Há cerca de um ano tivemos a oportunidade de visitar Exarchia, o bairro anarquista de Atenas pioneiro na acolhida de refugiados que se adiantou a qualquer Estado nacional. Voltamos para comprovar como o bairro gestiona a normalidade e a impassividade com que a Europa segue tratando o drama dos imigrantes e – que surpresa! – Exarchia segue sendo um exemplo, com numerosos centros de acolhimento autogestionados em que se vence o estigma da caridade.
Passeamos com Nidzara Ahmetasevic, voluntária do centro Khora Community e membro do “Are you Syrious?”, um meio de comunicação com as melhores informações sobre a situação dos refugiados em toda a Europa. Apesar do acordo com a Turquia, que supunha o fechamento das fronteiras, centenas de refugiados chegam a cada dia nas ilhas gregas e em péssima situação: por agora muitos chegam com partes do corpo literalmente congeladas. Espaços como o Khora conseguem aplacar parte da dor que as famílias s ofrem por chegar a uma Europa que não consegue lhes fornecer paz.
O edifício da comunidade consta com 8 espaços que autogestionam tanto os vizinhos do bairro como os refugiados recém chegados, de forma que ao serem todos responsáveis se elimina o estigma que muitos sofrem quando vêem que recebem sem “dar” nada em troca. No sótão do edifício se encontra o armazém, onde guardam as roupas doadas e a comida. Ali também se organiza uma “tenda grátis”, onde as pessoas podem passar um bom tempo escolhendo o que querem, podendo levar sem pagar nada, em vez de ter que agradecer qualquer coisa que lhes dão, ainda que não gostem ou não lhes seja necessário.
Tudo o que se encontra em Khora é produzido com materiais recicláveis de todo o tipo. Para isso, há uma oficina onde se constroem móveis, tanto para eles próprios como para outros assentamentos. A oficina conta com ferramentas para trabalhar madeira e metal e qualquer um pode usá-la.
O andar mais mágico é o térreo, onde há uma recepção e um espaço para crianças. Os recém-chegados conseguem ali informação sobre apoios legais e como ter acesso a comida, banho, roupa, abrigo ou asilo, tudo falado em farsi, árabe, grego ou inglês. Sempre há alguém ali para receber qualquer um que chegue. O espaço das crianças, desenhada e construída nas oficinas, as permite brincar em família, conhecer outras crianças e seguir seu aprendizado.
Khora é uma comunidade onde tudo se vê de outra forma, incluso a comida. Dispõe de uma cozinha social e de um café que abrem as 10h e servem café da manhã e comida (desde as 13h). O espaço pode ser usado também por outros grupos que queiram preparar um lanche ou comida para distribuir em outros lugares. Evidentemente, a comida servida é grátis para todo o mundo, incluindo voluntários, o que contribui para seguir destruindo o estigma, e são aceitas doações de quem possa contribuir. É u m lugar perfeito para todo o mundo se sentar, conversar, comer, relaxar e, sobretudo, socializar – a ideia fundamental de Khora, que busca juntar as pessoas para empoderá-las. Também se organizam eventos como cineclubes, noites musicais e aulas de defesa pessoal.
A educação não poderia faltar neste lugar quase mágico, onde os direitos humanos são, por fim, sagrados. Existem 3 aulas, uma livraria e, em construção, uma sala de informática. São ministradas classes de grego, inglês, alemão e francês, para adultos e crianças de certa idade e atividades artísticas para os mais jovens. Em troca, muitos dos refugiados ensinam árabe aos voluntários, para avançar na compreensão mútua e para se sentirem úteis.
Os dois últimos espaços estão reservados a segurança das mulheres, onde elas podem estar juntas, conversar, relaxar, aprender e compartilhar um dentista que atende gratuitamente graças a “Dentists in Athens”. O espaço conta também com uma sala de reuniões privada que pode ser usada para assistência legal ou psicológica. É nosso desejo que espaços como esse floresçam em cada bairro de cada cidade.
Tradução > Bruno Laet
agência de notícias anarquistas-ana
No ninho do sabiá
há quatro bocas
que não param de piar
Eugénia Tabosa
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!