
Durante uma pausa de verão no sul, a Freedom [publicação do Reino Unido] aproveitou a oportunidade para entrevistar o Coletivo Anarquista Rouvikonas, em Atenas.
~ Blade Runner ~
O coletivo construiu uma reputação por suas ações diretas que vão desde a ocupação de ministérios até a destruição de escritórios de cobradores de dívidas. Formado em 2014, no contexto das lutas gregas contra a austeridade, o grupo descreve seu trabalho como uma tentativa de aproximar os anarquistas da base social mais ampla. Em conversa, seu estilo é tão direto quanto suas ações.
Sobre as origens do coletivo:
“Rouvikonas foi fundado em 2014. Naquele momento, a Grécia havia passado por forte turbulência social e política. Após a morte do jovem anarquista Alexis Grigoropoulos, em 2008, uma insurreição eclodiu e toda uma geração foi radicalizada. Depois, de 2010 a 2014, grande parte da base social foi às ruas para lutar contra as medidas de austeridade. Mas o movimento perdeu força, e a agitação foi canalizada de volta para a política parlamentar e o Estado.
Os companheiros que fundaram o Rouvikonas acreditavam que os anarquistas haviam perdido uma grande e rara oportunidade revolucionária naqueles anos. Não conseguiram oferecer uma alternativa crível ao Estado para o povo da base social. Então começaram a refletir sobre os erros e impasses do movimento anarquista, e sobre como superá-los. Esse é o contexto que levou à criação do Rouvikonas: preencher a lacuna existente entre os anarquistas e a base social.”
Sobre o uso das redes sociais:
“Nossa escolha política é assumir publicamente a responsabilidade por tudo o que fazemos. Cada ação é seguida de um comunicado com material em vídeo e foto, além de um texto explicando o que fizemos e por quê. Isso serve a vários propósitos. Ao documentar nossas ações, impedimos o inimigo de fazer falsas acusações. Podemos demonstrar exatamente o que fizemos, tornando mais difícil para um juiz nos condenar com base em acusações falsas.
Ao mesmo tempo, as imagens em vídeo são uma ferramenta poderosa de comunicação: as pessoas podem ver com seus próprios olhos o que fizemos, e isso pode ser inspirador. Mostramos nossas ações para romper o estado de medo em que a base social é mantida pelo Estado e seus mecanismos de propaganda. O objetivo é quebrar a paralisia e a apatia, e encorajar as pessoas a se juntarem à luta.”
Sobre a repressão estatal:
“Os padrões de repressão mudaram ao longo dos anos, dependendo do governo. (…) Agora há uma investigação em curso tentando nos classificar como uma organização criminosa, utilizando mudanças recentes no código penal. Isso é grave. As penas são mais severas e é mais difícil evitar a prisão pagando multas. Mas continuamos a lutar.
O que realmente os assusta é que continuamos a atrair novas pessoas. Na própria investigação deles, admitem isso: toda vez que identificam participantes após uma ação, veem rostos que não conheciam antes. Pessoas sem histórico em outros grupos ou manifestações, de todas as idades, gêneros e estilos de vida. Não são os ‘suspeitos de sempre’. São pessoas comuns, que nunca haviam sido políticas, ingressando no Rouvikonas e agindo.”
Sobre combate a incêndios e ajuda em desastres:
“Após décadas de cortes estatais no corpo de bombeiros, todos os anos vastas regiões da Grécia são destruídas por incêndios. As pessoas assistem às suas casas queimarem, os bombeiros fazem o que podem, mas com recursos limitados não conseguem fazer muito. Quando protestam, são espancados pela polícia de choque.
Por isso, há três anos criamos um Setor de Bombeiros Voluntários para o combate a incêndios florestais. Hoje temos três veículos e uma equipe bem treinada de voluntários. Durante todo o verão, eles patrulham o interior e intervêm quando incêndios florestais surgem. Nos últimos dois anos, salvaram pessoas, casas e animais selvagens.
A lógica é a da auto-organização: não depender do Estado, mas contar com nossas próprias forças. Como dizemos na Grécia: ‘somente o povo pode salvar o povo’.”
Sobre o antifascismo:
“O Aurora Dourada foi derrotado. Foi derrotado primeiro nas ruas, e depois declarado uma organização criminosa e proscrita. Mas, a essa altura, já havia se tornado inútil para a classe dominante. O antifascismo militante é essencial, mas não é toda a história. Sempre haverá pequenos grupos fascistas, e é preciso mantê-los sob controle nas ruas.
Mas a verdadeira questão é: como impedir que ganhem espaço entre a base social? A razão pela qual ganharam influência foi o vazio político que nós mesmos criamos. Se você está ausente das lutas sociais e políticas, as pessoas buscam outros caminhos. Se não oferece uma alternativa crível aos partidos e ao Estado, as pessoas procuram soluções em outro lugar. Devemos estar na linha de frente da guerra social e de classes todos os dias. Na medida em que tivermos sucesso nisso, as pessoas se voltarão para nós, e ignorarão eles.”
Sobre a solidariedade com a Palestina:
“A Grécia é cúmplice do genocídio junto com Israel. A burguesia grega tem laços históricos e existenciais com a classe dominante israelense. Aqui temos empresas que colaboram com o exército israelense e investidores israelenses comprando propriedades e hotéis. Enquanto existirem esses alvos, haverá maneiras de atingir o Estado sionista e suas políticas genocidas.”
A entrevista completa será publicada na próxima edição da revista anarquista Freedom.
Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/10/05/interview-with-rouvikonas/
Tradução > Contrafatual
agência de notícias anarquistas-ana
Ação direta: o faço
é mais verdadeiro que
o prometo vazio.
Liberto Herrera
boa reflexão do que sempre fizemos no passado e devemos, urgentemente, voltar a fazer!
xiiiii...esse povo do aurora negra é mais queimado que petista!
PARABÉNS PRA FACA E PRAS CAMARADAS QUE LEVAM ADIANTE ESSE TRAMPO!
Um resgate importante e preciso. Ainda não havia pensado dessa forma. Gratidão, compas.
Um grande camarada! Xs lutadores da liberdade irão lhe esquecer. Que a terra lhe seja leve!