[Alemanha] Protesto contra o Congresso da Indústria de Cruzeiros em Hamburgo   

Hamburgo, 11 de setembro de 2025. Desde as 8h, 11 ativistas do grupo de ação Smash Cruiseshit protestam em frente à entrada do pavilhão de exposições de Hamburgo. O Congresso da Indústria de Cruzeiros “Seatrade Europe” está sendo realizado no local. Do telhado do edifício, os ativistas baixaram uma faixa com os dizeres “Parem os Cruzeiros”. Ao mesmo tempo, dois ativistas subiram em mastros de bandeira e desenrolaram outra faixa. Com essa ação, os ativistas pretendiam denunciar as atividades prejudiciais ao clima da indústria de cruzeiros e chamar a atenção para os problemas causados ​​por essa indústria.

“O que está acontecendo aqui discretamente, dentro da conferência, nada mais é do que a maximização do lucro de alguns, às custas dos trabalhadores e do meio ambiente. Acreditamos que uma indústria tão prejudicial não deveria poder se esconder nesses espaços e operar sem ser perturbada. É por isso que estamos aqui para garantir que o que está por trás dessa indústria também seja visível de fora”, explica o ativista Alex P. antes de subir no mastro da bandeira.

Cruzeiros são uma das formas de férias mais prejudiciais ao clima. Além das emissões significativas de CO2, o uso predominante de óleo combustível pesado, tóxico e prejudicial ao clima, leva à alta poluição por enxofre nos oceanos. Os navios de cruzeiro também produzem grandes quantidades de plástico e outros resíduos. Em resumo, viagens de cruzeiro resultam, entre outras coisas, no aumento da temperatura e do nível do mar, na acidificação dos oceanos, na perda de biodiversidade e na poluição ambiental com microplásticos e material particulado. 

As empresas de cruzeiros estão cada vez mais recorrendo a alternativas supostamente mais ecológicas. O gás natural liquefeito (GNL) é cada vez mais utilizado como combustível. O GNL consiste principalmente de metano, um gás de efeito estufa com uma pegada de carbono de 20 anos 80 vezes pior que a do CO2. Durante a extração, liquefação e transporte, o metano escapa para a atmosfera. O fracking também está sendo cada vez mais utilizado para extração. Isso envolve a injeção de produtos químicos tóxicos em camadas profundas de rocha, utilizando grandes quantidades de água, para extrair o gás.

“A indústria de cruzeiros está tentando criar uma imagem verde por meio do GNL. Na realidade, GNL significa água potável contaminada, riscos à saúde de humanos, animais e de todo o meio ambiente… O GNL extraído por fraturamento hidráulico é frequentemente extraído em terras de comunidades indígenas, contra sua vontade e resistência. Essas continuidades neocoloniais precisam acabar!”, afirma o ativista Mo R.

Além dos impactos ambientais, os ativistas também se preocupam com as condições de trabalho desumanas na indústria de cruzeiros. Eles enfatizam que muitas pessoas que trabalham em navios de cruzeiro recebem salários bem abaixo do salário mínimo aplicável. No transporte marítimo global, é prática comum que a maioria dos navios não navegue sob a bandeira do país em que sua empresa de navegação está sediada ou do país que visitam regularmente. Em vez disso, as empresas de navegação registram seus navios onde é mais lucrativo para elas. Navegar sob a bandeira da Libéria, Panamá, Itália ou Malta permite que paguem impostos baixos e contornem leis trabalhistas protetivas, padrões sociais ou requisitos ambientais por meio de regulamentações locais ou padrões mais baixos.

“A maioria dos trabalhadores no convés trabalha em condições de trabalho gritantes por salários de fome. As companhias de navegação usam a liberdade de escolher a bandeira sob a qual navegam para burlar as regulamentações trabalhistas e explorar ainda mais os trabalhadores. Qualquer um que resista a isso deve esperar ser demitido e perder seu sustento. Essas são condições sob as quais ninguém deveria trabalhar”, diz o ativista Quinn F., descrevendo as condições de trabalho.

O protesto dos ativistas também se dirige aos participantes do “Hamburg Cruise Days” deste fim de semana, que eles descrevem como “o maior festival de cruzeiros da Europa”. De sexta-feira a domingo, são esperados até 600.000 visitantes, que serão presenteados com oito navios de cruzeiro diferentes. Haverá também uma programação semelhante à de um festival.

“O Cruise Days serve como uma grande plataforma de publicidade para a indústria de cruzeiros. Com programas como fogos de artifício e uma série de mentiras sobre sustentabilidade, as partes interessadas estão polindo, manipulando sua imagem. Para nós, é claro: não pode haver cruzeiros em um mundo climático justo. Com o nosso protesto, nos opomos à exploração da indústria de cruzeiros e defendemos um mundo justo para todos”, afirma a ativista Jessie O.

O programa “Smash Cruiseshit” continua nos próximos dias: um encontro de networking para ativistas acontecerá na sexta-feira. No sábado, o grupo convida todos para uma conferência anti-cruzeiros, que será aberta ao público no campus da Universidade de Hamburgo. No domingo, haverá outro protesto animado — desta vez contra os “Dias de Cruzeiros de Hamburgo”.

E-mail: Smashcruiseshit@proton.me

Telefone: 015213680617

Instagram: @smashcruiseshit

Mastodonte: @smashcruiseshit

X: @smashcruiseshit

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Entre haicais e chuva
Súbita inspiração:
Um trovão.

Sílvia Rocha

[Itália] Hoje a rebelião é um dever ético        

Editorial / Semi sotto la neve, nº 11

A rebelião é justa. Hoje, a rebelião é um dever ético. É o que fazem os estudantes sérvios, as massas turcas e georgianas, os opositores de Israel e do governo de Netanyahu, muitos cidadãos dos Estados Unidos da América e alguns, embora poucos, mas valentes residentes de Gaza, as mulheres no Irã, assim como tantas outras pessoas em diferentes lugares do planeta, inclusive em nossa realidade europeia, em distintos contextos geográficos, culturais e políticos: homens e mulheres que se rebelam, nos questionam sobre o presente e nos fazem imaginar um futuro diferente.

Desde a publicação do primeiro número desta revista, em fevereiro de 2022, já se passaram alguns anos, mas os acontecimentos históricos foram numerosos, rápidos e impactantes, gerando novas perguntas, novos desafios e também novas possibilidades para nós.

O caminho que escolhemos conscientemente para potencializar os aspectos proativos e positivos que ressaltam as experiências libertárias atuais, o esforço por encontrar e questionar todas essas realidades espontâneas, antiautoritárias e mutualistas que prefiguram outra forma de nos relacionarmos socialmente, continuam sendo o sentido mais profundo e importante de nossa revista. Não esqueçamos nem negligenciemos, contudo, a importância e a opção estratégica da revolta permanente, individual e coletiva, a ruptura do imaginário dominante, a vontade de opor não apenas a resiliência, mas também a resistência diante de uma deriva autoritária e perigosamente totalitária da política contemporânea. É por isso que, ainda que com um espírito crítico e autocrítico, queremos nos considerar participantes ativos em todo movimento que lute contra qualquer forma de dominação, seja ela visível ou nova e oculta.

