Contra a guerra, contra o poder: um apelo da IFA a todxs os anarquistas para se posicionarem contra a OTAN

A cúpula da OTAN em 2025 acontecerá no Fórum Mundial de Haia, nos Países Baixos, de 24 a 26 de junho. Enquanto a máquina de guerra reúne milhares de delegados de seus 32 Estados-membros para orquestrar a próxima grande onda de expansão militar, não podemos ficar em silêncio. Precisamos erguer uma bandeira de desafio e resistência. A OTAN não existe para nos proteger. Ela serve aos interesses dos Estados, das corporações e de poucos às custas de muitos.

O Estado e a OTAN, ou qualquer outra aliança militar multinacional, não nos trazem segurança — trazem controle, buscando apenas nossa obediência, nossa conformidade e nossa capitulação. Seja na violência endêmica da polícia em nossas comunidades, nos campos de batalha ensanguentados da Ucrânia ou nos oceanos de ruínas de Gaza, temos um único inimigo: o capitalismo e o Estado.

Desde sua criação em 1947, a OTAN agiu apenas como executora da violência imperialista, instrumento de repressão e motor de guerra. Ela não protege a paz. É nossa inimiga de classe e uma ameaça direta à vida e ao bem-estar de cada um de nós. Nossa luta não é entre nações, mas contra a classe dominante à qual todxs resistimos. Isso continua verdadeiro, mesmo diante da brutal realidade da guerra. Sob o pretexto da segurança europeia e nacional, os governos da OTAN estão canalizando bilhões para orçamentos militares, cortando serviços sociais vitais.

Enquanto constroem exércitos, nos deixam lutando pela sobrevivência. Impõem austeridade enquanto acumulam recursos para a guerra. Eles erguem forças armadas enquanto nós lutamos por saúde, moradia e dignidade básica. Vemos todos os dias como recrutam as próximas gerações, preparando-as para pegar em armas — privadas de oportunidades, sem outra escolha a não ser se alistar e virar carne para canhão em conflitos que não criaram, vendidas à aventura, à falsa fraternidade e ao patriotismo. Quando os recrutas voltam, mutilados e destroçados, são descartados, úteis apenas como símbolos em desfiles vazios. Em seus uniformes militares, mostram à luz do dia que a propaganda nunca termina.

Chamamos todxs os anarquistas, antiautoritários e quem se opõe à guerra para se unir, organizar e resistir ao militarismo. A OTAN e seus senhores da guerra se reunirão, mas nós também. Vamos às ruas. Vamos perturbar suas demonstrações de poder. Criaremos redes de solidariedade e nos oporemos diretamente às suas guerras, à sua polícia militarizada e à repressão de nossos movimentos. Nós, anarquistas, lutamos por um mundo sem fronteiras, sem Estados e sem exércitos que sustentem seu domínio.

Conclamamos à solidariedade internacional contra a OTAN e toda manifestação de opressão militarizada — seja a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC), a Força Escudo da Península (PSF), a Aliança dos Estados do Sahel (AES), o Plano ReArm Europe 2030 ou qualquer outro pacto ou exército supostamente de “segurança coletiva”. Todos servem ao mesmo propósito: manter o domínio pela força, perpetuando o sofrimento no mundo. As armas que usam hoje para garantir recursos serão voltadas contra nós amanhã.

Pedimos a todxs anarquistas, antiautoritários e antimilitaristas que ajam nesses dias em Haia e em todo o mundo, em solidariedade internacional. Que os detalhes de nossos planos cresçam juntos. Organizem-se e preparem nossas ações. Juntos, faremos com que saibam: rejeitamos as falsas escolhas do nacionalismo. Rejeitamos a ideia mentirosa de que a OTAN existe para proteger. Rejeitamos a brutalidade de seu militarismo e as doutrinas marciais da guerra. Repudiamos suas propostas de orçamento que esvaziam os cofres da classe trabalhadora e apoiamos as vítimas e desertores de todas as guerras.

Nenhuma guerra entre os povos, nenhuma paz entre as classes.

Comissão de Relações da Internacional das Federações Anarquistas (IFA)

Marselha (França), 22-23 de março de 2025

Fonte: https://umanitanova.org/contro-la-guerra-contro-il-potere-un-appello-dellifa-a-tutt-l-anarchic-a-schierarsi-contro-la-nato/

Tradução > Liberto

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Sai em disparada
da grande moita de mato
o esquilo cinzento…

Hazel de S. Francisco

[Espanha] Primeiro de Maio de 2025 CNT-AIT Granada

Neste Primeiro de Maio, a CNT-AIT de Granada o celebrará na Placeta de la Cruz a partir das 12h.

Uma jornada para que todos estejam juntos, no qual o ato central serão os comícios nos quais serão abordadas diferentes questões atuais. O sindicato dará ênfase especial a como o crescente aumento do militarismo e do fascismo afeta os trabalhadores. Para reverter essa situação, nada melhor do que gerar comunidades de luta organizadas desde baixo, sem a mediação de partidos e organizações de vanguarda.

Além da CNT-AIT de Granada, outros coletivos participarão.

Além disso, durante toda a jornada haverá banquinhas com livros e outros materiais. Ao meio-dia, teremos um almoço popular, provavelmente paella, e desfrutaremos de algumas apresentações artísticas: concerto, poesia, palhaços e DJ.

Por um Primeiro de Maio revolucionário, autogestionado e libertário!

granada.cntait.org

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a sombra da nespereira
mergulha
na frescura do poço

Rogério Martins

[Bélgica] Bem-vindo à Antena Negra!

Desde janeiro passado, o centro social autogerido Antena Negra (rue du Marais 1) está aberto a todos para se encontrarem, compartilharem, discutirem, brincarem, se organizarem, comerem juntos, lutarem e reviverem um lugar abandonado que foi transformado em um espaço de liberdade no coração de Bruxelas!

Sinta-se à vontade para participar das diversas atividades semanais e trazer suas próprias ideias, necessidades e atividades para o local. A Antena Negra precisa que você continue existindo e resistindo!


Hoje encontramos lá:

  • o café para desempregados (segunda-feira de manhã, a partir das 9h30),
  • a assembleia de luta em solidariedade com o Congo (segunda-feira à noite, às 19h),
  • o caf’anar (quarta-feira à noite, das 18h30 às 22h),
  • o café queer (quinta-feira, das 17h30 às 22h),
  • o dia de atualidades (sexta-feira, das 10h às 16h),
  • a cantina popular + projeção (1 domingo de cada mês, a partir das 16h),
  • o soft rock café (domingo, das 19h30 às 22h)

E muitas outras atividades!


Todas as novas propostas são bem-vindas nas reuniões gerais do centro social (duas vezes por mês, terça-feira à noite, às 18h30).


Você também pode nos escrever em lantennenoire@riseup.net

agência de notícias anarquistas-ana

Outono –
uma folha úmida
cobriu o número da casa.

Constantin Abaluta

Os Karuanas não querem petróleo | “É ele o maior vilão na aceleração da crise climática”

Por Luene Karipuna | Oiapoque-Amapá

Morei a maior parte da minha infância numa aldeia chamada Encruzo, na Terra Indígena Uaçá, no município de Oiapoque. Tenho boas lembranças da minha aldeia: cheiro de lama, o vento que vinha do mar, a pororoca, o peixe assado, as histórias do meu avô. Ele sempre nos ensinou a respeitar o rio e os Karuanas. Os Karuanas são seres sobrenaturais, que se conectam com os pajés e vivem no Outro Mundo, onde são gente como nós. Apenas os pajés conseguem vê-los e se comunicar com eles. Os Karuanas vêm do mar, dos rios, dos lagos, da mata e do espaço. São espíritos de Aves, Cobras, Peixes, Árvores e Estrelas. Eles são responsáveis por nos curar e manter o equilíbrio entre o nosso mundo e o mundo deles.

Quando criança nós aprendemos a respeitar as regras – a gente não podia pular no rio às 6 da manhã, ao meio-dia ou às 6 da tarde. Nosso avô dizia que nesses horários a gente perturbava o descanso dos Karuanas, pois eles também precisavam dormir. Ele nunca se referia aos Karuanas como espíritos, mas sim como gente, pessoas que cuidavam de nós.

Por esse conhecimento ancestral sou contra a exploração de petróleo na foz do Amazonas. Os Karuanas são extremamente importantes para o equilíbrio da vida. Sem eles, nós ficamos enfraquecidos. Quando operações como a exploração de petróleo chegam aos lugares onde moram os Karuanas e incomodam a casa deles, eles vão embora e se afastam. E nossa conexão se enfraquece. Com isso, vamos adoecendo espiritualmente.

Meu avô sempre nos ensinou que precisamos respeitar os Karuanas. Por toda a minha vida eu aprendi isso. Não consigo sequer imaginar o que é viver em um lugar morto de espírito, onde a ganância é soberana, onde todos os ensinamentos do meu povo correm perigo, onde eu não possa mais sentir os Karuanas. Onde o brincar na lama e tomar banho de rio não são mais possíveis. Eu me recuso a viver em um lugar onde meus sobrinhos não possam ver esses lugares sagrados e não possam aprender sobre os Karuanas.

