Bióloga, ativista e capitã de uma embarcação de salvamento, Pia Klemp, de 35 anos, enfrenta até 20 anos de prisão. A razão? Ajudou a salvar, pelo menos, mil migrantes de se afogarem no Mediterrâneo. Está a ser acusada pela justiça italiana de auxílio e incentivo à migração ilegal.
O caso está a gerar indignação e está a decorrer uma petição a exigir que Itália que suspenda o processo judicial contra a ativista alemã e outros membros da sua tripulação. Mais de 100 mil pessoas já assinaram. Foi também criado o movimento #FreePia que já se tornou viral nas redes sociais.
Pia Klemp tem estado na mira da justiça desde 2017, ano em que o navio Iuventa, comandado pela alemã, foi apreendido pelas autoridades italianas. O trabalho que desenvolveu nesta embarcação e no Sea-Whatch 3 permitiu resgatar do Mediterrâneo mais de mil migrantes, de acordo com a estação de televisão alemã WDR.
Preparada para recorrer ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos
Em entrevista ao jornal suíço Basler Zeitung, a bióloga afirmou que, segundo o seu advogado, estaria sujeita a “até 20 anos de prisão e multas horrendas” depois de ser acusada na Sicília de ajudar e incentivar a migração ilegal. Mesmo que seja condenada, Pia Klemp já declarou que vai recorrer ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos. “Recuso-me a acreditar que vivemos numa Europa em que uma pessoa vai para a prisão por salvar vidas”, afirmou.
Natural da cidade de Bona, Klemp lamentou os custos processuais que podem ascender aos 300 mil euros num processo que deverá durar anos. Dinheiro que, diz, podia servir para ajudar mais pessoas que colocam a vida em risco ao tentarem chegar à Europa vindas da África em pequenas embarcações inseguras.
“O pior já aconteceu: as missões de resgate marítimo foram criminalizadas”
“Nós só seguimos o direito internacional, especialmente a lei do mar, em que a prioridade é salvar pessoas”, argumentou ao jornal suíço.
Admite que está preocupada com o processo judicial, mas garante que “o pior já aconteceu”. “As missões de resgate marítimo foram criminalizadas”, lamenta e culpa não só o governo italiano, que endureceu a sua política anti-migração desde o ano passado quando Matteo Salvini tomou posse como ministro do Interior, mas também a União Europeia.
Acusando “demagogos” como Salvini, o ex-chanceler federal austríaco Sebastian Kurz e o ministro alemão do Interior Horst Seehofer de efetivamente permitir que milhares morram no Mediterrâneo a cada ano, ela rechaçou as críticas de que as missões de resgate encorajariam mais migrantes a tentarem a perigosa travessia.
“Há estudos científicos rebatendo a ideia de que os resgates marítimos tenham um assim chamado ‘fator atrativo’. As pessoas vêm porque, infelizmente, há tantas razões para fugir. E vêm via Mediterrâneo porque não há nenhum modo legal de chegar aqui”, se os países da UE fecham suas fronteiras.
Para ajudar a cobrir os potencialmente exorbitantes custos processuais, o Café Bla de Bonn anunciou uma campanha de angariação de fundos: para cada “cerveja Pia” vendida, 50 centavos de euro serão doados à antiga garçonete Klemp.
Fonte: agências de notícias
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