Obra de Maria Galíndo, da Mujeres Creando, da Bolívia.
Quando: Quarta-feira, 3 de setembro de 2014.
Horário: às 19h30.
Local: União de Mulheres do Município de São Paulo, Rua Coração da Europa, 1395, Bela Vista, São Paulo.
Resenha do livro:
“ASALTAR LA MESA [1]: María Galindo, No se puede descolonizar sin despatriarcalizar. Teoría y propuesta de la despatriarcalización”. Bolivia, Mujeres Creando, 2013. Por: Esther Moreno.
Prefaciada por Silvia Federici e Irene Silverblatt, María Galindo escreve mais uma vez a partir de uma prática feminista que está viva, relembrando a responsabilidade que temos, como movimentos, de conceituar e argumentar nossas propostas, de gerar nosso próprio discurso antes que outros o utilizem para nos neutralizar. Como enfrentar a domesticação do feminismo e ir além das “políticas de gênero”? Galindo reclama sua autoria sobre o conceito de despatriarcalização no contexto boliviano e o coloca a dialogar com o de descolonização, estendendo a tensão entre ambos ao horizonte do feminismo internacional. Ela se reivindica, como sempre, agitadora das ruas, não acadêmica e percorre o caminho que leva das perguntas individuais – o que fazer com a minha vida? Como realizar meus sonhos? – às coletivas – para que lutar e como fazer isso juntas? –.
O que fazer com a trama oculta das identidades? O patriarcado chegou à América com os colonizadores brancos? Não nos esqueçamos que esta pergunta foi lançada e respondida desde um país – a Bolívia – em que as culturas indígenas chamadas originárias estão no centro do debate social. A capa e a contracapa do livro apresentam umas belas fotografias, captadas por Idoia Romano, das preciosas tranças que se vendem nas barracas dos mercados de rua de La Paz. Essas tranças de cabelos negros são um símbolo profundo de pertencimento das mulheres na comunidade e do submetimento delas a normas rigorosas de vestimenta, penteado e comportamento. Contemplar esse signo de identidade cortado, exposto para venda, faz pensar em quantas são as mulheres que decidiram não carregá-lo, que embora o corte doa, também te faz mais dona de você mesma, e além disso… são protéticas. As tranças, como as identidades, podem ser intercambiáveis. O que você é se não é originária? Se você é mestiça, chota [2], birlocha [3]…?
Não se pode descolonizar sem despatriarcalizar porque não se tem certeza de que o universo indígena não fosse patriarcal, porque o colonialismo concedeu aos homens indígenas vantagens sobre as mulheres indígenas, porque um processo sério de descolonização há de desfazer esses privilégios patriarcais como parte do colonialismo e não inventar uma descolonização à sua medida que insere a subordinação das mulheres dentro dos saberes culturais ancestrais que devem ser preservados. O colonialismo implica aqui uma aliança entre colonizador e colonizado em relação à opressão das mulheres.
É necessária uma visão complexa sobre o patriarcado: este não é a discriminação das mulheres, e sim a construção das hierarquias sociais, sobrepostas umas sobre outras e fundadas em privilégios masculinos sobre as formas de organização social. O patriarcado não é uma questão à parte, mas um eixo da construção econômica, cultural e política da sociedade. A despatriarcalização, então, se converte na ousadia de conceber o patriarcado como uma estrutura suscetível de ser desmontada, ousadia intimamente relacionada com a desobediência massiva das mulheres às ordens patriarcais, uma desobediência que, embora se pretenda conter a partir das instituições, é profundamente anti-institucional.
O Estado, mesmo o de Morales [4] e Linera [5], não é a expressão do bem comum, mas como definiu Lenin, é sempre a expressão de relações de poder, de hegemonias históricas; nesse contexto o Estado é estruturalmente patriarcal.
Somemos a tudo isso a setorização dos sujeitos políticos. Os sujeitos políticos se converteram em setores, a sua capacidade de construir interpretações complexas e múltiplas do sistema de opressões foi inibida, e assim foram funcionalizados completamente. Como construir esse sujeito político complexo que desejamos, que dá conta das intersecções das opressões e, portanto, das formas de liberação? A aposta de María Galindo é a de um feminismo fundado na combinação e na rara aliança, impossível e proibida, inesperada, entre diferentes: índias, putas e lésbicas, juntas, revoltadas e irmanadas. Desfazer as fileiras, tomar a mesa de assalto [6], desordenando tudo e colocando tudo de cabeça para baixo.
• O livro encerra com o anexo “A Constituição Política Feminista do Estado” e inclui um DVD com três vídeos de Galindo que foram expostas na exposição Principio Potosí [7]. ¿Cómo podemos cantar el canto del Señor en tierra ajena?: “La Virgen Cerro”, “América” y “La Virgen Barbie”[8].
Nota das Tradutoras:
[1] Entendemos a expressão “Asaltar la mesa” como uma metáfora para a retomada do poder (político, econômico e cultural) pertencente às mulheres e que apenas tem espaço para ser feita fora da ordem (vigente), por isso o uso da forma “asaltar” (no sentido de “roubo/ataque”). Já “mesa” pode significar tanto mesa de comida quanto mesa de espaços políticos (segundo o dicionário da real academia espanhola: “Mesa: Nas assembleias políticas, eleitorais e outras corporações: um conjunto de pessoas que as dirigem com diferentes cargos, tais como o Presidente, Secretário, etc.”). Como não encontramos uma expressão equivalente no português brasileiro, optamos por manter o título em castelhano.
[2] No contexto boliviano, a palavra “chola” é usada para se referir a uma mulher mestiça que usa vestimentas indígenas.
[3] Como na nota anterior, a palavra “birlocha” é usada para se referir a uma mulher mestiça que usa vestimentas ocidentais.
[4] Evo Morales presidente da Bolívia e candidato a reeleição nas eleições de outubro. Antes de se tornar presidente foi líder sindical dos cocaleros (agricultores que cultivam a coca, cuja folha é utilizada em chás ou mascada, segundo a tradição indígena) e do partido Movimento para o Socialismo (MAS).
[5] Álvaro García Linera é o vice-presidente da Bolívia desde 2006, ao lado do presidente Evo Morales.
[6] Como no título, a expressão que consta no original é “asaltar la mesa”, que nesta parte do texto traduzimos para esta expressão, que é mais aproximada, mas que não expressa todas as ideias explicadas na nota 1.
[7] Potosí é uma região da Bolívia que era rica em prata, até a invasão dos espanhóis. Quando usada como substantivo, a palavra expressa “riqueza extraordinária”.
[8] Tradução: Princípio Potosí. Como podemos cantar o canto do Senhor em terra alheia?: “A virgem da colina”, “América” e “A Virgem Barbie”.
agência de notícias anarquistas-ana
A sensação de tocar com os dedos
O que não tem realidade –
Uma pequena borboleta.
Buson
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!
Um puta exemplo! E que se foda o Estado espanhol e do mundo todo!
artes mais que necessári(A)!
Eu queria levar minha banquinha de materiais, esse semestre tudo que tenho é com a temática Edson Passeti - tenho…