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[Portugal] Sabe o que é o queercore? Rui Eduardo Paes explica

By A.N.A. on 14 de Abril de 2016

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Está publicado o primeiro livro português dedicado a um subgênero musical que sempre viveu nas margens. O queercore não morreu, mas a ideologia está combalida. Descubra alguns exemplos.

Quando o punk aparece, Rui Eduardo Paes é ainda adolescente. Tem agora 55 anos e nos idos de 1980 não só não apreciava aquele estilo musical como o considerava excessivo. A custo, por influência do irmão e dos programas de rádio de António Sérgio, acabou por aderir.

Só muito mais tarde, ou seja, há poucos anos, descobriu o queercore. “Sabia que havia essa linha e conhecia algumas bandas, mas só cheguei lá através das minhas pesquisas constantes sobre o pensamento anarquista e pós-anarquista. Deparei-me então com o pensamento queer acadêmico e cheguei ao queercore”, explica ao Observador.

Se queer é um conceito estabelecido nos anos 80 para falar de minorias sexuais e pessoas fora das convenções, e se punk hardcore é um gênero musical considerado mais agressivo do que o punk, fácil será concluir que queercore mistura os dois.

“O queercore surge em inícios dos anos 1980”, explica Rui Eduardo Paes. “Teve o seu auge na década de 90, mas continua até hoje. Nasceu no Canadá, depois chegou aos EUA, e foi criado por pessoas LGBT [lésbicas, gays, bissexuais e transgênero] que gostavam de rock e punk mas rejeitavam o chauvinismo e o machismo destes estilos”, acrescenta. “Ao mesmo tempo, eram pessoas cansadas da identificação dos homossexuais com a música de Liza Minnelli, Barbara Streisand e outras intérpretes. Quiseram reagir a isso.” O contexto e as bandas deste subgênero estão agora explicadas no livro Anarco-Queer? Queercore!.

A editora é a Chili Com Carne, fundada em Lisboa em 1995 e essencialmente dedicada à banda desenhada [história em quadrinhos] e à ilustração. O livro “a” maiúsculo com círculo à volta, de 2013, também de Rui Eduardo Paes, está na origem da nova obra. “É a continuação do trabalho que tenho feito sobre a relação entre música e anarquismo”, resume o autor.

Com capa de Carles G.O.D. e ilustrações e grafismo de Bráulio Amado, Astromanta, Hetamoé, Joana Estrela, Joana Pires e Rudolfo, Anarco-Queer? Queercore! aparenta ser um fanzine – a preto e branco, com erros propositados de impressão e aspecto artesanal. A opção é óbvia: a estética fanzine está associada ao movimento punk e no início serviu de suporte à militância queer.

A linguagem é informal e o texto, por vezes sexualmente explícito, informa e faz crítica ao mesmo tempo. Numa época de informação imediata na internet, o livro terá o mérito de a juntar, contextualizar e por em perspectiva.

Ao longo de cinco capítulos, Rui Eduardo Paes fala, de forma quase exaustiva, das bandas que deram corpo ao queercore, teoriza sobre anarquismo, pensamento libertário e música, e relata a evolução do estilo em torno da pop e da eletrônica, assim como das artes plásticas e visuais.

“Acho que a minha escrita se caracteriza desde há muitos anos por contextualizar a música, buscar razões para as músicas serem aquilo que são, ou não são, e por fazer a ponte entre isso e conceitos filosóficos e das ciências sociais”, enquadra o crítico.

Depois de dezenas de nomes canadenses, norte-americanos e britânicos, a última página deixa uma nota portuguesa: “Este livro não refere quaisquer bandas queercore portuguesas” porque “simplesmente, não existem ou não se deram a conhecer”. Próximas do estilo, são citadas apenas duas: Panelas Depressão e Vaiapraia & As Rainhas do Baile.

Também nas últimas páginas, uma conclusão pouco abonatória sobre o panorama atual: “O hardcore queer ainda resiste, mas resiste porque está na defensiva, porque está fraco.”

Ao Observador, Rui Eduardo Paes explica a frase. Começa por dizer que o queercore “está hoje afastado das premissas originais, com muitas bandas a esquecerem o ativismo queer e os princípios libertários e anarcas desta frente musical”. No fundo, acrescenta, “foram apropriadas pelo sistema e pela indústria.”

“Mas não podemos generalizar demasiado, porque há grupos cujos elementos continuam a ser militantes da causa e já não procuram apenas emancipação da sexualidade, preocupam-se com várias questões políticas”, conclui.

Por ordem cronológica, apresentamos agora algumas das bandas de que fala o livro, com a respectiva descrição breve feita pelo autor (cuidado com o volume).

Dicks – “The Dicks Hate the Police” (1980)

Conhecidos pelos “textos pró-socialistas” do líder da banda, Gary Floyd.

https://www.youtube.com/watch?v=z8O2ToQ_Dok

Tribe 8 – “Wrong Bathroom” (1996)

“As canções tratavam de questões como o sado-masoquismo, a sua atitude era de desafio às ortodoxias feminista e lésbica.”

https://www.youtube.com/watch?v=J_HPRcHmP1s

The Dead Betties – “Hellevator” (2007)

“Música intensa, violenta até, letras arrasam todas as normas sociais mainstream”

https://www.youtube.com/watch?v=xRVh-iCPw6M

Hunx and His Punx – “You Don’t Like Rock ‘n’ Roll” (2009)

“Nunca levam a sério seja o que for. Já não é de humor pop que se trata, mas de sarcasmo desbocado.”

https://www.youtube.com/watch?v=iyv4bPwUJws

Nü Sensae – “I’m a body” (2010)

“Ganharam peso com o rock brutalista, quase noise, do álbum TV, Death and the Devil e publicam uma newsletter semanal feita tipograficamente e enviada não por e-mail, mas à maneira antiga das organizações de extrema esquerda: por correio.”

https://www.youtube.com/watch?v=Uyb_LD-jNzY

Gay for Johnny Depp – “What Doesn’t Kill You, Eventually Kills You”

(2011)

“O grupo foi um dos poucos do chamado queercore que, em anos mais recentes, ainda justificavam a parte core do nome desta tendência.”

https://www.youtube.com/watch?v=eOYe-PFKIj0

Fonte: http://observador.pt/2016/04/11/sabe-queercore-rui-eduardo-paes-explica/

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Chuva no lago
cada gota
um lago novo

Alice Ruiz

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