A vida não pode ser determinada pela ganância dos humanos. Vejo todas as minhas memórias de infância correndo risco de não ser mais realidade: comer Caranguejo e Caramujo, cair na lama com meus pais e irmão, pegar Akari, um peixe cascudo. Por muitos anos eu acreditei que nunca iria sentir esse medo de perder tudo em um piscar de olhos. Mas hoje vivo com medo todos os dias.

Eu sou contra a exploração de petróleo porque ela ameaça o território e a história do meu povo. Eu sou contra a exploração de petróleo porque é ele o maior vilão na aceleração da crise climática. Eu sou contra a exploração de petróleo porque ela acabou com o nosso sossego. Eu sou contra a exploração de petróleo porque isso ameaça a vida dos Karuanas – e me ameaça.

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agência de notícias anarquistas-ana

sussurro um ruído
(farfalhar de qualquer folha
ao pé de um ouvido)

Bith

[Grécia] Microbombardeiros da Hellenic Train protestam contra “encobrimento do crime em Tempi”

Sem feridos no ataque, reivindicado em homenagem aos mártires palestinos e a Kyriakos Ximitiris

Por Kit Dimou

Um extenso manifesto foi publicado no Greek Indymedia reivindicando a responsabilidade pela detonação de uma mochila nas proximidades dos escritórios da Hellenic Trains, principal companhia ferroviária da Grécia, na noite de sexta-feira (12 de abril). Não houve feridos e apenas danos menores foram causados na microexplosão. O desastre ferroviário de Tempi, que deixou 57 mortos, provocou protestos em massa na Grécia no início deste ano, seguidos de distúrbios no aniversário da tragédia.

Segundo a polícia, a mochila explodiu às 21h35, 42 minutos após ligações anônimas para dois veículos de mídia alertarem sobre um artefato que explodiria no local, enfatizando que “não era uma brincadeira”. Embora a polícia tenha declarado que “avaliou o incidente como uma ameaça séria”, esvaziando a área e evacuando o prédio e um hotel próximo, a mochila foi permitida a explodir sem ser examinada pela equipe antibombas chamada ao local. O artefato foi descrito como um “dispositivo improvisado de baixa potência com temporizador”.

Sob o nome “Autodefesa de Classe Revolucionária”, também utilizado na microexplosão contra o Ministério do Trabalho da Grécia em 3 de fevereiro de 2024, o manifesto dedicou ambas as ações “ao povo palestino e à sua resistência heroica”, bem como em homenagem a “Kyriakos Xymitiris e a todos que tombaram lutando no caminho da revolução social”.


O manifesto acusa o governo e a Hellenic Train de encobrirem as verdadeiras causas do desastre ferroviário de Tempi, atribuindo-o a erro humano e utilizando o incidente como pretexto para novas privatizações. Critica o governo por não processar a Hellenic Train e por permitir que a empresa continue operando o sistema ferroviário, assumindo, assim, responsabilidade política pelo desastre.

O texto conclama à continuidade da luta de classes e da organização coletiva, sugerindo que a única forma de alcançar justiça e segurança para os trabalhadores é por meio da ação coletiva e da mudança revolucionária. O documento também manifesta solidariedade com o povo palestino e menciona o agravamento das tensões internacionais, conectando as lutas na Grécia a conflitos globais mais amplos.


Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/04/13/greece-hellenic-train-micro-bombers-protest-cover-up-of-the-crime-in-tempi/

Tradução > Contrafatual

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agência de notícias anarquistas-ana

No pensamento
Um esqueleto abandonado –
Arrepios ao vento.

Bashô

Guardião ou Gestor? A armadilha da conciliação e o futuro da luta indígena

O poder político institucionalizado tem a astúcia de engolir até mesmo aqueles que nasceram para proteger a Terra. A política, como está organizada no Brasil, não acolhe as causas coletivas, ela as absorve, reconfigura e esvazia seus significados ancestrais.

É dentro desse jogo de máscaras que muitos parentes, ao ingressarem no cenário institucional, deixam de ser guardiões da floresta para se tornarem peças controláveis de uma engrenagem corrupta e corruptível. Acreditam estar se tornando gestores, mas na prática não têm poder de mando nem promovem mudanças efetivas para os povos, a não ser alguns eventos sociais que apenas alavancam candidaturas.

Alguns acreditam que ocupar espaços no governo representa um avanço. Mas não estamos vendo isso na prática. Outros, como nós, sempre alertaram para o risco de que essas estruturas sirvam apenas para administrar concessões e transformar direitos conquistados com muita luta e sangue em moeda de troca. A institucionalização serve, sobretudo, como instrumento de conciliação e controle. E se não houver enfrentamento real à lógica do capital e à colonialidade do poder, o caráter de guardião se dissolverá.

O sistema político não foi feito para nos libertar, ele foi feito para manter o capitalismo e os sistemas de exploração dos recursos naturais em movimento. E quando alguém aceita jogar segundo essas regras, sem tensioná-las e principalmente sem rompê-las, torna-se mais um gestor da destruição. Nunca um guardião, propriamente falando.

A imagem de “guardião da floresta” carrega em si a potência da resistência indígena há mais de 525 anos. É uma conexão incorruptível, porque nossa cultura ancestral não permite conciliação com quem nos fere é como água e óleo: não se misturam. A história mostra que, quando tomamos lados dentro da lógica do opressor, sempre somos traídos.

Quando alguém é cooptado pelo poder político, acaba se tornando apenas um símbolo publicitário. Uma espécie de acessório de uma falsa diversidade. Enquanto isso, a realidade territorial continua violenta, e as bases com suas urgências, suas vozes, seguem esquecidas

Pastas e documentos acumulam poeira. Nunca resultados.

Precisamos nos perguntar: que tipo de representatividade estamos construindo? Ela liberta ou apenas concilia? Ela eleva a voz coletiva ou serve para garantir os direitos individuais de quem já está dentro da estrutura? Os representantes indígenas de hoje agem como mensageiros da ancestralidade ou como mediadores econômicos de conflitos que deveriam ser enfrentados com coragem?

Seus projetos são realmente voltados para os mais desfavorecidos? Ou estamos vendo uma verticalização das prioridades, em que os parentes mais invisibilizados continuam sem escuta e sem retorno?

A luta indígena não é compatível com a lógica do lucro. Ela não se presta à vaidade, nem cabe na frieza dos invasores. A floresta é corpo vivo e quem é fiel ao papel de guardião carrega essa verdade com coragem, sem se deixar corromper.

Essa verdade mora nos corações indomáveis, atentos às falhas históricas da conciliação. Mesmo antes da República, os franceses e portugueses já manipulavam uma polarização durante o período da invasão. E quem pagou o preço da conciliação, ontem como hoje, foram os parentes.

A história repete suas armadilhas, mas nós seguimos lembrando, resistindo, e dizendo não!

Autonomia Indígena Libertária – AIL

agência de notícias anarquistas-ana

Já nasceram frutos.
Não descansa, mesmo assim,
a chuva de outono!

Maria Helena Sato

[Grécia] “Evangelismos não se rende, luta”

Na noite desta quarta-feira (23/04) centenas de pessoas, principalmente anarquistas, se reuniram em frente à Basílica de São Marcos, no coração da cidade de Heraklion, para se manifestarem contra o despejo da ocupação Evangelismos.
 
Os manifestantes carregavam faixas com slogans como “Evangelismos não se rende, luta”, “Vamos tomar tudo de volta”, “Defender as ocupas e as estruturas de luta”. O ato foi acompanhado por um forte contingente policial.
 
Primeira manifestação
 
Ataques ocorreram na noite de terça-feira (22/04) no centro de Heraklion durante uma passeata de manifestantes anarquistas que protestavam contra o despejo da ocupação “Evangelismos”. Bancos, lojas e um shopping center da cidade foram alvos de ações diretas.
 
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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/04/23/grecia-ilha-de-creta-ocupacao-evangelismos-e-despejada-pela-segunda-vez/
 
agência de notícias anarquistas-ana
 
Na tarde chuvosa,
Sozinho, despreocupado,
Um pardal molhado
 
Edson Kenji Iura

[Espanha] Manifesto Antimilitarista

Há meses, diferentes governos vêm tocando novamente os clarins da morte. Com um descaramento que já beira o obsceno — e permitido pela falta de contestação social —, dizem-nos que é urgente a União Europeia se rearmar, elevando os gastos militares para 800 bilhões de euros numa primeira fase. No entanto, não há justificativa pública para esse valor. Para contextualizar: a Rússia planeja aumentar seu orçamento militar em 30%, partindo dos atuais 72 bilhões de dólares. Somente a soma de França e Polônia já se aproxima de 100 bilhões atualmente, sem contar que a França aprovou em 2023 aumentar seus gastos para mais de 70 bilhões anuais até 2030 — e a UE é composta por 27 países com 27 exércitos.

Fala-se de ameaças fictícias, ignorando qualquer lógica, em uníssono com a inefável Ursula von der Leyen, atual presidente da Comissão Europeia, que defende mais que dobrar o orçamento militar — algo que os EUA já ordenaram na era Obama. Na Espanha, o gasto militar foi de 1,2% do PIB em 2023, mas apenas 0,9% foi executado, segundo a vice-presidente. Agora, querem chegar a 2%. Por enquanto. E os governos europeus aplaudem e amplificam a mensagem, incluindo o nosso, “o mais progressista da história”.

