No mês de agosto, no bairro madrilenho de Tetuán, em uma rua perpendicular a Bravo Murillo bem perto da saída do metrô de Estrecho, um grupo de neonazistas ocupou um galpão abandonado, nomeando-o de “Local Social Ramiro Ledesma”. Por detrás desta ocupação estão militantes do partido nazi Movimento Social Republicano (MSR), e o próprio partido que, embora tenha se desvinculado pela internet, aprova e apoia o projeto.
Os grupos neonazistas tem se caracterizado na Espanha por espancamentos nas ruas de trabalhadorxs imigrantes, pessoas sem teto ou LGBTs, ou qualquer pessoa de ideologia contrária à sua; e por sua presença nas arquibancadas de diversas equipes de futebol, onde a exibição de bandeiras fascistas e nazis e os diversos slogans a favor do ódio racial e a homofobia estão na ordem do dia. Agora, aproveitando a crise econômica, o alto índice de desemprego e o aumento exponencial da taxa de pobreza, decidiram copiar modelos de ação política de outros países europeus para sair de seu “gueto”.
A ocupação em Tetuán está assinalada em meio a uma série de ocupações que estão ocorrendo em todo o país por parte de grupos nazistas vinculados a este partido, como a que foi feita em Zaragoza, ou de grupos similares. Partindo ainda ideologicamente da defesa da propriedade privada, como defendeu Ramiro Ledesma, fundador das Juntas Ofensivas Nacional Sindicalistas, (e a quem homenageiam com o nome do centro), na raíz da crise econômica optaram por adotar táticas mais tradicionais da esquerda política ou libertárias. O MSR e seus militantes, assim como outros partidos fascistas espanhóis, dada sua clara afinidade com o fascismo italiano, tem observado os movimentos destes últimos, e os tiveram como referência para planejar sua estratégia na Espanha.
Casa Pound é uma organização fascista italiana que se dedica a dar guarida a famílias italianas sem teto através de ocupações de imóveis abandonados. Esta ideia é chave para as ocupações da extrema-direita na península. Através da Casa Pound nasce o Blocco Studentesco, cuja organização serviu de inspiração à Liga Jovem (juventudes do MSR) para fundar a Respuesta Estudiantil.
Com esta mudança de discurso e de trajes que os neonazistas e fascistas estão tendo durante estes últimos anos, sua intenção não é outra além de, através de um discurso aparentemente solidário e social, e copiando símbolos e formas de agir do movimento libertário ou da esquerda política, pregar a ideologia fascista, o nacionalismo, o machismo, a homofobia e o racismo. Sua finalidade com a presença nos bairros operários é usar a imigração como bode expiatório dos problemas de toda a classe trabalhadora e criar conflitos nos bairros para conseguir adeptos através da caridade e do assistencialismo. Outros exemplos deste tipo de organização que a extrema-direta está levando agora são, por exemplo, o Local Social Patriota María Luisa Navarro, criado pela España2000 em Valencia, Casal Tramuntana em Barcelona, já fechado, vinculado ao partido fascista Plataforma per Catalunya, ou o Local Nacional Sindicalista em Zaragoza, vinculado ao partido fascista “La Falange”; todos eles com a mesma finalidade que a ocupação realizada no bairro de Tetuán.
Em Madri já foram várias as provocações em bairros operários, onde tem ocorrido ao longo dos últimos anos concentrações ou manifestações para provocar e criar conflito racial. Nos últimos anos, alguns exemplos foram: a convocatória da plataforma fascista “La España en marcha” em 8 de Março de 2014 com o lema “Alto à invasão”; em 2009 no bairro de Vallekas pela agrupação neonazista “Movimento Patriota Socialista”; em fevereiro de 2008 na Praça de Tirso de Molina pelos grupos neonazistas Nación y Revolución e Combat España; ou em 2007 no bairro de Usera pelo partido neonazista Democracia Nacional.
