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[Paraguai] A felicidade de queimar um Congresso, símbolo da opressão estatal

By A.N.A. on 11 de Abril de 2017

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Os poderosos no Paraguai são sempre donos de tudo, inclusive dos conflitos sociais e políticos. Seus tentáculos são vários. Ao povo lhe dão parte nesses conflitos como espectador ou como peão. Obrigado a participar dessa forma, o povo as vezes desperta e reinventa o conflito de acordo com seus próprios interesses e demandas, rompendo com o que as elites esperam dele, superando o rol assinado e mudando dramaticamente a situação.

É o que vimos em 31 de março. A queima do Congresso não estava nos planos da elite para manejar seu conflito interno, mas sim estava na vontade do povo, que simboliza nessa instituição anos, décadas de opressão política a qual pôr fogo. O povo decidiu dar saída a seus próprios desejos e viveu a felicidade de queimar o Congresso, forçando todos os planos preestabelecidos, escapando ao controle do poder, gerando fogo.

Os fatos mudam quando o povo toma parte e se faz protagonista de sua história, e assim como nos expropriam a vida a cada momento, podemos expropriar seus conflitos aos poderosos e fazê-los nossos pelo momento. Os poderosos não gostam quando o povo escapa a seu controle e é quando seus operadores chamam à imobilidade em nome de uma paz que é para os outros e seus próprios interesses, nunca para o povo. Este momento pode ser muito curto: agora já estão chamando à paz social, à imobilização.

Os momentos e processos populares que se dão em situações críticas como a vivida em 31 de março não encaixam nos planos nem no sentido dos que se dedicam à teorização política e nunca olham mais além de seus planos partidários.

A ação direta, a mobilização nas ruas é pedagogia em movimento e as pessoas descobrem ali que é mais autônoma do que creem em uma experiência liberadora e construtiva de conflitividade social que reage contra anos de desigualdade e abusos políticos. As histórias individuais e coletivas das pessoas operam e se materializam nas ações concretas, contra o que percebem dia a dia como poder e na solidariedade com os que estão ao lado e sofrem a mesma repressão. Arrogante é chamar a estas ações como “improvisação”.

A violência da polícia não tem nada de estranha nem suspeita, tampouco é uma surpresa como agora se diz. Esta vez a polícia – uma vez desligadas as câmeras de televisão – procedeu a converter as ruas de Assunção em um cenário dos anos 70 do stronismo [Alfredo Stroessner, ditador do Paraguai entre 1954 e 1989], prendendo arbitrariamente a quem caminhava inclusive aleijados da zona do conflito na noite de 31 de março e madrugada de 1º de abril, com detidos que somaram mais de 200 pessoas, agressões à comunidade LGTBIQ, violência machista, torturas, pela repressão violenta e desmedida e, sobretudo, pelo assassinato sem risco do jovem Rodrigo Quintana, depois de atacar um local da oposição política.

A constitucionalidade, a institucionalidade ou a legalidade não são os temas de fundo e isso todos o sabemos. A legalidade é o exercício do poder sujeito a seus interesses em um tempo dado, é por isso que muda quando mudam seus interesses. A violência estatal é uma resposta para apagar a crise política propiciada desde seu próprio seio. Não nos surpreende mas não deixa de indignar-nos. O assassinato de Rodrigo Quintana não merece impunidade.

Agora é o momento de acionar, de realizar a experiência da autonomia na ação direta. Contra todo prognóstico e contra o que se espera do povo, que é a submissão, a obediência a linhas preestabelecidas em escritórios partidários, o rol de aprendiz e de espectador.

Aproveitemos o momento, não cumpramos os papéis estabelecidos, deixemos por um momento de ser espectadores. Sejamos povo, sejamos ação.

Coordenadora de Grupos e Individualidades Anarquistas de Assunção – COGIA

Tradução > Sol de Abril

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Todos dormem.
Eu nado na noite que
entra pela janela.

Robert Melançon

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