
Por Domitille Perpère
O setor editorial parece ter encontrado um novo nicho econômico, na intersecção entre questões sociais, políticas e culturais: o feminismo. Mais do que uma simples reivindicação, os livros feministas têm se imposto progressivamente como um fenômeno incontornável no mercado literário.
Essa explosão de obras sobre mulheres, seus direitos, história e lutas, reflete tanto uma necessidade da sociedade quanto uma dinâmica econômica em alta. De acordo com pesquisa da revista Libre Hebdo, publicada em 2021, a produção de livros de não ficção sobre mulheres aumentou 15% entre 2017 e 2020, mostrando interesse crescente pelo assunto. Nesse contexto, a biblioteca Anarcha-féministe de Toulouse, recentemente transferida para o endereço 270 avenue de Muret, encarna esse encontro entre ideais feministas e engajamento social.
Lugar de educação popular e acesso livre à cultura
Longe dos circuitos tradicionais da indústria editorial, esse espaço autogerido valoriza a diversidade e a representatividade das obras. Marina, voluntária envolvida na gestão da biblioteca, explica: “Para nós, é muito importante ter um espaço saudável, onde livros podem ser apresentados e buscar certa diversidade e representatividade. É um local de acolhimento e integração no bairro.” Um desafio fundamental que se traduz numa seleção minuciosa das obras nas prateleiras, mas também na organização de eventos como leituras coletivas, noites de contos e animações, que permitem desconstruir estereótipos e incentivar uma reflexão partilhada sobre questões sociais.
Os voluntários, de muitas origens, trabalham juntos para oferecer um espaço onde os livros não são só objetos de consumo, mas vetores de reflexão coletiva. Uma das ferramentas emblemáticas usadas no espaço é a leitura coletiva: método de leitura compartilhada no qual se divide o livro em partes para analisar os capítulos e discutir coletivamente as ideias apresentadas. Essa prática, que remonta aos meios operários, incentiva a questionar, desconstruir e melhorar a maneira como a obra é percebida.
O modelo alternativo de gestão da biblioteca
Os voluntários também criaram um sistema de empréstimo que se destina a ser acessível a todos, sem pressão financeira. A ausência de prazo para devolução facilita o acesso aos livros sem impor restrições econômicas. Esse é um ponto fundamental do seu compromisso: oferecer acesso à cultura aos que não têm condições de comprar livros novos ou que procuram um lugar onde o valor das obras não resida apenas na sua venda.
Esse modelo de gestão alternativa e autogerida também se destaca pela ausência de pressão comercial. As obras disponíveis não são sucessos nem publicações para o grande público, em vez disso, títulos engajados, às vezes difíceis de encontrar em outros lugares. Os leitores podem descobrir obras raras ou marginais que abordam temas inovadores: como feminismo interseccional, sexualidade e pós-colonialismo, entre outros. Esse modelo teve boa aceitação entre a população local, como atesta Jade, leitora habitual da biblioteca: “É um espaço onde há leituras comprometidas, livros que misturam ficção científica, romances ou ensaios e que você não encontra em nenhum outro lugar”. Mathéo, outro leitor, testemunha: “A gente pega emprestado quantos livros quiser, pelo tempo que quiser, e pode relaxar, sem ter o custo de compra do livro. Temos acesso a livros a custo menor, não há apego emocional aos livros. Claro, não pode esquecer de devolver os livros”, sorri. As obras, às vezes, são anotadas pelos leitores anteriores, prática que permite se preparar para assuntos delicados e questionar o conteúdo.
O feminismo como motor econômico para a publicação
O feminismo, longe de ser só um movimento ideológico, tornou-se um desafio econômico para os editores e um setor em crescimento no mundo editorial. As editoras independentes, à imagem da biblioteca de Toulouse, souberam tirar proveito desse renovado interesse, apostando em publicações que combinam engajamento político e estética literária. Assim, respondem à demanda, cada vez maior, por obras que não se limitam a contar uma história, mas participam de um verdadeiro projeto de transformação social.
Iniciativas como as da biblioteca Anarcha-féministe testemunham o impacto crescente do feminismo no setor editorial, mas também a vontade de criar espaços de leitura nos quais a política, a educação e a cultura se encontram. O feminismo, nessa dinâmica, tornou-se não apenas uma causa, mas um produto cultural. Esse fenômeno vai muito além do mercado: incorpora uma mudança de paradigma, na qual os livros se tornam instrumentos de emancipação, educação e revolta.
Tradução > CF Puig
agência de notícias anarquistas-ana
Alegres grilos
Gritam na grama gris:
Música noturna.
Eduardo Otsuka
boa reflexão do que sempre fizemos no passado e devemos, urgentemente, voltar a fazer!
xiiiii...esse povo do aurora negra é mais queimado que petista!
PARABÉNS PRA FACA E PRAS CAMARADAS QUE LEVAM ADIANTE ESSE TRAMPO!
Um resgate importante e preciso. Ainda não havia pensado dessa forma. Gratidão, compas.
Um grande camarada! Xs lutadores da liberdade irão lhe esquecer. Que a terra lhe seja leve!