Só que nem isso é verdade. Um relatório de outubro de 2022 do Centre Delás d’Estudis per la Pau estimou o gasto militar real da Espanha em 2023 em 27,617 bilhões de euros — mais que o dobro do orçamento oficial do Ministério da Defesa e acima dos 2% exigidos pela OTAN. Outras fontes elevam esse valor para quase 40 bilhões. O truque? Há verbas militares escondidas em outros ministérios, não contabilizadas como “Defesa”. Apesar de algum debate recente, os gastos não pararam de crescer desde 2019, inclusive durante o governo PSOE-Podemos (2020-2023).

Altos funcionários afirmam que o armamento que buscam ampliar e modernizar são “armas para defender a democracia” e a “segurança do nosso modo de vida baseado em direitos”. Um sofisma ridículo, beirando o absurdo, quando lembramos as constantes violações desses mesmos direitos em vários países ocidentais, inclusive europeus:

  • Os assassinatos de migrantes nas fronteiras, sem responsáveis apesar das gravações;
  • Os campos de concentração italianos na Albânia;
  • As torturas em prisões e delegacias, reconhecidas até por tribunais europeus;
  • A venda de armas a Israel, em meio a um genocídio e com seu presidente sendo alvo de um mandado do Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra;
  • Os apoios entusiásticos a golpes de Estado pelo mundo;
  • As detenções e processos contra cantores, humoristas críticos, manifestantes antifascistas (como os 6 de Zaragoza), sindicalistas (os 6 da Suíça), integrantes do movimento antidespejos e sindicatos de inquilinos;
  • A revogação da maternidade de casais lésbicos na Itália e a ilegalidade do casamento homoafetivo, contra a vontade majoritária da população;
  • A morte de mulheres por lhes negarem aborto em gestações de risco na Polônia, ou a impossibilidade de adoção por pessoas LGBTQIA+ no mesmo país.

Nada disso difere significativamente da realidade social russa — nem mesmo da caricatura que a mídia faz diariamente daquele país. Não se trata de desculpar a falta de liberdade em outros lugares, mas de mostrar que, para nossos governantes (espanhóis ou europeus), direitos humanos e liberdade são apenas ferramentas para manipular a população, fazendo-a enxergar os interesses do poder como seus. Hoje, não é só a Rússia: a mídia já fala em “flanco sul”, referindo-se a Marrocos e outros, como se já estivéssemos em guerra.

É óbvia a tentativa de construir linguisticamente um inimigo fictício que justifique suas ações. Só assim se explica que os mesmos que chamam Putin de “ditador” tratem o carniceiro do jornalista Khashoggi — o príncipe herdeiro da ditadura absolutista da Arábia Saudita — com títulos nobres.

O discurso é amplificado porque, aos interesses geopolíticos descarados dos Estados, soma-se a ganância capitalista de quem lucra com a morte. Os industriais de armas esfregam as mãos: seus artefatos, feitos para matar pessoas e destruir cidades indiscriminadamente, serão comprados em massa e preparados para seus fins mortíferos. Já nos disseram mais de uma vez que guerras e o uso de armas “estimulam a economia”. Em 2024, batemos o recorde de 2,46 trilhões de dólares gastos em armamento mundial. Enquanto a economia deles dispara, os mortos somos sempre nós. Vários países já discutem reinstituir o serviço militar obrigatório para expandir seus exércitos. Von der Leyen, porém, riu quando uma jornalista perguntou se seus filhos iriam à guerra.

Além do risco direto de conflito armado, há o desvio de recursos de áreas vitais (saúde, educação, aposentadorias, cultura) para preparar a guerra. Líderes da OTAN já disseram abertamente que, se necessário, cortarão desses orçamentos já insuficientes. E sabemos quem sofre com isso. Muitos desses políticos têm investimentos na indústria da morte — por isso, é fatal dar qualquer crédito a esses supremacistas do privilégio.

Parte da esquerda, mesmo criticando o aumento, defende uma “independência militar europeia” para sair da OTAN; a direita quer manter o status quo. Ambos veem o exército como “defensor da cidadania”. Mas a história mostra que liberdades não são fruto da força militar — muito menos defendidas por ela (especialmente em países colonialistas). São conquistas populares, arrancadas do poder através de organização e mobilização, muitas vezes contra as próprias forças policiais e militares.

A consolidação ou avanço dos direitos depende da capacidade do povo de confrontar seus governantes, pois o exército sempre se voltará contra quem ameaçar a propriedade capitalista e o poder que a defende. É parte de seu DNA — assim como impor o colonialismo pela força onde a sede de riqueza de seus donos os levar.

POR TODAS ESSAS RAZÕES — E OUTRAS QUE SURGIRÃO NA CONSCIÊNCIA DE QUEM LUTA POR IGUALDADE, JUSTIÇA E LIBERDADE REAL — REPUDIAMOS A TENTATIVA DOS ESTADOS DE AUMENTAR SEU PODER MILITAR, POR MAIS QUE O DISFARÇEM DE “DISSUSÃO” OU “DEFESA” COM MENTIRAS, COMO SEMPRE FIZERAM.

Nossa pátria é o mundo.
Nossa família é a humanidade.
Nossa vocação é a vida.

Em todos os lugares:
Insubmissão, deserção e resistência
contra toda autoridade.

Grupo Anarquista Albatros (FAI)

federacionanarquistaiberica.wordpress.com

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Ao fim da fogueira
Apenas cinco cachorros
Dormindo ao redor.

Miyoko Namikata

[Chile] 1º de Maio Combativo | Dia do Trabalhador Subversivo

O 1º de maio não é uma data de celebração estatal nem uma jornada para a conciliação entre classes; é, em sua raiz mais honesta, um marco insurrecional. Recordamos aos que foram assassinados por rebelar-se contra a escravidão assalariada e, ao mesmo tempo, denunciamos a perpetuação do trabalho como forma de alienação estrutural nas sociedades capitalistas contemporâneas.

Desde nossa perspectiva, o trabalho imposto — como forma de mediação forçada entre o ser humano e sua sobrevivência — representa uma das mais perversas expressões de dominação moderna. Não é uma simples questão econômica, mas uma distorção ontológica: reduz a vida a função, a produtividade, a engrenagem em uma máquina que não serve à comunidade, mas ao capital. Nas palavras de Camus, “o trabalho sem sentido esvazia a alma”; e para nós, esse vazio se converte em campo de batalha.

Reivindicamos a sabotagem, a autogestão, a deserção da lógica do dever produtivo. Nos opomos tanto à figura do patrão como ao fetichismo do emprego: romper com o trabalho é abrir a possibilidade de outra ética, uma onde a atividade humana se oriente pela necessidade livremente reconhecida, não pela coerção do salário.

Este 1º de maio não marchamos por reformas nem por migalhas redistributivas. Marchamos pela abolição do Estado, pelo colapso do trabalho como instituição, e pela destruição integral do sistema capitalista. Frente à máquina de morte, afirmamos a vida em comum; frente à obediência, a insurreição permanente.

Porque não há liberdade sem ruptura total.

Porque não há justiça sem destruição do poder.

1º de maio subversivo, combativo e anárquico!

Contra o trabalho, contra o Estado e contra o capital.

Ação direta, apoio mútuo e autogestão.

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Chuva cinzenta:
hoje é um dia feliz
mesmo com o Fuji invisível

Matsuo Bashô

[Bélgica] Feira dos livros anarquistas em Gent, 17-18 de maio de 2025

O sol está brilhando novamente e a feira de livros anarquistas está de volta! Já é a 21ª edição.

Ainda queremos celebrar o papel em nossas mãos, longe do pesadelo digital que se infiltra em nossos círculos mais íntimos. Na feira do livro, você encontrará muitas outras publicações além de livros, brochuras, panfletos, pôsteres e adesivos. Desde romances antigos e clássicos revolucionários, passando por filosofia e poesia até críticas sociais contemporâneas ou os mais recentes apelos à luta: eles partem da vontade de mudar radicalmente o mundo. Eles compartilham ideias e tentam aprofundá-las. Ideias: não são opiniões comercializáveis, agradáveis, bonitinhas e sem compromisso.

Mas a feira do livro é muito mais do que isso!

A feira do livro anarquista também é um encontro internacional de anarquistas e antiautoritários, com discussões formais e informais. Queremos que a feira do livro contribua para o fortalecimento do movimento anarquista aqui. Nós a vemos como uma ferramenta para aprofundar ideias, uma oportunidade para lançar propostas e criar vínculos entre indivíduos e grupos. Queremos compartilhar nossas paixões uns com os outros e criar um contexto em que palavras e ações dancem juntas e se reforcem mutuamente.

Nossa anarquia carrega uma posição ofensiva contra o poder e uma vontade de subversão. A guerra e a militarização estão ao nosso redor. O governo está elaborando planos para construir fábricas de guerra, reintroduzir o serviço militar e quer fazer do país o centro logístico da preparação para a guerra. As economias em todas as frentes vão direto para a caixa de guerra. Para moldar o complexo militar-industrial, os Estados e o capitalismo não precisam apenas de bucha de canhão e trabalhadores, mas também precisam saquear a terra cada vez mais profundamente. Em todo o mundo, as minas estão sendo expandidas ou reabertas em busca de recursos para alimentar suas economias.

Estes são tempos sombrios, em que o medo e o desespero nunca estão distantes. Em todo o mundo, as pessoas estão lutando contra esses mecanismos de poder e dinheiro. Para nós, a feira do livro é um lugar para compartilhar, aprofundar e fortalecer essas lutas.

