
Toda a classe política tentou apagar ou minimizar as razões que deram origem à revolta de outubro [2019, “Estallido Social”].
Hoje, os mesmos setores que então se esconderam após discursos de ordem e governabilidade distribuem o poder em um espetáculo miserável. Um teatro no qual as disputas entre partidos apenas maquiam a continuidade do mesmo modelo, enquanto nos impõe, democraticamente, a obrigação de legitimar este circo com o voto.
Os governos, sejam de direita ou progressistas, junto com a constituição e o modelo neoliberal, converteram o território em um negócio. A terra, a água e os bens comuns são entregues ao bloco corporativo-extrativista: mineradoras, madeireiras, bancos e fundos de investimento que lucram com tudo. O Estado atua como sua garantia, assegurando que este país siga funcionando ao ritmo do capital e não das pessoas nem do planeta, ao mesmo tempo em que reprime – desaparece e assassina – os que se levantam contra este sistema para defender a terra e a vida, nas cidades, a alimapu, lafkenmapu e Wallmapu.
A revolta de outubro revelou que existe uma raiva generalizada e coletiva contra a classe política, mas também nos mostrou a armadilha: ofereceu uma saída institucional para desativar a força da rua, um tratado que pretendia canalizar a raiva e neutralizá-la, para devolver-nos a ordem da obediência, concedendo meses de luta ao processo eleitoral, que bem conhecemos só consolidou a frustração.
O sistema soube absorver, mas também soube golpear: os presos, os traumas oculares e os assassinados são prova disso.
Hoje a insegurança e a imigração são usadas pelo poder para justificar mais controle, mais polícias e mais cárceres. O medo se converte na nova moeda de governabilidade. Mas a insegurança real não está na rua, está no endividamento, no colapso mental, nas zonas de sacrifício, nas extensas jornadas laborais, no negócio que fazem com nossas vidas. Essa é a violência cotidiana com a que nos mantêm fragmentados, fechados em casas vigiadas, endividados e cansados.
As promessas da transição democrática estão obsoletas faz muito tempo, e as últimas revoltas a nível mundial nos confirmam que a luta não se dá nos parlamentos nem nas urnas, mas nas ruas, nos territórios, nos corpos que resistem e nas comunidades que se organizam.
Outubro evidenciou a forma: panelas comuns, assembleias territoriais, redes de assembleias, redes feministas, barricadas, coordenadoras de solidariedade com os presos, brigadas de saúde, atividades contraculturais, violência de rua, hortas coletivas, meios de contrainformação; projetos que só se sustentam fora dos partidos e da lógica eleitoral. Assim se tece outra alternativa: a da organização horizontal, autônoma, solidária e combativa. Aí pulsam as possibilidades de outros paradigmas de vida.
Não necessitamos que ninguém nos dirija.
A organizar-nos, defender-nos, cuidar-nos e multiplicar as práticas que constroem a autonomia e fortalecem a luta!
Rede de Luta e Propaganda
17 de outubro de 2025
Tradução > Sol de Abril
agência de notícias anarquistas-ana
Semente rebelde
brota no cemitério
dos reis e papas.
Liberto Herrera
Nossas armas, são letras! Gratidão liberto!
boa reflexão do que sempre fizemos no passado e devemos, urgentemente, voltar a fazer!
xiiiii...esse povo do aurora negra é mais queimado que petista!
PARABÉNS PRA FACA E PRAS CAMARADAS QUE LEVAM ADIANTE ESSE TRAMPO!
Um resgate importante e preciso. Ainda não havia pensado dessa forma. Gratidão, compas.