porLady X| 08/10/2018
Um pequeno e autêntico clube de ciclistas foi o criador do lendário Batalhão Ciclista Malatesta, a resposta antifascista aos batalhões fascistas do futurismo italiano
Durante a Primeira Guerra Mundial, os italianos haviam lançado batalhões espetaculares de ciclistas, como no que se alistaram em 1915 os futuristas, amantes do maquinismo e das máquinas, que não hesitaram em entrar em guerra sobre uma bicicleta para atender o sonho de “guerra como higiene do mundo”. O Batalhão Ciclista Futurista foi o sonho de Marinetti, seu fundador, que se juntou a este e outros futuristas destacados como Sant’Elia, que caiu morto no campo de batalha.
As bicicletas foram usadas na Segunda Guerra Mundial, mas também antes, como durante a Guerra Civil espanhola. No jornal La Voz, em novembro de 1936, com o fascismo sitiando a capital, mas com seu avanço detido naquele terrível mês, se deu a notícia da criação de um batalhão ciclista com o nome do lendário anarquista italiano Errico Malatesta, cujas funções eram a distribuição de ordens do Estado Maior dentro de Madrid e dos postos avançados. Foi fundado por Miguel Viríbay, um militante anarquista da CNT e apaixonado pelo ciclismo. O Batalhão Ciclista teve seções notáveis em todos os departamentos oficiais e nas frentes. Um dos que realizaram um trabalho mais intenso foi o designado para o serviço do Estado Maior do Ministério da Guerra, dirigido por José Iturria, outro amante da bicicleta. A maioria dos membros do Batalhão veio do Velo Club Portillo, hoje um clube histórico que até então (fundado em 1927) estava dando seus primeiros passos. Embora tenha agora incorporado o nome de “Real”, em seu tempo se dedicava unicamente à bicicleta, daí a referência a “Velo Club” junto com o bairro “Portillo”, onde se fundou e saíram os primeiros ciclistas anarquistas e de outras tendências que formaram o lendário Batalhão Ciclista Malatesta.
Ao lado do Velo Club, haviam outros clubes de ciclismo em Madrid, como o Clube Ciclista de Chamartín de la Rosa ou o do bairro de Ventas. Presumia de ser o mais autêntico. Portillo tinha sido e foi um dos bairros com mais história da antiga Madrid. O pórtico dos Embaixadores era um portal menor da cerca que circundava Madrid, a meio caminho entre Toledo e Atocha. Após a demolição da cerca em 1868, a terra em que estava localizada acabou se tornando a atual praça dos Embaixadores.
O Batalhão, que se instalou na igreja da rua Conde de Peñalver, número 36, também contou com mulheres, que no ano antes de começar a Guerra Civil tinham criado seu primeiro grupo completamente feminino de ciclismo que chamaram As. Entre as fundadoras do As haviam as irmãs, Ángeles, Esperanza, Luisa e Carmen Carmona, todas filhas de um industrial fabricante de bicicletas. Havia também corredores profissionais, como o ciclista Andrés Costau, que já havia se destacado como um grande esportista.
No número 26 de 20 de junho de 1937, o jornal La Trinchera, pertencente à Brigada Mista da 7ª Divisão Mista, se incluiu uma declaração dos ciclistas do Malatesta, intitulado “Notas de uns combatentes do Batalhão Ciclista”:
“Nós pertencemos ao Batalhão Ciclista Enrique Malatesta e fornecemos serviços de ligação e outros relacionados com os mesmos. O título com o qual encabeçamos estas linhas é para colocar em manifesto que a maioria dos ciclistas deste Batalhão são combatentes nas trincheiras, das quais saímos às mesmas por ser bastante úteis nossos serviços nesse Batalhão. O grupo desta Brigada mista consiste em doze ciclistas entusiastas deste esporte. Trabalhamos incansavelmente, ajudados de maneira muito eficiente por nossas companheiras inseparáveis, as máquinas. E digo nossas, porque todo mundo teve que trazer a sua para prestar este serviço à causa, que, como em todas as guerras modernas, é essencial, uma vez que estes serviços carregam ordens de ataques, retiradas, senhas, sinais de aviação, etc., e executamos todos os tipos de serviços de comunicação. Este Batalhão foi formado a fim de preservar, tanto quanto possível os Serviços motorizados, que são utilíssimos para outros mais necessários e que nós com a nossa máquina não podemos executar, como em grandes relevos, transporte de material, suprimentos, etc., bem como ao mesmo tempo poupar o combustível, gastando o mínimo possível, para que não falte outros serviços mais necessários. É verdade que a máquina consome, pelo menos, nossa carne e às vezes nossa paciência. É verdade que quão bem os resfriados são curados quando temos uma missão urgente e o sol está no auge! A impressão que temos quando estamos deitados muito confortáveis, descansando do trabalho diário, e sentimos o timbre nos chamando, nos levantamos do leito meio adormecidos, sentamos em nosso assento já familiar, o selim, e percebemos que chove e o chão está inundado! Então nos lembramos dos guarda-chuvas, mesmo que seja apenas para que a máquina não se molhe, ou para o nosso equipamento. Neste momento, lembramo-nos da mensagem que tem que chegar ao seu destino, e nossas pernas colocam pressão sobre as bielas da máquina, e esta, por prova de carinho, aumenta a velocidade e, a mensagem, é claro, em dois minutos encontra seu destino. Então nós empreendemos o retorno, suportando o calor, a chuva ou o frio. Em nossa missão, temos alguns curiosos. Vemos como nas estradas e vielas das ruas brincam, sem dar importância ao perigo, crianças pequenas e algumas mais velhas, sem se importar que exponham suas vidas. Além disso, alguns cachorrinhos, quando temos pressa, cruzam nosso caminho, e nós, com mais paciência do que Gutierrez, freiamos para evitar atropela-los, e, claro, caímos ao chão. Enquanto nos levantamos vemos o quão engraçado o cão corre com o rabo entre as pernas, sem dúvida, para não ser pego e para que não o façamos pagar os danos em nossa bicicleta, que foi atingida com mais arranhões que Lerroux. Nós declaramos guerra aos cães porque eles não conhecem as leis de circulação nem têm ninguém para ensiná-los. No entanto, continuaremos com o nosso bom humor e satisfeitos com o nosso serviço prestado à causa, que não abandonaremos até ao fim. O sino toca novamente. Estamos preparados. São as consignas. Cada um com sua máquina toma uma direção, sem dúvida a do triunfo. Saúde! Ciclistas de serviço na Brigada”.
Tradução > Liberto
agência de notícias anarquistas-ana
sombras pelo muro:
a borboleta passa
seguindo a anciã…
Rosa Clement
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!