
“De modo genérico, o anarquismo ácrata se caracterizaria por um investimento teórico em uma concepção de retomada firme da coerência com o caráter anti hierárquico do campo de pensamento anarquista, ante à emergência de visões de desnaturamento deste pensamento, que o identificam seja à direita seja à esquerda do espectro dos projetos políticos da modernidade (calcados no princípio hierárquico) – daí, a opção pela redundância da denominação, sobrepondo acracia a anarquia, como modo de demarcar fortemente o caráter anti hierárquico desta concepção; bem como se caracteriza pela opção por uma visão transformacionista do processo de mudança social – em detrimento das visões insurrecionistas/revolucionárias;reformistas/institucionalizantes;e/ouescapistas/heterotópicas -, ante à compreensão de que as macro tendências sistêmicas mundiais atualmente dominantes parecem apontar mais para a configuração de um processo progressivo de arruinamento globalizado do sistema e da própria “civilização”, do que para uma sonhada sublevação consciente e massivamente instituinte de uma nova sociedade, por parte da/os de baixo. Seu símbolo será o arroba invertido – “espelhado” – ladeado pelos dois traços verticais do A de anarquismo, sugerindo assim uma sobreposição de duas letras a’s (como arroba e como A), que remetem às iniciais do termo, além de, no conjunto, formar a silhueta do já tradicional símbolo do movimento libertário (o popular “a na bola”), bem como de remeter (pelo arroba invertido) à ideia de uma rebelião anti sistema que se vale de recursos tecnológicos para fazer a sua luta.
A aludida retomada firme da coerência com o caráter anti hierárquico do campo anarquista traduz-se como uma compreensão de que as formas e dinâmicas sociais organizativas ácratas, em suas expressões coerentes, caracterizam-se não por formatos estruturais traduzíveis pela geometria euclidiana e processos funcionais associáveis aos de fluxos mecânicos contínuos, mas sim, por expressões estruturais ao modo de unidades fractais multifacetadas e por funcionamentos do tipo reações em cadeia multidirecionais, compondo-se em quadros de conjuntos orgânicos desenvolvidos como recifes de corais (que se desenvolve por justaposição). Isto significa opor-se a paradigmas reprodutores de blocos de “UM”, por inspirações criadoras de tessituras de “uns”, concretizando-se em contextos sociais organizacionais ao modo de tapeçarias multicoloridas inteligíveis apenas pela afinidade entre seus motivos estéticos, do que por uma definível estrutura linear qualquer do conjunto. Entenda-se, pois, por isto, um avesso (e uma aversão) teórico e prático radical das concepções de “poder popular” – paradigma reprodutor de bloco de UM, à esquerda (anarquia não tem nada a ver com “poder”, mas com potência), e de “direito da propriedade” – paradigma reprodutor de bloco de UM, à direita (anarquia não tem nada a ver com “propriedade”, mas com posse mutável), presentes atualmente no debate público sobre concepções políticas pretensamente libertárias.
A aludida opção por uma visão “transformacionista” do processo de mudança social, significa que, ante um provável arruinamento globalizado do sistema e da própria civilização e tomando como referência para a visualização de possíveis cenários pós colapso momentos históricos posteriores às quedas de antigas civilizações tais como a do Império Romano, pode-se deduzir que em períodos deste tipo há esperanças apesar do pessimismo, visto que, desintegradas as estruturas que sustentavam a antiga “ordem”, abre-se no palco mundial do drama da sobrevivência da espécie uma fenda de possibilidades de (re)invenção de modos de vida coletiva, estabelecendo-se assim a possibilidade de uma luta mais plural entre modos de vida diversos pela sua expansão, e aqueles que se anteciparem neste embate, constituindo-se embrionariamente já dentro da própria “ordem” em declínio, e lutando para se expandirem em seu interior mesmo – e contra ela – pela constituição de fenômenos de “modas” múltiplas cuja solução de continuidade se dá pela via de um “espírito comum”, tendendo à criação de uma rede cultural desterritorializada, constituída por agregações via afinidades eletivas de unidades funcionais diversas, poderão contribuir assim para um projeto de emergência de uma “etnia” multi étnica mundializada, com vocação para exercer uma ação de transformação contagiosa no cenário do fazer humano coletivo pré e pós “evento”.
O comunitarismo ácrata, forma de ação tática consequente a ser desenvolvida pelo campo anarquista ácrata, se caracterizaria como um projeto de criação de redes de individualidades e grupos movidas por um espírito comum de busca de construção de conhecimentos e práticas de realização de autonomias relativas máximas possíveis, em relação (e em contraposição) às forças dominantes do mercado e do Estado, e em todos os aspectos da vida – especialmente nos campos das necessidades mais fundamentais, tais como alimentação, saúde, educação, transporte, segurança, comunicação -, pela via da apropriação e desenvolvimento de tecnologias e técnicas de fácil acesso e baixo custo, a serem pesquisadas, custeadas e propagadas de forma coletiva, através das redes comunitárias ácratas.
Naturalmente, o modo de organização grupal das redes comunitárias ácratas deverá ser horizontal, auto gestionário e assembleísta, e sua ética de relações interpessoais deverá se pautar pela valorização máxima do respeito às especificidades e singularidades individuais e coletivas. O arroba invertido contido no símbolo do anarquismo ácrata pode ser visto também como uma alusão às iniciais da denominação desta sua tática consequente (ou seja, as letras “c”, de comunitarismo – o semi círculo do arroba -, e “a”, de ácrata – o núcleo do arroba -; sendo que invertidas – “espelhadas”, como sinal de sua natureza de rebelião).
Um instrumento fundamental para fundar, promover e expandir redes comunitárias ácratas, seriam plataformas de comunicações informacionais. Estas seriam sistemas de comunicação compostos por várias mídias associadas, tais como sites, grupos de redes sociais por perfis e grupos de redes por contatos telefônicos.”
(Trecho do “Manifesto Anarquista Ácrata”, de autoria de Vantiê Clínio Carvalho de Oliveira)
agência de notícias anarquistas-ana
um gato no telhado
para os pardais novos
que alvoroço!
Rogério Martins
esperemos que si, asi se difunde más, salud
A FACA agradece a ressonância que nossas palavras tem encontrado na ANA: ideias e projetos autônomos, horizontais, autogeridos e anticapitalistas…
parabens
Parabéns pela análise e coerência.
Olá Fernando Vaz, tudo bem com você? Aqui é o Marcolino Jeremias, um dos organizadores da Biblioteca Carlo Aldegheri, no…