Saudações irmãos e irmãs,
Pediram para que eu escrevesse uma declaração de solidariedade com o campo das Pedras Sagradas em Standing Rock (Rocha que Perdura). Obrigado por esta grande honra. Tenho que reconhecer que para mim é muito difícil começar a escrever este comunicado, já que meus olhos se põem tão borrados com lágrimas e meu coração se enche de orgulho, enquanto calafrios correm por meu pescoço e costas. Estou muito orgulhoso de todos vocês, dos jovens e outros que estão ali.
Estou muito agradecido de ter sobrevivido para ver o renascimento da Nação Sioux unida e invicta em Standing Rock, resistindo ao oleoduto venenoso que ameaça a fonte de vida dos rios Missouri e Mississípi. É uma honra estar vivo para ver que isto acontece, impulsionado por vocês, os jovens. Para mim, vocês são pessoas estupendas.
Tem sido um grande e difícil caminho durante estes 40 anos de estar enjaulado por um sistema desumano por um crime que não cometi. Não poderia ter sobrevivido física ou mentalmente sem o apoio de vocês e os agradeço do fundo do meu coração e a profundidade de minha alma por animar-me a aguentar e manter uma resistência espiritual e jurídica.
Estamos chegando agora ao final deste caminho, antes de chegar a um destino que será determinado, pelo menos em parte, por vocês. No sentido do que Martin Luther King disse um pouco antes de morrer, talvez eu não chegue ali com vocês, mas só espero e rezo que minha vida e se necessário, minha morte, levem a meus povos nativos mais próximos à terra prometida.
Não me refiro aqui à terra prometida da bíblia cristã, mas sim às modestas promessas nos tratados que nossos antepassados lograram frente inimigos empenhados em sua destruição, com o objetivo de que pudéssemos sobreviver como povos distintos e viver de uma maneira digna. Nossos antepassados conheciam o valor das palavras escritas e das leis para o homem branco, da mesma maneira que conheciam as medidas que os invasores tomariam para eludi-las.
Nossos antepassados não se beneficiaram destes tratados, mas com astúcia e persistência acordaram os melhores termos que puderam obter, para nos proteger das guerras que só podiam terminar em nossa destruição, apesar da coragem e eficiência com que lutamos. Não. Os tratados eram para o benefício dos “americanos”. Essa nação recém chegada, necessitava dos tratados para pôr um verniz de legitimidade sobre sua conquista da terra e sobre sua rebelião contra seu rei e seus próprios paisanos
Há que recordar que Standing Rock era o lugar, em 1974, do Congresso do Movimento Indígena Internacional que se estendeu por todo o continente americano e mais além, o ponto de partida da Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas das Nações Unidas. Estados Unidos resistiu à UNDRIP durante três décadas até sua adoção pela ONU em 2007. Estados Unidos foi um dos quatro países que votou contra a sua ratificação. O presidente Obama a reconhece como um documento de aspirações sem força vinculante em virtude do direito internacional.
Alguns dos líderes do movimento atual são veteranos da resistência de 1970 em Pine Ridge, e compartilham a sabedoria de nossos anciãos em perceber o simbolismo moral e político do protesto pacífico de hoje como algo necessário para nós, da mesma maneira que era necessário para o povo de Pine Ridge na década de 70. A ocupação de 7 dias de Wounded Knee (Joelho Ferido) terminou com um acordo para investigar os abusos de direitos humanos e de tratados, aquela investigação nunca aconteceu e a promessa nunca foi honrada pelos Estados Unidos.
O Acordo de Wounded Knee deve ser honrado com uma Comissão da Verdade e Reconciliação estabelecida para examinar a fundo o papel do governo estadunidense no “reino do terror” na reserva Pine Ridge na década de 70. Este projeto deve se coordenar com a cooperação de muitas organizações internacionais de direitos humanos que chamaram à minha liberação imediata e sem condições durante mais de quatro décadas.
A vocês jovens os aviso que tenham cuidado porque estão enfrentando um grupo de pessoas malévolas cujo único interesse é encher seus bolsos com ainda mais ouro e riqueza. A eles não lhes importa quantos de vocês tenham que matar ou enterrar em uma cela de prisão.
Não se importam que seja criança ou avó. Além do mais, vocês tem que saber que eles estão recrutando ao nosso próprio povo para ser delatores e traidores. Buscam aos bêbados, aos dependentes químicos e os abusadores de crianças, aos que abusam de nossos anciãos e nossos filhos e filhas, buscam às pessoas de mente débil. Há que estar cautelosos e não acusar ninguém falsamente baseado apenas em uma opinião pessoal, há que ter provas. Sejam inteligentes.
Peço a todos meus seguidores e aliados a se unirem à luta em Standing Rock, no espírito de resistência espiritual e pacífica e a trabalharmos juntos para proteger a Unci Maka, a Avó Terra. Também faço um chamado a meus seguidores e a todas as pessoas que compartilham esta terra a se unirem para insistir que Estados Unidos honre e cumpra com as disposições do direito internacional expressadas na UNDRIP, nos tratados internacionais de direitos humanos e nos tratados e acordos de confiança, descuidados durante muito tempo, com a Nação Sioux. Em particular chamo a Jill Stein e aos Partidos Verdes dos Estados Unidos e o mundo a se unirem a esta luta reclamando minha liberação e adoção da UNDRIP como o novo marco jurídico das relações com os povos indígenas.
Por último, também peço a meus seguidores que telefonem de imediato e de maneira urgente ao presidente Obama a conceder minha petição para a clemência, a qual me permitirá viver meus últimos anos na reserva da Montanha da Tartaruga. Muitos acadêmicos, líderes políticos, humanitários e ganhadores do Prêmio Nobel da Paz tem exigido minha liberação há mais de quatro décadas. Minha petição de clemência pede ao presidente Obama comutar ou terminar minha condenação agora mesmo para que nossa nação possa avan&c cedil;ar na cura de suas relações fraturadas com as comunidades nativas. Ao enfrentar e fazer frente as injustiças do passado, juntos podemos construir um futuro melhor para nossos filhos e os filhos de nossos filhos.
Mais uma vez, meus mais sinceros agradecimentos vão a todos vocês por trabalharem juntos para proteger a água. A água é vida.
No espírito do Cavalo Louco,
Doksha
Leonard Peltier
Envia a nosso irmão um pouco de amor e luz: Leonard Peltier, 89637-32, USP Coleman I, PO Box 1033, Coleman FL 33521. EUA.
Tradução > KaliMar
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!