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[Uruguai] Seguimos lutando

By A.N.A. on 26 de Julho de 2018

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Em nossos territórios localizados na Abya Yala (América Latina), a luta anárquica se manifestou – e o faz até os dias de hoje -, com sua rejeição ao mundo do poder, o combatendo por vários meios e com diferentes ritmos e intensidades de acordo com contextos locais.

Cada contexto é influenciado, entre diversos elementos, pela conflitividade social, os cenários repressivos e a capacidade dxs indivíduxs e ambientes anárquicos para desenvolver um combate mais além das variações de cada conjuntura ou momento específico. É essa última variável que consideramos decisiva ao gerar propostas que nos tornam mais perigosxs e livres.

No entanto, não menos importante é o fator repressivo, como os punhos de ferro da opressão do Estado que sempre paira sobre nossas cabeças apenas pelo fato de sermos uma oposição ativa à autoridade, ameaça que cresce à medida que a práxis anárquica se torna um aborrecimento ou um perigo real para os planos de poder onde quer que o confronto contra a autoridade floresça.

Um elemento de permanência da lógica repressiva na região tem sido a colaboração e coordenação internacional entre os Estados para reprimir (monitorar, processar, punir, neutralizar, destruir, etc.) quem encarna projetos subversivos de liberação.

O ponto mais alto dessa lógica foi, na história recente da América Latina, o desenvolvimento do Plano Condor, a repressão infame desenvolvida por países latino-americanos no início dos anos 70 para exterminar aos revolucionários que encarnaram projetos subversivos na região.

Hoje, longe de cessar seu voo, o condor da repressão internacionalizada continua a bater as asas nos novos ventos da dominação democrática. Assim, para o avanço das lutas e rebeliões anárquicas – somadas aos conflitos regionais que se opõem a dominação e a devastação causada pelo modelo extrativista – os Estados e sua polícia, protegidos por sua imprensa servil, correram para atender, colaborar e coordenar entre si para proteger o regime democrático e os negócios capitalistas, com a instalação e defesa do projeto IIRSA-Cosiplan [Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana – Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento], a ponta de lança para um novo ciclo de acumulação de riqueza e devastação na região.

Como uma expressão do exposto acima, podemos identificar os casos de deportações e de perseguições contra companheirxs que entram de um país para outro; os contínuos exercícios conjuntos entre exércitos simulando operações de neutralização social em cenários de conflito interno; a presença de bases militares dos EUA na região; e as reuniões recorrentes entre Estados para abordar questões de “segurança e crime organizado”.

Esta realidade é demonstrada, por exemplo, em reuniões contínuas entre governadores, ministros, policiais e agentes de inteligência do Chile e Argentina para coordenar as operações repressivas visando conter a luta radical mapuche, com o compromisso explícito do Estado argentino para garantir a extradição de Facundo Jones Huala, solicitada pelo Estado chileno.

Por sua vez, cada Estado alimenta a sua própria agenda de contrainsurgência colocando ênfase cada vez mais recorrente na alegada presença / influência de “anarquistas guerrilheirxs chilenxs”, como no caso de relatos na imprensa brasileira em razão da Operação Erebus (outubro de 2017), onde foi mencionado que entre xs investigadxs por ataques incendiários/explosivos se destacava a suposta presença de um chileno que, segundo a imprensa, já havia sido detidx no Chile pelo chamado “Caso Bombas” (2010).

Outro exemplo é encontrado na Argentina, quando a ministra Patricia Bullrich disse em 2017 que o companheiro Santiago Maldonado não tinha desaparecido, mas tinha se mudado para o Chile para se juntar às “ações de guerrilha”, e replicado assim na tal democracia um argumento que faz parte das táticas de comunicação mais frequente implantada por ditaduras para ocultar e negar o extermínio de combatentes.

Dada a situação já descrita, é importante olhar para nós mesmos para discernir em torno de nossas possibilidades, fraquezas e potencialidades para continuar promovendo a luta antiautoritária.

Em nosso campo, o da luta contra o poder, temos experiências acumuladas para intervir na realidade, companheirxs comprometidxs há anos e outrxs que se integraram nos últimos tempos a ambientes e lutas anárquicas. Junto com o narrado acima, em cada território existem experiências, conhecimentos, ideias e aprendizagens, bem como as suas próprias tensões e contradições da luta pela liberdade e da identificação e confronto com os próprios restos autoritários que visamos eliminar de nossa vida e nossos ambientes.

Atualmente, os círculos anárquicos compartilham diferentes pontos de intersecção com outras tendências e lutas anticapitalistas, anticivilizatórias ou antipatriarcais. No entanto, as contradições internas dos ambientes anárquicos levaram a não poucas pessoas a bifurcar seu caminho por fora – e às vezes contra – as lutas desenvolvidas por indivíduxs e grupos antiautoritários, chegando incluso a atacar a práxis anárquica e tentar colocá-la em um status de proposta obsoleta, desatualizada, fora de moda ou, no melhor dos casos, incapaz de escapar às contradições dos indivíduos que a encarnam.

Perante esta situação, acreditamos que respostas adequadas passam por entrelaçar a autocrítica com o aprofundamento e extensão da própria visão/ação antiautoritárias em todos os níveis.

Para seguir combatendo, para além dos contextos e variações no fluxo de conflito social, é necessário continuar a luta, mas hoje também é essencial nos auto-observar para nos questionar e avaliar “como nós continuamos combatendo” e como queremos continuar a fazê-lo, com vistas a intensificar e estender aqui e agora em nossos territórios a luta contra o poder, pela libertação total.

Kururx Apátrid

Fonte: https://periodicoanarquia.wordpress.com/2018/06/23/columna-internacional-internacionalista-seguimos-combatiendo/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Dia grisalho
brotos brotam brutos
na ponta do galho

Danita Cotrim

 

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    Não entendi uma coisa: hoje ele tá preso?

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