Bem-vindo à feira do livro em 17 e 18 de maio de 2025! Fique atento à programação completa em https://abgent.noblogs.org/

Até lá e viva a anarquia!

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agência de notícias anarquistas-ana

Súbita miragem —
Atravessando o viaduto,
Densas quaresmeiras.

Edson Kenji Iura

[Grécia] Solidariedade às ocupações despejadas

De Tessalônica a Creta, nada ficará sem resposta.
 
Uma faixa foi afixada na fachada do Centro Social Ocupado “Zizania” como um sinal mínimo de solidariedade com as três ocupações que foram alvo de operações militares de despejos nos últimos dias. De nossa parte, em Victoria, enviamos sinais de força, camaradagem e solidariedade. Nada termina aqui, vamos retomar tudo de volta, constantemente dando espaço às nossas lutas. Respondemos a cada despejo com 10.100 mil (re)ocupações.
 
SOLIDARIEDADE E FORÇA PARA RASPRAVA, EVANGELISMOS E STEKI FYSIKOU
 
Tirem suas mãos das ocupações
 
OCUPAÇÕES EM TODAS AS PARTES
OCUPAÇÕES SÃO ESPAÇOS DE REBELDIA
 
Centro Social Ocupado “Zizania”
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
Parada do trem –
Com o vendedor de flores
Vêm as borboletas.
 
Sôshi Nakajima

[Espanha] O fogo de Casilda Hernáez, a libertária que não se apaga

Completam 111 anos do nascimento de Casilda Hernáez, uma cenetista “pragmática” e com uma “vida interior muito intensa”.

Por Iban Gorriti | 15/04/2025


Inovadora. Revolucionária. Líder. Referência. Feminista. Nudista. Iconoclasta. Antifranquista. Cigana. Valente. Anarcossindicalista. Vocábulos como estes e mais se utilizaram para vestir a figura de Casilda Hernáez Vargas. A ela, havia termos que não gostava como o de miliciana. Preferia envolver-se em locuções como combatente. Duas décadas depois de seu falecimento, as bibliotecas, a hemeroteca, internet… mantêm com vida a essas denominações. No 111º aniversário de seu nascimento, diferentes pessoas que a conheceram das portas adentro de sua casa aportam à DEIA suas visões a respeito de sua figura histórica.

Mikel Orrantia recorre à “austera”, “um pouco seca, mas de afetos constantes”, “muito da CNT”, “de vida interior muito intensa”, “de vida quase monástica”, “muito trabalhadora”. Eugenio García, por sua parte, a distingue como “muito séria”, “comprometida”, “próxima”, “pragmática”, “boa”.

Não obstante, quem foi esta mulher nascida em Zizurkil em 9 de abril de 1914 e falecida em Lapurdi em 31 de agosto de 1992 por causa de um câncer pouco alegre desde que falecera seu companheiro em 1982, uma década justa antes que ela? Em sua lápide se aprecia a legenda atribuída a sua amiga Begoña Gorospe: “Andra! Zu zera bukatzen ez den sua!” (Mulher! Tú és o fogo que não se acaba!). Ela apresentava a si mesma como neta de uma mulher cigana que vivia em uma carroça cigana. Daí seu sobrenome materno: Vargas. “Eu era de uma família magnífica, dessas que tem todos as cores”, precisava em um livro de Luis María Jiménez de Aberasturi, impresso em 2012 e sob o título de ‘Casilda miliciana, historia de un sentimiento’. “Aquela avó e seus tios anarquistas influíram nessa militância que lhe encaminhou a participar nas primeiras greves que as obreiras bascas realizaram na capital de Gipuzkoa”. De fato, existe um ensaio informativo intitulado Anarquismo gitano, obra de Silvia Agüero e Nicolás Jiménez. Estes autores estimam que a “gitanologia clássica está carregada de estereótipos que considera esta cultura como anarquista por suas características”. O estudo reúne as impressões de seis personalidades ciganas — ou assim consideradas — que tiveram uma participação no anarquismo estatal durante a primeira metade do século XX: Casilda Hernáez Vargas, Casto Moreno Vargas, Catalina Junquera y Valencia, María de la Salud Paz Lozano Hernández, Helios Gómez Rodríguez e Mariano Rodríguez Vázquez. Uma HQ de Rubén Uceda, datada de 2022, também difunde sua biografia.

Tomando como referência a enciclopédia do anarquismo espanhol, de três tomos, a que também se citou Casilda ‘Méndez’ Vargas a citam como uma rebelde e idealista, feminista total, iconoclasta, das Juventudes Libertárias e que se tornou popular nas barricadas donostiarras de outubro de 1934. Antes de ser detida por aqueles fatos, assembleias anarquistas evocam que aquela basca era filha de mãe solteira. Cresceu no bairro donostiarra de Egia. Aprendeu a ler e escrever na escola pública de Atocha. Naqueles tempos nos quais a guipuzcoana rompia com o puritanismo católico banhando-se desnuda na praia de Gros, foi detida por distribuir pasquins e por posse de explosivos. Acabou condenada a 29 anos de prisão pelo que foi internada no forte de Guadalupe e em Madrid. Recobrou a liberdade com a anistia de fevereiro de 1936 da Frente Popular. Destacou-se nas lutas de julho daquele mesmo ano após o golpe de Estado. Lutou em Donostia e na batalha de Irun após o que ficou em Iparralde. Entrada por Catalunha, marchou na defesa de Madrid e a sua volta, combateu em uma brigada anarquista em Aragão.

Em maio de 1937, Hernáez esteve em Barcelona junto a quem passaria a ser seu companheiro de vida, o anarquista Félix Likiniano, artista autor do anagrama do ETA, organização com a qual teve contato, ainda que não tenha feito parte dela. Cruzada ao Estado francês, Casilda sofreu o campo de Argelès-sur-Mer e residiu um tempo em Lorient, região da Bretanha. Sua casa foi refúgio de sabotadores antinazis. Em outubro de 1943, o casal se estabeleceu em Biarritz e seu domicílio situado na rua principal da comuna labortana se converteu no centro de operações antinazis e antifranquistas, com organização de grupos na selva navarra de Irati. “Ante a decadência confederal, o casal se sentiu solidário com a luta do ETA, ao mesmo tempo que as relações entre o casal se azedavam, devido a que se disse que Likiniano era muito libertário, mas muito menos anarquista, e Casilda entrou em uma fase depressiva da qual parece que se recuperou mais tarde”, segundo o investigador Miguel Iñiguez.

Diferentes pessoas a recordam bem de ter estado em sua casa como por seu compromisso político. Neste último grupo estão pessoas como Iñaki Astoreka, histórico memorialista da CNT Bilbao. “Eu não conheci pessoalmente Casilda. As referências eram de companheiros veteranos como o falecido Luis Arrieta que contavam fatos acontecidos em 1936 na defesa de Donostia contra a sublevação fascista, na qual fez parte ativa. Depois através dos estudos sobre sua memória é importante ressaltar o papel que ela e outras mulheres desempenharam na luta pelas liberdades e desmontar as falsidades que sobre elas se verteram”.

Os históricos Mikel Orrantia, de Balmaseda e vizinho de Forua, e Eugenio García, que trabalhou durante quase quatro décadas na Imprensa Luna de Bilbao, trataram com Hernáez e Likiniano. “Recordo Casilda em sua casa e que costumava ir ajudar a uma amiga a trabalhar em um mercado”, começa García e continua: “Era uma tia muito séria e comprometida a nível da CNT. Era próxima e por sua casa passava todo mundo”. O encarcerado, por sua parte, conheceu a antifascista em dois tempos. Primeiro, após sua saída do ETA em 1971 e em seguida, após o falecimento do recordado revolucionário. “Casilda era de trato reservado e muito seca. Fechada em si mesma com uma vida interior muito intensa por causa das barbaridades cometidas pelos golpistas em Donostia, pelo sofrido no cárcere e no exílio. Tinha poucas relações com as pessoas, muito solidária e altamente comprometida, como também o era Likiniano”. Na opinião de Orrantia, a ácrata era “mais de Juventudes Libertárias e do anarquismo tipo Durruti que outra coisa”. Daí que pense que Hernáez “não foi uma líder política. Isso sim, as primeiras armas que ETA teve foram dos anarquistas. Liki e Casilda as entregaram porque acreditavam que o ETA ia ser sucessor da FAI”.

García avalia que eram muito diferentes. “Eu recordo Casilda como uma mulher muito pragmática e muito boa pessoa sempre disposta a ajudar, e Félix, por sua parte, como um pouco idealista. Ela, mais séria”. Morreu aos 78 anos.

Fonte: https://www.deia.eus/historias-vascas/2025/04/15/casilda-hernaez-fuego-libertaria-9524806.html

Tradução > Sol de Abril

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agência de notícias anarquistas-ana

o fogo partiu saciado
a floresta de luto
soluça

Eugénia Tabosa

[Finlândia] Workshop de fabricação de ovos cozidos veganos e noite de solidariedade para prisioneiros políticos veganos russos

Leppäsuonkatu 11, Helsinque

No interfone, pressione Ulrika e aguarde de 1 a 2 minutos – nós desceremos para levá-lo

3 de maio | Início às 15:00

Nas prisões russas, o direito a um estilo de vida ético é rotineiramente negado. Os prisioneiros veganos geralmente enfrentam discriminação simplesmente por suas crenças. A iniciativa Vegan Peredachki apóia cerca de 20 desses prisioneiros, enviando-lhes regularmente alimentos veganos, vitaminas e itens essenciais.