Os meios de comunicação tratam de rebaixar a atividade destes grupos, vinculando-os a tribos urbanas. Mas a ação política dos nazistas nos bairros, nos povoados, nos estádios ou através de mobilizações ou ocupações de imóveis para praticar a xenofobia através da caridade e do assistencialismo abre vias para que ocorram fatos similares aos de Villaverde em 2005, quando um numeroso grupo de fascistas armados, depois de uma manifestação na vizinhança, agrediram em uma marcha diversas pessoas imigrantes, quebraram postos e encheram o bairro de dizeres fascistas e racistas; ou assassinatos como o de Lucrecia Pérez (imigrante dominicana) em 1992 por um Guarda Civil e diversos fascistas; o de Aitor Zabaleta (torcida do Real Sociedad) pelo grupo Bastión, pertencente ao grupo ultra do Atlético de Madrid; e Carlos Palomino (jovem antifascista) em 2007 nas mãos de um militar; e o triste histórico de assassinatos e pessoas feridas pelas mãos de fascistas na Espanha.
Nós, anarquistas, propomos a organização horizontal entre iguais de todxs xs trabalhadorxs e despossuídxs, e a ação direta sem intermediárixs para solucionar nossos problemas. Diariamente vemos como empresários, políticos e demais cargos parasitas das instituições dos estados riem de nós, vivem bem à custa de nosso suor em sua nuvem pomposa de felicidade, isolados das pessoas pobres. Tiram-nos nossos bens, nos deixam na rua sem poder ganhar a vida, nos expulsam de nossas casas, nos agridem e controlam através da violência policial quando saímos para defender nosso pão. E agora, temos de sofrer a nova moda do fascismo e o constante perigo das agressões por parte de fascistas e neonazistas só por sermos diferentes de seus cânones.
Nós, anarquistas, queremos uma sociedade onde não haja exploradorxs e nem exploradxs, opressorxs e nem oprimidxs. Uma sociedade sem fronteiras, onde as pessoas possam se mover livremente. Sem religiões e nem estados, sem chefes e nem poderosos, onde cada ser humano seja donx de sua própria vida e de seu próprio destino. Onde possamos decidir entre todxs o que fazemos com as coisas. Onde a liberdade, a igualdade, a solidariedade e o respeito entre as pessoas e a natureza sejam os valores sobre os quais se assente a convivência.
Vizinhx!! Nem Pablo Iglesias, nem Cayo Lara, nem Mariano Rajoy, nem Cándido Méndez; nenhum tipo de partido político, nem sindicato vertical, nem iluminado da vez vão resolver os problemas que nós trabalhadorxs, desempregadoxs, pobres e despossuídxs sofremos. Nenhum deles irá nos salvar se somos despedidxs, se nos expulsam de nossas casas, ou se somos agredidxs por um grupo de fascistas. Nenhum deles irá salvar as pessoas que jogam a vida nas fronteiras por uma vida melhor. Apenas com a auto-organização e a ação direta entre iguais em assembleias poderemos planejar propostas e mudar esta sociedade de injustiças. Não nos resignemos, lutemos!
ALERTA ANTIFASCISTA
CONTRA O RACISMO, O FASCISMO, O CAPITAL E TODA AUTORIDADE
SOLIDARIEDADE ENTRE OS POVOS OPRIMIDOS
PELA ANARQUIA
Grupo Anarquista Tierra
Federação Anarquista Ibérica (FAI)
• Manifestação antifascista em Tetuán contra a ocupação de um edifício por parte do partido de ideologia neonazi MSR
“Fuera racistas de nuestros barrios – Tetuán obrero y multicultural”
Sábado, 30 de agosto, às 18h. Desde a Plaza de las Palomas (oficialmente Plaza del Canal de Isabel II). Metrôs: Estrecho ou Tetuán.
Convoca: Vizinhos e vizinhas de Tetuán.
Tradução > Anarcopunk.org
agência de notícias anarquistas-ana
sementes de algodão
agora são de vento
as minhas mãos
Nenpuku Sato
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!