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[Argentina] Anarquista solidário com luta indígena mapuche desaparece durante repressão policial

By A.N.A. on 7 de Agosto de 2017

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“Se não recuperamos a terra, não há futuro”

Por Pablo Bruetman

Casas queimadas. Móveis de mais de 500 anos de antiguidade feitos pó, livros que se perderam para sempre. O Furacão da Gendarmeria [polícia] passou pelo Pu Lof de Cushamen a golpear crianças e mulheres, e uma pessoa continua desaparecida.

Santiago Maldonado está desaparecido. Foi levado pela Gendarmeria depois da brutal repressão à comunidade Pu Lof em Resistência de Cushamen. O viram várias testemunhas aos quais a Justiça talvez nunca chame. O buscam as organizações de Direitos Humanos, ainda que sua cara não saia nos noticiários nem seja trend topic. E não tenham muitas pistas, porque desde Gendarmeria, os mesmos que bateram em crianças e mulheres, asseguram que não o tem. Santiago vive no El Bolsón, milita em uma organização anarquista, geralmente o veem pela Biblioteca do Río e tem uma amizade com uma lamien [irmã, no idioma mapuche] de Cushamen. E como amigo, como militante e como um garoto que defende o justo, estava dentro da comunidade quando aconteceu a repressão.

O buscam também desde a comunidade Pu Lof em Resistência de Cushamen onde a vida segue transcorrendo, apesar dos destroços, dos feridos, da violência, dos roubos, dos incêndios intencionais, da repressão selvagem. Apesar de tudo Vanesa não pode dar-se o luxo de perder a tarde sem cortar lenha. São mapuches, são a terra. Com as sementes, com as árvores, com o fogo, com a madeira, com a natureza vivem. E se lhes complica viver é só porque há quem quer apoderar-se dos recursos naturais.

Vanesa atende o telefone depois de cortar lenha e explica: “A geada é muito dura, as últimas noites foram terríveis, tenho que cortar a lenha agora antes que baixe o sol”. Hoje pode cortá-la. Porque há sol e porque a Gendarmeria não anda disparando por seu território. Agora anda montada sobre a rota, para assegurar-se de que os mapuches vagos e malvados não lhes cortem as rotas. E para estar próxima e vigiar. Dentro da comunidade há raiva, que nem sequer desaparece com a boa notícia da liberação das nove pessoas que haviam sido detidas sem motivo ou com uma falsa acusação por entorpecimento público.

“Queimaram uma casa inteira, queimaram as coisas que havia trazido uma família mapuche que vinha da costa de Chubut. Haviam se mudado recentemente. Eram coisas que estavam tapadas com um nylon para resguardá-las do clima. Queimaram desde um móvel de 500 anos até barracas e livros”, conta Vanesa. A lista de faltantes é grande: cobertores, colchões, roupa. E um banco de sementes orgânicas. Dado imprescindível para entender também por quê tanta perseguição: os originários ainda conservam sementes sem modificações genéticas. Sãs, saudáveis e que não adoecem. Mas fundamentalmente naturais e gratuitas: um horror, algo que os que se creem donos da semente – como a multinacional Monsanto – não toleram porque seria o fim de seu grande negócio-estafa que está acabando com a vida.

A vida não vale nada para os que golpeiam a favor do poder. E nada lhes importa tirar-lhes o pouco que tem: levaram suas ferramentas e a motosserra. Uma motosserra que puderam comprar graças a uma banda que fez um recital para arrecadar os fundos. “Mas isso é o de menos, o podemos recuperar”, diz Vanesa com a sabedoria de uma originária que sabe o pouco valor das coisas materiais.

De momento, o que mais preocupa é a situação de Santiago. “Quando sabes onde o tem é outra coisa, o estão buscando todos. No campo saíram as lamienes a buscá-lo e não estava. Por mais que seja grande conheces e sabes onde pode estar; mas não está. Há testemunhas que viram como a Gendarmeria o levou. Se o tem, creio que o vão entregar quando não tenha tantos golpes”.

Que dirão Patricia Bullrich, Mauricio Macri e o governador Mario Das Neves quando se saiba o que aconteceu com Santiago? Falarão de excessos? Como poderão justificar? “A repressão é cada vez mais brutal – sustenta Vanesa – e é para toda a comunidade, aos mapuches e não mapuches, reprimem também às organizações sociais: este governo desatou uma repressão impressionante. Se vem maus tempos, perseguição todo o tempo. É cansativo, mas se baixas os braços perdes, há que seguir, não fica outra opção porque senão desaparecemos. Temos que resistir para existir, senão o que vai ser de nós irmãos? Se não recuperamos a terra, não há futuro para os demais. Queremos recuperar território ancestral, o Estado a tem que presentear a Benneton, não é tão difícil para nós, não se reclama mais que isso”.

Fonte: http://www.revistacitrica.com/ldquosi-no-recuperamos-la-tierra-no-hay-futurordquo.html

Tradução > Sol de Abril

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Marba Furtado

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