“O mundo dos ismos, quer englobe a humanidade inteira ou uma única pessoa, não passa nunca de um mundo esvaziado da sua realidade, uma sedução da mentira, terrivelmente real. O triplo esmagamento da Comuna, do movimento Spartakista e de Kronstadt (1921) mostrou de uma vez por todas a que banho de sangue levavam três ideologias da liberdade: o liberalismo, o socialismo e o bolchevismo.”
“É verdade que a brutalidade policial ainda é grande, e como! Onde quer que ela apareça, as boas almas da esquerda prontamente a condenam. E depois?… Eles organizam manifestações pacíficas; a sua polícia sindical trata como provocador a quem quer que resista às sus palavras de ordem. É essa a nova polícia, esperando sua vez de assumir o plantão.”
Raoul Vaneigen – A arte de viver para as novas gerações
Sofri minha primeira agressão grave em uma manifestação: diversos roxos no corpo, acordei com dificuldade de mover o ombro, galos na cabeça de pauladas e um golpe de PÉ DE CABRA na cabeça que me renderam um rombo, uma tomografia e diversos pontos na cabeça. Sempre imaginei que aqui estaria denunciando a polícia e o Estado, os verdadeiros inimigos do povo. Mas não, o show de horrores foi executado por militantes do MTST e de partidos da “Frente Povo Sem Medo”.
Dia 13 [de dezembro de 2016] ocorreu a manifestação, convocada pela mesma frente, contra a PEC e a reforma da previdência. Um chamado para um “bloco independente de partidos e sindicatos” foi feito. Compareci ao bloco. Saímos todos da praça da Gentilândia. Na manifestação higiênica e limpinha, carros de som estridentes que calavam as vozes de todxs.
No bloco independente todxs colocaram camisas nos rostos e a maioria portava trinchas e garrafas pet com tinta branca e cola: não queriam microfones, queriam escrever no asfalto frases como “poder para o povo”, “lute sem líderes”, “contra a pec” e símbolos do anarquismo. A cola era para lambes.
O por que de esconder o rosto? Óbvio, para evitar exposição, para evitar ser filmado pintando uma frase no asfalto. Nada demais. Muitas palavras de ordem: ” lutar, criar, poder popular”, “poder para o povo, o poder do povo vai fazer um mundo novo”. Onde passava o bonde as pessoas se empolgavam e gritavam juntxs. Perto dos carros de som, só se animava a torcida organizada e os dirigentes falantes, o povo ficava apático caminhando, como um sacrifício em uma procissão.
Alguém disse: o som tá muito alto, vamos para frente do som, assim as pessoas ouvem nossa mensagem. Logo a frente, outro carro de som altíssimo. Palavras de ordem e de novo passamos à frente. Eram TRÊS carros de som altíssimos, para garantir o silenciamento das vozes dissonantes.
“Vamos para a frente da manifestação, os sons apontam pra trás e as pessoas vão nos ouvir”. Fomos para lá. Rapidamente começaram a chegar diversos militantes do MTST, tenho alguns vídeos que fiz pra me proteger. Começam a hostilizar aos gritos de “o ato é nosso”. No carro de som militantes petistas e psolistas gritam “esse ato é para quem apoia o Fora Temer, se retirem os outros”.
Militantes fardados de vermelho começam a gritar com todxs e empurrar. Incrível, pessoas fazendo frases no chão e os dirigentes, certamente para criminalizar e justificar o que estava por vir falam “quem quer fazer ação direta vá na frente e se isole da manifestação”!!
Mais discussões, os autônomos insistiram diversas vezes que estavam de boa. Intervi nessa hora, gritei pra todxs não responderem à aberta tentativa de conflito. Puxei muitos e fomos uns 10 passos à frente. Ignoramos a polícia socialista e voltamos a escrever frases. Ainda deve estar lá o último a na bola feito por um colega.
Quando observo, os dirigentes tinham parado a manifestação (de forma orquestrada?), uns 100 metros atrás. Volto pra manifestação pra perguntar o que ocorre. Sou ameaçado por alguém do MTST, digo que todxs só fazem frases. Quando olho em direção aos meus colegas, meu coração dispara. A 100 metros, uns 50 socialistas fardados dando pauladas, um linchamento. Não dava pra ver o “meio” pois eram muitos, só conseguia ver os paus e ferro subindo e descendo em alta velocidade. Era i sso, um monte de secundaristas, professores e autônomos munidos de trinchas e garrafas de tinta levando pauladas e ferradas.
O carro de som? os partidários? ficaram calados, militantes do Rua, Psol e Quizomba fizeram um cordão de isolamento para nenhum manifestante intervir e garantir a tentativa de homicídio. NADA FOI DITO NO CARRO DE SOM!!! Fingiram que nada ocorria! Nessa hora, a cabeça a mil, corri em direção a confusão, tirei o celular do bolso, pensei “essa não é hora de filmar”, guardei. Antes de eu chegar os autônomos se livraram e correram, dobrando a esquina. Pensei, “ainda bem, fugiram”.
