[“Na noite de 24 de Abril saltam rios de vários pontos da cidade. Vários rios de gente que quer estar na rua neste dia – em vez de estar sozinha em sua casa – e que, com panelas, instrumentos, faixas, vozes e vontades, desaguam no Largo do Carmo.”]
Comunicado:
Não saímos à rua para comemorar um golpe militar. Saímos à rua porque partilhamos do sentimento de insubmissão dos que desobedeceram às ordens dos militares para ficarem em casa, ocupando a rua e transformando o que se pretendia como uma transição pacífica numa grande festa de “excessos” revolucionários.
Houve sem dúvida muitas coisas admiráveis no período que se seguiu ao 25 de Abril de 1974. Os escravos perderam o respeito pelos senhores e tomaram a vida nas suas mãos. Quem não tinha casa ocupou-a, quem não tinha terra tomou-a. As relações de autoridade ruíram como se ainda no dia anterior não estivessem de pedra e cal. Mas ainda mais admirável teria sido se essa vontade de cada um ser dono do seu destino tivesse perdurado, se não precisasse da proteção dos militares para continuar.
Não nos vamos mais uma vez lamentar sobre esta sociedade de conformados e conformistas, sobre o “triste fado” deste “bom povo”. Mas sabemos o quanto fomos adormecidos pelo regime democrático e como a institucionalização da mitologia de Abril, o ritual dos cravos a descerem a avenida, esvaziou de sentido o que houve de verdadeiramente bonito há 40 anos. Achamos fantástica a queda da ditadura, mas não podemos comemorar este regime democrático. Não é por serem democráticos os patrões, as polícias ou as prisões que deixam de ser isso mesmo: patrões, polícias ou prisões.
Vivemos atormentados pelo trabalho ou pela ausência dele, esmagados por impostos e por imposições, habitando cidades moldadas pelos desígnios do capital, submetidos a cada vez maior vigilância e controlo policial, sem nos podermos mover por não termos dinheiro ou sem podermos viver por não termos tempo, batalhando para ter casa e comida, sentindo-nos cada vez impotentes perante o olimpo dos deuses da economia e da política.
Saímos à rua libertos de mitos democráticos e sem dívidas nem gratidão para com o Movimento das Forças Armadas. Não lutamos contra este governo, mas contra todos os governos. Não queremos usar as ruas para chegar ao poder, queremos que as ruas não sejam mais domadas por nenhum poder.
Saímos à rua para nos encontrarmos com outros excravos e, juntos, virarmos o tabuleiro. O que temos a comemorar é o sentimento dos que se revoltam, hoje como há 40 anos. Sejamos dez ou sejamos um milhão. Este é o triunfo dos excravos.
Blog: http://triunfodosexcravos.noblogs.org/
Evento no Facebook: https://www.facebook.com/events/1493521920869851/
Evento geral: Todos os rios vão dar ao Carmo
https://www.facebook.com/events/432399456863106/
https://riosaocarmo.wordpress.com/
agência de notícias anarquistas-ana
Procurando flores
borboleta pousa
entre minhas sardas.
Mô Schnepfleitner
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!