A beleza e a energia criativa das rebeliões espontâneas representam para nós o valor acrescentado que ilumina e alimenta a esperança. Mas tudo isso não deve nos enganar nem nos levar a buscar atalhos que, quase sempre, demonstraram gerar novos poderes e novas desigualdades, uma vez consolidadas em sistemas autoritários. Não queremos esquecer o profundo significado da profecia de Étienne de La Boétie quando, já em 1500, nos advertiu sobre o verdadeiro espectro da ‘servidão voluntária’. Hoje, numa época em que assistimos a uma busca frenética e irracional por novos líderes, novos homens (ou mulheres) no comando, novos homens santos e novos deuses, devemos contrapor a isso uma visão ampla e aberta, que devolva às pessoas o extraordinário poder dos sonhos, a possibilidade concreta de viver nossas relações humanas segundo práticas de solidariedade, respeito, autonomia, liberdade e amor.

Sem uma ‘visão’, o pragmatismo necessário e indispensável se traduz em pobreza e na prática do óbvio, gerando e alimentando uma política de slogans e mesquinharia, típica de nossos sórdidos governantes. Mas essa esperança não é uma ilusão, nem uma evasão mística da crua realidade, e sim uma consciência que, como Colin Ward repetia com frequência, nos faz perceber que uma sociedade totalmente totalitária não pode existir, assim como também não pode uma sociedade completamente libertária. Ao contrário, dentro dessas formas de agregação humana persistem espaços, interstícios e momentos em que a liberdade e a tirania se apresentam de maneira irredutível e destrutiva. E é isso que faz com que nossas ações em favor da liberdade encontrem sentido, a qual deve se expandir, mas também se defender em suas formas, por mais incompletas que sejam, diante da ameaça de uma dominação invasora.

Temos o privilégio — sim, porque foi o acaso que nos trouxe a esta parte do mundo — de viver em uma zona geográfica como a Europa, e devemos ser conscientes disso. Mas isso tem pouco a ver, em perspectiva, com nossa ideia de habitar uma terra sem nos tornarmos seus donos. Devemos sempre nos pensar como ‘estrangeiros residentes’ e relançar uma ideia, inclusive de Europa, distinta da oficial e institucional de uma nova superpotência entre outras. A saída é o federalismo integral, que restitui a centralidade do processo de tomada de decisões aos níveis mais baixos possíveis, que visualiza uma ‘divisão em vez de uma fusão’ (para dizê-lo novamente com as palavras de Colin Ward), uma pluralidade de sociedades e não uma sociedade unificada e de massas, um federalismo integral que inclui a gestão compartilhada dos bens comuns, formas avançadas de mutualismo, relações de apoio mútuo, a valorização da diversidade e muito mais.

Considerando tudo isso, a partir da nossa pequena contribuição, continuamos oferecendo aos nossos leitores — uma semente constante de uma vida plena e livre — reflexões, perspectivas, conversas e artigos que se inserem nesse caminho difícil, arriscado, mas livre. Carecemos de contribuições e reflexões profundas sobre muitos temas, e por isso estamos sempre em busca de novos colaboradores que possam colocar sua sensibilidade e experiência a serviço de uma causa comum. Somos uma revista de tendências, mas também queremos ser um viveiro de inspiração, livre de polêmicas estéreis e de dogmatismo.

Neste número, uma amiga (Silvia Rizzo) e dois amigos (Pier Paolo Casarin e Tibor Lepel) compartilham três experiências diferentes: uma de acolhimento e apoio a estrangeiros por meio de outros que, com seu trabalho solidário cotidiano, rejeitam pensamentos e comportamentos de intolerância violenta; um estudo e pesquisa eficaz e estimulante, mas também de solidariedade ativa e não verbal, em um lugar — uma prisão de menores — de sofrimento e violência; e, por fim, um projeto ecológico na Alemanha, com voluntários, que oferece um exemplo de prática autogerida, solidária e de trabalho. O tema da prisão e suas possíveis alternativas, um tema especialmente importante para nós, é o eixo da conversa que mantemos com Stefano Anastasia, garante das pessoas sujeitas a medidas restritivas de liberdade para a Região do Lácio e porta-voz da Conferência de Garantes Territoriais de Pessoas Privadas de Liberdade. Tendo em mente que sociologicamente se define como ‘desvio social’ é, na realidade, também produto de condições de penúria social, cultural e econômica, publicamos um ensaio de Guido Candela sobre a pobreza na Itália de hoje que, para além de números frios, é um alerta e um estímulo para lutar por reduzir as desigualdades na medida do possível e o mais rapidamente possível. Outros três artigos de fundo enriquecem este número: dois sobre os temas da ciência, da medicina e das diversas posturas que a dramática e recente epidemia de Covid também desencadeou em nosso âmbito libertário (Pamela Boldrin e Francesco Spagna). Por fim, uma valiosa contribuição de Giorgio Fontana que nos questiona sobre o significado mais profundo dessas ‘sementes’ que queremos que germinem livremente. Por outro lado, retomamos com um artigo de Tomás Ibáñez a discussão sobre o que chamamos de ‘anarquismo proativo e positivo’ (discussão aberta por Francesco Codello no número 8 desta revista), uma visão em parte diferente, mas certamente enriquecedora, dessa reflexão que nos merece especial atenção. As duas genealogias estão dedicadas respectivamente a Elisée Reclus (Francesco Berti) e a Federica Montseny (Valeria Giacomoni). Por fim, uma contribuição de Francesco Spagna sobre Bob Dylan e outra de Mariangela Mombelli e Enrico Ruggeri, que continuam a resenhar filmes que consideramos interessantes para nossos leitores. Em resumo, mais material para discutir, questionar e relançar. E tudo isso mantendo uma direção ‘obstinada e contrária’, mas também, e sobretudo, útil para alimentar um sonho e uma esperança de mudança real e profunda em nossos corações e mentes.

Fonte: https://redeslibertarias.com/2025/08/22/hoy-la-rebelion-es-un-deber-etico/

Tradução > Paymex

agência de notícias anarquistas-ana

O vaga-lume à noite
acende sua luz.
Pisca-pisca.

Aprendiz

Lula defende exploração petrolífera e BR-319 na Amazônia

“Queremos preservar a Amazônia não como intocável, mas que seja explorada, por mar ou terra, de forma mais responsável possível”

O presidente Lula deixou claro: seu governo vai explorar combustíveis fósseis na Foz do Amazonas e também asfaltar a BR-319, a estrada que liga Manaus (AM) a Porto Velho (RO). Segundo Lula, os projetos – que já causam impactos socioambientais no Amapá e no Amazonas mesmo antes de saírem do papel – serão feitos “de comum acordo com ambientalistas”. Ambos os projetos são criticados por especialistas em clima e meio ambiente e por organizações da sociedade civil.