Programa:

15:00 – Chegada dos convidados e início do workshop (chegue pontualmente se quiser participar da culinária)

15:30 – Redação de cartas e cartões postais de solidariedade

17:30 – Degustação de nossos ovos veganos caseiros com tortas tradicionais da Carélia

Participação no workshop: 15€

(Pague em dinheiro ou MobilePay – toda a renda será destinada aos ingredientes e ao apoio aos prisioneiros)

Haverá lanches e bebidas gratuitos veganos e sem glúten disponíveis.

Por favor, não traga nenhum alimento não vegano,

Crianças e animais de estimação são muito bem-vindos!

O local é acessível para cadeiras de rodas, com passagens largas, elevador e banheiro acessível.

FB: https://www.facebook.com/events/1066713868628049

agência de notícias anarquistas-ana

Nuvem de mosquitos –
As flores da jujubeira
se espalham à volta.

Katô Kyôtai

[Grécia] Ilha de Creta: Ocupação Evangelismos é despejada pela segunda vez

A ocupação Evangelismos em Heraklion, Ilha de Creta, foi invadida pela polícia e despejada novamente na manhã desta terça-feira (22/04). Os companheiros que estavam lá dentro foram detidos e levados para o Departamento de Polícia de Heraklion e liberados ao longo do dia. A evacuação ocorreu a pedido do reitor da Universidade de Creta, Giorgos Kontakis.
 
História
 
A ocupação Evangelismos era uma clínica abandonada desde 1985, quando foi ocupada em 2002. Vinte e três anos de ocupação fizeram de Evangelismos um local emblemático do movimento anarquista na Grécia. Na madrugada de 30 de setembro para 1º de outubro de 2023, ela foi despejada pela primeira vez em meio à campanha eleitoral municipal e às negociações interacadêmicas.
 
Protesto
 
Hoje (23/04) à noite (às 20 horas), uma grande manifestação acontecerá na Praça dos Leões, no centro de Haraklion. O cartaz (em destaque) de convocação do protesto é bem claro:

TODA A CIDADE SABE: NENHUM DESPEJO FICARÁ SEM RESPOSTA. SOLIDARIEDADE COM A OCUPAÇÃO EVANGELISMOS.”
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
Sob esta ameixeira
Até mesmo o boi vem dar
Seu primeiro mugido!
 
Bashô

Espanha: Em memória de Colette

Algumas notas vitais sobre a companheira de Buenaventura Durruti, Émilienne Morin, e sua filha Colette, por ocasião do falecimento recente desta última na França.

Por Chema Álvarez Rodríguez | 22/04/2025

Há poucos dias faleceu na França Colette, também conhecida como Diana, de sobrenome de casada Marlot e de solteira Durruti. A notícia de sua morte, da qual não sabemos a data exata, chegou a uma imprensa restrita e aos meios libertários por ser filha de quem foi: Buenaventura Durruti, anarco-sindicalista morto na frente de Madri em 1936, defendendo a capital contra o fascismo. Quem não conhece Durruti?

Sabemos quase nada da vida de Colette, exceto o que teve a ver com a memória de seu pai. Às vezes, essa lembrança também traz a figura esmaecida de sua mãe, Émilienne Morin, a francesa que Durruti conheceu na Livraria Internacional Anarquista de Paris.

Émilienne tinha 26 anos e trabalhava, ou havia trabalhado, como secretária no jornal Ce qu’il faut dire…, fundado por Sébastien Faure. Filha de uma operária de fábrica, Ernestine Giraud, e de Étienne Morin, sindicalista e compagnon du bâtiment, Émilienne fez parte, em sua juventude, do grupo do 15º distrito de Paris, junto aos Jovens Sindicalistas do Sena. Ativa e comprometida com a causa revolucionária, também participou das campanhas pela libertação de Sacco e Vanzetti, assim como dos comitês de apoio à libertação de Durruti, Ascaso e Jover quando estiveram presos na França, mesmo sem conhecê-los. Em 1924, casou-se com o anarquista Mario Antonio Casari, também conhecido como Cesario Tafani e Oscar Barodi, de quem se divorciou três anos depois.

Em 14 de julho de 1927, Émilienne estava na Livraria Social Internacional, também chamada Livraria Internacional Anarquista, no número 72 da Rue des Prairies, no 20º distrito de Paris. A livraria, cuja abertura contou com apoio financeiro de anarquistas espanhóis, era gerida por Séverin Férandel, anarquista francês, poliglota, editor e companheiro à época de Berthe Suzanne Faber, diretora do jornal em língua espanhola Acción. Berthe e Émilienne não eram apenas companheiras, mas grandes amigas.

Naquele dia de verão parisiense, Berthe e Émilienne viram entrar na livraria dois espanhóis. Reconheceram imediatamente Durruti e Ascaso, que trabalhavam na Renault, e bastaram poucas palavras para que Durruti e Émilienne unissem suas vidas a partir daquele momento, selando uma relação no melhor paraíso que um anarquista poderia sonhar: uma livraria. Com o tempo, Berthe Faber também se tornaria companheira sentimental de Francisco Ascaso. A relação entre Émilienne e Berthe, os rumos de suas vidas após a perda dos companheiros, sua troca de cartas enquanto Berthe estava na Barcelona sitiada e faminta no fim da guerra, em dezembro de 1938, e Émilienne em Paris participando dos comitês de ajuda, sua amizade ao longo do tempo — daria para escrever outro artigo inteiro.

As forças vitais de Mimí, apelido de Émilienne, eram a inteligência e a independência. Esse testemunho foi escrito por Lola Iturbe, amiga pessoal, em seu livro A mulher na luta social e na guerra civil da Espanha. Lola a descreveu como uma mulher muito simpática, de pele clara e olhos azuis, com cabelo cortado à garçon, dotada de grandes habilidades oratórias, demonstradas nos debates públicos. Lola e Émilienne se conheceram em Bruxelas, pouco depois de Durruti ser expulso da França em 1927. Émilienne logo se reuniu com ele e participou dos debates públicos. As polêmicas a que Lola se refere eram discussões na Casa do Povo de Bruxelas, especialmente com os comunistas.

A morte de Durruti em 20 de novembro de 1936, na frente de Madri, foi um golpe duro para Émilienne. Colette já havia nascido. Tinha cinco anos.

Em março de 1979, Roberto Merino, advogado parisiense de Émilienne, publicou uma carta no jornal El País, fácil de encontrar na internet (Pensão para a viúva de Durruti), denunciando que Émilienne havia solicitado ao Estado espanhol a pensão de viuvez como familiar de “espanhol falecido em decorrência da guerra de 1936-1939”, com base num decreto real que permitia tais solicitações. No entanto, a resposta do Estado espanhol, por meio do cônsul em Paris, onde ela residia, foi que a maior dificuldade seria provar a existência de casamento entre Buenaventura e Émilienne, já que jamais haviam se casado. Certa vez, quando perguntaram a Mimí se havia se casado com Durruti, ela respondeu:

“Durruti e eu nunca nos casamos, é claro. O que você pensa? Os anarquistas não vão ao cartório. Nos conhecemos em Paris. Ele acabara de sair da prisão. Houve uma imensa campanha por toda a França e o governo cedeu. Ele foi libertado. Saiu naquela mesma tarde, visitou alguns amigos. Eu estava lá, nos vimos, nos apaixonamos à primeira vista e assim seguimos.”

Na carta ao El País, Merino denunciava a exigência dessa prova absurda por vários motivos: primeiro, porque os anarquistas não costumavam se casar, por não reconhecerem nem Deus nem Patrão (nem Igreja nem Estado); segundo, porque existiam numerosas e notórias provas de que Durruti e Émilienne eram, de fato, um casal, reconhecido em recortes de jornal e crônicas da época, pai e mãe de sua filha Colette.

Não sabemos se, ao fim, ela conseguiu o direito à pensão. Imaginamos que sim, pois não vemos uma mulher como Émilienne aceitando os desígnios de um Estado mesquinho que fundamenta a união entre pessoas em um contrato escrito.

Lola Iturbe conta que, quando Durruti morreu, viu Émilienne sofrida, mas espiritualmente forte. Iturbe guardou até sua morte a folha que Mimí, estremecida de emoção, escreveu à máquina em um escritório do Conselho de Defesa, com o título “À mon grand disparu“, “Ao meu grande ausente”, publicada na edição número 6 da revista Mujeres Libres, e antes em Tiempos Nuevos. A carta dizia:

“Em meio a esta imensa multidão que chora sinceramente sua morte, me sinto menos sozinha, e esta grandiosa manifestação de simpatia (de adoração, mais precisamente) me dá a força necessária para sobreviver a você.

Nenhum orgulho dita estas palavras; a glória, como para você, sempre me foi indiferente, e na solidão cultivarei sua lembrança.

Até a vitória final darei à luta antifascista meus modestos esforços. Tenho também outra missão: educar dignamente nossa pequena Colette, sua filha, de quem você tanto se orgulhava. Minha única ambição é fazer dela uma militante que se pareça com você tanto no espírito quanto nos traços físicos; você deixou à Humanidade um pouco de sua carne e sangue: nossa Colette é uma viva reprodução de sua face enérgica e bondosa. Diante de seu pobre corpo desfeito, que quis contemplar pela última vez, prometi solenemente a mim mesma superar minha dor e inculcar em nossa filha a energia indomável e a nobreza ingênua que nortearam toda sua vida.

