Entre os dias 17 a 22 de Fevereiro foi exibida, nas dependências da Casa da Cultura Antofagasta, a série xilográfica “Surcos de realidade. Incisión de Ajusticiamientos y vindicaciones” (Fissuras na realidade. Incisão de execuções de justiça e reivindicações), do companheiro Francisco Palma Matamal (Anteo), integrante da Associação de Grabadores del Biobío, que reivindica através das imagens de distintas ações de propaganda protagonizadas por agitadores ácratas ao longo do século XX, ao mesmo tempo que é, em si mesmo um gesto solidário com os companheiros e companheiras atualmente presos pelo Estado chileno, como no caso de Tamara Sol, Nataly Casanova e Juan Flores.
A coleção compõe-se de 16 xilogravuras (técnica de gravação em matrizes de madeira) e encontramos autores como Antonio Ramón Ramón (La verguenza de un hermano), Simón Radowictzky (Simón Vive) e Kurt Wilckens ( ), os que de um lado e do outro da cordilheira dos Andes superou vingar os massacres obreiros: “Escuela Santa Maria” (1907), “Semana Sangrienta” (1909) e “Patagónia Trágica” (1921), respectivamente. Também figuram entre as obras, os magnicídios falhados contra Mussolini e Lenin, perpetrados pelos valentes jovens Anteo Zamboni (El sueño de Anteo) e Fannia Kaplan (El sueño de Kaplan), para além dos expropriados, como são exemplo os irmãos Ascaso e o mais procurado dos ácratas desta tendência no Rio da Prata: Severino Di Giovanni, representado no polêmico ajuste de contas de Emilio López Arango, anarcossindicalista que o tinha difamado através da imprensa.
Entre os casos “locais”, para além de Ramón Ramón, encontramos a ação individual de Efraín Plaza Olmedo que disparou contra dois burgueses em pleno centro de Santiago em 14 de Julho de 1912, assim como o rebentar de uma bomba que estourou no Convento das Carmelitas, no ano anterior e do qual se culpabilizou a Sociedad de Resistencia de Oficios Varios, organização assumidamente anarquista e anti-clerical. Completam a coleção gráfica as figuras de Loius Lingg, um dos mártires de Chicago e cuja voz ainda estala de forma metálica entre nós: “Desprezo-vos; desprezo a vossa ordem, as vossas leis a vossa força, a vossa autoridade! Enforcai-me!” e do poeta: José Domingo Gómez Rojas (1896-1920), furibundo agitador do anarquismo chileno na segunda década do século passado, membro da seção local I.W.W. (Industrial Workers of the World) e o membro ativo da FECH (Federação de Estudantes do Chile) que foi morto na Casa de Orates, após as torturas na cadeia, consequência do seu declarado anti-militarismo e a sua oposição à competição bélica com o Peru e, também ele, autor de uma profunda obra poética, do qual recolhemos:
“Nesta cadeia onde os homens me trouxeram,
é onde a injustiça de uma lei nos encerra:
pensei nas tumbas onde apodrecem
magistrados e juízes que são, hoje, pó na terra.
(…)
Acreditaram ser a mão de deus sobre a Terra,
a ira santa, a fogueira e o chicote aceso,
hoje dormem esquecidos sob o torpor que atemoriza,
silêncio, pó, sombra, esquecimento! esquecimento! Esquecimento!
(Protestos de piedade – JDGR)
Longe de idealizar, ou martirizar as experiências e figuras relatadas, a série de xilogravuras expostas teve como objetivo, nas palavras do seu autor, “resgatar do esquecimento algumas ações, individuais e coletivas, levadas a cabo contra o Estado e o Capital, ao mesmo tempo que retoma o grafismo como ferramenta de propaganda anti-autoritária”. Recordamos que esta forma de arte conta com os destacados expoentes da imprensa ácrata mundial.
Franssereel (1889-1972), Clifford Harper (1949), Carlos Cortés (1923-2005), Flavio Constantini (1926-2013), ou o chileno Germán Baltra, cujos linóleos ilustram as portadas do suplemento El Semblrador (Valparaíso, 1925-1927) e de outras publicações.
O lançamento contou ainda com a projeção do documental “Os olhos da América” e que relata a vida da propagandista América Scarfó e a sua intensa relação com Severino Di Giovanni, abordando diversas áreas do pensamento libertário, como o amor livre e a propaganda através das ações, entre outras. Este material pode ser exibido devido à gentileza dos seus realizadores Diana Rosenfeld e Anibal Garisto, pois enviaram-no desde o outro lado da cordilheira.
Agradecemos aos que tornaram possível essa tarde, bem como a todos os que visitaram a exposição que, embora rápida teve uma muito boa recepção. Ficaria pendente a publicação do livro que reunirá as xilogravuras, as suas histórias e a técnica de gravação como ferramenta de propaganda anti-autoritária, bem como ampliar os horizontes da coleção, projeto este em que iremos pôr mãos à obra com o companheiro Anteo.
Descarregue e leia a info da exposição aqui:
https://drive.google.com/file/d/0B08vdjKeYr51NFhtZUZ5VTQ2eHc/view?pref=2&pli=1
Portfólio: anteoacrata.wordpress.com
Contato: franpalma@udec.cl
Fonte e mais fotos: http://pampanegra.blogspot.com.br/2016/03/surcos-en-la-realidad-una-exposicion-de.html
Tradução > Ophelia
agência de notícias anarquistas-ana
Hermética música
há no silêncio da lágrima
que salga o mar.
Fred Matos
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!