Por Rick Lyman – The New York Times
Com a cabeça inclinada em reverência, Robert Svec delicadamente colocou um buquê de flores vermelhas ao pé da estátua de Jozef Tiso, líder fascista da Eslováquia na época da guerra, em um parque de monumentos conhecido como o Panteão de Figuras Históricas Eslovacas.
Durante anos, a organização cultural neofascista de Svec, o Movimento de Renascimento Eslovaco, era um pequeno grupo marginal, mas agora suas fileiras estão crescendo; recentemente 200 pessoas se juntaram a ele para celebrar o passado fascista do país e usar sua saudação, “Na Straz!”, ou “Em Guarda!”. Svec está se sentindo tão encorajado que quer transformar seu movimento em um partido político e tem planos de concorrer ao parlamento.
“Você é nosso, e nós seremos para sempre seus”, Svec disse ao pé da estátua, declarando 2017 como o ano de Jozef Tiso, dedicado a reabilitar a imagem do ex-padre e colaborador nazista, que foi enforcado como criminoso de guerra em 1947.
Antes nas sombras, os neofascistas da Europa estão voltando, mais de três quartos de século depois que tropas nazistas começaram sua invasão da Europa Central, e duas décadas desde o ressurgimento dos skinheads neonazistas dos supremacistas brancos terem perturbado a transição para a democracia. Na Eslováquia, estão ganhando cargos regionais e ocupando lugares no parlamento pluripartidário, que esperam substituir por uma liderança forte.
Eles continuam à margem da política europeia, mas são um lembrete de como ela acabou se tornando turbulenta. Agora que a ascensão dos partidos de extrema-direita está forçando muitos políticos a se voltarem para essa ideologia, do mesmo modo o ambiente populista fortalece os grupos mais extremistas de direita, aqueles que tendem ou mesmo adotam políticas fascistas que remetem à Segunda Guerra Mundial.
“Antigamente, a simpatia pró-fascista ficava escondida. Os pais diziam aos filhos não comentarem na escola; agora, pode dizer publicamente coisas que antes não podia”, disse Gabriel Sipos, diretor da Transparência Internacional Eslováquia.
Embora os partidos nacionalistas tenham prosperado por toda a Europa nos últimos anos, apenas alguns – como o Golden Dawn (Aurora Dourada) na Grécia e o Partido Democrático Nacional na Alemanha, para citar dois – adotaram visões neofascistas. Outros, como o Jobbik da Hungria, são extremistas em suas ideologias de direita, mas não se encaixam escancaradamente no fascismo.
Em vez disso, o efeito desses grupos é medido pelo modo com que forçam os principais partidos tradicionais na direção do nacionalismo, especialmente em relação à imigração, para retardar a deserção de seus adeptos.
“Agora os extremistas e os fascistas são parte do sistema”, disse Grigorij Meseznikov, presidente do Instituto de Assuntos Públicos, grupo liberal de pesquisa.
Na Eslováquia, o neofascismo já começa a ter poder. Svec está adentrando um campo político onde um partido com líder abertamente neofascista, Marian Kotleba, demonstrou uma força surpreendente nas eleições parlamentares do ano passado, ganhando 14 assentos na câmara de 150 membros.
As pesquisas pré-eleitorais mostravam seu partido recebendo menos de três por cento dos votos, mas o resultado – oito por cento – foi construído com o forte apoio de jovens e outros eleitores que votavam pela primeira vez. Pesquisas recentes mostram que seu apoio chega a quase 13 por cento. Ele já havia chocado a Eslováquia, em 2013, quando conquistou o governo de Banska Bystrica, uma das oito regiões do país.
Kotleba, de 39 anos, que recentemente renomeou o partido Kotleba – Partido Popular Nossa Eslováquia, costumava aparecer trajando uniformes desgastados que lembravam os usados pelo Estado eslovaco durante a guerra. Quando ele e seu partido conseguiram vagas no parlamento, os uniformes desapareceram e houve uma mudança de alvos de ataque, dos judeus para os imigrantes e as minorias de ciganos do país.
