
O grande geógrafo e teórico do comunismo anarquista fez parte de um círculo radical que abordou uma ampla gama de questões sociais, desde capitalismo e colonialismo até amor livre e direitos animais
~ Spencer Beswick ~
Em seu clássico ensaio “Sobre o Vegetarianismo” (1901), Élisée Reclus escreveu uma defesa comovente desta prática como uma necessidade ética e estética, com potencial para acabar com a violência colonial ao transformar a relação da humanidade com o mundo.
O anarquismo de Reclus buscava “fazer de nossa existência a mais bela possível e em harmonia, na medida do possível, com as condições estéticas de nosso entorno”. Isso inclui nossa relação com os animais. Reclus condenou matadouros, assim como a exibição e consumo de animais mortos, por considerá-los feios e violentos. Essas exibições perturbadoras entrelaçam-se à vida cotidiana de modo que só pode anestesiar nossos sentidos e diminuir a beleza de nossas vidas. Como a cicatriz antiestética de uma barragem de concreto que bloqueia um rio, o abate e consumo de animais obstruem o potencial de uma vida bem vivida. Reclus clamou pelo fim da violência contra animais e, em seu lugar, propôs reconhecê-los como “companheiros de trabalho respeitados, ou simplesmente como companheiros na alegria da vida e na amizade”.
A violência contra animais estava intimamente ligada à violência do colonialismo. O massacre de povos colonizados era justificado por sua redução desumanizadora ao nível de animais. Reclus argumentava que o tratamento brutal de animais no próprio país permitia a violência colonial global através de uma “relação direta de causa e efeito”, pois “o abate do primeiro facilita o assassinato do segundo” e “fazer cães despedaçarem uma raposa ensina um cavalheiro a fazer seus homens perseguirem chineses fugitivos”. Se os europeus aprendessem a se relacionar eticamente com animais em casa, sustentava ele, a prática da violência colonial no exterior seria desestabilizada. O vegetarianismo transformaria a relação da humanidade com o mundo de modo a excluir toda violência e exploração direcionada tanto a humanos quanto a não humanos.
Embora o argumento possa ser atraente, hoje soa um tanto vazio aos nossos ouvidos. O exército israelense, por exemplo, usa sua autoproclamada fama de “exército mais vegano do mundo” como prova de sua suposta dedicação à paz, brandindo o veganismo como escudo para justificar sua violência contra palestinos considerados “atrasados” (em parte porque não são veganos). Alguns ativistas acrescentam assim o veganwashing ao greenwashing e pinkwashing como justificativas “progressistas” do colonialismo. Do nosso ponto de vista no século XXI, parece claro que Reclus foi excessivamente otimista ao acreditar que o fim da exploração animal acabaria com a violência colonial.
Contudo, o apelo de Reclus por uma vida ética e bela, livre da exploração de humanos e não humanos, mantém sua força. Ele nos lembra a importância do que alguns veganarquistas chamam de libertação total: desmantelar todas as formas interconectadas de opressão e dominação que degradam humanos, animais e o mundo natural. Para terminar com as palavras de Reclus: “A feiura nas pessoas, nos atos, na vida, na Natureza que nos rodeia, é nosso pior inimigo. Voltemo-nos belos nós mesmos e deixemos que nossa vida seja bela”.
Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/07/05/let-us-become-beautiful-ourselves-elisee-reclus-on-vegetarianism-anarchism-and-colonial-violence/
Tradução > Liberto
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agência de notícias anarquistas-ana
Voar sempre, cansa –
por isso ela corre
em passo de dança
Eugénia Tabosa
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Parabéns, camarada Liberto! O pessoal da Ana poderia informar como adquirir a obra. Obrigada!
Obrigado pela traduçao
Oiapoque/AP, 28 de maio de 2025. De Conselho de Caciques dos Povos Indígenas de Oiapoque – CCPIO CARTA DE REPÚDIO…
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