Em seu discurso e em suas práticas, o jovem Reclus nos convida a contemplar a natureza que circunda a cidade e penetra em seus lares; a olhar das nossas ruas para a vegetação, a água, as montanhas e o céu que nos rodeia. Sem perder nunca de vista a natureza, nem os mais obscuros espaços urbanos. Porque a própria natureza embeleza a cidade, é a fonte de nosso sustento e a escola da humanidade livre.
Se algo se destaca na figura do geógrafo francês desde a mais tenra idade, é o seu profundo sentimento de natureza. A união humanidade-natureza é básica, absolutamente constitutiva. Com essa sensibilidade fundante, Reclus vai articular uma experiência e uma história urbanas, uma noção e um futuro projeto de cidade que fazem dele um personagem inescapável do urbanismo protoecológico. A cidade de Reclus é um lugar privilegiado de concentração do capital natural: nasce e cresce a partir das vantagens naturais da posição em um ambiente agrícola fértil ou no cruzamento de rotas naturais de comunicação que o unem ao mundo mais distante. A cidade reclusiana nunca está limitada às compactas casas edificadas. Abrange um vasto espaço e respira para as montanhas distantes e a coroa da natureza cultivada, de onde a cidade atrai suas águas e sua comida. A partir da cidade para as fronteiras montanhosas distantes que a cercam, o geógrafo anarquista nos ensina a panoramicamente observar esta grande cidade de enormes contornos, para olhar ao redor desde os maiores observatórios no centro das sucessivas coroas de natureza que a rodeia ou olhar para ela desde longe.
Com essa noção e esse olhar, o jovem Reclus imaginará em 1866 um futuro urbano onde a cidade e a natureza se fundem em uma enorme metrópole verde em perpétua expansão. Uma cidade descentralizada onde os meios de comunicação, alavanca autêntica de todo o seu discurso, unem diariamente os tranquilos subúrbios residenciais de pomares e jardins e os espaços mais remotos e selvagens da região com o centro civilizado e ativo da cidade; uma cidade que fecha o ciclo de suas águas, que busca recapitular historicamente em uma nova unidade o vigor físico e a proximidade com a natureza do selvagem com a civilização do homem moderno. Um universalista convicto e um profeta da globalização, Reclus também defende a cidade cosmopolita, uma metrópole que permite aos povos do mundo se unirem em um espaço comum e, idealmente, em sua futura fusão.
José Luis Oyón (Logroño 1953) dedicou a maior parte de sua pesquisa à história urbana, publicando nas revistas mais notáveis do campo, como Urban History, Planning Perspectives ou Storia Urbana e revistas de urbanismo e história contemporânea espanhola e estrangeira como Espaces et Sociétés, Cidad y Territorio, Urban, História Social, Ayer, Segle XX e Historia Contemporánea. É professor de Planejamento Urbano da Universidade Politécnica da Catalunha e se destaca entre suas obras o Atlas histórico de ciudades europeas (em colaboração com Manel Guàrdia e Javier Monclús, CCCB-Salvat-Hachette, 1994, 1996). Nos últimos vinte anos, deu especial atenção à história dos trabalhadores do entre-guerras de Barcelona. Suas publicações podem ser resumidas no livro La quiebra de la ciudad popular. Espacio urbano, inmigración y anarquismo en la Barcelona de entreguerras, 1914-1936 (Ediciones del Serbal, 2008).
Desde 2004 está interessado na história do metabolismo e ecologia urbana e escreve com Manel Guàrdia sobre o abastecimento alimentar na Barcelona contemporânea (Hacer ciudad a través de los mercados. Europa, siglos XIX y XX. Memòria del Mercat del Born. Del Mercat tradicional al mercat central de majoristes. Ajuntament de Barcelona, 2010, 2017). Seu interesse pela história do urbanismo protoecológico e pelo anarquismo e dos geógrafos anarquistas levou-o ao estudo da cidade em Élisée Reclus.
La ciudad en el joven Reclus 1830-1871. Hacia la fusión naturaleza-ciudad
José Luis Oyón
Ediciones del Viaducto, Barcelona 2018
420 págs. Rústica 24×17 cm.
ISBN 9788494727801
24.00€
edicionesdelviaducto.wordpress.com
Tradução > Liberto
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