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[Espanha] “Têm conseguido que o povo seja o pior inimigo do povo”

By A.N.A. on 17 de Dezembro de 2013

lonjanov
[Francisco Contreras, Niño de Elche, é no dia de hoje uma das vozes flamencas mais interessantes da cena alternativa espanhola. Conversamos com ele sobre seu último disco, uma homenagem a Miguel Hernández, atípica, não comercial, centrada em nosso presente de lutas e confeccionada da forma coletivista. Niño de Elche, um exemplar estranho de flamenco, onde arte e vida se confundem em liberdade e anticapitalismo.]

Por Antonio Orihuela

Pergunta > De onde vem e a aonde vai El Niño de Elche?

Resposta < Venho do flamenco, da canção de autor, da poesia, do metal, do minimalismo, do serialismo, do industrial, do contemporâneo. Vou até a busca e a mescla de mais influências artísticas para ir alimentando meu discurso que sempre tento que esteja em processo e assim poder encurtar a distância entre arte e vida.

Pergunta > A partir de que lugar é preciso pensar o flamenco hoje?

Resposta < Eu gostaria que se pensasse a partir do remix como fator crucial da criação artística e que tudo isso se baseasse conceitualmente nas questões sociopolíticas do momento. Creio que assim conseguiríamos um flamenco que realmente conectasse conosco de uma forma mais sincera e direta.

Pergunta > Frente ao resto dos cantores políticos, o que te distingue?

Resposta < Há duas diferenças que creio que são chaves. A primeira é que utilizo o corpo como primeiro espaço de construção do sujeito político e a segunda é que procuro que os textos que seleciono sejam o mais concreto possível com relação aos temas que esteja tratando.

Pergunta > Com tuas qualidades vocais, por que não escolheste o fácil, o comercial, não te seduziste pelo mercado, pela tradição, pelo poder?

Resposta < Porque quis ser fiel ao discurso que ia nascendo em mim. Graças às influências que comentavas antes, pude abrir meus sentidos ao que me rodeava e conectar com questões as quais o flamenco não me convidava e das quais me separava cada vez mais por suas formas estilísticas e estruturais. Dei o passo sem refletir como estou fazendo agora, já que é uma espécie de chamada interior pela qual te deixas levar, por que acreditas nisso como fonte de vida. Imagino que será como quem sente uma chamada de fé até algo e dá o passo sem olhar as consequências. Isso é o que me acontece e continua acontecendo, e graças a que continuo encontrando pessoas afins a estas formas de fazer, continuo alimentando essa crença de que o discurso fiel a um pensamento é mais satisfatório que qualquer mercado de poder.

Pergunta > Por que um disco sobre poemas de Miguel Hernández?

Resposta < É a primeira referência de qualquer um que nasça na província de Alicante e tenha inquietudes pelos problemas sociais de seu tempo. Depois de aproximar-me a ele por motivos políticos, fui descobrindo sua magnífica obra. Quando acreditei que tinha o conhecimento suficiente da vida e obra do poeta oriolano, empreendi vários trabalhos que me encaminharam a dizer um “Sim, a Miguel Hernández”.

Pergunta > Quanto há de experiência coletiva neste “Sim, a Miguel Hernández”, teu último disco?

Resposta < Desde a narração biográfica de José Lui Ferris, as vozes que narram, os músicos colaboradores, os poetas e articulistas, os desenhistas, os produtores, os técnicos… Muitos colaboraram grátis e outros cobraram o básico. A parte da questão altruísta da maioria, também colaboraram muitíssimo a partir de suas visões artísticas ao projeto, ainda que as composições em sua maioria nascessem de minha iniciativa. Por tudo isso considero o periódico-disco como um trabalho coletivo, de certa forma.

Pergunta > De que são feitos hoje os ventos do povo?

Resposta < De componentes tóxicos. Para mim componentes tóxicos são desde os produtos químicos que contaminam os ares, a terra e o mar até os agentes institucionais que têm contaminado ao povo e têm conseguido que o povo seja o maior inimigo do povo.

Pergunta > Em que projetos andas envolvido atualmente?

Resposta < Ando submergido em apresentações do disco “Sim, a Miguel Hernández”, realizando uma produção russa sobre o Dom Juan de Punsky, terminando o espetáculo “Al Cante” do dançarino Juan Carlos Lérida, rodando o espetáculo “Cantes Tóxicos” com Antonio Orihuela e Isaías Griñolo, perfilando o espetáculo ToCaBa com Juan Carlos Lérida e Raúl Cantizano, colaborando com grupos experimentais, querendo continuar programando o espetáculo “Vacanbacon, Cantar la fuerzas”, etc.

Pergunta > Por que presentear tua música em um mundo onde nada é grátis, Paco?

Resposta < Quando alguém reconhece que o que pode compor é questão de remix, das influências de uns e outros e da aprendizagem do que lhe rodeia, quando se chega a essa conclusão, nunca se pode passar pela cabeça que o que compões é teu. São conceitos de posse que vão contra o sentido comum e quem defenda essas posturas, está fazendo o jogo da máfia, chama-se SGAE, AIE ou qualquer outra entidade de gestão.

Pergunta > Para os companheiros que queiram escutar-te, por onde andarás nos próximos meses?

Resposta < Estarei no festival poético Nosomostanraros em Alicante no dia 20 de setembro e o 21 em Bilbao. De 23 a 29 em Bruxelas (Bélgica) em uma Batalha flamenca com dançarinos de flamenco e hip hop. Em 6 de novembro apresento “Sim, a Miguel Hernández” na sala b do teatro de Central e o dia 8 de novembro atuo na gala inaugural do Festival de Cine Internacional de Sevilla, no Lope de Vega. O dia 12 do mesmo mês apresento “Sim, a Miguel Hernández” na Universidade Miguel Hernández de Eche e em 16, atuo em Orihuela dentro do centenário de Ramón Sijé. De 19 a 27 estarei em Tolouse apresentando um novo espetáculo “Strates”, baseado no mundo do minimalismo, junto ao guitarrista José Sánchez.

Fonte: Periódico CNT 406 – Dezembro de 2013.

Tradução > Sol de Abril

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Como que levada
pela brisa, a borboleta
vai de ramo em ramo.

Matsuo Bashô

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