Lula confirmou os projetos em entrevista na 3ª feira (09/09) à Rede Amazônica. No caso da rodovia, o governo Lula vai anunciar um “acordo definitivo” ainda neste mês para as obras, que serão feitas com “responsabilidade ambiental”.

“A gente vai fazer a BR-319. Não pode fazer a BR e dois meses depois ter desmatamento, queimada, criando gado e plantando soja onde não pode. Vamos fazer a BR-319 e vamos fazer de comum acordo com os ambientalistas, com os que precisam da estrada e, sobretudo, para atender duas capitais que não podem ficar isoladas, como ficam Porto Velho e Manaus”, disse Lula.

A BR-319 tem cerca de 800 km de extensão. Construída na ditadura militar, a estrada é considerada por cientistas e ambientalistas uma das maiores ameaças à Floresta Amazônica, por dar acesso a uma das áreas do bioma mais conservadas. Um levantamento do Observatório do Clima mostrou que somente a expectativa de asfaltamento da estrada fez a taxa de desmatamento crescer 122% entre 2020 e 2022 nos municípios que margeiam a rodovia.

Sobre a Foz do Amazonas, não é surpresa a defesa de Lula à busca por combustíveis fósseis na região. Agora, porém, ele falou que vai “explorar” petróleo, ao invés de “pesquisar”. Desde que o IBAMA negou a licença para a Petrobras perfurar um poço no bloco FZA-M-59 no litoral do Amapá em abril de 2023, os defensores do projeto tentaram transformar a exploração em “pesquisa” para diminuir a resistência ao projeto. Não adiantou.

“Nós queremos preservar a Amazônia não como uma coisa intocável, mas que ela seja explorada, seja por mar e por terra, da forma mais responsável possível, porque nós sabemos o que é cuidado com a Amazônia. Nós vamos explorar o petróleo, mas o que estamos fazendo é cumprindo etapas.”

Mais uma vez Lula disse que a Petrobras tem experiência em águas profundas sem ter incidentes – mas a P-36, plataforma que afundou no litoral do Rio de Janeiro em março de 2001 após uma explosão deixando 11 mortos, era da Petrobras. E que a exploração do combustível fóssil é “importante” para o Brasil. Será que os dividendos da Petrobras e os royalties pagam o crescente custo dos eventos climáticos extremos no país? A conferir.

O presidente defendeu a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva: “Às vezes as pessoas jogam a culpa para cima da Marina, a Marina ficou 15 anos fora do governo, portanto, se não foi feito, não culpe a Marina. A Marina nunca diz que é proibido fazer, ela quer discutir como fazer as coisas. Se fizer bem feito, é melhor para todo mundo”.

Fonte: ClimaInfo

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No fim do poema,
uma pergunta sem donos:
“Quem precisa de amos?”

Liberto Herrera

[Grécia] Tessalônica: Reivindicação de responsabilidade pela explosão na casa do presidente do sindicato dos carcereiros, Kostas Varsamis, pela organização armada ‘Sangre Negra’ [Sangue Negro]

Não vivemos na era da junta, mas vivemos sob a junta do nosso tempo. Nos últimos anos, e ainda mais nos últimos seis, a organização criminosa Nova Democracia vem governando o país com táticas de monarquia e de regime autoritário. Em meio a escândalos políticos e crimes de Estado, “explora” a segurança para vender medo ao povo. Seu principal argumento na tentativa de reunir alguns votos são as prisões e a repressão mais dura. Nas instituições supostamente “correcionais” do país e no sistema de justiça, dito cego e independente, que decide quem será preso e quem não será, seus critérios não são provas de culpa, mas posição ideológica, tamanho da carteira, cor da pele, conexões partidárias e a camarilha privilegiada à qual alguns pertencem.

Está claro que os tribunais gregos estão longe de serem incorruptíveis. Todos os dias, centenas de julgamentos são realizados no país com o objetivo de reprimir e intimidar cidadãos. Para a maioria, leis extenuantes, detenções em massa e sentenças ilógicas tornaram as condições nas prisões insuportáveis e desumanas, culminando nas resoluções repressivas do partido Nova Democracia, como o novo código penal e a abolição de todos os direitos conquistados pelo Estado. Essa máquina é lubrificada com corrupção e propinas, advogados de renome e vistos estatais, para que o óbvio aconteça, como a finalização de uma decisão ou a realização em tempo hábil de um julgamento em segunda instância. Já as cadeiras não-lubrificadas não reconhecem quaisquer atenuantes para os réus, nem a presunção de inocência. Em contraste, para os lacaios que compõem a espinha dorsal do governo de turno, aplica-se a “lei” da impunidade, com exemplos conhecidos por todos, mas que não podemos deixar de mencionar. O crime de Tempi é a maior organização criminosa que já existiu no país. O escândalo do OPEKEPE*, a Siemens e os amigos de Mitsotakis, Lignadis e Filippidis, estupradores condenados por contravenções que gozam de sua pervertida liberdade.

Os atuais infernos chamados de estabelecimentos prisionais são depósitos de almas, onde milhares de pessoas são amontoadas em condições miseráveis. Existem inúmeros problemas que exigem soluções imediatas. Citaremos alguns dos mais graves. Superlotação: dentro dos muros, a vida diária é uma difícil luta pela sobrevivência; em celas ou pavilhões, o número de presos ultrapassa muito o limite humano. Saúde: é um dos temas mais vitais para qualquer preso, que vivencia em primeira mão a decadência e a indiferença do Estado. Há falta de médicos permanentes e de medicamentos, e presos com doenças transmissíveis, cardíacos, idosos e pessoas com deficiência são amontoados nas mesmas alas, sem tratamento especial. A escassez de medicamentos e a demora nos transportes aos hospitais agravam a rotina brutal. Saídas: as licenças estão cada vez mais raras, com o resultado de que só são concedidas no fim da pena. Essa prática é de natureza vingativa e em nada tem caráter reabilitador. Apoio administrativo: burocracia, falta de pessoal, incompetência em questões legais e indiferença são problemas diários que empobrecem ainda mais a vida dos presos. Isso, somado à sujeira, à negligência dos prédios e, claro, ao desvio de verbas, constitui uma enorme bomba humanitária em todas as prisões do país, mais potente do que a que colocamos na casa do torturador Kostas Varsamis.

