Entre 12 e 14 de agosto, foi realizado em Salamanca o 4º Encontro do Livro Anarquista. Foram organizadas várias atividades de temática cultural libertária, que incluiu: apresentação de vários livros recentemente publicados, um recital poético, concerto de cantores, feira do livro e a exibição de um documentário sobre as macroprisões.
Nesta edição, os organizadores, continuando com o objetivo de levar o Encontro cada ano a um ponto diferente da cidade; elegeram como lugar dos atos o Centro Cívico do bairro de “Puente Ladrillo”, realizando a feira do livro adjacente ao parque Tomás Breton, com a participação de várias distribuidoras e livrarias de todo o país. Embora este ano se observasse a presença de menos participantes do que em edições anteriores, continuou existindo uma fantástica atmosfera cultural e fraternal, que caracteriza o Encontro do livro em Salamanca.
Os eventos começaram sexta-feira, com a abertura do Encontro pelos organizadores, que agradeceram e incentivou a participação ao mesmo, falando, além de questões locais, especialmente da ordenação cívica da cidade, que é repreendida desde a sua adoção há 3 anos a todos os coletivos sociais e vizinhança que se atrevam a fazer uso legítimo da rua para suas atividades.
Seguindo, um companheiro chileno apresentou o livro “Rebeldía, subversión y prisión política. Crimen y castigo en la Transición chilena” (Rebeldia, subversão, e prisão política. Crime e castigo na Transição chilena (1990-2004)), descrevendo a situação política, carcerária e revolucionária que viveu o país andino desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet.
À noite, o militante libertário e poeta jienense, Juan Cruz López, coordenou um recital de poesia em que leu seus poemas e também vários de outros poetas, a maioria relacionados com a luta, a desigualdade social e os problemas humanos (especialmente que diz respeito à prática da sociedade como um todo, ou seja, os trabalhadores); ao final da noite, vários participantes também foram estimulados a recitar alguns versos, elaborando em comum um divertido “cadáver requintado”.
O sábado começou com a apresentação e debate do livro “Ejércitos en las calles” (Exércitos nas ruas), que foi publicado este ano pelo Bardo, defendendo suas teorias sobre como a OTAN está desenvolvendo uma militarização planejada da sociedade, e como nós inconscientemente aceitamos a mesma.
No início da tarde, solidários com Tamara (anarquista esperando julgamento por sua solidariedade demonstrada durante a campanha pela liberdade de Amadeu Casellas) fizeram um breve esboço da situação penal em que se encontra a companheira.
Este foi seguido pelo painel de editoras libertárias, que discutiu vários editores e livreiros com a sua presença na feira. O debate foi longo, versando sobre a necessidade ou não de levar nossos livros para cadeias comerciais, a importância da publicação de livros de temática específica anarquista, como chegar mais às pessoas e à distribuição em autogestão (como é feito, por exemplo, em várias feiras e rastrillos organizados).
O último ato da tarde de sábado foi a apresentação do livro “La autogestión en la España revolucionaria (1936 – 1939)” (A autogestão na Espanha revolucionária) pelo seu autor, o pesquisador francês Frank Mintz, que falou sobre os anos de transformação social em que as organizações e ativistas libertários desempenharam um papel importante, estabelecendo semelhanças com experiências de coletivização atuais na Argentina e em outras partes do mundo.
E à noite os cantores: Diego, Buter e Pelando Cebollas, tocaram suas músicas, em uma grande atmosfera festiva em que não prevaleceu o álcool ou altíssimos decibéis, e sim as boas vibrações, respeito e a vontade de aprender.
Após o café da manhã de domingo e da colocação dos postos na feira, começou com a apresentação conjunta dos livros: “Catastrofismo. Administración del desastre y sumisión responsable” e “Chernoblues. De la servidumbre a la necesidad de servidumbre” (Catastrofismo. Gestão de desastres e submissão responsável) e (Chernoblues. Da servidão à necessidade de escravos).
À tarde, o militante da CNT David Ordóñez apresentou o seu livro “Agitación anarcosindicalista” (Agitação anarcossindicalista), oferecendo uma análise pessoal sobre a organização sindical libertária, apontando seus pontos fortes e fracos, desde uma perspectiva crítica e construtiva, o que gerou muita discussão.
Para concluir o Encontro, dois membros do coletivo “Autodefentza Taldea” de Vitoria, comentaram sobre o documentário “Contra las macrocárceles” (Contra as macroprisões), relatando sua luta contra a construção da prisão de Zaballa (Álava).
Ressaltar também que todos os dias a alimentação teve um cardápio vegano, onde pudéssemos continuar as conversas iniciadas nas palestras; assim como os companheiros da Rádio Onda Expansiva de Burgos fizeram uma cobertura constante do Encontro.
Minha impressão particular é boa: o Encontro de Salamanca se consolida e também o grupo regular de organizadores e participantes que se comprometem a melhorá-lo em cada edição. Acredito que iniciativas como esta são necessárias para o movimento libertário, pois é um lugar de encontro de companheiros de distintas tendências, que colocam juntos construtivamente seus pontos de vista diferentes, algo realmente louvável e interessante atualmente.
Também considero muito importante “sair de nossos locais”, trazer nossas idéias para os bairros, levando livros para os vizinhos, conversando com eles e conhecendo seus problemas e preocupações; o processo é lento, mas temos de continuar abertamente, sem dogmas, devemos ir por tudo, com sinceridade e sem complexos, com união e “sem ralladas”, acreditando no que difundimos para construir alternativas aqui e agora.
É desejável e necessária a divulgação das nossas propostas “fora do gueto”. Devemos chegar à sociedade sentindo-se parte dela, não sujeitos isolados e distintos dos nossos semelhantes; convencer não é fácil, mas movimentos horizontais e de assembléias como o 15M abriu uma maneira emocionante que em até seis meses era impossível de pensar.
O anarquismo pretende ser uma ideologia de massas, atitudes “marginais” que às vezes (felizmente cada vez menos) fomentam determinados companheiros: promovendo uma estética estereotipada ou uma falta de higiene e limpeza, e, claro, longe da maioria das pessoas, não estão exatamente de acordo com nossas idéias. Devemos definitivamente superar esses comportamentos, não estão de acordo.
Indicar que se fez falta a presença de mais companheiros dos sindicatos da CNT nos atos, pois o ambiente era compatível para eles e teria sido muito interessante sua presença; espero que depois de ler estas linhas se animem a vir no próximo ano.
Para concluir, destaca-se o comportamento vergonhoso da Prefeitura de Salamanca e da polícia local, que recusaram a permissão de petição da rua para realizar a feira do livro sem qualquer motivo justificado; apesar de estar na ilegalidade foi decidido montar os postos no lugar solicitado, em protesto contra a terrível e totalitária política institucional. Finalmente a polícia não apareceu e, portanto, não houve nenhum problema.
O ano que vem mais e melhor, nos veremos em Salamanca.
Para mais informações, consulte o blog: www.encuentrosalamanca.blogspot.com.
Carlos Coca
agência de notícias anarquistas-ana
parecem ter frio
as andorinhas lá fora
todas juntinhas…
luiz gustavo pires

Anônimo, não só isso. Acredito que serve também para aqueles que usam os movimentos sociais no ES para capturar almas…
Esse texto é uma paulada nos ongueiros de plantão!
não...
Força aos compas da UAF! Com certeza vou apoiar. e convido aos demais compa tbm a fortalecer!
Não entendi uma coisa: hoje ele tá preso?