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[Reino Unido] Dez passos para chegar ao Anarquismo

By A.N.A. on 11 de Setembro de 2017

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Por Carne Ross – 18 de julho de 2017

Os caminhos do Anarquismo são inescrutáveis, mas começam todos pela consciência.

Acostumava acreditar no “sistema”: a estrutura política e econômica do que poderíamos chamar de democracia ocidental e economia capitalista. Trabalhei por ele: durante muitos anos fui diplomata de meu país. Renunciei ao cargo por causa da guerra do Iraque. Comecei uma viagem política. Já não acreditava no sistema que representava. Mas, o que funcionaria em seu lugar? Para minha grande surpresa entendi que o anarquismo é a resposta. Nunca pensei que acreditaria em ideias tão radicais. Mas agora penso que é a única filosofia política que tem sentido para o mundo de hoje, e os loucos são os que pensam que o sistema atual nos salvará (de si mesmo).

Mas, porquê o Anarquismo, e o que ele é? Esses 10 passos podem explicá-lo:

1. Ninguém sente que tem o controle sobre as coisas que lhe digam respeito: a nível local ou nacional, e muito menos internacionalmente. Esta frustração ajuda a explicar fenômenos como o Brexit e Trump e ainda a divisibilidade e volatibilidade da política de hoje.

2. A democracia “representativa”, onde poucos são eleitos por muitos não está funcionando. A desilusão com a política e com as instituições são altas. Muitas pessoas sentem-se marginalizadas: ninguém fala por elas. O acesso aos que estão no governo, os políticos, é muito mais fácil para aqueles que já tem poder e dinheiro.

3. O capitalismo moderno permite que poucos cheguem a ser grotescamente ricos. Para a maioria a renda e a riqueza diminuíram enquanto que os bens básicos, incluindo habitação, são mais caros do que nunca. A maioria está pior e não melhor. Os jovens não esperam viver melhor que seus pais, pelo contrário: frente a décadas de dívida estudantil e residências inacessíveis, podem esperar da vida muito menos do que eles. As cidades estão sendo arruinadas por especuladores imobiliários, para frequentemente as deixar vazias, obrigando os moradores a abandoná-las, destruindo comunidades inteiras.

4. O trabalho e a vida moderna, em minha opinião, não oferecem futuro (No future). A maioria do trabalho é chata e repetitiva. O progresso material é importante, mas não é suficiente (e em qualquer caso se limita cada vez mais a uns poucos). Muito da cultura contemporânea fala de um vazio profundo. Existe um desejo sincero, mas não expressado por algo mais. Chama-se propósito, ou seja, as coisas sem nomes que mais importam: as coisas de que os moribundos falam. A esperança de algo melhor murchou.

5. A sociedade está dividida. Os velhos estão ilhados. Os deficientes são jogados aos cuidados inadequados do Estado (Gandhi dizia: a sociedade pode ser julgada pela maneira pela qual trata os mais vulneráveis). Outras raças ou imigrantes são culpados. A inveja e ira predominam. Mas necessitamos uns dos outros. Só as relações dão sentido à vida, sozinhos não somos nada. O confinamento solitário é uma forma de castigo por uma razão.

6. A necessidade de recuperar o controle – o protagonismo – está no centro da crise. Em lugar de políticos desacreditados temos que decidirmos nós mesmos sobre as coisas que nos importam.

7. Isso significa democracia direta, uma volta a mais básica prática de democracia onde os cidadãos atenienses tomavam a palavra para debater e tomar decisões para a cidade. Hoje em dia os modelos de “democracia participativa” onde todos podem participar já estão sacudindo povos e cidades de todo mundo. Funciona. Quando todos tem uma opinião igual, as decisões resultantes – em saúde ou escolas – são mais justas: em uma cidade brasileira o número de escolas se quadruplicou. O debate e discussão promovem entendimento – sempre e quando se pratique cara a cara ao invés de online. A divisão e hostilidade política de partidos podem ser substituídas por uma cultura nova e mais tolerante de democracia que é criada e sustentada por sua prática (política de juntas). Nesses foros começamos a nos ver como indivíduos – pessoas reais com necessidades como as nossas – e não como etiquetas políticas. A corrupção perecerá quando as decisões forem tomadas a luz do dia.

8. Não pode existir uma democracia justa sem uma economia justa. A opinião dos ricos sempre será a mais importante. O livre mercado permitiu a exploração de muitos por poucos. A alternativa – a propriedade do governo – se mostrou ineficiente e não mais democrática se uns poucos tomam todas as decisões. Em seu lugar, as cooperativas incorporam a igualdade no modelo de negócio; todos que contribuem obtêm uma parte e uma palavra. Quando todos tem uma ação o negócio prospera e oferece aos seus sócios mais que salário: se transforma em uma empresa compartilhada. As cooperativas, especialmente quando trabalham juntas em uma economia, são tão competitivas quanto as empresas com fins lucrativos. Pense em John Lewis, ou Mondragón, a décima empresa espanhola que ajudou a transformar a região basca espanhola.

9. Pode-se começar com algo pequeno e depois o desenvolver. Requer esforço e ação, em contraste com o trivial ato de votar sobre os lemas fáceis a cada cinco anos. Não ocorrerá a menos que a construamos: a democracia é um processo, não uma utopia. Necessitar-se-á trabalho, aprendizagem e paciência. Novas formas de participação – foros locais nas escolas, hospitais ou na cidade – ganharão legitimidade, e poder, quando apareçamos, falemos e escutemos. As velhas formas de política terão que ficar espertas e eventualmente se afastarem. Os laços da sociedade voltarão a ser entrelaçados.

10. Isso é anarquismo. Não é o caos ou a “guerra de todos contra todos” ou um idealismo ingênuo. Promete uma ordem mais profunda criada desde baixo para cima, não imposta de cima para baixo pelo governo e as regras; é democracia radical – a volta da democracia às suas raízes: as pessoas tomam decisões sobre as coisas que lhes importam. Em lugar de um dividido grupo de pessoas que consomem e competem entre si, podemos começar a nos sentir novamente como parte de uma comunidade, com propósito compartilhado, revitalizado em um sentido de que, por fim, a mudança é possível e está em nossas mãos, somente nelas.

Carne Ross é um personagem do próximo documentário, Anarquista Acidental (Accidental Anarchist), que será transmitido pela BBC4 Storyville em 23 de julho. Carne fundou e dirige o independentdiplomat.org, uma consultoria diplomática independente e sem fins lucrativos.

Trailer do documentário: https://vimeo.com/199834602

Fonte: http://www.huffingtonpost.co.uk/carne-ross/10-steps-anarchy_b_17514484.html?utm_hp_ref=uk

Tradução > Liberto

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Janela de casa
O canto do sabiá
E o pôr-do-sol.

Luana Fernanda Ferreira – 15 anos

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