Chega-nos a notícia da morte de Júlio Carrapato. O anarquista algarvio, tradutor, livreiro, editor, professor universitário, mas sobretudo um homem que gostava da vida e da liberdade, morreu esta terça-feira (21) em Faro e o seu corpo será autopsiado esta quarta-feira, não se sabendo ainda quando terão lugar as cerimônias fúnebres.
Júlio Carrapato (1947- 2016) esteve ligado ao grupo “Acção Directa”, nutrindo especiais relações de proximidade com elementos deste grupo forjadas em Paris, onde vários dos seus elementos estiveram refratários à guerra colonial; pertenceu depois ao grupo “Apoio Mútuo”, de Évora, onde foi professor nos primeiros tempos da Universidade; criou mais tarde o jornal “O Meridional”, um dos ícones da imprensa libertária pós-25 de Abril.
Regressando a Faro, de onde era natural, abriu a livraria e as edições Sotavento. Entretanto, e posteriormente, traduziu diversos clássicos da literatura anarquista: “O Povo em Armas”, de Abel Paz; “O Ladrão”, de George Darien, entre outros, e escreveu um conjunto vasto de livros em que se destacam: “Resposta de Um Anarquista aos Últimos Moicanos do Marxismo e do Leninismo, assim como aos inúmeros “Pintaínhos da Democracia”, “Novas Crônicas Bem Dispostas”, “Os Descobrimentos Portugueses e Espanhóis ou a Outra Versão de uma História Mal Contada”, “Para uma Crítica Libertária do Direito” seguido de “A Lei e a Autoridade”, “Subsídios para a Reposição da Verdade sobre a Guerra Civil de Espanha”.
Há um par de anos foi operado de um cancro do pulmão. Morre agora uma das vozes mais inconformadas e irreverentes do anarquismo português do pós-25 de Abril, capaz das maiores polêmicas em torno dos valores do anarquismo – e da necessidade de separação de águas relativamente ao marxismo e aos vários esquerdismos que gravitavam à sua volta – mas sempre fortemente solidário com todos os que se reivindicavam da prática anarquista pura e dura, sem quaisquer cedências ao politicamente correto.
Jornal “O Meridional”
Em Abril de 1978 começou a publicar-se em Faro, com sede na Praça Alexandre Herculano, o jornal “O Meridional”, que se apresentava como um “mensário algarvio”. Em todo o cabeçalho não havia uma única identificação de que este era um jornal anarquista da primeira à última das suas 10 páginas. Tendo como seu principal redator Júlio Carrapato, “O Meridional” caracterizou-se por textos longos, sem imagens ou fotografias, bem escritos e muito contundentes para a realidade circundante, poucos anos depois da “instauração da democracia”.
“O Meridional”, publicou-se durante um escasso período de tempo, mas teve uma grande influência nos meios anarquistas devido aos textos de autores (então desconhecidos entre nós) que publicava, à forma aguerrida como tratava as questões que, então, estavam na ordem do dia, não poupando nas críticas fosse à direita ou à esquerda e também devido a algumas entrevistas, muito completas, com Juan Gomez Casas (o biógrafo de Durruti e primeiro secretário-geral da CNT após a queda do franquismo), com Simon Leys ou Emídio Santana.
a.
agência de notícias anarquistas-ana
outro assobio
escuto os passarinhos
sem dar um pio
Ricardo Silvestrin
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!