A vida de Bakunin como revolucionário é bem conhecida. Tanto pessoas que simpatizam quanto inimigas admitem que ele era um rebelde arquetípico que viveu uma vida dramática e fascinante, embora julgamentos sobre sua pessoa e suas atividades variem muito. Porém, estranhamente, mesmo tendo sido retratado em algumas ocasiões por romancistas e dramaturgxs, por alguma razão teríamos dificuldades em relembrar grandes obras literárias dedicadas a sua vida. Recentemente, Bakunin esteve entre personagens da saga épica teatral de Tom Stoppard, “The Coast of Utopia”, que foi apresentado por vários grupos teatrais nos Estados Unidos, Inglaterra, Japão, Rússia e Itália. Mas apesar do inegável talento de Stoppard em apresentar a literatura e história russa para a audiência moderna, não se pode deixar de notar que seu tratamento para Herzen e a intelectualidade revolucionária russa é muito tendenciosa, para não dizer cruel e satírica. Muito menos Bakunin, que é transformado em pura caricatura em The Coast of Utopia!
Ironicamente, ao mesmo tempo em que Stoppard escreve e coloca no palco sua saga de 10 horas em três atos sobre Herzen, Bakunin, Turgenev, Belinsky, Marx e outrxs membrxs notórixs dos círculos revolucionários europeus do século XIX, em Pryamukhino, vila nativa de Bakunin, outro homem está trabalhando em sua própria peça teatral sobre o notório rebelde russo.
Sergey Kornilov, um diretor de teatro aposentado, escritor e agora também zelador do parque de Pryamukhino, escreveu consequentemente três peças teatrais, que traçam a vida de Bakunin em diversos momentos cruciais.
A primeira delas, Nature´s Call, mostra Bakunin como jovem filósofo, pregando grandes ideias de filósofos alemães para amigxs e tentando se libertar do peso das velhas tradições e crenças, incluindo as de seu próprio pai. Na segunda peça, Fantasia Waltz, conhecemos Bakunin e sua família em um dos momentos mais trágicos de sua vida, quando ele visita Pryamukhino por apenas um dia, estritamente vigiado pela polícia a caminho da Sibéria. (Não se pode escapar de fazer paralelos com o moderno estado policial russo, porque, como um dos escritores coloca, “na Rússia tudo muda a cada dez anos, mas nada mudou em duzentos anos”.).
A terceira destas peças, Finita, nos dá um retrato de Bakunin como homem velho, morrendo, mas ainda não completamente destruído, que olha para o passado de sua vida de luta e trágicas falhas. Envelhecido, sábio e solitário entre sua família e companheirxs, ele fala de algumas de suas melhores realizações e sonhos que não se tornaram realidade, dá previsões proféticas sobre o futuro e testemunha rivalidades mesquinhas entre discípulxs (parte o tem como profeta, anotam cada palavra que pronuncia, mas são realmente incapazes de captar a essência de sua filosofia; enquanto outrxs, analfabetxs, conseguem porém compreender). Estes são em resumo alguns dos temas de Finita, escrita na melhor tradição do drama russo (aqui Chekhov vem à mente). Provavelmente a melhor das três peças escritas por Kornilov, esta é feita em dois atos, envolvendo uma dúzia de personagens. Se for levada aos palcos, pode ser uma homenagem realmente comovente a Bakunin. Mas quem aceitará o desafio e a encenará?
Estamos agora procurando estabelecer contatos com alguns grupos teatrais da ex-União Soviética, que possam ter interesse em levar esta peça aos palcos. Mas até agora o progresso não foi muito promissor – Bakunin é mais conhecido e apreciado no exterior, do que em nosso país.
Todas as três peças, em russo, estão disponíveis para download aqui:
http://bakunin-fund.hut2.ru/literature.utf.html
Finita está sendo traduzida agora para o inglês e estará disponível por volta de janeiro de 2014.
Se você ou alguém que você conhece se interesse em fazer uma performance teatral, não hesite em entrar em contato conosco. Por favor, espalhe para o mundo!
Qualquer ajuda possível para traduzir as peças de Kornilov para outras línguas será também muito apreciada.
Entre em contato conosco: bakunin.conference.2014@gmail.com.
Tradução > Anarcopunk.org
agência de notícias anarquistas-ana
Trinta graus à sombra
– o cachorro na varanda
parece um tapete
Marba Furtado
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!