Fazer de nossa Colette uma verdadeira DURRUTI, digna de sua linhagem espiritual, será toda a ilusão da minha vida quebrada.

A vocês, a todos os camaradas que o choram, dedico uma saudação fraternal e, em nome de todos os militantes anônimos que deram a vida pela Revolução, digo: Avante, até a vitória definitiva!”

Émilienne Morin

SAÚDE E FRATERNIDADE

A vida de Colette esteve ligada à memória de seu pai… e de sua mãe. Em uma intervenção para o jornal El País, quando se completaram 60 anos da morte do herói na Cidade Universitária, depois traduzida e publicada em francês, Colette Durruti recordou que sua mãe nunca quis falar com ela sobre a morte do pai, pois doía demais. Pessoa de caráter reservado, nas palavras de Colette, Émilienne nunca quis entrar no debate sobre se a morte de Durruti foi ou não acidental. “Ela me disse apenas uma coisa: seu pai, mais que um herói, era uma boa pessoa.”

Émilienne e Colette tinham apenas lembranças tangíveis de Durruti. A ocupação da França pelo fascismo nos anos 40 as obrigou a queimar todos os documentos que pudessem comprometê-las, incluindo fotografias e cartas. Apenas conservaram a máscara mortuária que Vittorio Macho fez de Durruti poucas horas após sua morte, e que estava pendurada em uma das paredes da casa em Quimper. Colette sempre afirmou que conheceu a vida do pai pelos muitos livros que foram escritos — e continuam sendo escritos — sobre ele.

Colette se casou em 1953 com Roger Marlot, com quem teve um filho e uma filha. Veio à Espanha em diversas ocasiões, algumas delas convidada para participar de homenagens ao pai e à memória de sua época. Morava nos Pirineus Orientais, em uma localidade que conhecemos — porque hoje as redes sociais e a internet permitem descobrir detalhes íntimos de qualquer um —, mas que preferimos não divulgar aqui. Sabemos que sua neta, que já deve estar beirando os 40 anos, sabe perfeitamente quem foram seus bisavós e o que significaram para a história de um país que sempre foi tão ingrato com aqueles que quiseram torná-lo melhor.

Colette Marlot, de solteira Durruti, também chamada Diana, nascida em 4 de dezembro de 1931 e falecida em um dia incerto de meados de abril de 2025, nos deixou na primavera. Intuímos que foi sempre feliz com sua família, para além dos sobrenomes. Que la terre lui soit légère (Que a terra lhe seja leve).

Fonte: https://www.elsaltodiario.com/obituario/memoria-colette

Tradução > Liberto

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agência de notícias anarquistas-ana

Abelhas procuram
— na florada escassa —
prolongar a lida.

Maria Helena Sato

[França] Anarquistas: uma história curta mas apaixonante

O nascimento de uma força

Logo após o nascimento do capitalismo moderno no século XIX, e no contexto de lutas generalizadas contra a exploração e o Estado, o termo “anarquista”, como é entendido hoje, começou a ser usado por revolucionários que romperam com a lógica reformista ou burguesa de seu tempo.

Em um contexto de revoltas em grande escala nas quais o capitalismo havia se enraizado, sob o impulso de novas formas de Estado, e após a revolução de 1848 na França, Proudhon, Coeurderoy e ainda mais Joseph Déjacque, exilado nos Estados Unidos, formularam uma crítica conjunta do Estado e do capitalismo. Max Stirner, um pensador amaldiçoado até hoje, desenvolveu reflexões fascinantes sobre o indivíduo, em grande parte em desacordo com seu tempo. Marx formulou uma crítica geral do capitalismo, mas baseada na economia e marcada pelo determinismo e por uma concepção “científica” da história.

A partir das experiências radicais da Primeira Internacional, da Comuna de Paris (1871) ou das contribuições de Bakunin, as tendências ativas do movimento operário ou camponês se diziam anarquistas. A Espanha viu numerosas greves e movimentos insurrecionais (como a de Jerez, Andaluzia, em 1892) e viu o nascimento do grupo armado dos Desheredados (os Deserdados). Na Itália, Malatesta e outros camaradas tentaram uma insurreição na região de Matese.

Os movimentos foram fortemente reprimidos, e as correntes anarquistas divergiram sobre a questão da organização ou métodos a serem utilizados para alcançar uma sociedade liberada.

Nos anos 1880 e 1890, os anarquistas defendiam a ação individual, a expropriação, a “propaganda por ação” e a revolta armada para derrubar o poder. Pequenos grupos eram particularmente ativos, como a Bande Noire (banda negra) de Montceau-les-Mines, no norte da França.

O caso do corredor da morte de Haymarket em 1886 tornou os anarquistas conhecidos em todo o mundo.

Numerosas ações brilhantes foram realizadas: bombardeios, assassinatos de Sadi Carnot, o presidente francês (1894), do presidente espanhol do Conselho (1897), da Imperatriz Sissi (1898), depois do rei da Itália (1900) e de McKinley, o presidente americano (1901).

Era a época de Ravachol, os Trabalhadores da Noite e outros grupos e indivíduos menos conhecidos, como os ladrões de trens de Arles.

Muitos desses rebeldes foram enviados para a colônia penal de Cayenne, onde foram os primeiros a se rebelar e escapar: Placide Schouppe, Jules Clarenson, Honoré Leca, Léon Pélissard e outros.

Revolução em todos os lugares

Em 1905, os anarquistas tomaram parte ativa na revolução que abalou a Rússia. Eles formaram os primeiros soviets e tinham redes muito ativas, como no gueto judeu de Bialystok, um centro insurrecional sem precedentes na história libertária. Estas redes serviram como uma experiência para a ação na segunda revolução russa de 1917.

Desde seus primórdios, a história dos anarquistas tem sido uma história de imigração. Muitos libertários partiram para a Argentina, Estados Unidos ou América Latina, onde muitas vezes estiveram na origem das organizações ou iniciativas mais radicais da época. Os anarquistas espanhóis fundaram grupos e organizações em Nova York, América Central e do Sul. Publicações em Yiddish, alemão e italiano apareceram da América do Norte até Buenos Aires.

1909 foi o ano da “Semana Sangrenta” na Argentina. No vizinho Chile, o governo já havia massacrado os grevistas nas obras do salitre de Santa Maria Iquique um ano e meio antes.

Na Espanha, é convocada uma greve geral em Barcelona. A cidade estava coberta de barricadas e os edifícios religiosos foram incendiados. O educador libertário Francisco Ferrer foi fuzilado pela monarquia no final da “Semana Sangrenta”.

Em 1910, eclodiu a Revolução Mexicana. Os anarquistas, organizados dentro do PLM (Partido Liberal Mexicano), já haviam tentado numerosas insurreições contra a ditadura de Porfirio Diaz. Eles têm uma base de apoio entre os trabalhadores mexicanos nos Estados Unidos e estão em estreito contato com as correntes revolucionárias americanas.

Mais lúcidos que os Zapatistas (a outra corrente radical da revolução) sobre a questão do Estado, eles levaram o projeto mais coerente do período: abolir o Estado e o capitalismo, e unir os esforços dos trabalhadores, camponeses e comunidades indígenas. É a única corrente que é implantada ou ligada a estes três componentes do proletariado mexicano.

Após a década de 1910, o movimento operário foi agitado e sacudiu o capital em todos os lugares: propostas anarquistas haviam se espalhado por várias décadas e foram adotadas em larga escala nas lutas da época. A insurreição ou a greve insurrecional é defendida como o meio decisivo para desencadear a revolução.

Fala-se de anarquistas em toda parte: no Japão, onde onze rebeldes são executados no que será chamado de “incidente de alta traição” contra o Imperador. Na França, os ilegalistas, como os do Bando Bonnot, permaneceram ativos. Alexandre Britannicus foi assassinado e Joseph Renard executado em 1913.

Desenvolveram-se as correntes do sindicalismo revolucionário (para o qual o sindicalismo é autossuficiente), do anarco-sindicalismo (mais anarquista do que o primeiro) ou do anarquismo operário argentino. As duas últimas foram reforçadas após a guerra de 1914-18, especialmente na América Latina.

A Argentina estava à beira da revolução, e a FORA (Federación Obrera de la Región Argentina) estava na vanguarda das lutas sociais.

Na Espanha, os combates entre os pistoleiros dos chefes e a CNT anarco-sindicalista resultaram em centenas de mortes em ambos os lados.

Nos Estados Unidos e no Canadá, a IWW lutou muito no mundo do trabalho, às vezes com armas na mão, e sofreu uma repressão feroz. Havia uma mistura de trabalhadores itinerantes e vagabundos, anarquistas e trabalhadores de todas as origens. As redes da IWW se espalharam pelos países de língua inglesa através dos marinheiros do sindicato.

Os anarquistas têm uma forte presença nos movimentos dos trabalhadores na China e na Coréia, mas também em países como a Suíça e a Suécia.

