Hêlîn ou Anna, porque eu sei que te gostavam teus dois nomes, eras como o sol. Irradiavas luz e calor, davas vida a todas aquelas pessoas que se cruzavam em teu caminho, por isso todas as pessoas que te conheceram te amavam, te admiravam. Eu te admirava Hêlîn, por teu caráter forte e amoroso, tua visão positiva da vida, tua enorme força de vontade, onde não claudicaste nem por um momento em teus objetivos. Admirava tua ética, nunca mentias em tuas opiniões ainda que doessem, nunca aceitaste uma injustiça, nunca te calaste quando consideravas que algo não era correto. Sempre buscaste aproximar-te da Verdade, lias, aprendias, escutavas. Tinhas uma mente aberta, pondo em dúvida os preceitos mais básicos, nunca dando nada por definitivo, buscando sempre um novo significado à vida. Cuidavas de tuas companheiras e tuas amigas, davas sentido real ao conceito de Apoio Mútuo.
Hêlîn era uma revolucionária. Hêlîn era uma anarquista. Mas sobretudo era uma mulher livre. Vieste a Rojava para lutar pela liberação de todas as mulheres do mundo. E lutaste em todas as áreas da autodefesa. Lutaste contra as ideias retrógradas e machistas, lutaste com um kalashnikov na mão, lutaste por aprender a língua, a cultura e as tradições desta terra, lutaste contra a parte de tua personalidade que o capitalismo havia influenciado, lutaste por ser mais livre e por tornar mais livre a todos os seres vivos deste planeta. E venceu em todas estas áreas, ninguém pode negar tua vitória.
Hêlîn significa “ninho” em curdo e não havia um nome melhor para ti, pois ao estar junto a ti todo o mundo podia sentir-se como estando em um lar, um lugar seguro, confortável. Criavas família ali onde ias, a família que todas desejamos construir, entre pessoas que se amam, que se cuidam, que se apoiam. Te apelidavas Qaraçox em honra aos mártires que faleceram sob as bombas da aviação turca, justo no tempo em que tu chegavas a Rojava. Qaraçox é a montanha próxima da fronteira de Semalka, fronteira que divide artificialmente Rojava Curdistão e Bashur Curdistão.
A tua família, tuas amigas e amigos, a tuas companheiras/os, só posso dizer que tiveram a enorme sorte de conhecer a Hêlîn. E eu sei que vós compreendeis do que estou falando. E que os acompanho, ainda que seja desde longe, na dor e na raiva que sua morte trouxe.
Hêlîn tú vais ser meu caminho. Agora não devo sentir-me mais perdida. Cada vez que as forças do Estado, do patriarcado e do capitalismo tratem de influir em mim pensarei em ti, e serás minha luz para continuar sempre para frente. Como tu sempre o fizeste. Hềlîn teu assassinato só me dá mais forças e me gera mais raiva. A dor não vai me cegar, só me fará mais forte. Sei que seguindo teus passos estou no caminho correto, o caminho para a liberdade, que sempre foi teu caminho.
Te amo Hêlîn,
Arîn
Quero deixar-lhes uma frase de uma das mulheres que Hêlîn mais admirava. Para todas as mulheres do mundo, para que nunca deixemos de lutar.
“Já que parece que cada coração que pulsa pela liberdade não tem direito a outra coisa que a um pequeno lingote de chumbo, peço minha parte. Se me deixas viver, nunca vou deixar de chorar por vingança.” – Louise Michel
Fonte: https://internationalistcommune.com/letter-to-helin/
Tradução > Sol de Abril
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!