
“Esses investimentos são cúmplices de um genocídio”, disse Jonas Mura, cacique da Terra Indígena Gavião Real, no Brasil.
Por Julia Conley | 21/10/2025
Um dia depois de a estatal brasileira Petrobras anunciar que começaria a perfurar em busca de petróleo perto da foz do Rio Amazonas “imediatamente” após conseguir a licença, apesar das preocupações com o impacto sobre a vida selvagem, uma análise publicada na terça-feira revelou que bancos investiram mais US$ 2 bilhões em financiamento direto para petróleo e gás na Amazônia desde 2024.
O relatório da organização Stand.earth, e a licença da Petrobras, surgem poucas semanas antes de Belém (PA) sediar a Conferência da ONU sobre Mudança Climática de 2025 (COP30), onde ativistas pedem que países ricos invistam US$ 1,3 trilhão por ano em nações em desenvolvimento para enfrentar e se adaptar à crise climática.
Analisando 843 contratos com 330 bancos, a Stand.earth descobriu que os bancos americanos JPMorgan Chase, Bank of America e Citi estão entre os piores, tendo investido entre US$ 283 milhões e US$ 326 milhões em petróleo e gás na região amazônica.
O maior financiador no último ano foi o brasileiro Itaú Unibanco, que destinou US$ 378 milhões a empresas de petróleo e gás que atuam com extração na Amazônia.
“A expansão do petróleo e do gás na Amazônia coloca em risco um dos ecossistemas mais importantes do planeta e os povos indígenas que o protegem há milênios”, disse a Stand.earth. “Além de os combustíveis fósseis serem os principais causadores das emissões globais de gases de efeito estufa, na Amazônia sua extração também acelera o desmatamento e contamina rios e comunidades.”
Segundo o estudo, os bancos já financiaram mais de US$ 15 bilhões em projetos de petróleo e gás na região amazônica desde o Acordo de Paris, assinado em 2016. Quase 75% desse valor veio de apenas dez instituições, incluindo Itaú, JPMorgan Chase, Citi e Bank of America.
A análise foi divulgada semanas depois de a Aliança Bancária Net-Zero da ONU suspender suas atividades, após a saída de grandes bancos. O grupo havia sido criado em 2021 para reduzir o impacto ambiental do setor financeiro e atingir emissões líquidas zero até 2050.
A pesquisadora Devyani Singh, responsável pelo novo relatório da Stand.earth sobre financiamento fóssil, observou que bancos europeus como BNP Paribas e HSBC aplicaram políticas mais rígidas de proteção à Amazônia e “caíram bastante no ranking de financiamento”.
Mas, segundo Singh, “nenhum banco zerou seu financiamento. Todos ainda precisam fechar brechas e sair totalmente do petróleo e gás na Amazônia sem demora.”
Mais de 80% dos investimentos desde 2024 foram para apenas seis empresas: Petrobras, Gran Tierra (Canadá), Eneva (Brasil), Gunvor (trader de petróleo), e as peruanas Hunt Oil Peru e Pluspetrol Camisea.
Essas empresas têm histórico de violações de direitos humanos e são rejeitadas por povos indígenas da região, que sofrem com problemas de saúde, queda na pesca e caça e falta de água limpa devido a esses projetos.
“É revoltante que o Bank of America, o Scotiabank, o Credicorp e o Itaú estejam aumentando o financiamento de petróleo e gás na Amazônia num momento em que a floresta está sob grave ameaça”, disse Olivia Bisa, presidenta do Governo Territorial Autônomo da Nação Chapra, no Peru. “Há décadas os povos indígenas sofrem os impactos mais pesados dessa destruição. Pedimos que os bancos mudem de rumo agora: ao parar de apoiar as indústrias extrativistas na Amazônia, eles podem ajudar a proteger a floresta que sustenta nossas vidas e o futuro do planeta.”
O relatório da Stand.earth alerta que tanto a Floresta Amazônica, que abriga cerca de 10% da biodiversidade do planeta, quanto as populações locais enfrentam ameaças crescentes vindas das empresas de petróleo e gás e dos bancos que as financiam. Séculos de exploração estão levando a floresta a um ponto de colapso ecológico com impactos irreversíveis em escala global.
A exploração de petróleo e gás abre estradas em áreas intactas da floresta e aumenta as emissões de combustíveis fósseis, contrariando as advertências de cientistas e especialistas em energia sobre a necessidade de reduzir o aquecimento global.
“Com o aumento da temperatura, o delicado equilíbrio ecológico da Amazônia pode ser rompido, transformando-a de uma floresta que absorve carbono em uma savana que o emite”, diz o relatório.
Jonas Mura, chefe do Território Indígena Gavião Real, no Brasil, contou que “o barulho, o tráfego constante de caminhões e as explosões” dos projetos da Eneva afastaram os animais e prejudicaram a caça.
“Ainda pior: eles estão entrando sem o nosso consentimento”, disse Mura. “Nosso território está ameaçado e nossas famílias estão sendo diretamente prejudicadas. Cerca de 1.700 indígenas vivem aqui, e nossa sobrevivência depende da floresta. Pedimos que bancos como Itaú, Santander e Banco do Nordeste parem de financiar empresas que exploram combustíveis fósseis em terras indígenas.”
“Essas empresas não têm compromisso com o meio ambiente, com os povos indígenas e tradicionais, nem com o futuro do planeta”, acrescentou. “Esses investimentos são cúmplices de um genocídio: estão matando nossa cultura, nossa história e destruindo a biodiversidade da Amazônia.”
Tradução > Contrafatual
agência de notícias anarquistas-ana
A tempestade varre
a praça varrida—ninguém
doma o vento.
Liberto Herrera
Nossas armas, são letras! Gratidão liberto!
boa reflexão do que sempre fizemos no passado e devemos, urgentemente, voltar a fazer!
xiiiii...esse povo do aurora negra é mais queimado que petista!
PARABÉNS PRA FACA E PRAS CAMARADAS QUE LEVAM ADIANTE ESSE TRAMPO!
Um resgate importante e preciso. Ainda não havia pensado dessa forma. Gratidão, compas.