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[Espanha] A trilha sonora do anarquismo

By A.N.A. on 9 de Maio de 2016

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O filme “Canções de amor e anarquia” de Carlos Benpar repassa cronologicamente os marcos do movimento social e o acompanha de melodias que compuseram junto dele.

De pé povo obreiro, para a batalha

Temos que derrotar a reação

Para as barricadas! Para as barricadas

Pelo triunfo da Confederação!

Para as barricadas! Para as barricadas

Pelo triunfo da Confederação!

O que acabam de ler e muitos de sibilar é a estrofe mais conhecida de “A las Barricadas”, a canção que se converteu em todo mundo em um hino do anarquismo durante a Guerra Civil, e com o tempo também da luta dos oprimidos nas ruas. Ela é apenas uma de tantas canções que há 145 anos foram se compondo na esteira dos acontecimentos históricos mais importantes.

A primeira delas poderíamos situar em 1871, quando em 28 de maio o povo de Paris se rebela contra seus governantes instaurando a Comuna. 40 dias depois as autoridades começam o que ficou conhecido como “a semana sangrenta”, uma sequência de combates e fuzilamentos nas ruas da cidade na qual morrem quase 30 mil pessoas. Fatos que se recolheram na canção “la semaine sanglante” (a semana sangrenta).

Precisamente com essa canção começava o concerto “Canções de amor e anarquia” organizado em 2014 no Teatre Joventud de L’Hospitalet por Joan Isaac e Pere Camps, em que de maneira cronológica se recolhiam os acontecimentos mais significativos da causa anarquista, que se ilustrava com slides. O referido evento se encontrava convidado Carlos Benpar, cineasta especializado em documentários e ganhador de dois prêmios Goya por “Cineastas contra magnatas” (2006) e “Cineastas em Ação” (2007).

Benpar ficou surpreso ao ver o roteiro do concerto e a quantidade de títulos que não conhecia. Canções em inglês, italiano, francês, castelhano, catalão… Assim que decidiu gravar o concerto e transformá-lo em seu novo filme, que leva o nome do concerto e que estreou na Cinemateca “Del matadero” de Madrid em 22 de janeiro.

Carlos Benpar explica ao “El Confidencial” que com sua obra pretendeu “marcar uma ideologia”, já que esta se encontra nas canções. “Não é um filme que intenta criar anarquistas, e sim que busca ampliar certa simpatia com o anarquismo”, analisa. O faz explicando que muitas das letras que se cantam são aplicáveis a quaisquer ideologias de esquerda, como a defesa dos mineiros da canção de Joe Hill. “O cantor se definia como anarquista e por isso o considera assim, como ‘A las Barricadas’ se pode aplicar a qualquer grupo republicano em guerra, não creio que sejam puramente anarquistas”, frisa.

As letras se encaixam em um contexto atual em que o ativismo e a luta nas ruas voltaram à baila. O diretor não se atreve a valorar se o termo anarquismo sofreu com o tempo conotações negativas: “É possível. Olhe, existe um documentário chamado Lúcio, o pedreiro falsificador, em que ele diz que sempre se considerou comunista, mas quando estava certa vez conversando com uns anarquistas catalães e ao lhes explicar sua ideologia eles lhe disseram: ‘você não é comunista e sim anarquista’”.

Nada de vídeo clips

E assim, durante meia hora, Carlos Benpar e os cantores daquele concerto recordam a fundação da CNT em 1910, a execução de Nicolau Sacco e Bartolomeu Vanzetti, a formação do Comitê de Milícias Antifascistas, a morte do anarquista catalão Quico Sabater, o Maio de 68, e, como não, a execução de Salvador Puig Antich em 02 de março de 1974. Tudo acompanhado de imagens históricas e textos que se casam com a música.

Para a realização do documentário Benpar tinha claro o que desejava, ou seja, dar importância aos verdadeiros protagonistas: os cantores. Assim se fazia nos musicais clássicos dos anos 50. Uma câmera de cada lado do cenário e uma frontal para captar todos os detalhes. “Não ficou muito bom, minha intenção era gravar a apresentação do cantor, com a câmera no melhor ponto para lhe favorecer, o contrário da estética do vídeo clip, mas os amigos que encontrei para manejarem a câmera são muito jovens e não podiam ficar quietos. Faziam panorâmicas por aqui e ali. Por sorte o concerto se repetiu em San Remo e fomos e fizemos o mesmo. Os jovenzinhos repetiram, mas já o fizeram perfeitamente e ao montar um com o outro pude corrigir esses planos”, recorda.

Isso não quer dizer que não haja doses autorais do próprio diretor. Ele mesmo explica que decidiu usar somente um primeiro plano na canção de Pepe Voltarelli porque a força do cantor é incrível. Até se atreve a provocar o público com um comentário quando recorda o Maio francês de 68. É um texto contra os estudantes e a favor dos policiais, a quem os qualifica de “pobres desgraçados”. “O pus sem acrescentar em princípio o nome do autor, para que as pessoas se opusessem à frase. Logo veem que é de Pasolini e ficam quietas”, explica Carlos Benpar, que trouxe de volta algumas canções que há muito haviam sido esquecidas.

Trailer: https://vimeo.com/131146830

Fonte: http://www.elconfidencial.com/cultura/cine/2016-01-17/la-banda-sonora-del-anarquismo_1136397/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

chuva e sol,
olhos fitando os céus –
arco-íris ausente.

Rosa Clement

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