Bob MGlynn, uma antiga figura na cena anarquista de Nova Iorque, que conectou os protestos de Tompkins Square Park aos movimentos pró-democracia no Leste Europeu, morreu devido a um ataque cardíaco no dia 23 de agosto em sua casa em Yonkers. Ele tinha 60 anos.
Com seu cabelo longo, botas de exército, colete jeans e porte de lutador, McGlynn poderia ser tomado por um ciclista, mas ele era motivado por um intenso idealismo.
A carreira ativista de McGlynn iniciou-se no começo dos anos 1980 com o Grupo Anti-Nuclear do Brooklyn (BANG), que estava organizando o fechamento da usina nuclear de Indian Point. Seus quadrinhos artisticamente crus, mas politicamente sofisticados deram ao boletim de notícias do BANG uma estética punk.
No mesmo período, ele começou a trabalhar como mensageiro de bicicleta — o que também o impulsionou na atividade política. Confrontado com assédios policiais e tentativas do governo municipal de regular opressivamente os ciclistas, ele organizou em 1982 o primeiro sindicato de mensageiros de bicicleta de Nova Iorque, a Associação de Mensageiros Independentes. Em 1987, quando o prefeito Ed Koch emitiu uma ordem banindo ciclistas de três avenidas de Midtown durante horário útil, os mensageiros pedalaram repet idamente em grandes grupos em desafio. McGlynn foi linha de frente dessa luta bem-sucedida — a proibição foi anulada como inexequível. McGlynn orgulhosamente nomeava-se o “Rei de Todos os Mensageiros de Bicicleta”.
McGlynn enfrentou novamente a polícia nas ruas quando a cidade tentou impor um toque de recolher em Tompkins Square Park em 1988. Isto desencadeou três anos de conflito sobre a gentrificação de Lower East Side, com moradores de ocupações, anarquistas e moradores de rua lutando contra policiais em uma interminável série de protestos e motins intensos. McGlynn, apesar de morar no Brooklyn nesta época, pedalou para além do rio para se unir na ação.
A paixão especial de McGlynn era, contudo, construir laços de solidariedade com ativistas antinucleares, antimilitaristas e ecologistas no bloco do leste — um trabalho desafiador na atmosfera paranóica e polarizada da Guerra Fria de Reagan.
Este trabalho começou quando McGlynn e seus amigos formaram, em 1893, uma organização em Nova Iorque irmã do “Moscow Trust Group”. O “Trust Group”, com seu nome despretensioso, foi formado por ativistas de Moscou como uma cobertura “aceitável” para advogar pelo desarmamento nuclear. Ligado ao grupo de Nova Iorque, os ativistas de Moscou tiveram maior visibilidade e tornaram-se menos vulneráveis a serem presos ou “desaparecidos” pelas autoridades soviéticas.
Em 1986, no despertar do desastre de Chernobil, McGlynn e a colaboradora do “NY Trust Group” Ann-Marie Hendrickson uniram-se a dois ativistas do Reino Unido para viajar para Moscou — contrabandeando panfletos em russo sobre os perigos da radiação e uma faixa com a inscrição “Não Mais Hirosimas, Não Mais Chernobis – Paz e Segurança Ambiental Para Todos”. A ação aconteceu no começo de agosto, programada para o aniversário de Hiroshima. Eles prontamente se encaminharam ao Parque Gorki de Moscou, onde desenrolaram a faixa e começaram a distribuir os panfletos — e, certamente, foram presos pela KGB. Após alguns dias sob custódia, eles foram deportados. A ação ganhou cobertura internacional da mídia.
De volta em Nova Iorque após esta escapada, McGlynn ajudou a transformar o “Trust Group” local no Nem Leste Nem Oeste (NENW) – dedicado a apoiar as forças antiautoritárias em todo o Leste Europeu. À medida que a Guerra Fria entrava em seu jogo final, tais grupos foram rápidos em ganhar terreno e o NENW organizou campanhas e demonstrações em apoio aos ativistas do bloco do leste que enfrentavam encarceramento e perseguições.
O NENW deu ênfase especial em conectar as lutas ativistas do bloco do leste às dos EUA — por exemplo, colocando ativistas em Moscou, Minsk e Varsóvia para protestar nas embaixadas americanas locais exigindo liberdade para Kenny Toglia, um ativista nova iorquino que enfrentava processo devido aos motins de Tompkins Square.
Durante este período, McGlynn juntou o dinheiro pelo qual trabalhou duro como mensageiro de bicicleta para viajar para o Leste Europeu, conhecendo e articulando com ativistas na Polônia e Eslovênia, que era ainda parte da Iugoslávia.
O boletim de notícias do NENW foi uma ferramenta de articulação importante naqueles dias pré-internet. Era chamado On Gogol Boulevard, pela cena artística alternativa de Moscou, e era enviado para contatos em todo o mundo. O boletim mais tarde metamorfoseou-se em um encarte que aparecia em publicações anarquistas, incluindo o The Shadow, órgão da insurreição de Tompkins Square.
Durante os anos 80 e 90, o NENW dividiu escritório com grupos anarquistas irmãos no famoso, e recentemente fechado, “Péntágono da Paz” na rua Lafayette, 399, que era gerido pelos pacifistas da “War Resisters League” e sua afiliada Fundação “AJ Muste”. McGlynn dedicou incontáveis horas preenchendo envelopes lá.
A Guerra Fria acabou, mas o NENW continuou ativo por vários anos — especialmente fazendo trabalho de apoio para ativistas antiguerra em todas as repúblicas da ex-Iugoslavas.
No final dos anos 90, McGlynn retirou-se do Brooklyn para sua casa de infância em Yonkers e saiu da cena ativista para lidar com problemas de saúde. Ele há muito tempo usava analgésicos após contundir as costas quando trabalhava mensageiro. Acostumado com um estilo de vida extremamente ativo, ajustar-se a limitações físicas também infligiu desafios psicológicos para McGlynn.
Contudo, ele recentemente começou a emergir de seu período de retirada. Em fevereiro de 2015, uma festa de reunião da NENW aconteceu em Manhattan e McGlynn falou entusiasticamente de reviver o grupo à luz da guerra na Ucrânia e a rivalidade renovada entre a Rússia e os EUA. Mais tarde, naquele ano, o grupo emitiu sua primeira declaração em anos — em apoio aos revolucionários Curdos na Síria.
A imagem de McGlynn permanece viva por meio de sua parceira de vida, Joanna Pizzo. Ele será lembrado pelo seu amor ilimitado pela liberdade e por sua hostilidade contra todas as ditaduras e superpoderes.
Fonte: http://thevillager.com/2016/09/08/bob-mcglynn-linked-tompkins-protests-and-glasnost/
Tradução > PF
agência de notícias anarquistas-ana
Cinco araras azuis
Brincam em família
Pai, mãe, filhos.
Rafael Costa Henrique – 15 anos
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!