Kostas Varsamis, torturador veterano e guarda prisional, é a figura paterna dos carcereiros, cujo único objetivo é a tortura vingativa dos presos. Não é coincidência que governos e políticos venham e vão, mas ele permaneça em sua posição. Seu autoritarismo, indiferença e desejo de vingança contra os presos são características que agradam aos canalhas do Estado e enfrentam a oposição de todos os encarcerados. As táticas que utiliza e a forma como age contribuem decisivamente para a tortura dos detentos: incontáveis medidas disciplinares aplicadas generosamente pelo menor motivo, proibição de bens materiais, mortes em celas disciplinares, frio, comida miserável, ausência de visitas abertas, alto-falantes que perturbam constantemente a saúde mental dos presos. Essas são as táticas cotidianas de um torturador que, no passado, espancava detentos com bastões até que desmaiassem. Ele tenta transmitir a mesma mentalidade, em versão atualizada, aos funcionários, tratados como ferramentas. Faz com que acreditem ser superiores aos presos e que podem ter poder absoluto sobre eles. Não é coincidência que seu círculo seja composto pela pior escória espalhada pelos estabelecimentos prisionais e posições administrativas do país. É óbvio que não mencionaremos outros nomes porque talvez já tenhamos planejado visitas às suas casas e a outros lugares. Aqueles que seguem e aceitam as visões e táticas do torturador Varsamis, e, portanto, a política criminal implementada pela Nova Democracia através desse tipo de indivíduo, estão contra nós e são nosso alvo.

Por fim, queremos enfatizar que os presos são pessoas normais e não apenas números atrás das grades; eles nunca estão sozinhos nem abandonados nas mãos do Estado! Escolhemos esse canalha em particular para iniciar uma série de novos ataques contra diretores, chefes de segurança, funcionários, oficiais judiciais e órgãos ligados às leis e às prisões. As prisões estão fervendo; é hora de pôr fim ao empobrecimento e ao mecanismo repressivo com ataques, motins, greves e toda forma de luta dentro e fora das prisões.

P.S. Policiais, jornalistas, cronistas e outros falastrões: continuem escrevendo e contando essas historinhas engraçadas e o machado cairá pesado sobre vocês também… A responsabilidade pelo ataque é reivindicada pela organização armada Sangre Negra [Sangue Negro].

Nota: OPEKEPE/ΟΠΕΚΕΠΕ: Autoridade Grega de Pagamentos dos Planos de Ajuda da Política Agrícola Comum (PAC). O escândalo envolve os 3 bilhões de euros doados anualmente pela União Europeia, desviados por uma rede corrupta que inflava os números da produção agrícola. Um exemplo: declarar que Creta teria 4 milhões de ovelhas, mais do que toda a Grécia! Os subsídios eram concedidos com base em declarações fictícias de terras e gado, sem controles efetivos, sem inspeções, sem uso de dados de satélite. Apenas favores políticos disfarçados de política de desenvolvimento: compra de votos, recompensas a aliados e até punição de dissidentes. As fundações da democracia e do capitalismo em sua melhor forma.

Fonte: https://darknights.noblogs.org/post/2025/09/10/thessaloniki-greece-responsibility-claim-for-explosion-at-home-of-prison-officers-union-president-kostas-varsamis-by-armed-organisation-sagre-negra-black-blood/

Tradução > Contrafatual

agência de notícias anarquistas-ana

mostro o passaporte
minha sombra espera
depois da fronteira

George Swede

[Itália] Territórios Resistentes – Três Dias Contra Dominação, Caça e Colonização

26/27/28 de setembro
Riot Dog – Monte San Pietro (Bolonha)

Três dias para lançar as bases de uma mobilização contra a caça, com a intenção de interseccioná-la de forma radical e interseccional com outras lutas como o colonialismo, o patriarcado e o ecologismo. Isso porque acreditamos que falar sobre a usurpação dos territórios é fundamental neste momento histórico e porque sentimos a necessidade de revitalizar o ativismo antiespecista de base.

O programa será estruturado em 3 eixos:

TEÓRICO:

Debates sobre o antropocentrismo e a caça como expressão do sistema de dominação — uma prática especista, patriarcal, colonial, militarizada e ecocida. A partir dessas discussões, gostaríamos de criar um livreto temático com a contribuição de todxs xs participantes e com artes gráficas produzidas durante o evento.

ESTRATÉGICO:

Com base em pesquisas e aprofundamentos sobre as novas propostas de lei relacionadas à caça e sobre os principais atores econômicos e políticos envolvidos no setor cinegético, queremos lançar as bases para uma mobilização nacional em múltiplas frentes, a ser expandida para diversos territórios.

ARTÍSTICO:

Serão oferecidas oficinas práticas com foco artístico, como estêncil, serigrafia, land art — formas de transmitir mensagens de libertação tanto nas florestas quanto nas cidades; oficinas sensoriais voltadas para crianças, para ajudá-las a desenvolver “outros sentidos” e des-antropocentrar seus olhares e imaginações; e outras oficinas ainda a serem definidas.

(A programação ainda está em fase de definição. Para atualizações, siga-nos no Instagram e no Facebook. Se quiser propor oficinas ou entrar em contato, escreva para riotdogonlus@gmail.com)

DURANTE TODO O EVENTO:

acampamento livre, barracas autogeridas e vida selvagem

Riot Dog é um refúgio libertário antipsiquiátrico fundado em 2017 nas colinas de Monte San Pietro (BO), onde os cães podem experimentar a socialização, a autogestão e a liberdade de serem livres do conceito de posse.

riotdog.noblogs.org

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Árvore velha
cansada de lá estar
vira os galhos e cai.

Analucía

[Espanha] Paremos o mundo por Gaza!

Cuidar da Flotilha, bloquear a Volta, protestar contra o genocídio…

Nos últimos dias, segunda-feira 8 e terça-feira 9 de setembro, a Global Summud Flotilla foi atacada por drones carregados com material incendiário. Uma estratégia que parece querer se tornar norma e que viola o direito internacional em um exercício de sabotagem nauseante. Os barcos atacados estavam atracados no porto da Tunísia e, no primeiro deles, Family, viajava o comitê diretivo da organização e algumas das figuras mais conhecidas da missão; entre eles Greta Thunberg, Yasmine Acar e Thiago Ávila. Felizmente, não houve danos graves nem pessoas feridas em nenhum dos dois casos. São ataques covardes contra uma missão que pretende dar um abraço humanitário aos habitantes da Faixa de Gaza. Uma agressão por trás da qual ninguém duvida que esteja, mais uma vez, o Estado de Israel, alérgico a tudo que tenha a ver com direitos humanos e com a denúncia do genocídio. A Flotilha já anunciou que não pretende se deter, que seu rumo segue firme, que não há tempo para recuar diante das ameaças e violências do Estado de Israel.

No dia seguinte, a Volta à Espanha voltou a ser interrompida por protestos. Uma constante que acompanha a competição ciclística desde sua largada. Milhares de pessoas de toda a Galícia tomaram as estradas para protestar contra a presença da equipe ciclística Israel Premier Tech. Mais uma vez, nada pôde evitar o grito de indignação de milhares de cidadãs e cidadãos que não vamos normalizar o genocídio ao vivo nos noticiários e depois assistir tranquilamente a uma corrida de ciclismo como se nada estivesse acontecendo. Não queremos que pelas nossas ruas passe uma equipe cujo único propósito é avalizar a política criminosa e assassina de Israel, cujo dono ainda é amigo íntimo do criminoso Benjamin Netanyahu. O verdadeiro campeão desta edição é a Palestina e as milhares de pessoas solidárias com sua causa. Que a organização da Volta se prepare: até chegar à linha de chegada em Madri, a competição vai se tornar cada vez mais difícil…

Essas não são as únicas demonstrações de solidariedade que neste momento estão dando um passo à frente. Há professoras e professores que realizaram ocupações para denunciar a situação na Palestina, e já se fala em greves estudantis para as próximas semanas. As trabalhadoras e trabalhadores do porto de Gênova conclamam a população a tomar as ruas se a Flotilha for atacada. A CGT e outros sindicatos dos cinco continentes estamos estudando a forma de coordenar um grande protesto internacional, que seja uma resposta global contra o genocídio e um gesto de apoio à Flotilha. É um clamor mundial que é preciso deter o genocídio e que seus responsáveis devem ser julgados.

