Agência de Notícias Anarquistas - ANA
Browse: Home / 2018 / Julho / 11 / [Espanha] Eliminando a maçã podre nós não salvamos todo o cesto

[Espanha] Eliminando a maçã podre nós não salvamos todo o cesto

By A.N.A. on 11 de Julho de 2018

espanha-eliminando-a-maca-podre-nos-nao-salvamos-1

ou porque a cadeia de alguns não é a liberdade de todas nós

A violência que vivemos todos os dias pode ser direta, mas também simbólica e estrutural. A violência institucional e seu comprometimento são evidentes em casos recentes, como o caso midiático de La Manada [o caso de estupro coletivo de uma jovem de 18 anos durante as festas de San Fermin, em Pamplona]. Apesar de denunciar o viés androcêntrico, e até mesmo misógino de muitos dos julgamentos, o feminismo não pede mais anos de prisão como uma solução para os nossos problemas, como prefigurado na maioria dos meios de comunicação, mas tenta colocar às claras como é escandaloso não considerar esses fatos como uma violação.

Não queremos reproduzir a dinâmica das estruturas hierárquicas de dominação com as quais nos submetem, gerando tantas desigualdades e, portanto, não acreditamos que o caminho judicial e penal seja a única alternativa para as mulheres. Além disso, no caso de mulheres migradas, ou com outros tipos de dificuldades ou situações, o acesso à justiça pode representar um problema em sua situação administrativa.

A construção de problemas sociais em uma chave delitiva impede que o Estado seja responsabilizado pelas consequências de suas políticas e facilita seu uso eleitoral para o combate à insegurança. O populismo punitivo é uma fórmula política e criminal conservadora que surgiu do neoliberalismo e seu aplauso vem em grande parte da percepção distorcida do funcionamento social do sistema prisional e sua relação imaginária com a segurança nas ruas, explorando as inseguranças da coletividade. Um exemplo disso é o recente uso de assassinatos de menores por meio de um discurso populista de defesa da prisão permanente revisável. Hoje, o estupro de mulheres entra na estratégia de marketing. Nos preocupa o fato de que tanta ênfase é colocada em soluções de punição em vez de propostas educacionais, bem como na obsessão punitiva do feminismo institucional.

“Adotar o encarceramento como estratégia é evitar pensar em outras formas de responsabilização”, diz Angela Davis. Violência sexista, problemas sociais, são problemas coletivos e, como tal, devem ser tratados. Eliminando a ponta visível do iceberg em vez intervir abrangendo toda a estrutura que é o Patriarcado ignoramos que há todo um sistema social que mantém e gera, e inclusive se nutre dessas violências e dá por eliminado o problema. O heteropatriarcado funciona porque parece ser o estado natural das coisas e apontando certos indivíduos como “seres estranhos” ou “não-pessoas” que nos liberam enquanto sociedade de qualquer responsabilidade coletiva e turva a necessidade de revisão para cada pessoa socializada como um homem.

São soluções fáceis e rápidas para fenômenos complexos, que despolitizam os fatos e elimina do discurso o conceito de “opressão estrutural”, pouco contribuindo para a transformação social em favor do controle social. Mª Luisa Maqueda critica este discurso paternalista afirmando que “A ‘colonização legal’ priva-nos de controlar as nossas necessidades e a autonomia das nossas decisões”.

Acreditamos em um feminismo para deixar de socializar como vítimas e pôr em prática o apoio mútuo entre iguais e a autodefesa. Sentimos falta de uma estrutura auto-organizada que responda à violência recebida, mas, ao mesmo tempo e sem querer, geramos outro atropelo: investimos grande parte do nosso tempo em não morrer. O que nós queremos é viver.

Valladolid, junho de 2018.

Grupo Anarquista Cencellada

Fonte: https://cencellada.noblogs.org/post/2018/06/27/eliminando-la-manzana-podrida-no-salvamos-todo-el-cesto/

Tradução > Liberto

Conteúdo relacionado:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2018/06/26/espanha-a-cnt-chama-a-rebelarem-se-contra-o-estado-patriarcal-e-seus-tribunais-de-injustica/

agência de notícias anarquistas-ana

Sob o ipê florido
embelezam de amarelo
as flores que caem.

Sandra Hiraga

Compartilhe:

Posted in Espanha, Geral, Movimentos Políticos & Sociais | Tagged Espanha

« Previous Next »

Sobre

Este espaço tem como objetivo divulgar informações do universo anarquista. Notícias, textos, chamadas, agendas…

Assine

Leia a A.N.A. através do feed RSS ou solicite as notícias por correio eletrônico através do endereço a_n_a[arroba]riseup.net.

O blog também possui sua versão Mastodon.

Participe

Envie notícias, textos, convocatórias, fotos, ilustrações… e colabore conosco traduzindo notícias para o português. a_n_a[arroba]riseup.net

Categorias

  • América Latina
  • Arte, Cultura e Literatura
  • Brasil
  • Discriminação
  • Economia
  • Educação
  • Espaços Autônomos
  • Espanha
  • Esportes
  • Geral
  • Grécia
  • Guerra e Militarismo
  • Meio Ambiente
  • Mídia
  • Mobilidade Urbana
  • Movimentos Políticos & Sociais
  • Mundo
  • Opinião
  • Portugal
  • Postagens Recentes
  • Religião
  • Repressão
  • Sexualidades
  • Tecnologia

Comentários recentes

  1. Pedro Miguel em Associação de Trabalhadores de Base (ATB) ao povo29 de Abril de 2025

    ESTIMADAS, NA MINHA COMPREENSÃO A QUASE TOTALIDADE DO TEXTO ESTÁ MUITO BEM REDIGIDA, DESTACANDO-SE OS ASPECTOS CARACTERIZADORES DOS PRINCÍPIOS GERAIS…

  2. Roberto em Camarada, nenhuma igreja irá te salvar — e nem quer.19 de Abril de 2025

    caralho... que porrada esse texto!

  3. contraciv em 16 anos de PT | Uma leitura anarquista, sem dar palco ao moralismo reacionário.15 de Abril de 2025

    Vantiê, eu também estudo pedagogia e sei que você tem razão. E, novamente, eu acho que é porque o capitalismo…

  4. Vantiê em 16 anos de PT | Uma leitura anarquista, sem dar palco ao moralismo reacionário.11 de Abril de 2025

    Mais uma ressalva: Sou pedagogo e professor atuante e há décadas vivencio cotidianamente a realidade do sistema educacional hierárquico no…

  5. contraciv em 16 anos de PT | Uma leitura anarquista, sem dar palco ao moralismo reacionário.11 de Abril de 2025

    Vantiê, concordo totalmente. Por outro lado, o capitalismo nunca gera riqueza para a maioria das pessoas, o máximo que ele…

Copyleft © 2025 Agência de Notícias Anarquistas - ANA. RSS: Notícias, Comentários