“Eles costumavam aparecer em desfiles do orgulho gay, mostrando os músculos, provocando. Agora, não vão mais; estão preocupados com sua imagem”, disse Michal Havran, apresentador de um talk-show na televisão e comentarista político.
Mas a mensagem subjacente de grupos como o de Kotleba e de Svec não mudou: a Eslováquia estava melhor sob o governo fascista.
“Algo muito sombrio e muito preocupante do passado está voltando. Eles acham que estão lutando por algo puro, antigo e sagrado. Há alguns anos, teriam vergonha de falar sobre isso. Agora, têm orgulho”, disse Havran.
Em Banska Bystrica, o poder de Kotleba como governador inclui a supervisão de escolas, de instituições culturais e de alguns projetos de infraestrutura.
“Se você é homem branco e heterossexual, provavelmente não nota a diferença de viver em um lugar onde Kotleba seja o governador, mas se faz parte de uma minoria, como os ciganos, sente isso de modo mais intenso. Há a sensação de que são ainda menos bem-vindos na cidade”, disse Rado Sloboda, 26 anos, participante de um grupo de ativistas de Banska Bystrica que se opõe a Kotleba sob a bandeira “Não na Nossa Cidade”.
O recepcionista musculoso na porta do escritório de Kotleba me disse este mês que não seria possível entrar sem hora marcada, embora o governador raramente conceda entrevistas. Quando falei que várias chamadas não tiveram retorno, ele perguntou o nome do jornal. “Ah! É por isso.”
O partido de Kotleba é especialmente eficaz nas redes sociais, com mais de 140 páginas do Facebook interligadas. Quando um aposentado local, Jan Bencik, de 68 anos, começou um blog para expor os neofascistas do país, seu nome apareceu em uma lista de “inimigos do Estado”.
“Eles me chamavam de judeu, diziam que eu tinha que morrer, morrer, morrer. Disseram que cuidariam de pessoas como eu no futuro”, disse Bencik.
Uma das ironias da chegada de Kotleba ao poder em Banska Bystrica é que esse era o centro do partido antifascista Revolta Nacional Eslovaca durante a guerra e é onde fica a sede do Museu Nacional, que comemora esse evento.
Stanislav Micev, diretor do museu, vê a mensagem de Kotleba como “fascismo com elementos de nazismo”, misturando a lei do homem forte de Mussolini com a demonização que Hitler fazia das minorias.
“Eles são contra americanos, húngaros, judeus, negros e asiáticos. Suas posições atuais beiram a ilegalidade”, disse Micev.
Como recém-chegado na cena política neofascista, Svec considera Kotleba um potencial rival na disputa pelo voto dos revoltados. Na cerimônia de Jozef Tiso, os oficiais do movimento de Svec usavam ternos escuros com camisas brancas e gravatas vermelhas chamativas. Em uma mesa no fundo da sala eram vendidos adesivos, chaveiros, calendários, biscoitos e garrafas de vinho (branco) rotuladas “Ano de Jozef Tiso”.
“As pessoas no poder querem que os eslovacos se envergonhem de sua história. Querem que continuemos a pedir desculpas. É por isso que falam sobre deportações de judeus durante a guerra e outras coisas negativas”, disse Martin Lacko, historiador e partidário de Svec.
Um grupo de cantores grisalhos em trajes folclóricos, acompanhados por um clarinete e um acordeão, tocou uma série de músicas patrióticas. “Mães eslovacas têm filhos lindos”, cantavam.
Dois estudantes universitários usando jeans estavam sentados no canto de trás, sussurrando durante os discursos e pegando doces de uma mesa ao lado durante os intervalos. Ambos disseram que se consideram devotos e conservadores e não acreditavam que Svec e Kotleba sejam extremistas. Eles também contaram que a eleição do presidente Donald Trump era uma coisa boa.
“Tenho que confessar, o resultado da eleição americana me deixou extremamente feliz”, disse Martin Bornik, de 23 anos.
Em uma entrevista após a cerimônia, Svec negou que seu grupo seja neonazista.
“Quando os americanos trazem suas bandeiras para os parques ou eventos públicos, ninguém diz nada. Quando nós o fazemos, nos chamam de neonazistas. Sabe como é, rotular as pessoas é muito fácil.”
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