Conclamamos toda a classe trabalhadora a expressar sua indignação e manifestamos mais uma vez nosso apoio a um povo que está sendo massacrado impunemente, diante do olhar impassível de uma comunidade internacional cúmplice. É hora de agir e de parar o mundo. O que está em jogo na Palestina nos afeta em nosso dia a dia, no planeta em que queremos viver, no tempo e na ética que queremos habitar.

Apoio total à Flotilha, paremos a Volta, detenhamos o genocídio

Solidariedade com o povo palestino

cgt.es

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

em nosso universo
breve, passa, com pressa! e
graça, a borboleta

Issa

GlobalSumudFlotilla.jpg

[Alemanha] A Feira Internacional do Automóvel (IAA) fede

Enquanto áreas do tamanho de Maiorca e Tenerife estão em chamas na Espanha, a indústria automobilística alemã está mais uma vez celebrando uma festa de greenwashing [“lavagem verde”] com seus carros de luxo por todo o centro de Munique.

Achamos que isso fede até a morte – figurativamente e agora literalmente também. Porque fizemos uma visita a Feira Internacional do Automóvel¹ (IAA) e jogamos líquidos fétidos em vários espaços abertos. Nem mesmo os 8.000 policiais conseguiram impedir nossa ação.

Não vamos deixar nossa cidade para eles. Foda-se a IAA! Foda-se o capital automobilístico alemão, que está destruindo o planeta em busca de lucro. E foda-se o rearmamento e a guerra. Não vamos nos deixar queimar em busca de lucro nos tanques² que a indústria automobilística alemã planeja ter saindo das linhas de produção novamente em breve!

(A)

[1] A IAA MOBILITY 2025 ocorre em Munique de 9 a 14 de setembro. É a maior feira automobilística do mundo.

[2] Fábricas de automóveis alemãs passam a produzir tanques.

agência de notícias anarquistas-ana

Sobre o telhado
fores de castanheiro
ignoradas.

Matsuo Bashô

Gastos Militares | Governo Lula 3 compra navio de guerra HMS Bulwark do Reino Unido

O Governo Lula 3 (Marinha do Brasil) finalizou a compra do navio de guerra britânico HMS Bulwark, conforme divulgado pela Força nesta quarta-feira (10/09). Os documentos que formalizam a aquisição foram assinados a bordo do HMS “Mersey” por autoridades brasileiras e do Reino Unido. O valor da compra não foi divulgado.

A negociação foi formalizada durante a Defence & Security Equipment International United Kingdom (DSEI UK) 2025, um dos principais fóruns globais de defesa e venda de armas, que reúne governos, Forças Armadas, líderes da indústria e representantes do setor.

A Marinha, segundo comunicado, considera a compra “um marco no esforço de recomposição do núcleo do Poder Naval, que contribuirá para o exercício da soberania em águas sob jurisdição do Estado”.

Fonte: agências de notícias

agência de notícias anarquistas-ana

pássaros cantando
no escuro
chuvoso amanhecer

Jack Kerouac

Como o Hilton Kathmandu, o hotel mais alto do Nepal, foi construído e reduzido a cinzas

O que foi construído ao longo de anos de investimento, design e intenção cultural foi destruído em horas de fúria

Por Anjali Choudhury | 10/09/2024

O horizonte do Nepal foi tomado pela fumaça esta semana, depois que um de seus hotéis mais altos, o Hilton Kathmandu, foi reduzido a uma carcaça carbonizada durante violentos protestos antigovernamentais. Imagens dramáticas capturaram a torre de vidro em chamas e fumaça enquanto manifestantes, muitos deles do inquieto movimento da Geração Z do Nepal, atacavam instituições governamentais, prédios do parlamento e até residências particulares de líderes políticos.

Em meio a toques de recolher, confrontos com forças de segurança e um número crescente de mortos de quase 25, o incêndio do Hilton Kathmandu se tornou um símbolo sombrio de quão longe a agitação se espalhou pela região.

Tudo sobre o Hilton Kathmandu

O Hilton Hotel em Katmandu não foi criado da noite para o dia. Desenvolvido pelo Shanker Group, o projeto teve início em 2016, com a ambiciosa visão de elevar o setor de hospitalidade do Nepal aos padrões internacionais.

A construção enfrentou diversos contratempos ao longo dos anos, principalmente durante a pandemia de COVID-19, que atrasou as obras em todo o vale. No entanto, após quase sete anos de esforços e um investimento de aproximadamente 8 bilhões, o imponente hotel finalmente abriu suas portas em julho de 2024, informou o New Business Age.

Localizado no bairro de Naxal, a propriedade de 64 metros de altura se tornou o hotel mais alto do Nepal, oferecendo quase 176 quartos e suítes em diferentes categorias.

Visão por trás do Hilton Kathmandu

Mais do que um hotel de luxo, o Hilton foi concebido como uma declaração cultural. Sua fachada cintilante refletia aletas verticais de vidro, projetadas como uma interpretação das bandeiras de oração budistas. Esses painéis dicroicos mudavam de tom conforme a luz do dia e ganhavam vida com cores elementares após o pôr do sol.

A arquitetura do edifício também se adaptava ao entorno. Um lado se inclinava para a intensidade das ruas urbanas de Katmandu, enquanto o outro se abria para a cordilheira Langtang, garantindo que a beleza natural do Nepal permanecesse parte integrante da experiência dos hóspedes. Varandas alternadas e linhas fluidas da fachada animavam o exterior, conferindo à torre uma presença dinâmica no horizonte.

Internamente, o Hilton oferecia uma experiência de hospitalidade de classe mundial. O lobby, os salões de banquetes e as salas de reunião concentravam-se nos andares inferiores, enquanto os quartos superiores desfrutavam de vistas panorâmicas do vale e das montanhas. As opções gastronômicas e de lazer eram diversificadas, incluindo cinco restaurantes, um spa, uma academia e amplas instalações para eventos.

O bar na cobertura, Orion, celebrava a herança do Nepal com esculturas em madeira e arte inspirada em mandalas, enquanto sua claraboia emoldurava o céu noturno do Himalaia. Os hóspedes também podiam desfrutar de uma piscina de borda infinita e refeições durante todo o dia nos andares superiores, com vistas panorâmicas de 180 graus que se estendiam por toda a malha urbana de Katmandu e pelos picos nevados ao longe.