O que fizeram os fascistas socialistas? Pararam? Não, foram CAÇAR os que correram. Isso mesmo, não basta expulsar e espancar, tem que trucidar de tal maneira que nunca mais pisem aqui. Corri pra ver o que ocorre, dobrei a esquina. Inacreditável, vejo que 3 não conseguiram escapar. A uns 300 metros, no meio do quarteirão, a cena era pior. 3 marmanjos chutando uma mulher no chão. Um dente quebrado e ameaças de estupro (relato da mesma). Olho pra trás pra gritar por ajuda e pasmem: outro cordão de isolamento. Com m uito medo corro em direção aos espancamentos. Liberam a menina que corre.
Os 3 se juntam a um grupo com 15, isso mesmo, quinze militantes de MTST e outros partidos chutando um colega que estava em posição fetal no chão. CENAS QUE NUNCA VI NEM DA PM EM JUNHO DE 2013!! Corri para impedir a cena. Cheguei no meio, empurrei todxs e gritei “PARA! JA BASTA!”. Todxs olham meio que sem entender. 3 segundos de silêncio que pareceram horas. De repente, pela minha frente vem um com uma madeira, um pedaço de compensado para tacar na minha cabeça, coloco o braço, a madeira quebra no meu braço.
Grito “QUE MERDA É ESSA??!”. Um chute na barriga, um murro nas costas. Tento falar, uma paulada nas costas, outras nas costelas, uma no ombro. Penso em correr, vejo meu colega no chão em posição fetal, vontade de chorar. Duas pauladas na cabeça, antes de levar a mão pra proteger o rosto um golpe com um PÉ DE CABRA que abre um rombo na cabeça, sangue, todos riem e saem correndo. “Não voltem mais aqui”.
INCRIVELMENTE os assassinos são recebidos e protegidos pelos militantes e dirigentes partidários depois de um cena dessas! O cordão de isolamento se abre para eles se misturarem e se protegerem. 10 minutos depois chegam os poderosos, os candidatos a vereador, as patentes mais altas do exército socialista. “Esta tudo bem?”. “Que absurdo, sou contra isso”.
Todos tentam voltar para a manifestação, os partidários não deixam, dizem que vai ter “mais confusão”. Não abrem o cordão. Olho mais a frente, um colega quase desmaiando, levou um golpe com pé de cabra nas costas, caiu no chão e de lá não conseguiu levantar. Queríamos ir para o IJF [hospital], e os dirigentes não queriam deixar, para evitar mais “confusão”.
Comecei a sentir ânsia de vômito, me puxaram para o hospital. Sou professor de física da Universidade Federal do Ceará. Sei muito bem o local que ocupo no espetáculo e na ideologia dominante. Por isso tenho coragem de denunciar. E aqueles secundaristas? E os outros autônomos, que tem medo de denunciar essa atrocidade e serem perseguidos e linchados sem qualquer apoio? Quantos mais não estão com braços, cabeças e corações quebrados? NEM A POLÍCIA DO ESTADO USA CASSETETES DE AÇO, ELES ESTA VAM COM PÉS DE CABRA, E CONTRA SECUNDARISTAS E PROFESSORES!
É preciso que as pessoas entendam que esse tipo de ação NÃO É UM ACIDENTE. Em todo o Brasil os socialistas estão espancando quem não se submete às suas ordens. Sei de notícias do Rio, São Paulo e Brasília. É uma determinação nacional eliminar quem critica os partidos. É preciso que as pessoas entendam que o discursos de militantes que querem o Estado é muito belo e cheio de direitos humanos, mas na verdade a prática e suja, violenta e que eles estão dispostos a tudo para pôr em prática sua ideologia da salvação. Pe nse bem antes de legitimar, de ir para manifestações, de votar nessas pessoas.
GOSTARIA DE LEMBRAR UM FATO IMPORTANTE: Em junho de 2013 a configuração de forças era outra, as classes perigosas, os autônomos e anticapitalistas eram MAIORIA ABSOLUTA NAS RUAS. Multidões de mascarados. Houveram barricadas, pedras, bancos quebrados, carros queimados. Dezenas de milhares de pessoas. O máximo que se fazia com os partidários era abaixar suas bandeiras! NUNCA HOUVE QUALQUER RELATO DE AGRESSÃO A UM SER HUMANO.
O motivo é claro: para os libertários, anarquistas, situacionistas e etc, a VIDA ESTÁ ACIMA DO DESEJO DE PODER. Na verdade é o oposto, não queremos poder! O que fazer?? Essa foi uma ação criminosa, não foi uma ação política! Muitas filmagens, muitas testemunhas, muitos falam em fazer boletins de ocorrência e tentar punir a todos os envolvidos: ISSO É TENTATIVA DE HOMICÍDIO! Não sei o que fazer, não quero usar o aparelho repressor do Estado.
A opção é abandonar a luta? O derramamento de sangue a que estão disposto os socialistas pelo poder está demonstrado pela história. O fascismo da direita bate de um lado, enquanto o fascismo da esquerda bate do outro, devidamente legitimado por uma propaganda e discursos bem montados. Eu luto contra ambos. O que você vai fazer sobre isso?
Geová Alencar
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Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!