Um dia como hoje, 23 de junho de 1971, morre em Paris Louis Lecoin, militante anarquista e antimilitarista, considerado o pai da objeção de consciência ao serviço militar na França. Havia nascido em 30 de setembro de 1888 em Saint-Amand-Montrond.
Nascido em uma família modesta, na juventude estudou três anos na fazenda- escola de Laumoy, próximo de Morlac, de onde saiu diplomado em agricultura.
Em 1905 foi morar em Paris, onde trabalhou de jardineiro, de pedreiro ou empregado em fábricas de cimento. Nesta época, já preocupado com os problemas sociais, foi condenado a cinco anos de prisão por ter publicado um cartaz antimilitarista.
Liberado, foi incorporado em 1907 ao Exército, mas rechaçou atuar contra os ferroviários então em greve. Um Conselho de Guerra em Bourges o condenou de novo a seis meses de prisão, mas, como rechaçou as sucessivas novas incorporações, passou 12 anos encarcerado por insubmissão, antes de ser indultado em 1920.
Se casou com Marie Morand, filha de um militante anarcossindicalista, e ambos irão para o Midi, sul da França.
Em agosto de 1921 participou em Lille do Congresso da Confederação Geral do Trabalho (CGT) e, ante o rechaço dos dirigentes cegetistas a deixar expressar-se livremente aos representantes dos sindicatos revolucionários, tirou seu revólver e deu alguns disparos. Restaurada a ordem, fez um discurso pacifista ante León Jouhaux e seu grupo, todos eles sindicalistas partidários da guerra. Ainda que partidário da não-violência e opositor da guerra e dos conflitos, não se acovardava ante nada.
Partidário de defender tudo o que se referia ao movimento anarquista, pediu a liberação de Émile Cottin, jovem anarquista de 23 anos que disparou 10 tiros contra o Primeiro Ministro George Clemenceau em 19 de fevereiro de 1919. Em uma nota de extrema violência dirigida ao presidente Poincaré, afirmava que este era “o mais repugnante bonastre da época” e que “estava manchado com o sangue de quinze milhões de homens mortos por causa da guerra”. Evidentemente foi encarcerado e começou uma greve de fome, que graças aos numerosos protestos e a mobilização da opinião pública, obrigou o governo a ceder e só passou seis meses encarcerado.
Robert Lazurick, futuro prefeito de Saint-Amand-Montrond, assumiu sua defesa e finalmente só esteve detido sete dias. Quando estourou a II Guerra Mundial, em setembro de 1939, publicou um panfleto com o título “Liberação e expulsão dos ativistas”.
Durante o “Caso Sacco e Vanzetti” lutou veementemente contra sua execução, ao mesmo tempo que defendeu os militantes anarquistas espanhóis Ascaso, Durruti e Jover, de uma mais que provável extradição. Sob seu impulso, o assunto dos “três mosqueteiros”, que assim eram chamados os três anarquistas espanhóis, teve um grande eco e por medo a não converter o caso em uma questão de Estado, o governo Poincaré cedeu e ordenou a liberação e expulsão dos ativistas. Como não pôde evitar a execução de Sacco e de Vanzetti, vestido com um uniforme da Legião Americana se meteu em uma reunião onde o governo francês estava convidado e gritou muito forte: “Viva Sacco e Vanzetti!”. Foi novamente encarcerado e acusado de “apologia de fatos qualificados como criminosos”.
Quando estourou a II Guerra Mundial, em setembro de 1939, publicou um panfleto com o título “Paz imediata. Novo manifesto contra a guerra”, que o levou de novo ao cárcere e não foi liberado até 1943. Em 1958, após a morte de sua companheira por causa de um problema cardíaco, voltou a Paris.
Deixou Louis Dorleta como responsável de sua revista “Défense de l’Homme”, que foi editada até 1970. Depois, junto com Dorleta, fundará o semanário “Liberté”, com o fim de criar uma campanha para o reconhecimento do estatuto de objetor de consciência em plena guerra da Argélia, quando os objetores, a maior parte religiosos, eram encerrados nos cárceres.
Depois de numerosos anos de campanha, obteve a liberação dos objetores que foram encarcerados por mais de cinco anos. Mas a campanha se alongava por causa desta guerra colonial. Depois de muitas pressões, o general De Gaulle confiou a redação do estatuto de objetor Louis Lecoin a Nicolas Faucier e Albert Camus, mas o texto ficou congelado.
Em 22 de junho de 1962 decidiu entrar em greve de fome até obter o estatuto, com o apoio do jornal “Le Canard Enchaîné”. A greve de fome dura 22 dias, Louis Lecoin tinha 74 anos. Finalmente o governo cedeu e o projeto de lei foi entregue à Câmara, foi rapidamente discutido e consideravelmente modificado pelos parlamentares e isto apesar dos enérgicos protestos de Louis Lecoin que assistiu a discussão parlamentar. O status de objetor de consciência, ainda que fosse muito diferente do original, foi finalmente votado. Passado um tempo, uma nova lei punha obstáculos para a difusão e divulgação da lei de objeção. Depois participou em várias campanhas e comitês, como a de “Espanha Livre”, em defesa do antiescravismo e do desarmamento unilateral. Em 1964 foi proposto para o prêmio Nobel da Paz, mas insistiu que fosse retirado para favorecer Martin Luther King.
Louis Lecoin morreu em 23 de junho de 1971 em Paris e dias depois, em 29 de junho, uma concentração de quase mil pessoas assistiu a suas exéquias e a sua cremação no cemitério parisiense de Père-Lachaise; entre os presentes se encontravam Bernard Clavel, Eugène Descamps e Yves Montant.
Fonte: https://www.grupotortuga.com/Aniversario-del-fallecimiento-de
Tradução > Sol de Abril
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Alexandre Brito
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!