Em 3 de fevereiro de 2014, Stéfanos Valavanis, um trabalhador na loja de Praktiker¹ no bairro ateniense de Egaleo, se suicidou em sua casa. Apenas dois dias antes de seu suicídio, a patronal da empresa o haviam obrigado a apresentar sua “demissão voluntaria” para não pagar nenhuma indenização por dispensa, a qual haveria tido direito a receber legalmente se tivesse sido demitido.
Cerca de 200 pessoas se concentraram na praça principal do bairro de Egaleo e começaram a marchar à loja de Praktiker local. Pode ser que o tempo frio e chuvoso tenha inibido uma participação mais massiva, mas os que participaram na marcha tiveram uma presença combativa na rua. A marcha esteve bem defendida e durante quase uma hora palavras de ordem ressoaram por todo o bairro. Seu caráter radical e subversivo rompeu o silêncio politicamente passivo e submisso da sociedade local. A marcha atravessou a avenida mais comercial do bairro, sendo “discretamente seguida” pela Polícia. Pouco antes de chegar à Praktiker, a presença de dois pelotões da chamada Polícia antidistúrbio se fez menos discreta, já que se alinharam diante da loja. A loja havia fechado seu enorme estacionamento subterrâneo e havia estirado uma cerca de arame grossa em sua entrada. Os manifestantes exigiram e conseguiram a retirada da chamada Polícia antidistúrbios da entrada da loja, e assim chegaram até a entrada. O único negócio que estava aberto naquele momento era um supermercado, que se localiza no mesmo edifício que a Praktiker. Por outro lado, as portas interiores de Praktiker que dão acesso ao supermercado estavam fechadas. Os manifestantes ficaram por ali uns 20 minutos gritando palavras de ordem e distribuindo folhetos dentro e fora do edifício, pichando lemas e jogando tinta vermelha na fachada da loja. Logo todos marcharam até a estação de metrô mais próxima e à praça onde havia começado a marcha.
Muitos transeuntes expressaram seu apoio à manifestação, mas sem que este apoio chegasse a ultrapassar os limites da cultura da delegação política. Seja como for, o ato de “suicídio” leva uma carga emocional, sobretudo em um bairro operário como este. Também, durante a distribuição de panfletos informativos, houve um momento de tensão, o qual, no entanto, não chegou à hostilidade. Foi evidente que a atitude de segurança expressada através de frases como “que se pode fazer?” ou através da atribuição da morte do trabalhador ao destino se converteu na reação mais comum das pessoas durante o protesto. As pessoas, especialmente dentro da Praktiker, estavam emocionadas e surpresas pelo protesto diante da entrada da loja, mas sem que esta surpresa chegasse a converter-se em solidariedade com os manifestantes.
Segundo alguns dos participantes na okupa Sinialo que tomaram parte na marcha, a manifestação deixou um legado de determinação e organização, minando o temor que pretendem semear os patrões de Praktiker e a Polícia, dado que ambos estimavam (consideravam) que a raiva de classe que sucedeu ao suicídio se havia esgotado na suave retórica esquerdista sobre o tema e em uma pequena concentração convocada pela internet na semana anterior. Os mesmos deixam claro que não vão permitir que o assassinato de Stéfanos Valavanis desapareça no esquecimento criado intencionalmente, e que vão trabalhar para criar uma infraestrutura coletiva sustentável que possa frear a arbitrariedade da patronal em geral – e não só a de Praktiker – a qual pretende degradar nossa vida, fazendo-nos acostumarmo-nos à morte.
Mais fotos da marcha aqui:
https://sinialo.espiv.net/?p=14691
[1] Praktiker é uma rede alemã de lojas de utensílios para o lar e jardim, com presença em quase todos os países europeus. Tem uma alta porcentagem de participação neste mercado. Centenas de pequenos comércios de bairro da mesma categoria tem tido que fechar ao tentar competir com este gigante que vende utilidades de qualidade muito duvidosa a preços baixos. A maioria de seus empregados cobra algo mais ou menos que o salário mínimo legal, e se veem obrigados a trabalhar horas extras, com contratos temporais que os têm quitado todos os direitos que têm os empregados do setor privado.
O texto em castelhano aqui:
Tradução > Caróu
agência de notícias anarquistas-ana
Limpo e lavo o túmulo,
mas no fundo de minha alma,
meus íntimos vivem…
H. Masuda Goga
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!