Críticas anarquistas

Desde o início do século, nas Causas Populares em Paris ou nos Ateneus, um grande número de questões importantes relativas à educação, sexualidade, saúde e cultura foram discutidas, na maioria das vezes em clara ruptura com as concepções dominantes da época e sem especialistas. Isto deu uma forte consistência às propostas dos anarquistas, reforçadas por sua participação nos movimentos e na vida cotidiana. A ação direta é defendida como um motor essencial para transformar as relações sociais e destruir a exploração e o domínio.

É uma tentativa de acabar, pelo menos parcialmente, com as separações deste mundo: os anarquistas pegam em armas e praticam o naturismo ou se apresentam no teatro. Os expropriadores espanhóis atacaram bancos e financiaram a publicação da Enciclopédia Anarquista. Outro expropriador, o ítalo-argentino Severino Di Giovanni, publicou as obras do geógrafo libertário Elisée Reclus.

As mulheres eram especialmente ativas no movimento. Na Argentina, o primeiro jornal anarquista escrito por mulheres, La voz de la mujer (A Voz da Mulher), foi publicado em 1896… Teresa Claramunt na Espanha, He Zhen na China, Voltairine de Cleyre nos Estados Unidos e muitos outros camaradas lutaram pela emancipação das mulheres e de todos. Fumiko Kaneko, uma imigrante coreana no Japão, lê Stirner e planeja com sua companheira matar o imperador do Japão ou seu filho.

Na Alemanha, posições muito avançadas são comuns nos círculos anarquistas: Erich Mühsam faz intercâmbios com Freud e o revolucionário psicanalista Otto Gross, a homossexualidade é defendida por anarquistas como Adolf Brand ou Senna Hoy.

Da Rússia até a Espanha

1917 foi o ano da revolução russa: os anarquistas, tendo acreditado que as alianças com os bolcheviques de Lenin eram possíveis, defenderam as formas mais radicais utilizadas pelos movimentos operários e camponeses e se opuseram ao novo poder com as armas na mão. Foi a epopeia da Ucrânia (às vezes idealizada) anarquista, e depois a repressão, que destruiu o movimento revolucionário (Kronstadt foi derrotada em 1921).

Os sobreviventes logo estarão no gulag e terão que lutar na clandestinidade.

Durante 1919, uma grande parte da Europa viu experiências revolucionárias: a República dos Conselhos na Baviera, a comuna de Budapeste, os conselhos de fábrica em Turim.

Na Alemanha, os anarquistas participaram de uma espécie de governo revolucionário. Em Budapeste, seus camaradas, confrontados com uma situação semelhante, estavam divididos sobre a questão. Uma corrente, os Almassistas, rejeitou a colaboração com os comunistas autoritários liderados por Bela Kun.

A tomada do poder pelo governo desencadeou a repressão. Os regimes que foram estabelecidos rapidamente evoluíram para o fascismo ou nazismo.

Na Argentina, a FORA sofreu duras repressões e o massacre da “Patagônia Trágica”. O alemão Kurt Wilckens matou o homem responsável pela repressão.

Os anarquistas não desistiram da luta e agiram na clandestinidade na Rússia, Bulgária (ao redor de Cheïtanov) ou na Alemanha (o Grupo Vermelho e Negro ou Schwarzrotgruppe tentaram duas vezes, após anos de clandestinidade, assassinar Hitler).

O caso de Sacco e Vanzetti, anarquistas de ação convencidos de origem italiana, condenados à morte nos Estados Unidos, desencadeou protestos de solidariedade em todo o mundo.

Na Itália, os anarquistas tentaram assassinar Mussolini: Gino Lucetti em 1926 e Angelo Pellegrino Sbardaletto em 1932 (que foi fuzilado), além da ação do muito jovem antifascista Anteo Zamboni em 1926.

Na América Latina, o anarco-sindicalismo continuou sendo uma força importante na década de 1920. Foram forjados laços estreitos entre os trabalhadores revolucionários na Bolívia e o movimento indígena altamente ofensivo.

No Paraguai houve uma tentativa de insurreição em 1931, o que levou à breve experiência da Comuna Encarnación.

A repressão era dura em todos os lugares. No início dos anos 30, os anarquistas haviam perdido grande parte de sua influência para as tendências reformistas, colaboracionistas e autoritárias.

Na Suécia, os grevistas de Adalen foram fortemente reprimidos pelas autoridades.

Foi neste contexto que a revolução espanhola eclodiu em julho de 1936. Os nazistas estavam no poder na Alemanha e os fascistas controlavam a Itália. A revolta militar espanhola se seguiu ao golpe de Estado organizado dois anos antes em Portugal por Salazar, ao qual os anarco-sindicalistas portugueses haviam respondido com armas na mão. As autoridades os enviaram para a prisão Tarrafal em Cabo Verde.

Os anarquistas da CNT, com sua experiência histórica de greves de massa, várias tentativas de insurreição localizada no início dos anos 30 e a revolta das Astúrias (1934), resistiram ao golpe de Estado fascista, em particular graças a comitês de defesa preparados e treinados. O proletariado espanhol e a CNT lançaram a experiência de coletivizações na parte livre do país (Catalunha, Aragão, Valência, Murcia, Castela), e colocaram em prática seu projeto de comunismo libertário, discutido e amadurecido por anos.

A experiência foi enfraquecida pela participação no novo governo que queria unir as organizações de “esquerda”. A CNT, a primeira força revolucionária, apesar das diferenças dentro dela, renunciou à defesa da autonomia do proletariado e colaborou. Esta lógica política, contrária às concepções anarquistas afirmadas durante décadas, não foi perdoada: combatido pelos comunistas autoritários ligados à URSS de Stalin, assim como pelo exército de Franco, o proletariado espanhol sofreu uma sangrenta derrota.

O último bolsão revolucionário deixado no Ocidente antes da Segunda Guerra Mundial foi derrotado, e com ele a experiência mais bem-sucedida de transformação revolucionária do século 20. Os anarquistas espanhóis estão estacionados em campos de concentração no sul da França. Alguns foram para o exílio. Muitos queriam continuar lutando e se envolveram com a Resistência na França.

Os anos trágicos e o período pós-guerra

Quando eclodiu a Segunda Guerra Mundial, os maquis anarquistas permaneceram na Espanha, como os irmãos Quero (1940-1946) e os Jubiles (1939-1944) na Andaluzia, de Santeiro (Astúrias e León), de os Pinches na Galiza (ativos até 1950), assim como os que uniram os anarquistas com outras correntes.

Na Romênia, os Haiduks da Cotovschi realizaram atividades guerrilheiras de 1939 a 1941 e foram exterminados.

Na Itália, os anarquistas foram muito ativos na resistência e foram capazes de restabelecer seu movimento na Liberação.

Na França, os anarquistas, principalmente espanhóis, eram muito ativos como maquis antifascistas ou FFI, e liberaram várias cidades.

Os anarquistas do “terceiro campo” e certas correntes marxistas tentaram durante a guerra afirmar posições hostis aos diferentes campos beligerantes, e liderar ações em uma perspectiva internacionalista e proletária.

Na Alemanha, grupos clandestinos de anarquistas e comunistas de conselho estavam ativos após a guerra, especialmente em torno de John Olday, que esteve envolvido durante a guerra na revista War Commentary, na Inglaterra.

Após o armistício, uma CNT foi reconstituída na França. De acordo com algumas fontes, seus números eram significativos. Mas, uma peculiaridade francesa, os libertários iam favorecer o entrismo nos principais sindicatos, o que enfraquecia as posições da classe autônoma. Entretanto, a luta social foi intensa, com movimentos de greve maciça em 1947 e 1950, e episódios insurrecionais, como em 1955.

Por sua vez, os anarquistas espanhóis no exílio se lançaram na Espanha: vários ataques contra Franco foram organizados (incluindo um ataque aéreo em 1948), e a guerrilha organizou operações a partir da França. Gradualmente foram abandonados por sua organização, que se tornou imobilizada. Caracremada, o último guerrilheiro ativo, foi assassinado em 1963, depois de Facerías, Quico Sabaté e muitos outros.

Apesar da recomposição do mundo e da polarização em torno dos dois blocos vencedores da Segunda Guerra Mundial, revoltas importantes rapidamente nos lembraram da necessidade de uma revolução contra os blocos, os estados e o capital. O clima foi criado pela revolta dos trabalhadores em Berlim Oriental em 1953, que foi derrubada pelas autoridades comunistas, e depois em Budapeste, em outubro de 1956, quando foram criados os conselhos de trabalhadores.

Cuba é um dos países onde os anarquistas ainda estão ativos, após décadas de luta. De 1953 a 1959, eles participaram da luta para derrubar a ditadura de Batista. Assim que Fidel Castro chegou ao poder, eles foram severamente reprimidos. Aqueles que não acabaram na prisão foram para o exílio nos Estados Unidos e criaram fortes redes na Flórida.

Embora alguns revolucionários tenham escolhido defender um ou outro lado nestes anos turbulentos, na lógica do “mal menor”, estes eventos, como as intervenções dos Estados Unidos ou da França no exterior, demonstram a falsidade da lógica conciliadora.

A Revolução novamente

Os anarquistas começaram a se fazer sentir novamente por volta de 1968, especialmente as correntes capazes de captar os desenvolvimentos da época (a juventude como uma nova força revolucionária, o papel colaborativo dos sindicatos ainda mais marcado do que antes da guerra). Eles tomaram parte ativa no movimento de 1968.

Agora eles se inspiram no Socialismo ou Barbárie e na Internacional Situacionista e criticam a militância desligada da vida ou os aspectos ideologicamente marcados das teorias revolucionárias do passado.

