Em apenas dois meses, foram publicados em Portugal seis livros sobre Hitler e temas do nazismo. Estranhamente, em todos está bem visível na capa uma ou mais suásticas. O renascimento da extrema-direita no mundo agradece, ou é o fenômeno oposto?
por João Céu e Silva | 16/11/2018
A suástica em grande destaque na capa dos livros já não é tabu para os editores portugueses, tanto assim que esse símbolo de uma ideologia que provocou a morte de milhões de pessoas está a ser utilizado em seis livros publicados nos últimos dois meses sobre esta temática. Pode mesmo dizer-se que há suásticas para todos os gostos em tantos livros publicados sobre um tema que parecia quase esgotado, desde a capa que reproduz apenas uma pequena cruz no capacete de oficiais do Terceiro Reich até às que têm uma dimensão superior a mais de metade da capa. Há até capas que têm duas destas cruzes.
Para que a ideologia do governante alemão não passe despercebida, a palavra “nazi” surge também na maioria das capas e contracapas e de forma bem destacada. Duas situações gráficas que podem ser entendidas como uma forma de potenciar este filão editorial da história contemporânea.
Em defesa dos autores de cinco destes seis livros, pode dizer-se que não estarão a aproveitar-se do crescimento da extrema-direita em vários países da Europa para vender o seu “produto” e que é apenas uma coincidência temporal entre o fim de pesquisa, a escrita e a publicação. São na maioria investigações sérias sobre os tempos da II Guerra Mundial, bem como o romance com esse cenário. No entanto, a suástica lá está bem em destaque.
Já quanto ao inédito de Hitler que a editora Narrativa publica, todas as dúvidas podem ser colocadas perante o interesse da obra para o grande público como é apresentada. Trata-se de um “segundo livro de Hitler – A sequela inédita de Mein Kampf”. A promoção editorial deste alegado objeto de interesse acadêmico/ideológico informa que “ninguém sabia da sua existência”, que é “obra essencial para a compreensão da política externa da Alemanha Nazi”, e ainda que “esclarece quer historiadores quer o público interessado acerca das motivações e ambições de Hitler”.
O Segundo Livro de Hitler surge respaldado pelo professor e historiador da época, Gerhard L. Weinberg, que se responsabiliza pela edição, introdução e notas, numa edição de luxo – ou para colecionador? – de capa dura. Não será por acaso que a editora afirma que este volume pode tornar-se uma “leitura extremamente essencial nos dias conturbados de hoje, nomeadamente nas alterações políticas e ideológicas que podemos assistir em vários países da Europa e do mundo.”
A questão de serem publicados tantos livros num curto período de semanas sobre a ideologia nazi levanta a questão sobre até que ponto as editoras estarão a aproveitar o renascimento de políticas e ideologias condenadas em tribunal e pela opinião pública através do recurso a símbolos do nazismo nas suas publicações. Ou seja, poderá estar a verificar-se uma união entre os interesses comerciais e a apetência de certas franjas de leitores com orientação política de extrema-direita. E a questão gráfica tem um papel importante na captação desses leitores menos democráticos.
Para o editor de um destes livros, Marcelo Teixeira, a razão para este gênero de publicações é muito simples e retirada de qualquer caráter ideológico: “O leitor mantém um grande interesse sobre história contemporânea, área onde Hitler e o fascismo são temas centrais”. Recusa que o a capa do livro que editou, Lisboa Nazi [o “O” de Lisboa é uma suástica] seja um aproveitamento, antes uma questão de design. Considera que este gênero de edições “são por norma apostas bem sucedidas comercialmente”, daí que as editoras publiquem livros assim.
Quanto à coincidência nestas seis capas de suásticas e o regresso de ideologias extremistas no mundo, Marcelo Teixeira não nega que se está a viver um “momento indissociável do ressurgimento de tendências fascistas em vários países da Europa”, contudo reforça que “Hitler e nazismo bastam-se a si próprio enquanto sucesso editorial”.
Exemplo desse sucesso de Hitler enquanto tema e, principalmente, como autor é o fato de ser uma espécie de best-seller com as suas edições portuguesas do Mein Kampf (A Minha Luta). Em 2016, a editora E-Primatur publicou uma edição inesperada deste discurso antidemocrático depois de o volume ter estado ausente das livrarias durante 40 anos, altura em que as Edições Afrodite/Fernando Ribeiro de Mello o tinham publicado. A exposição numa das montras da livraria Bertrand do Chiado, bem como a polêmica em redor dessa inesperada reedição, terá contribuído para o esgotar nessa primeira vez. Também a editora Guerra & Paz fez no mesmo ano uma edição especial com o texto de Hitler, tendo vendido na Feira do Livro de Lisboa o total de exemplares impressos. As duas edições aconteceram na sequência da liberalização dos direitos de autor, sendo amplamente justificadas em Portugal, bem como na própria Alemanha, com prefácios em que se defendia a necessidade de o livro de Hitler ser do conhecimento público.
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Tudo bla,bla,bla...porque não se faz um post comentado a degradação durante o bozo. 🤪🤪🤪🤦
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