Na Revolução de Rojava, que se ilumina no caminho dos mártires, também Demhat [Robert Grodt] se converteu em uma luz de vela… Seus bonitos olhos e rosto sempre brilhavam, refletindo o amor humano que acumulava em seu coração.
A Revolução de Rojava, que se ilumina com a luz dos caminhos de seus mártires, está guardando em seus braços a luz do mártir Demhat.
Britânicos, americanos, estônicos, gregos, italianos, suíços… Todos se converteram em flores que nunca murcharão em meio ao lago de sangue derramado em Rojava. Cada um dos lutadores internacionalistas com quem falei disse: “Vim aqui pelo bem, pela humanidade, é minha tarefa contribuir com a revolução e apoiar o povo curdo”.
Ontem, enquanto passava pela linha de frente, conheci Roza, uma boa amiga do mártir Demhat. Ela me perguntou: “Você está me escondendo alguma coisa. Quer me dizer algo?”. Mas minha boca não pode se mover. Não queria que soubesse do martírio de Demhat através de mim.
O combatente estadunidense Demhat Goldman regressou em 5 de julho com seus companheiros de uma operação. Estavam próximos de seus acampamentos. Havia seis. Naquela noite sangrenta três jovens almas caíram mártires e alguns outros ficaram feridos. Enquanto voltavam, um dos companheiros de Demhat pisou em uma mina terrestre, ocorrendo uma explosão que foi seguida do fogo inimigo sobre eles. Quatro mártires e mais combatentes feridos foi o resultado.
Estava no posto de emergência na linha de frente de Raqqa. Eram duas da manhã. Ao ouvir os carros me dirigi ao médico. Quando abriram as portas do veículo havia três cadáveres e três feridos. Abri as mantas para ver os mortos. Dois deles eram irreconhecíveis. O terceiro era Soro, da Inglaterra, que se uniu às YPG [Unidades de Proteção do Povo]. Apenas um dia antes Soro me convidou para ir ao seu acampamento e me prometeu uma entrevista em seu devido tempo. Ao ver seu corpo sem vida, meu coração se encheu de uma dor enorme. Mas como necessitavam de ajuda, fui ao posto médico.
Suas feridas eram graves, de ambas as pernas seus ossos sobressaíam. Com a mão apertava o rosto. Para injetar o soro, tive que afastar sua mão. Só então me dei conta porque me haviam dado tal tarefa. O companheiro ferido era Rodi, dos Estados Unidos. Fizeram-me falar inglês com ele e ajudar o médico a injetar o soro. Rodi, que o via quase todos os dias durante a última semana, estava empapado de sangue.
De repente, como um duro golpe na cabeça, chamei a “Demhat”… Há um dia vi a Rodi, Demhat e Soro atrás de um veículo do grupo ofensivo. Estavam rindo alegremente e se dirigiam a zona de guerra, o que ansiavam durante muito tempo.
Como Rodi não foi capaz de formular frases claras nesse momento, pedi para que se recuperasse. Depois que terminou a intervenção de emergência em Rodi, ainda que pudesse falar o idioma, gritei um pouco agressivamente ao grupo que transportava aos mártires e feridos: “Demhat, Demhat”. Os três estrangeiros haviam se unido à unidade recentemente e assim seus nomes não eram bem conhecidos entre as unidades locais. Depois de algum tempo, um deles veio até mim e disse: “Demhat, o estrangeiro? O americano?”. Exclamei, “Sim, Demhat”. Somente respondeu: “Sehid Demhat”. Pelo que entendi o cadáver de Demhat estava nas mãos das quadrilhas do Estado Islâmico (EI) e que o SDF havia iniciado uma operação para recuperar seu corpo.
Ao amanhecer o posto de emergência estava um pouco mais tranquilo, todos estavam tendo um descanso, mas eu todavia estava esperando Demhat. Ele deveria ter vindo, tinha que vir…
Comecei a refletir sobre o significado e importância dessas centenas de combatentes estrangeiros que se unira às YPG e incluso converteram-se em mártires da revolução nessa terra envolvida em uma grande revolução. Pensei na irmandade dos povos de todo o mundo que esses honráveis sacrifícios forjaram. Uma vez mais meus pensamentos moveram-se à Demhat e quando ouvi a sirene dos veículos blindados levantei minha cabeça e comecei a correr. Demhat havia chegado. Os olhos e rosto de Demhat rindo alegremente, refletindo no peito o amor pelos humanos…
Depois que o médico tomou as primeiras medidas, uma vez mais subi em um carro e conduzido para longe. Aquela noite ninguém podia dormir… O cadáver do mártir Demhat chegou em um panzer adornado com sua imagem…
Demhat não foi um lutador que falou com a imprensa, mas tivemos a honra de levar a cabo a primeira e última entrevista com ele. Dez dias depois da minha entrevista com ele, Demhat cresceu ainda mais em meu coração.
Sem embargo, não pude transmitir a notícia do martírio de Demhat a Roza…
> Esse artigo apareceu a primeira vez no jornal Yeni Özgür Politika e foi traduzido pela agência inglesa ANF.
https://anfenglish.com/features/now-demhat-has-also-become-a-candle-light-20942
Tradução > Liberto
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!