Dado o histórico sísmico do Nepal, o Hilton foi projetado com a resiliência em seu cerne. A torre incluía paredes de cisalhamento e sistemas de amortecimento para resistir a terremotos, o que o qualificava como um edifício de “ocupação imediata”. A segurança era tão essencial para sua identidade quanto o luxo.

Situação atual do Hilton

Hoje, essa visão do Hilton está em ruínas. Antes um prisma de vidro e cor, o hotel agora está marcado pelo fogo, com as janelas quebradas, a fachada manchada de cinzas e o interior devastado. A destruição do hotel mais alto do Nepal é mais do que uma perda física. Marca a fragilidade do progresso em uma nação dividida entre a esperança e a desilusão.

O que foi construído ao longo de anos de investimento, design e intenção cultural foi destruído em horas de fúria.

Os protestos, que começaram por causa de restrições a aplicativos de mídia social, rapidamente se transformaram em uma revolta mais ampla contra a corrupção e a estagnação política. Mesmo a renúncia do primeiro-ministro KP Sharma Oli pouco fez para acalmar a revolta pública, com os manifestantes determinados a pressionar por uma reforma sistêmica. Em meio ao caos, o aeroporto internacional de Katmandu foi forçado a fechar temporariamente, desferindo um duro golpe na economia nepalesa, dependente do turismo.

agência de notícias anarquistas-ana

olhando para trás
meu traseiro cobria-se
de cerejeiras em flor

Allen Ginsberg

[Itália] 2ª edição | Dia do desbatismo, das editoras anárquicas e dos livres pensadores

Empoli, 13 de setembro de 2025

Piazza Farinata Degli Uberti

10h00 – Abertura dos estandes de literatura libertária, da exposição fotográfica anticlerical e do banquete do desbatismo.

11h30 – Homenagem a Giordano Bruno e a alguns dos muitos mártires da intolerância religiosa, no bairro de Pontorme, na via Pontorme, sob a lápide de Giordano Bruno, com a colocação de uma coroa de flores e discurso público.

13h00 – Almoço na praça Farinata entre companheiros e simpatizantes.

16h00 – Apresentação do livro Under Ground Anarchico, de Raimondo Maria Dopraho.

17h00 – INTERVENÇÃO PÚBLICA de Daniele Ratti sobre o tema: A Revolução Espanhola de 1936 e o Nacional-Catolicismo.

18h00 – Canções sociais e anarquistas com Piero Zannelli e participações de Paolo Becherini e Simone Pacini.

20h00 – Jantar entre companheiros e simpatizantes.

21h30 – No Palazzo Pretorio apresentação teatral musical do livro de Pardo Fornaciari intitulado: “Quante volte figliolo” sobre a confissão religiosa, da antiguidade aos dias de hoje.

CENTRO DE ESTUDOS LIBERTÁRIOS PIETRO GORI

FAI – FEDERAÇÃO ANARQUISTA DE EMPOLI E DA VALDELSA

agência de notícias anarquistas-ana

Vermelho céu manchado
Sombras em seus lugares
Lua aparece.

Chang Yi Wei

“Agora, o governo declara que “os protestos da Geração Z causaram vítimas e danos à propriedade do Nepal”, culpando os “anarquistas” para se esquivar da responsabilidade.”

[Texto escrito em 09 de setembro de 2025]

Nos últimos dias, houve uma série de protestos no Nepal. Em todo o mundo, isso foi reduzido a uma resposta reacionária dos jovens a uma “proibição das redes sociais”. Isso é uma ofuscação superficial da situação real, que vem se acumulando há muito tempo em todo o país contra a corrupção, o nepotismo e a política autoritária que o povo vê no governo, que há 10 anos centraliza a sua base de poder e a infraestrutura política e suspende o processo democrático conforme a sua vontade.

A atual onda de protestos se transformou em uma revolta em resposta às tentativas do governo de silenciá-la brutalmente. A polícia passou de equipamentos antimotim e barricadas a canhões de água e balas de borracha, veículos militares e armas de fogo, resultando em assassinatos premeditados. O movimento é predominantemente de jovens, sendo que 19 já foram assassinados e mais de 400 gravemente feridos.

É claro que há os habituais protestos contra a “intervenção externa”, as “influências ocidentais” e os “infiltrados anárquicos que fazem o movimento parecer uma gangue” e assim por diante, comentários globais que procuram enquadrar a situação de maneira a servir aos seus interesses, geralmente provenientes de pessoas cuja imagem do Nepal se limita a uma grande colina, uns sherpas e umas vagas referências esotéricas efêmeras. Na verdade, as cenas dramáticas que agora se desenrolam são o resultado de anos de violência policial. Elas são orgânicas e pertencem ao povo do Nepal.

Com isso em mente, aqui está uma série de comunicações de camaradas da região.

Atualização do protesto da Geração Z no Nepal

Principais reivindicações: combate à corrupção, governança e liberdade de expressão. A mídia internacional, no entanto, se concentra somente nas proibições nas redes sociais.

1. A polícia agiu com brutalidade e atirou na cabeça e no peito dos estudantes da Geração Z, em protesto silencioso ontem. Até o último relatório, 19 mortos, mais de 50 em estado crítico, além de muitos feridos.

2. Ontem à noite, governo suspendeu as redes sociais.

3. O ministro do Interior renunciou, assim como alguns outros ministros do governo de coalizão que representam o Congresso Nepalês, o maior partido com 89 cadeiras. KP Sharma Oli, primeiro-ministro do Nepal, lidera o Partido Comunista do Nepal (Marxista-Leninista Unificado) (CPN-UML), o segundo maior partido, com 78 cadeiras.

4. Foi imposto toque de recolher nas principais cidades do Nepal desde ontem à tarde. Jovens e pessoas continuam protestando em todo o Nepal, desafiando as ordens de toque de recolher e pedindo a renúncia do primeiro-ministro KP Sharma Oli após a morte de estudantes inocentes.

5. A casa de Sher Bahadur Deuba (ex-primeiro-ministro) e presidente do Congresso Nepalês, o maior partido, foi atacada hoje de manhã por jovens em Katmandu.

6. A casa de Pushpa Kamal Dahal Prachanda (ex-primeiro-ministro) e presidente do Partido Comunista do Nepal (Centro Maoísta) foi atacada hoje de manhã. Ele é o líder do partido da oposição.

7. Postos policiais e escritórios de diferentes partidos políticos foram incendiados pela GenZ em todo o Nepal.

8. O número exato ainda não foi divulgado, mas houve muitos tiros. Além disso, a permissão era para o uso de balas de borracha, mas a polícia armada usou balas reais.

9. Mataram um menor, com uniforme escolar, com balas reais na cabeça e no peito. Isso não é só defesa. É uso excessivo da força.

10. Hoje também há protestos em alguns lugares, mas a grande área do município de Katmandu está sob toque de recolher desde ontem.

