Dias antes das eleições se aproximarem, deu-se informalmente em São Paulo [capital] algumas iniciativas de difusão de ideias ácratas a respeito do não-voto. São três afiches [cartazes] espalhados pela cidade: “CUSPA AQUI”, contra o representante do fascismo Jair Bolsonaro, “NEM ESQUERDA, NEM DIREITA” [1], contra as instituições e “A DEMOCRACIA É APENAS UMA CONTINUAÇÃO DA DITADURA”, contra as formas de governo vigentes. A partir deste breve relato sobre as colagens e pixações, faz-se uma exposição mais além das palavras de ordem referidas.
O segundo turno se aproxima. No entanto, não há dúvidas de que o resultado não será determinado pela votação. Isto é, o fascismo vêm se expandindo desde muito tempo [2]. O verdadeiro campo de batalha não está delimitado nas urnas, mas sim no campo delimitado por linhas imaginárias chamadas de fronteiras nacionais. O nacionalismo e o patriotismo sempre estiveram por aí. A bandeira do Estado de São Paulo, por exemplo, é ostentada em cada prédio público, ao lado da bandeira do Brasil, enquanto algumas datas marcadas no calendário rememoram episódios fundamentais para a proliferação do autoritarismo.
A construção dessa fantasia não deveria incomodar igual? Existe liberdade dentro de um território controlado por um Estado? Não se trata exatamente do genocídio de pessoas marginalizadas e da produção de dissidências, a edificação das instituições?
A narrativa dos governos quaisquer que sejam sempre aponta um inimigo interno. Está pressuposto. Não haveria sequer possibilidade de nomear diretores para os presídios se não houvesse gente para ser presa [3]. É disso que se trata tanto a democracia quanto a ditadura: uma necessidade constante de eliminar a vida. Desde que nascemos, uma realidade nos é imposta e devemos aceitá-la ou senão enfrentar as consequências mais cruéis para xs que recusamos ou subvertemos as regras do jogo [4].
A ditadura militar transformou-se numa democracia ao final dos anos oitenta, sem deixar de lado a guerra contínua instalada nos cantos deste território específico. Ao contrário, este conflito se revigora a cada ciclo desde a colonização [5]. Isso se dá fundamentalmente através da generalização do medo. Não é muito curioso que a mídia corporativa estampe as manchetes das agressões [6] antes ignoradas e, consequentemente, normalizadas, inclusive, pela própria população e demais que se calavam diante dos fatos? Qual a finalidade disto, senão espalhar medo entre as pessoas para enfim mantê-las disciplinadas nos seus empregos, escolas etc?
Para quê outra coisa servem os regimes desde aquele período, senão para controlar de maneira violenta – e nunca suficiente, pois a repressão é a resposta principal de qualquer governo, invariavelmente, para aquilo que lhe é estranho – todos esses conflitos pela vida livre? Mais uma vez se apresenta, em forma de “crise”, uma fase para renovar as formas de poder, na medida em que o atrito sempre presente das difusas resistências deteriora a dominação. Porém…
A GUERRA PELA LIBERDADE NÃO CESSARÁ!
NEM DITADURA, NEM DEMOCRACIA!
NEM ESQUERDA, NEM DIREITA!
PELO CAOS E ANARQUIA!
Anarquistas.
[1] Em 2011 antifascistas e anarquistas ocupamos o vão do MASP para barrar uma primeira manifestação de apoio a Jair Bolsonaro animada por nazistas da região de São Paulo (SP). Na época, muitas pessoas se isentaram de tomar sua posição porque julgavam ser “apenas um confronto entre subculturas”: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2011/04/06/neonazistas-ajudam-a-convocar-ato-civico-pro-bolsonaro-em-sao-paulo.html
[2] Este é um afiche replicado aqui em São Paulo. Originalmente, o mesmo apareceu pela primeira vez nas ruas de Porto Alegre (RS). Um salve para xs cúmplices da luta informal!
[6] Por exemplo, a agressão contra uma mulher que teve uma suástica marcada na pele. Nesse caso, replicamos a notícia apenas para dar luz a um detalhe talvez pouco percebido: o mesmo delegado que afirmou ser “um símbolo budista” é o VERME Paulo Jardim, responsável pela “Operação Érebo” que perseguiu anarquistas!
agência de notícias anarquistas-ana
Em meio ao capim
de onde sopra o vendaval,
lua desta noite.
Miura Chora
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!