos encontramos no salão da Escola de Samba Acadêmicos da Orgia. Nas paredes e no exterior do salão faixas e cartazes afirmavam o amor a liberdade e a revolta permanente contra tudo que quer pôr as mãos sobre nós para nos dominar e devastar a Terra. Nas bancas de materiais expostos as incitações a anarquia gritavam através de livros, fanzines, revistas, cartazes, camisetas, adesivos, alimento vegano e outras produções se fazendo sentir a presença de companheiros da região e de latitudes mais distantes.
Conjuntamente à XII FLAPOA ocorreu mais uma vez a Solidariedade à Flor da Pele, esta agitação de um dia de flash tattoo solidária com nossos compas presos. Rabiscando corpos insubmissos e cúmplices com aqueles que lutam contra o estado/capital e estão agora sequestrados nos presídios. As duas máquinas de tattoo de @marceloarakno e @Juwtattoostudio não cessaram seu ronco ao longo do dia até o último momento fechando o salão. Todo valor arrecadado (1.100 reais) com as tattoos e outras contribuições foram para nossos companheirxs Mônica e Francisco presos no Chile.
A feira abriu sua programação de atividades com a apresentação do zine Anarquistas na Palestina e a solução sem estado traduzidos pela Pandemia Distro que apresentou os textos que compõe a publicação em uma troca de ideia. Ainda pela manhã outro compa vindo do Rio de Janeiro puxou outra apresentação e debate: Internacional Anarquista e o Movimento Anarquista no Brasil.
O restaurante antiespecista Aurora nos brindou com alimento vegano farto e bem temperado nutrindo os corpos para as atividades da tarde. O salão e o pátio seguiram a receber e circular pessoas nas bancas e atividades que iniciou com a troca de ideia e incitação Atuar Anárquico em contextos de crise: Potencializar o colapso do projeto civilizador englobando junto a provocação Diante de cada encruzilhada nosso caminho é a Anarquia!, culminando em uma participativa conversa em roda. Ao longo da tarde a Oficina bolhas de sabão gigantes encantou todas gerações com o voo fugaz e as explosões das bolhas de sabão gigantes. Dando sequência a incitação e debate inicial foram apresentadas mais duas publicações e dois livros. Foda-se Black Friday traduzido e editado por Pandemia Distro, Esse colapso não é de hoje de Dani Eizirik/Jambalú, da Editora Riacho e os livros De Luto em Luta. Uma antologia de textos, poemas e contos de Louise Michel e Uma Casa Viva de Andrea Staid editados e apresentados pela editora Barricada de Livros de Portugal. Todas apresentações se desenrolaram com animadas trocas de ideias.
Um ambiente fraterno e afiado contra as expressões de autoritarismo gerou uma tarde de encontros e fomento das ideias e práticas anarquistas sendo a própria feira uma realização dessa disposição. O dia culminou com a troca de ideia Para nascer novos mundos é preciso abortar mundos não desejados trazendo um olhar “desde nossos ventres e nossa terra” com a verve de uma compa vindo do Uruguay. A última atividade foi um vídeo debate A expansão da fronteira digital: Agronegócio, agronegocinho e resistência camponesa ao avanço do capitalismo de vigilância, a atividade começou atiçando as memórias de quem participou construindo conjuntamente uma linha do tempo da agricultura com diversos fatos recordados, logo o vídeo foi projetado, finalizando com o debate em roda.
O dia passou voando, as atividades foram intermitentes, no cair da tarde e anoitecer nos despedimos com sorriso insubmisso.
Domingo 10 de novembro:
Como tem ocorrido a alguns anos o primeiro dia da feira, com um local fechado, se prioriza as trocas de ideias e apresentações de livros e publicações, e o segundo dia a realização da feira é na rua, na Praça do Aeromóvel em frente ao Gasômetro na beira do Rio Guaíba. Este movimentado local tem se afirmado nos últimos anos com uma feira anarquista mensal no primeiro domingo de cada mês ascendendo agitação anarquista na rua, na praça.
Mais uma vez foram montadas as bancas de literatura anarquista, sementes crioulas e outras produções e as faixas gritaram nosso sentir anárquico. Três atividades ocorreram no turno da tarde, uma Oficina de Bombas de Sementes, uma troca de ideia Trilhas de autonomia: Desde as serras, território explorado pelo estado uruguaio. O caminhar como fundamento da autonomia humana e por último a atividade Marcando a cidade onde uma compa ceramista confeccionou três azulejos com imagens e uma breve história de três eventos de ímpeto anárquico ocorridos em Porto Alegre. Num deles se destacava uma foto do protesto contra o relógio dos 500 anos sendo incendiado, noutro trazia um encapuzado junto ao relato dos protestos de 2013, o último estava impresso uma foto de quatro anarquistas russos que expropriaram uma casa de câmbio em uma importante rua central da cidade em 1911, os quatro foram assassinados e seus corpos expostos em um cortejo pelo centro. Logo da apresentação dos azulejos e uma breve contação dos causos de nossa memória subversiva realizamos uma caminhada pelo centro da cidade nos locais onde ocorreram os fatos intervindo com a fixação dos azulejos na paisagem urbana reivindicando nossa memória de luta e presença anárquica ao longo dos tempos.
Antes da despedida do sol a Crua soltou sua voz, versos e rimas acompanhada de violão e de bases de hip hop latindo revolta, uivando liberdade!
A FLAPOA não tem organização fixa estando aberta todos os anos a todas as pessoas antiautoritárias com vontade de fazê-la acontecer. Mais uma vez os cartazes nas ruas nos demonstraram sua vitalidade na comunicação trazendo pessoas que os viram colados por aí afora, é verdade que o controle da polícia municipal para manter as paredes brancas cresceu sua vigilância e punição, mas é verdade também que sempre podemos os driblar e fazer as paredes falarem. Nosso modo de fazer é o “faça você mesmo”, é a autonomia, sendo assim a participação dos anarquistas com propostas para a FLAPOA e sua presença é o que constrói a feira como um espaço fecundo de debates, incitações, projeções, o que mais uma vez conseguimos juntos expandindo o fogo da revolta.
Dezembro 2024
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!