O Nepal está passando por uma crise política. A situação nos próximos dias é incerta. Perdemos tragicamente vidas inocentes que estavam exercendo direitos democráticos à liberdade de expressão e reunião pacífica. Precisamos, agora, do apoio da imprensa e da mídia internacionais, que escrevem falsamente que o protesto é contra a proibição das redes sociais, mas é contra a corrupção.

Atualização anônima

Em 5 de setembro de 2025, o governo do Nepal baniu 26 plataformas de mídia social, como Facebook, Instagram, WhatsApp, X, YouTube e Reddit, alegando que não seguiam a Diretiva para Regulamentar o Uso de Mídias Sociais, 2080 (2023/2024), para impedir o “discurso de ódio”. Sejamos honestos: isso foi feito para nos silenciar. As redes sociais são a nossa tábua de salvação, utilizadas por 70% dos jovens do Nepal. É assim que 2 milhões de trabalhadores no exterior conversam com as famílias, e jovens ganham dinheiro em um país com desemprego em massa. É como expomos a corrupção, como nos vídeos recentes nas redes sociais que expõem os filhos ricos dos políticos. Essa proibição é a respeito de controle, não é por segurança.

Hoje, 8 de setembro de 2025, milhares de jovens da Geração Z, estudantes e cidadãos desarmados marcharam pacificamente de Maitighar Mandala, em Katmandu, até o Parlamento, agitando bandeiras, carregando livros e segurando cartazes: “Acabem com a corrupção, não com as redes sociais”. Exigiam o fim da corrupção e da censura digital. O Estado respondeu com sangue. O chefe distrital Chhabi Rizal autorizou o uso de balas de borracha “para proteger a propriedade pública”, começando com canhões de água e cassetetes. Em seguida, desafiando as ordens, a polícia disparou munição real. Testemunhas oculares viram balas reais retiradas das vítimas, entre elas, um estudante atingido na cabeça vestindo farda escolar. Pelo menos 14 morreram, incluindo estudantes, muitos uniformizadas, e mais de 100 feridos.


É um assassinato sancionado pelo Estado. Atacar estudantes uniformizados viola as leis educacionais do Nepal estabelecidas pelas diretrizes do Ministério da Educação (2021), que declararam ilegal envolver crianças em comícios políticos, com o uniforme, uma vez que as escolas são “zonas de paz” sob políticas de proteção a menores. Enquanto os organizadores usavam as fardas para simbolizar a juventude, o governo os transformou em alvos, possível violação à Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança.

Agora, o governo declara que “os protestos da Geração Z causaram vítimas e danos à propriedade do Nepal”, culpando os “anarquistas” para se esquivar da responsabilidade. Essa é a agenda vingativa para proteger a elite corrupta. Os pais esperam, aterrorizados, por filhos que nunca mais voltarão. Como este pode ser o nosso lar quando as ruas são campos de morte?

Isso é o que Louis Althusser afirmou na teoria do aparato repressivo do Estado (arE), em que, quando a propaganda falha, o Estado libera a polícia e o exército para nos silenciar, nos apresentando como ameaça, enquanto a corrupção se alastra.

> Foto: Prédio do parlamento nepalês em chamas.

Fonte: https://organisemagazine.org.uk/2025/09/09/nepal-communications-international/

Tradução > CF Puig

agência de notícias anarquistas-ana

Começo de chuva…
A tempestade faz festa,
no meio da rua.

Humberto del Maestro

Estado entrega Hidrovia do Rio Madeira ao capital

Na última semana, o governo federal anunciou a inclusão da Hidrovia do Rio Madeira no Programa Nacional de Desestatização (PND), abrindo caminho para que mais de mil quilômetros do rio sejam entregues à iniciativa privada. O decreto, assinado por Lula, também inclui os rios Tocantins e Tapajós, somando mais de 3 mil quilômetros de vias navegáveis destinados ao lucro empresarial.

O Rio Madeira, que já sofre com secas extremas, cheias devastadoras e impactos de hidrelétricas, agora será explorado sob a lógica da mercadoria: transportar milhões de toneladas de grãos para exportação, principalmente da produção destrutiva do agronegócio em Mato Grosso e Rondônia. O discurso oficial fala em “redução de custos”, “abastecimento” e “geração de empregos”, mas a realidade é o aprofundamento da dependência regional, a destruição de ecossistemas e a subordinação de populações ribeirinhas, indígenas e camponesas às necessidades de exportação de soja e milho.

O governo prevê contratos de 12 anos com empresas privadas, que vão controlar a dragagem, a sinalização, a gestão ambiental (sob medida para o lucro) e a recuperação de terminais. Os investimentos virão de recursos públicos, inclusive da venda da Eletrobrás, mas os lucros ficarão nas mãos de corporações.

Mais uma vez, o Estado cumpre seu papel histórico: abrir territórios, rios e florestas para a acumulação capitalista. Em vez de defender os povos que vivem às margens do Madeira, o governo prioriza o escoamento de commodities, reforçando o modelo de saque da Amazônia.

A “audiência pública” prevista é apenas ritual de legitimação, onde decisões já tomadas são apresentadas como se fossem fruto de “participação popular”. O que se decide, de fato, é quem lucra com a transformação de rios vivos em corredores de exportação.

Enquanto isso, comunidades locais continuam enfrentando cheias, secas, perda de peixes, poluição e deslocamentos forçados, efeitos diretos de um projeto de “desenvolvimento” que destrói modos de vida e entrega territórios ao capital.

A luta contra a privatização das águas e contra o avanço do agronegócio sobre a Amazônia é também a luta pela autonomia dos povos e pela preservação da vida contra o projeto de morte do Estado e das empresas.

agência de notícias anarquistas-ana

No porta-retrato
um tempo respira,
morto.

Yeda Prates Bernis

Protestos levam milhares às ruas na França em oposição à política governamental

A França viveu nesta quarta-feira (10/09) uma das maiores mobilizações populares do ano, com cerca de 250 mil pessoas participando de 550 manifestações e 262 bloqueios em todo o país, segundo dados divulgados pela imprensa local. Em Paris, o centro comercial Châtelet-les-Halles, considerado o mais movimentado da Europa, foi fechado por medida de segurança após circularem nas redes sociais convocações para saques.

Nenhum trem ou metrô parou nas estações da região, conforme determinação da polícia. O movimento, batizado de “Bloquons tout” (“Vamos bloquear tudo”), surgiu de forma espontânea nas redes sociais e aplicativos de mensagens, reunindo reivindicações diversas contra a austeridade fiscal, as desigualdades sociais e as autoridades.

A jornada foi marcada por forte presença policial, episódios de tensão e confrontos em cidades como Paris, Rennes e Nantes. Até o fim da tarde, 473 pessoas haviam sido detidas, sendo 203 na capital, e 339 estavam sob custódia. Foram registrados 267 focos de incêndio em vias públicas e 13 agentes de segurança ficaram feridos.

O setor da educação também foi afetado: cerca de 100 escolas secundárias enfrentaram interrupções e 27 foram bloqueadas, especialmente em Paris, Montpellier, Rennes e Lille. Mobilizações estudantis ocorreram em diversas cidades, refletindo o engajamento da juventude na contestação social.