Se a revolução fracassara na França, muitas pessoas se envolveriam nos anos seguintes em várias lutas de grande escala, desde o movimento anti-nuclear e greves selvagens até motins urbanos.

Na Itália, os “anos de chumbo” começaram com o assassinato do anarquista Giuseppe Pinelli.

Nos Estados Unidos, um movimento de protesto fundamental sacudiu a sociedade, contra o pano de fundo da Guerra do Vietnã (onde pelo menos mil oficiais foram mortos por soldados rebeldes!). Revistas como a Fifth Estate ou os textos de Freddy Perlman criticaram a base científica das teorias revolucionárias históricas e seu culto ao Progresso (incluindo o anarquismo). As organizações são questionadas em todos os lugares.

Grupos “autônomos”, às vezes armados, mais ou menos estruturados e especializados dependendo do caso, surgiram em vários países: em particular a Brigada da Raiva na Inglaterra (1970-1972), a GARI na França em 1974, e a Brigada George Jackson no Noroeste americano (1975-1977).

A Espanha, onde a agitação foi forte desde o início da “transição democrática”, especialmente nas fábricas, foi marcada pelos confrontos em Vitória, em 3 de março de 1976. Este massacre ocorreu após a execução de Salvador Puig Antich dois anos antes pelo governo de Franco. Em 1978, o caso Scala, uma criação do novo Estado “democrático”, tentou enfraquecer os anarco-sindicalistas da CNT e outros revolucionários de rua.

Levantamentos revolucionários, com tons antiautoritários mais ou menos fortes, ocorreram em Portugal (a “Revolução dos Cravos” de 1974), e depois na Itália em 1977, onde o prazer armado, um manifesto anarquista, circulou maciçamente em Bolonha. Depois veio a revolução iraniana de 1979, Polônia, África do Sul contra o apartheid…

Lutas importantes contra a indústria nuclear foram travadas tanto na Europa (Wyhl na Alemanha; Plogoff, Chooz e Golfech na França) quanto nos Estados Unidos, nos quais anarquistas e outros antiautoritários participaram ativamente.

Os anos 80 foram marcados pelas derrotas dos principais movimentos revolucionários, e a ideia de uma transformação revolucionária da sociedade tornou-se menos visível, especialmente após a aniquilação dos mineiros britânicos no final da grande greve de 1984-85.

No entanto, movimentos e revoltas menores continuaram a ocorrer. Os anarquistas foram ativos no movimento anti-prisão na Espanha, em vários grupos autônomos, na luta anti-nuclear na Itália.

Nos anos 90, a riqueza das propostas anarquistas foi redescoberta em países em tensão. Este foi particularmente o caso na América Latina após o período de ditaduras, através dos movimentos punk e anarco-punk.

Os anarquistas italianos, apesar de seus próprios aspectos ideológicos do insurrecionalismo, mostram que é possível agir aqui e agora, sem um movimento de massa, enquanto alguns anarquistas permanecem fortemente apegados ao passado, a lógicas comemorativas ou culturais.

Novas redes estão se formando. As correntes anarquistas e antiautoritárias continuam fortes em muitos países, apesar das perdas significativas em termos de crítica desde os anos 70, do avanço da alienação e da crescente invasão da mercantilização em todos os cantos do mundo.

O peso da ideologia às vezes é pesado, assim como a permeabilidade à lógica política, ou às novas modas que saem da Universidade. Nasceu uma enxurrada de correntes e “ismos”, compostos e recompostos de acordo com falsas novidades que os burocratas, pequenos líderes e intelectuais mais ou menos institucionais capitalizaram.

Entretanto, os anarquistas permaneceram em posição de dar importantes contribuições para as lutas de seu tempo. Eles estão no centro do movimento de revolta na Grécia, que culminou em 2008. Casos e esquemas repressivos, às vezes sob o rótulo de luta contra o “terrorismo”, visaram camaradas na França, Itália, Chile, Espanha ou México.

Além das lutas lideradas por anarquistas, é particularmente importante compreender a importância das lutas lideradas em toda parte contra a exploração e o domínio (contra os transgênicos, contra projetos industriais e de desenvolvimento, lutas urbanas desenfreadas, etc.), sejam elas de escopo limitado ou não. Várias correntes e grupos antiautoritários foram capazes de fazer isso e se equiparam com os meios para intervir diretamente na busca de coerência com os objetivos reivindicados.

As contribuições das diversas correntes anarquistas do passado continuam sendo fundamentais. A consequência histórica dos anarquistas em sua luta contra o existente, sua promoção da ação direta e da vontade humana como motores essenciais da transformação revolucionária, ou sua insistência na importância da coerência entre os meios e o fim, representam armas fundamentais na luta contra este mundo.

Também vale a pena notar sua concepção anti-elitista de luta e atividades, incluindo a teoria. Ao contrário dos especialistas que ganham fama com suas “contribuições” e reivindicam a autoria, é importante apontar o que nos oprime, em nossas próprias condições, e esclarecer as lutas que travamos, identificando seus limites e contradições. Contra a frieza analítica e a suposta objetividade dos intelectuais, é necessário fazer referência a situações e momentos vividos, rejeitando papéis e lutando contra a reprodução das relações hierárquicas desta sociedade.

Os anarquistas escreveram e continuam a escrever belas páginas de luta, que falam com nossas cabeças e corações. Porque eles eram e ainda são indivíduos de carne e osso, com suas contradições e sua grandeza.

Sem a necessidade de forjar ícones e modelos, encontramos inspiração nas magníficas canetas de Armand Robin ou Stig Dagerman, no entusiasmo combativo do argentino Rodolfo González Pacheco, na ação revolucionária realizada em todo o mundo pelos anarquistas italianos (do Egito à América), na profundidade das contribuições de André Prudhommeaux.

A história dos anarquistas e suas lutas também é veiculada através da memória de personalidades cativantes e apaixonadas como Octave Jahn, eterno rebelde da França à Espanha e depois ao México; de rebeldes vitalícios como Gino Gatti, o expropriador; inovadores como os jovens holandeses libertários do grupo De Moker; Louise Michel que confraternizou com os Kanaks em seu exílio na Caledônia; indivíduos fortes como Maria Monbiola, também conhecida como Maria Dinamita, de Toulouse, Emma Goldman, a chilena Flora Sanhueza, e muitos outros.

Que chovam os paralelepípedos!

Maio 2017

souslaplagelespaves[@]riseup.net

> Nota final <

Este pequeno texto não pretende oferecer um ABC, um manual chave de anarquismo chave, nem apresentar uma história suave, sem contradições, feita de heróis e mártires. Ela deve estar ligada a nossas Perspectivas.

É, portanto, mais uma evocação da riqueza das lutas travadas pelas correntes anarquistas que nos precederam do que uma apropriação, um desejo de justificar nossas lutas atuais no passado.

Esperamos que sirva para restabelecer alguns elementos de uma história que alguns muitas vezes criticam a partir de posições confortáveis, com frieza ou a partir de teóricos “reconhecidos”, quando a história foi escrita em lágrimas e sangue.

Não pretendemos evacuar as contradições da história anarquista. Mas pensamos que isto deve ser feito pelas revoltas, em relação à crítica que elas carregam contra o que as oprime.

A Sociedade do Espetáculo tem feito muito para que as ricas experiências do passado caiam no esquecimento, em um momento em que a temporalidade das redes sociais facilita a superficialidade, em detrimento da transmissão de práticas e experiências. Que este texto sirva como uma modesta contribuição para reverter esta tendência, e o resto.

> Uma nota adicional sobre a história <

Não subscrevemos a visão linear que apresenta a história humana como uma sucessão qualitativa de fases, no final das quais chegaríamos à liberdade.

A história da luta pela liberdade não começou com os anarquistas. Varia de acordo com os diferentes contextos vividos pelas sociedades humanas em sua diversidade histórica, desde a luta das tribos contra as civilizações, passando pelos grandes movimentos camponeses do Ocidente, até as lutas dos escravos ou das comunidades contra a colonização na América e em outros lugares…

Em alguns desses contextos, algumas vezes surgiram concepções que podem ser semelhantes às dos anarquistas, historicamente ou hoje. Pensamos, por exemplo, que as revoltas que abalaram a Inglaterra a partir do século XVII e suas correntes radicais, a experiência de certos piratas e Ludditas quebradores de máquinas, têm um conteúdo antiautoritário mais pronunciado do que as experiências que ocorreram “em casa” durante a Revolução Francesa, cujas correntes são todas marcadas pelo centralismo, o culto do Estado e da Nação.

Não há nenhum sujeito revolucionário, nenhum grupo cujo papel, missão ou vontade natural seja fazer a revolução. Não há nenhuma categoria, assunto ou contexto a ser idealizado.

Cabe-nos, portanto, continuar a estudar, com suas contradições e sem fetiches, a rica história das revoltas tribais e camponesas, as lutas dos mendigos, dos miseráveis e outros lúmpen proletariados, que trabalharam antes de nós para perturbar o existente, a fim de viver de forma diferente.

Fonte: https://www.meneame.net/m/Lib%C3%A9rtame/anarquistas-historia-corta-pero-apasionante?

agência de notícias anarquistas-ana

Cai da folha
a gota d’água. Lá longe,
o oceano aguarda.

Yeda Prates Bernis