Detenções

As detenções em Paris incluíram 99 prisões provisórias, a maioria por formação de grupos com “intenção de cometer atos violentos ou vandalismo”. Dois indivíduos foram detidos por agressões contra autoridades, e seis menores também foram apreendidos. A procuradora destacou um dado novo: o número expressivo de mulheres entre os detidos, com mais de 70 identificadas, sendo cerca de 40 sob custódia.

O impacto da mobilização foi sentido em diversas frentes. Rodovias foram bloqueadas em regiões como Rennes, Caen, Nantes e Rodez. Houve tentativas de invasão nos pedágios do túnel do Mont-Blanc e uma operação de lentidão na rodovia A36 entre Belfort e Montbéliard. No transporte ferroviário, a estação Châtelet-Les Halles, maior terminal subterrâneo da Europa, foi fechada por segurança.

A circulação entre Toulouse e Auch foi interrompida por sabotagem de cabos, e outras linhas sofreram danos, como entre Marmande e Agen. A rede SNCF informou que houve tentativas de invasão em estações como Gare du Nord, em Paris, mas também em Marselha e Montpellier.

No transporte aéreo, 110 voos foram cancelados e houve atrasos em aeronaves que sobrevoavam o sudeste do país. As conexões com Nice, Marselha, Lyon e a Córsega foram especialmente prejudicadas. O Ministério dos Transportes também registrou o bloqueio de 28 estruturas fluviais, como eclusas, impedindo a navegação de 21 embarcações…

Sem liderança definida, o movimento lembra os “Coletes Amarelos” de 2018, mas com perfil mais jovem e politizado. A insatisfação generalizada e a multiplicidade de vozes indicam um momento de efervescência social que desafia o governo francês.

Fonte: agências de notícias

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Aqui e ali,
Sobre os campos florescem
As quaresmeiras.

Paulo Franchetti

[Holanda] Anarchistische Boekenplek Opstand | Somos uma livraria e biblioteca anarquista.

A livraria anarquista Opstand, em Haia, não é só uma livraria, é um lugar de encontros e discussões. Você pode sempre entrar para obter as últimas informações sobre promoções e tomar café ou chá. Além de livros sobre diversos temas políticos, na Opstand também pode comprar adesivos, pôsteres, panfletos, camisetas e muito mais.

A p r e s e n t a ç ã o

Este espaço é autogerido por um coletivo e pretende ser uma plataforma de aprendizagem e ação coletiva. Para desmantelar as estruturas existentes de opressão e discriminação: sexismo, capacitismo, transfobia, etarismo, entre outras. Ao mesmo tempo, promove uma cultura de ajuda mútua: os temas são abordados em oficinas, na partilha de recursos e sua aplicação na prática.

O coletivo é um grupo de pessoas que se unem para criar um espaço para discutir temas políticos e sociais, compartilhar recursos E LIVROS! Além de poder se conectar com pessoas com ideias semelhantes.

Todos nós nos identificamos como anarquistas em diferentes graus e tentamos descobrir o que isso significa para nós e pode significar para os outros. Solidariedade e anticapitalismo!

Organizamos eventos informativos, exibições de filmes, administramos uma biblioteca e distribuímos livros e zines sobre temas anarquistas. Também oferecemos espaço para projetos faça-você-mesmo, DIY, e de tecnologia, além de haver grupos de leitura e discussão.

Venha tomar um chá ou café de graça e bater um papo, ler ou pegar um livro emprestado.

De Opstand, Haia (para o endereço, envie mensagem em privado)

email: boekenwinkelopstand (at) riseup.net

opstand.noblogs.org

Tradução > CF Puig

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Sem coroa, o vento –
nas praças, vozes livres
tecem o amanhã.

Liberto Herrera

[EUA] Queima de Bandeira com Salada de Batata

A Firestorm Books, uma livraria coletiva anarquista em Asheville, encerrou o Dia do Trabalho com um piquenique comunitário e a queima da bandeira dos Estados Unidos.

O evento foi organizado em resposta à ordem executiva do presidente Donald Trump, de 25 de agosto, declarando que sua administração iria “processar aqueles que incitarem violência ou de outra forma violarem nossas leis” ao queimar a bandeira. (A ordem sugeria que não tinha a intenção de infringir os direitos da Primeira Emenda já garantidos pela Suprema Corte, o que levou a confusão sobre como de fato seria aplicada.)

O morador de Asheville e veterano Jay Carey também foi preso após queimar uma bandeira em frente à Casa Branca na semana passada. (A acusação oficial foi de violar uma ordem que proíbe fogueiras não autorizadas em propriedade federal.)

A queima da bandeira é “uma transgressão simbólica que esperamos que contribua para dissipar o mito de que Trump é forte e está no controle”, escreveu o coletivo que liderou o evento em um e-mail para a The Assembly.

Anunciado como um evento “para todas as idades”, reuniu cerca de 50 pessoas, vestindo camisetas com slogans como “Livros, não armas”. Após uma hora comendo salada de batata, chips e homus, um membro da Firestorm trouxe uma caixa de pequenas bandeiras e uma fogueira portátil.

A participante Elsa Enstrom lembrou com carinho de quando seu pai organizava queimas de bandeiras na época em que George H.W. Bush foi eleito. Ela disse que veio à queima da bandeira da Firestorm “para mostrar que não tenho medo do ditador totalitário”.

Megan Ratcliff levou sua filha de 3 anos ao evento, ao qual disse ter se juntado pelo senso de comunidade. Ela e a criança jogaram cada uma uma bandeira na fogueira. Foi algo “simbólico”, disse. “Uma ação do nosso sofrimento.”

Fonte: https://www.theassemblync.com/newsletter/the-caucus-public-funds-private-schools/

Tradução > Contrafatual

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Escudo de papel:
as leis são frágeis diante
de um poema em brasa.

Liberto Herrera

Na CGT, acabamos de publicar o volume nº 122 da revista libertária “Libre Pensamiento”, correspondente ao verão de 2025. O dossiê desta edição é dedicado à figura e trajetória do anarcossindicalista Cipriano Mera.

Mera foi um exemplo de militância e dedicação total ao ideal anarquista baseado na solidariedade, na ação direta e no apoio mútuo. Foi um homem destacado antes, durante e depois da Guerra Civil.

Dedicou toda a sua vida a desenvolver os seus princípios, nunca desistiu e permaneceu ativo até ao fim dos seus dias.

O dossiê dedicado a este pedreiro madrilenho foi elaborado por vários companheiros e companheiras da Fundação Salvador Seguí, que realizaram uma análise profunda de sua figura e trajetória, mas também do contexto histórico e das circunstâncias do momento em que ele viveu.

Com este dossiê, convidamos também à reflexão sobre nossa ética e nosso compromisso pessoal com A Ideia.

Gabinete de Imprensa do Comitê Confederal CGT

cgt.es

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uma lua
e um lago gelado
refletem-se um ao outro

Hashimoto Takako